7 – OS MOTTA, A FAMÍLIA DE MEU PAI E SÃO GERALDO

A história dos Motta se confunde com a história de São Geraldo.

ANOTAÇÕES DE LUIZ ROXO DA MOTTA

Aproveito algumas anotações do papai, para uma palestra feita em 22 de novembro de 1985, por ocasião do centenário da Filarmônica Scipião Rocha.

Localizada na Zona da Mata de Minas Gerais, a cidade começou como um pouso de tropeiros, após a criação do Presídio e da Capela em Visconde do Rio Branco, em meados do século XVIII. A região era povoada pelos índios coroados, ou croatas, ou caetés. Eram índios pacíficos. Em princípio de 1800 chegaram os primeiros moradores brancos à região:

Portugueses – Diogo da Rocha Bastos, Luiz Manoel da Rocha Braga, João Luiz Ferreira da Motta. E alguns brasileiros: Vicente Rodrigues de Carvalho, Francisco Marques da Rocha, João Gonçalves, Rafael Fernandes dos Santos e Francisco Antonio Pinto.

Alguns costumes da época do povoamento foram relatados nas anotações feitas pelo papai e parece que perduraram por muito tempo:

Não havia registro civil, valia a certidão de batismo como documento. Consta que a antiga capela de Visconde do Rio Branco, na época chamado de Presídio, incendiou-se e então os primeiros cidadãos nascidos em São Geraldo ficaram sem qualquer espécie de documento.

As mulheres não recebiam sobrenomes de família, geralmente eram batizadas tendo como sobrenome o “de Jesus”. Mulheres também não aprendiam a ler. Aliás, escola não havia, só muito mais tarde.

O Professor Montanha, cuja história era sempre narrada pelo papai, era um indivíduo que ia de fazenda em fazenda alfabetizando os meninos. Ele chegava e ficava hospedado na fazenda. Um belo dia, pegava seu cavalo e partia, da mesma forma que chegara, sem explicar e sem pedir licença. Às vezes, após muito tempo, aparecia de novo.

Não havia fósforos. Acendia-se o fogo da mesma forma que os índios, batendo uma pedra em outra ou esfregando dois pedaços de pau. Havia então o costume de manter o fogo aceso o tempo todo, ou guardar as brasas debaixo das cinzas. Quando o fogo se apagava, buscava-se um tição no vizinho mais próximo. Daí surgiu a expressão muito usada, já no nosso tempo. Se a visita tinha pressa em ir embora, dizia-se:

“Veio aqui só pra buscar fogo?”

Ou então, quando a visita queria justificar a rapidez da saída: “ Vim só pra buscar fogo”.

Os primeiros habitantes viviam da agricultura de sobrevivência, milho, feijão, carnes de caça, de porco e peixes. O arroz só chegou por lá no final do século. Havia o costume de se deixar, quando da colheita, um monte de milho nas roças para as almas. Não havia grandes fazendeiros dominantes, quem chegava se apossava de um pedaço da mata e começava a plantar para sobreviver.

Não há muita notícia sobre escravos, talvez porque não havia como escoar a produção, no início do povoamento. Também não havia dinheiro circulante, o comércio era feito através de trocas. O feijão velho era jogado fora, quando se colhia o novo, não havia como transportá-lo para outros lugares.

Por volta de 1850, o Imperador mandou construir uma ponte sobre o Rio Paraíba em Porto Novo, abrindo caminho para Cataguases e o Presídio, hoje Visconde do Rio Branco. Aí começaram a aparecer as tropas, vindas de Montes Claros, para transportar o café cultivado no estado do Rio de Janeiro, das serras nas margens do Paraíba até o chamado Porto dos Mineiros no fundo da Bahia de Guanabara. Então começou o povoamento nas margens das trilhas dos tropeiros. A subida da serra de São Geraldo exigia um descanso dos animais e homens.

Em 1880 chegou a estrada de ferro Leopoldina. Diz-se que o nome da cidade foi uma homenagem ao Barão de São Geraldo. Deve ser mesmo, porque o padroeiro da cidade não é o santo que lhe dá nome, e sim São Sebastião.

A construção da estrada de ferro, na subida da serra, levou cinco anos e trouxe muitos operários para a povoação, fazendo com que se desenvolvesse. O governo construiu uma estrada para carros de boi ligando São Geraldo a Coimbra, de onde a estrada de ferro seguia rumo a Viçosa e Ponte Nova, mesmo sem a ligação com a outra parte, mais demorada pela dificuldade em transpor a serra. Os trilhos e tróleis eram transportados para Coimbra por esses carros de boi.

Por essa época,1882, foi construída a primeira capela, a estação, e o povoado foi elevado à condição de distrito do Presídio. Logo depois passa a freguesia, um passo a mais em sua escalada para cidade.

Em 1884 foi criado o curato, pelo bispo D. Antônio Maria Correa, sendo o primeiro pároco o Padre Zico.

O Imperador D. Pedro, em 1885, pernoitou em São Geraldo a caminho da cidade de D. Silvério, na época chamada Saúde. Consta que ele foi vaiado em sua passagem por Visconde do Rio Branco, por influência política de Silva Jardim e não quis dormir lá.

Depois da chegada da estrada de ferro o município foi rapidamente povoado. As pessoas vinham principalmente de Rio Novo e São João Nepomuceno e arredores. Por essa época começaram a plantar café e vieram os primeiros colonos italianos, que também entrarão nessa história, por causa de nossos avós Maria Suppini e Augusto Casulari.

Por influência das famílias Rocha e Marques, criou-se a Filarmônica Scipião Rocha em 1885. O povo também comprou casa de morada e farmácia para o Capitão Álvaro, farmacêutico, vindo de Paraíba do Sul.

A primeira escola pública foi criada em 1917. Primeiros professores: Ormindo de Souza Lima e Illa Mascarenhas, que se casou com um irmão da Júlia, Caetano, o Neo.

Fernando Moraes, em seu livro “Chatô, rei do Brasil, a biografia de Assis Chateaubriand, personagem controvertida da História recente do Brasil, narra uma passagem em que Chatô  é preso em São Geraldo.

Era a época da Revolução de 32 que tentava tirar Getúlio do governo. Chateaubriand, que se aliara aos paulistas contra o ditador, era perseguido político e tentava chegar a Viçosa, para se encontrar com Artur Bernardes. Viajava com documentos falsos. Em Rio Branco o trem foi revistado, mas ele se trancou na cabine e passou despercebido. Chegando a São Geraldo ele foi reconhecido, preso e levado a Juiz de Fora.

ORIGEM DO POVOAMENTO:

Segundo as tradições locais antigas, os primitivos povoadores das terras de São Geraldo chegaram à procura de ouro. Aliás, móvel comum a quase todas as migrações brancas para o interior mineiro. Não fosse esta província das MINAS GERAIS…

Certamente, ou por já distribuídos e dominados os terrenos de lavras fáceis nas zonas auríferas, conhecidas e exploradas, ou por muito vigiadas a sua produção pelo fisco metropolitano, dos meados do século 18 aos princípios do século 19, houve um movimento de penetração nestas, até então, inexploradas paragens.

Tudo parece indicar que os primeiros povoadores, brasileiros ou portugueses, tenham vindo dos municípios auríferos mais próximos, Mariana ou Ouro Preto. A existência de ouro no Rio Piranga seria um fator a excitar a imaginação dos garimpeiros, levando-os a pesquisar as cabeceiras de todos os seus afluentes, entre os quais estão os ribeirões Turvo Limpo e Turvo Sujo, que têm suas cabeceiras na serra de São Geraldo.

O primeiro, no Distrito de Monte Celeste, e o segundo, no Município vizinho de Coimbra. Além de que, o fato do ouro ter sido encontrado primeiramente no Tripuhy,. cujo curso é todo em vales e serras de picos escondidos nas nuvens, este fato devia, e muito naturalmente, fazer ver uma miragem dourada de riquezas fáceis e fabulosas em cada serrania entrevista ao longe por sobre as verdes ramagens das matas virgens.

Antigos moradores, quase coevos dessas eras, falavam de ouros encontrados, por seus pais ou avós, em córregos são geraldenses. Achados estes, porém, que teriam sido ocultados pelos próprios descobridores, no receio de medidas draconianas que estavam sendo adotadas pelo governo colonial de então.

Em que época teriam ocorrido estes fatos? Contemporâneos da “DERRAMA”? e, portanto, anteriores à INCONFIDÊNCIA MINEIRA? Ou teriam sido por ocasião da vinda de D JOÃO VI, representando uma desconfiança ante uma situação nova?

É um tema que fascina a imaginação de quem ama o passado, mas a tradição é incerta quanto às datas.

O claro e paciente historiador mineiro OILIAM JOSÉ, em suas Notas para a História de Visconde do Rio Branco, fala na concessão de sesmarias nestas paragens, já nos meados do Século XVIII, resta saber se os pedidos destas concessões já teriam sido motivados pelo conhecimento, ou notícias que justificassem fortes presunções da existência nestas encostas de serras do “vil metal que faz a existência nobre.”

O que parece fora de dúvida é que o início do povoamento do atual município de São Geraldo pode ser situado nos fins do século XVIII ao princípio do século XIX. E que a maior parte dos povoadores veio da zona aurífera mais próxima, procurando outra zona aurífera onde fosse farto o ouro e escasso o poder ou a presença dos zelosos, mas provavelmente pouco amáveis, representantes do governo de S.M. El Rei de Portugal.

A fixação dos povoadores ao solo São Geraldense, porém, nada deve ao ouro, ou seja pela condição de não ser conveniente a sua exploração. A tradição local fala que a fertilidade das terras, o temperamento brando dos índios “Coroados” e, sobretudo, a existência de vigário no PRESÍDIO (antigo nome de Visconde do Rio Branco) foram os principais fatores da fixação dos pioneiros, abandonando assim a miragem da riqueza fácil da garimpagem do metal incerto e perseguido pelo Real Erário quando encontrado em abundância.

ORIGEM DO NÚCLEO URBANO

Os primeiros agrupamentos de casas que deram origem a atual cidade de São Geraldo foram feitos nos meados do século XIX, em razão de arranchações de tropeiros e seguindo as própria estrada das tropas do baixio, ao pé da serra, em direção ao Presídio.

Foi grande, nessa época, o movimento de tropas vindas do Norte de Minas, mais particularmente da zona de Montes Claros, segundo falavam os antigos. Estes precursores do trem de ferro e dos caminhões, os tropeiros, passavam por aqui em demanda da zina cafeeira do Estado do Rio, cujo centro falado era Cantagalo. Por lá ficavam seis ou mais meses a fazer o transporte de café para o célebre CAIS DOS MINEIROS. E, na volta, traziam as poucas mercadorias que o interior precisava, das quais a mais importante era o SAL. Somente muito mais tarde foi que passaram vir também querosene e fósforos.

As lembranças mais positivas e certas dos donos dos ranchos falavam de um rancho de DONA MARIA EUFEMIA, bem ao pé da serra. E de outros mais abaixo, cujo dono se chamava MARTINS, ou JOÃO MARTINS, cujos pastos eram num lugar chamado BRAUNA, onde parece que já existiam pastos nativos.

A primeira venda, ou casa comercial, parece ter sido de um português, cujo nome se perdeu na tradição, e cujo local era logo adiante dos atuais portões da Fábrica de Móveis de Joaquim Vicente (que não existe mais e era em frente da casa onde moramos e onde nasceram Antonio Carlos, Goretti e Conceição), na Rua 21 de Abril.

As ruas 21 de Abril e Silviano Brandão nasceram destas passagens de tropas. No fim da Rua Silviano Brandão a estrada tomava o rumo do alto onde existia a CAPELA DE SÃO JOSÉ e daí seguia para o Presídio, sempre procurando os altos, como era usado naquele tempo, para fugir dos atoleiros das baixadas cobertas de matas virgens. Também os altos eram cobertos de matas, não há dúvidas, mas não atolavam.

Até há bem pouco tempo existia em São Geraldo quem se lembrava de que se ia da Vargem até ao Presídio, pelos altos, sem apanhar sol, tão densas eram as ramarias das matas.

Todas essas notas se baseiam em relatos tradicionais. Parece não existir escrito algum sobre o assunto. Todavia não se pode duvidar da existência desse trânsito, porque já em 1842 existiam as pontes do arraial da MEIA PATACA, atual CATAGUASES, e da SAPUCAIA sobre o Rio Paraíba.

Em sua monografia sobre a Revolução de 1842, EDUARDO DE MENEZES cita estas pontes, especialmente a última, como objeto de lutas por ser ponto de intenso trânsito de Minas para o Rio de Janeiro.

E há notícias da vinda, até o princípio deste século XX, de trabalhadores sertanejos para serviços temporários de colheitas em nossa zona. De onde aprenderiam estes trabalhadores o caminho e de onde teriam notícias de lavouras por aqui senão de seus precursores os tropeiros?

Com a chegada da estrada de ferro, em 1880, o núcleo urbano veio mais para perto da estação. Em 1890 ou 1994, já existia máquina de beneficiar café próximo aos desvios de serviços da linha férrea. Aliás em casa ainda existente, onde funcionou o Serviço de Subsistência dos Ferroviários e o Armazém da Firma Dias Barbosa & Cia Ltda.

Engenho de café

Beneficiamento de Café Motta Roxo

No ARQUIVO HISTÓRICO DA PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO GERALDO existia ( não sei se ainda existe – tive notícias de que queimaram os arquivos) um interessantíssimo mapa das ruas como eram em fins do século passado. Por mais incrível que pareça, este mapa foi mandado fazer pela CÂMARA MUNICIPAL DE RIO BRANCO como um estudo para dotar São Geraldo de serviço de água.

Também no Arquivo da Prefeitura de São Geraldo existe (será que ainda existe?) o MAPA DOS TERRENOS FOREIROS da cidade que compreende a parte entre as atuais ruas Eduardo Rabelo até a Treze de Maio. Sendo que o prédio do GRUPO ESCOLAR ÁLVARO GIESTA foi feito no lugar exato onde existiu a antiga casa do CONSELHO DISTRITAL e seus muros, na parte superior, fecharam uma das ruas previstas neste mapa. Rua esta, porém, que nunca chegou a ser aberta no terreno, mesmo na época em que foi feito o mapa, nos fins do Século XIX.

Desta época pra cá a cidade vem se estendendo, formando quarteirões na parte foreira e, mais ou menos arbitrariamente na parte baixa, sem plano diretor ou, ao menos um mapa singelo, como foi feito pelo CONSELHO DISTRITAL há mais de meio século. Neste particular, os antigos conselheiros foram mais previdentes que as Câmaras Municipais contemporâneas; muito embora, no tempo do Conselho, já as previsões fixadas no mapa não fossem bem respeitadas. Mas o Mapa existe… existe…(Isso o papai afirmava naquele tempo, hoje não sei…)

ORIGEM DO NOME DE SÃO GERALDO

O atual nome de São Geraldo foi dado pelo Imperador D. PEDRO II à Estação Ferroviária, em homenagem ao Barão de São Geraldo, grande acionista e animador da construção da E.F.LEOPOLDINA. Da estação estendeu-se ao arraial, hoje cidade e a todo o Município.

OILLIAM JOSÉ, em sua obra citada, fala da concessão de sesmaria nesta zona, nas margens do Córrego São Geraldo. Todavia há muito pouca possibilidade deste córrego e desta sesmaria terem existido no atual município. Vejamos:

1 – Dos córregos próximos à cidade só existia um com nome de santo: O de SÃO DOMINGOS – nome este, aliás, que já aparece em um documento de 1840, existente no ARQUIVO HISTÓRICO MUNCICIPAL, e referente a acordo sobre divisas de terras.

2 – No distrito de MONTE CELESTE existem córregos SÃO VENÂNCIO, SÃO ROQUE e SÃO VICENTE, nenhum porém SÃO GERALDO. Aliás, as denominações citadas vêm do Século XIX.

3 – O padroeiro do lugar sempre foi São Sebastião e, parece, que nunca houve por aqui devoção coletiva a São Geraldo. Tanto que não existe capela alguma, rural ou urbana, a ele consagrada. E, é mesmo muito raro, até hoje, qualquer ato coletivo de devoção, novenas, tríduos ou terços em homenagem ao glorioso santo de que o município tem o nome.

Fim das anotações de Luiz Roxo da Motta

LIVRO DO PADRE DARIO SCHETTINI

Já havia escrito o capítulo, Anotações de Luiz Roxo da Motta, meu pai, quando me veio às mãos um documento, um livrinho escrito pelo padre Dario Schettini, em 1918, e impresso na Typographia e Papelaria Popular de São Geraldo ( parece incrível, mas São Geraldo tinha tipografia nesta época!)

Confesso que a minha intenção primeira, era contar um pouco da história da família, pensando em meus netos e bisnetos, para que soubessem das nossas raízes. Não tinha a intenção, nem a tenho agora, de escrever uma história de São Geraldo, nos moldes corretos de uma pesquisa científica.

Reproduzo o que me vem ás mãos, sem me aprofundar em recolher dados e documentos oficiais.

É IMPORTANTE REGISTRAR QUE SÃO GERALDO ERA DISTRITO DE VISCONDE DO RIO BRANCO (NA ÉPOCA CHAMADO PRESÍDIO) COM O NOME DE VÁRZEA DO PRESÍDIO

LIVRO

O Título do livro ´”Noticia Historica e Geografica da Parochia de São Sebastião de São Geraldo, Arcebispado de Marianna”

Offerecido ao

Exmo. Sr. Dr. Pe Francisco de Paula T Salgado

pADRE DARIO

Fiquei emocionada com tal preciosidade que descreve de uma forma bastante viva e romântica como era a região de São Geraldo, a serra da Mantiqueira, e toda a região. Tomo a liberdade de transcrever alguns trechos, modificando a ortografia então vigente, para maior compreensão de quem, por ventura, se dignar a ler estas páginas.

No primeiro capítulo ele se estende sobre a Serra do Espinhaço e suas vertentes.

No Capítulo II já se concentra mais em São Geraldo e Rio Branco:

Vou extrair deste livrinho as informações sobre os Motta, deixando as outras informações para projeto que ainda pretendo fazer sobre a História de São Geraldo.

“Segundo a tradição, que é a única fonte de conhecimentos com que podemos contar, relativamente aos fatos que se deram naqueles tempos tão obscuros, os primeiros que se aventuraram a devassar as matas do Presídio e nelas fixar residência, forma, salvo o erro de informação, os cidadãos: JOÃO LUIZ FERREIRA DA MOTTA, DIOGO DA ROCHA BASTOS (portugueses) ,VICENTE RODRIGUES DE CARVALHO, FRANCISCO ANTONIO PINTO (brasileiros)

Faço uma pausa no relato do Padre Dario Schettini, para complementar suas informações.

Acrescento aqui informações que colhi na internet sobre o lugar de onde vieram os portugueses fundadores de São Geraldo: João Luiz Ferreira da Motta e Diogo da Rocha Bastos.

SOBRE BARRA DO BACALHAU

Guaraciaba é um município do estado de Minas Gerais, no Brasil. A população avaliada em 2010 era de 10 223 habitantes. Possui uma densidade demográfica de 29,33 habitantes por quilômetro quadrado. Tem uma área de 349 quilômetros quadrados, suas coordenadas geográficas são: 20° 33` 54“ de Lat. S e 43° 00`12“ Long. W Gr.

“Guaraciaba” é um termo tupi que significa “lugar do sol”, através da junção dos termos kûarasy (“sol”) e aba (“lugar”).

Origina-se de uma das mais antigas povoações de Minas Gerais: Barra do Bacalhau – ou simplesmente Bacalhau. O nome primitivo deriva, segundo o cônego Raimundo Trindade, do sertanista português José Gonçalves Bacalhau, falecido em 1781 na região então conhecida por Xopotó. Foi elevada a freguesia em 1832.

CONTINUANDO O RELATO DO PADRE DARIO SCHETTINI

(…)Era no primeiro quartel do século passado (1880).

Rompendo por entre as temerosas brenhas que então cobriam quase que inteiramente a Zona da Mata, depois de longos dias de penosíssima viagem, cheia de mil peripécias, que sempre acompanham estas empresas, subindo uns o curso do Xopotó e os seus afluentes. Se bem que, ainda coberta de espessas florestas, contudo aí já encontraram algumas aldeiazinhas de índios mansos, já em grande parte catequizados, pois os vigários de São João Batista do Presídio, esse território tão populoso, jamais se descuidaram da catequese, já por si, já por meio dos seus auxiliares, da catequese dos seus pobres habitantes.

(…)Apenas chegados, recebidos com todos os sinais de agrado por parte dos naturais, que em bizarria para com os seus hóspedes, em nada cedem aos árabes do deserto. Entabuladas para logo as relações de amizade, trataram em seguida de fixar as suas residências segundo os lugares que mais lhes agradaram.

JOÃO LUIZ FERREIRA DA MOTTA fixou-se à margem esquerda do córrego do Caeté (assim denominado devido aos índios Caetés que se demoravam em suas margens).

DIOGO DA ROCHA BASTOS fixou-se também à margem esquerda do mesmo córrego, uns dois quilômetros abaixo de João Luiz da Motta.

VICENTE RODRIGUES DE CARVALHO e FRANCISCO ANTONIO PINTO fixaram-se às margens do córrego da Colônia, assim chamado devido a uma aldeia de índios que ali havia.

Se bem que ainda coberta de espessas florestas, contudo a Várzea do Presídio já se achava expurgada das tribos bravias que outrora a habitavam e que, ou se tinham retirado para o interior, ou tinham abraçado o cristianismo. Por isso, não foi difícil aos forasteiros acima fixar suas residências entre os índios mansos  que ali tinham as suas aldeias.

Segundo reza a tradição, JOÃO LUIZ DA MOTTA e DIOGO DA ROCHA BASTOS vieram para ali da BARRA DO BACALHAU; FRANCISCO ANTONIO PINTO, de BARBACENA, e VICENTE RODRIGUES, segundo a opinião mais certa, também de BARRA DO BACALHAU.

Não nos é dado fixar ao certo o ano em que eles ali chegaram, mas é fora de dúvida que foi no primeiro quartel do século passado.

Os nossos heróis, cujos nomes deveriam um dia ficar gravados nas páginas da história de São Geraldo, outrora Várzea do Presídio, como os primeiros civilizados que se aventuraram a povoar suas matas, até então só conhecidas do gentio.

Abrigaram-se a princípio com as suas famílias em pobres casinhas, cobertas de folhas de palmito e de cascas, em tudo idênticas às dos pobres índios que, neste ponto, nada lhes tinham a invejar, mas que pouco a pouco foram melhorando, substituindo por outras mais confortáveis.

(…)Os índios, langorosos por índole e destituídos por isso mesmo de ambição, como soem ser os filhos das selvas, afeitos à vida errante dos bosques, que sempre olhavam como propriedade comum de cada tribo e que lhes proporcionavam o necessário para seu parco sustento, a princípio, salvo poucas exceções, a grande custo  sujeitavam-se ao rude trabalho das lavouras. Preferiam a vida errante dos bosques a ficarem adstritos à suas pequenas lavouras e às fazendas que iam surgindo no seio das florestas.

(…) Foi desse modo e por meio dessas aquisições tão fáceis, que os primeiros que penetraram as matas da Várzea do Presídio se viram, em tão pouco tempo, e quase sem saber como, senhores e possuidores de vastos terrenos anexos às suas pobres moradas, terrenos que iam extremar-se ao longe com outros, igualmente vasto e da mesma forma adquiridos.

Foi assim que dentro em breve surgiram no seio das florestas as grandes fazendas do CAETÉ, COLÔNIA, CAPELA VELHA, etc.

barracão da estrada de ferro

ESTRADA DE FERRO

Estação pequenaEstação e hotel peq

A chegada da Estrada de Ferro a Várzea do presídio ou a João Teotônio, como também se chamava e a solene inauguração de sua Estação pelo imortal e nunca assaz chorado D. Pedro II, O Magnânimo, fato esse ocorrido em 1880, foi a causa ocasional da fundação do Arraial de São Geraldo onde, entretanto, já existiam algumas casas, como núcleo da povoação, se bem que todas em terrenos particulares, mais ou menos à margem da estrada de rodagem que seguia para Coimbra e Rio Branco.

À nova Estação deu-se o nome de São Geraldo e, por que razão lhe deram o de Várzea do Presídio ou João Theotônio, como de tempos idos era conhecido o local onde fora edificada?

A Origem deste nome, ainda hoje a muitos desconhecida, e que jamais se apagará da memória do povo, prende-se ao nome do benemérito e inolvidável patriota mineiro, o Exmo Sr. Antônio Carlos, Barão de São Geraldo, que então fazia parte de diretoria da Companhia Leopoldina de que era um dos maiores acionistas.

Por ocasião da construção do trecho da estrada que medeia entre Rio Branco e a Serra do Presídio, a Companhia, tendo escolhido esse lugar, como apropriadíssimo para uma de suas estações, ao inaugurar a que acabava de lhe ser entregue, houve por bem batizá-la de São Geraldo, em justa homenagem ao titular do mesmo nome que, com tanto brilho, fazia parte saliente de sua diretoria.

De fato, incontestavelmente, a Companhia Leopoldina foi a “alma mater” da fundação da nova povoação. Tendo ganho o terreno onde se acha a estação e que lhe fora espontaneamente oferecido pelos cidadãos José Antonio de Souza Oliveira e Estolano de tal, só com interesse de tê-la junto às suas casas, ela adquiriu em seguida alguns lotes de terra, comprados aos proprietários das fazendas do Caeté e Capela Velha, cujos eram então os terrenos onde hoje se acha o Arraial.

PELO QUE FICA DITO, O ARRAIAL DE SÃO GERALDO FOI FUNDADO EM TERRENOS PRÓPRIOS DESMEMBRADOS DAS FAZENDAS DO CAETÉ E CAPELA VELHA.

CAETHE 1920 pequena

Fazenda Caeté em 1920

Caeté de Baixo pequena

Caeté de Baixo, antes 1917, onde viviam os irmãos do nosso avô Luiz Ferreira da Motta

Mais tarde, em 1896, o Conselho Distrital (então composto dos Beneméritos Cidadãos: Capitão Álvaro Giesta – Presidente; Joaquim Marques da Rocha, Capitão Antônio Gouveia de Lima, Eduardo Rabello Teixeira, João Luiz Ferreira da Motta, Membros; e Secundino Coutinho, secretário) adquiriu-lhe um patrimônio de seis alqueires pela quantia de quatorze contos de réis.

CONSTRUÇÃO DA IGREJA DE SÃO GERALDO

CONSTRUÇÃO DA IGREJA

Igreja 1923 pequena

Igreja em 1923

Construção da nova Igreja, não tenho a data

 

Mas, voltemos à Estação, donde parece que partia todo o incentivo para a criação do povoado, que já ia se estendendo nos seus contornos e a uma e outra margem da antiga estrada de rodagem. E, ao passo que as suas casas iam surgindo por toda a parte, conforme aprazia aos proprietários, os fiéis, que todos eram felizmente, como ainda hoje o são, salvo uma insignificante parcela de indiferentes em matéria de religião, não se descuidaram também da construção da Casa de Deus.

Escolhido o local, que foi o mesmo que pouco antes fora designado pela Companhia, no lindo traçado que mandara fazer da futura povoação, que infelizmente até hoje não foi executado; e onde hoje se vê a majestosa e linda Matriz, há pouco concluída, puseram-se à frente de sua construção, com todo ardor da fé que os inflamava, os distintos católicos Capitão Antônio Machado, João Luiz Ferreira da Motta, João Pedro de Gusmão e Tenente Francisco Antônio Soares.

Como prudentes que eram, não quiseram abalançar-se à empresa da construção de uma Igreja de grandes proporções, o acabamento da qual consumiria largos anos. Por isso deliberaram fazer uma menor, que, assim sendo, dentro de pouco tempo poderia ser entregue ao culto.

(…) Despenderam-se na sua construção apenas oitocentos mil réis, pois o material foi quase todo oferecido pelos fiéis, que a nada se pouparam para vê-la quanto antes acabada, tendo sido os seus principais contribuintes: O Capitão Antônio Gonçalves Machado, com duzentos e treze mil réis e Dona Maria de Paiva com cem mil réis.

A sua construção, iniciada em 1880, foi terminada em 1882. O Cemitério do Arraial só foi construído em 1890 pela Câmara Municipal, continuando, até então, a servir para os enterramentos o Cemitério da Capela Velha, hoje descerrado e no mais completo abandono! Entretanto é ali que descansam os restos mortais dos troncos de muitas famílias ainda hoje existentes na paróquia! Que desleixo! Que desamor da parte daqueles que ali têm os restos mortais dos seus queridos entes.

(Estou transcrevendo apenas alguns trechos do livro que se referem à família)

Na página 93, referindo-se à nova igreja, o Padre Schettino se refere à Júlia Roxo da Motta, nossa avó, contando:

“De uma só nave e por isso mesmo bastante clara, em razão da luz que se lhe côa profusamente pelas portas, janelas laterais e pelas do coro, presentemente só possui um altar mor: belo, artístico, de delicados lavores, e de tal modo nítido, que espelha com toda lucidez o rendilhado da alva do celebrante. Ricamente adornado de lindas jarras, encimadas de artísticas palmas e que ladeiam o belo sacrário de metal dourado, foi ele oferecido à Matriz pelas exmas Sras D MARIA GIESTA, AVELINA ANDRADE E JÚLIA ROXO DA MOTTA.

SOCIEDADE BENEFICENTE CARITAS

No livro do Padre Dario Schettini encontrei uma informação sobre essa Associação que a Tia Ena que me ajudou a identificar as fotos que publico aqui, não sabia. Ela me disse que era uma Associação Beneficente e que acabou por problemas políticos.

Charitas pequena

Vamos ver o que diz o padre:

“Além de tudo o que já expendi relativamente aos recursos, confortos e diversões do arraial, e que por tudo isso o torna digno de ser procurado por quem quer que seja, possui ele também mais um recurso, e este para aqueles que de nenhum outro dispõem, o que hoje, mais do que nunca, acontece.

Refiro-me ao Albergue Noturno. Sito em posição feliz, em uma pequena elevação, a cavaleiro da Estação, donde se goza um lindo panorama, para qualquer lado se volte a vista, apesar de modesto, tem prestado relevantes serviços à humanidade sofredora.

A ele, de anos a esta parte, tem-se acolhido centenas de infelizes, ou para se tratarem de suas enfermidades, ou tão somente para ali passarem a noite.

Até hoje ignoro como ele se mantém, pois até aqui ninguém mo tem dito: o certo é que não pertence a nenhuma organização religiosa. A chamado, ali estive duas vezes para confessar enfermos.

Como seria bom que os seus fundadores e mantenedores, que ainda hoje ignoro quais fossem e quais sejam, deixando de lado seus preconceitos, se é que os há, o entregassem de vez à Igreja verdadeira Mãe da verdadeira caridade!

É isto que já há muito deviam ter feito, continuando sempre a cooperar para sua manutenção e prosperidade.

Em seu belo frontispício, de um amarelo desmaiado, onde refulgem raios de sol, emprestando-lhe a cor do ouro, e realçando ainda mais a sua beleza, lê-se em grandes letras a palavra: CARITAS; pois Deus é Caridade: “Deus caritas est” E, se Deus é caridade, porque não o entregam à Igreja de Deus e à inspeção de seus ministros?”

praça 1900 2praça 1900 pequena

Praça em 1900

Praça antiga 1praça vazia

Praça em 1900

Chefe de obra Chico Machado

A Igreja de São Geraldo

Algumas lembranças de São Geraldo – Cartões que eram distribuidos por ocasião de coroações e primeiras comunhões.

6 – Histórias de Dona Laurinha (Laura Casulari da Motta)

Mamãe e tia RaquelMamãe Laura Casulari e Tia Rachel, irmã do papai

mamae

Mamãe laura s sebastião

Laura de vestido escuro, a outra eu não sei – Estas duas fotos foram feitas em São Sebastião do Paraiso RJ onde Laura foi professora em uma fazenda, antes de conseguir a vaga de professora em São Geraldo

Nasceu em São Geraldo, em 18 de junho de 1916 e faleceu em Campinas em 13 de maio de 1998

Um comentário sobre a data de falecimento da mamãe: Ela era extremamente religiosa e devota de Nossa Senhora, e faleceu no dia de Nossa Senhora de Fátima!

Sobre a sua infância, de muitas dificuldades financeiras, ela não contava muito. A vovó Maria era muito brava, e os filhos precisavam ajudar em tudo.

Contava que a vovó ia para a roça colher café e levava a tia Alzira, a irmã mais nova, ainda bebê dentro de um balaio e deixava debaixo de uma árvore enquanto trabalhava. Um dia viu uma cobra em cima da criança, não sabia dizer como conseguiu espantar a cobra.

Fez o curso primário em São Geraldo, trabalhando como babá na casa do farmacêutico da cidade, Sr. Waldemar e Dona Tutinha. Ela era babá de Dona Magdá que sempre foi nossa amiga e frequentou a nossa casa até o fim da vida.

D Tutinha e Magdá

Tutinha e Sr. Waldemar

O casal era muito querido na cidade e, segundo conta o Salvador Henrique, nosso primo, foi responsável por levar a Tia Alzira e Tio Normandino para trabalharem no Rio de Janeiro, mas eles não ficaram.

Tutinha foi a responsável por ela ter conseguido estudar. Se dependesse da vovó, não conseguiria. Ela contava que D. Tutinha, vendo o seu desejo de seguir em frente, se dispôs a pagar a pensão em Visconde do Rio Branco para que pudesse fazer o Curso Normal.

Para as outras despesas, ela fazia tricô, roupinhas de bebê que eram usadas na época. Quando precisava comprar livros ou outro material vinha a São Geraldo, a pé, 12 km, para pedir á vovó. E esta lhe dizia:

– Quem não tem mandinga, não carrega patuá!

E ela voltava para Rio Branco sem o dinheiro.

Formada, conseguiu um emprego de professora rural, em uma fazenda em Volta Grande, no estado do Rio de Janeiro.

Mamãe solteira

Solteira, ao centro, as amigas eu não sei quem são, acho que a da direita é Delizete.

Esta experiência, ela contava sempre: Dormia em um quartinho elevado sobre estacas de madeira. Á noite, os bois se escondiam neste espaço e batiam os chifres no assoalho, ela acordava e morria de medo.

Depois de um ano, conseguiu trabalhar no Grupo Escolar de São Geraldo, onde permaneceu até se aposentar.

Tentou ajudar a Tia Alzira a estudar, mas ela não quis, era costureira e gostava da profissão.

Mamãe tia alzira e marlene

Mamãe comigo no colo, tia Alzira e Marlene da Tia Mariquinha

Era uma moça bonita, elegante, de bom gosto e vaidosa. Nas férias, ia passear no Rio de Janeiro, onde tinha uma amiga que a hospedava. Conheci esta amiga, muitos anos depois, o apelido era Zinha, mas não me lembro seu nome e detalhes sobre ela.

Destas viagens ao Rio de Janeiro, contava que uma vez foram a um cinema na Cinelândia. Entraram de tarde e, quando o filme terminou, já era noite. Ela se enganou com a saída e bateu em uma parede de vidro.

Era muito religiosa, católica, frequentava a missa todos os domingos e, nós, filhos também frequentávamos com ela.

Uma vez, já mocinhas, Júlia, eu e Julinha da Tia Lia que estava lá em casa, fomos a Ervália para um baile da posse de um prefeito. Fomos com uma amiga de lá, que estudava comigo em Rio Branco e nos hospedamos no hotel do pai dela.

Mamãe Julinha e eu

Julinha da Tia Lia, Eu e Mamãe em Juiz de Fora

O Padre Orozimbo, pároco de São Geraldo, ficou sabendo e durante a missa, na hora do sermão, começou a recriminar as mães que “deixam as filhas irem a bailes em outra cidade”! Ela ficou consternada, se sentindo culpada!

Lembro-me de que gostava de ir a Rio Pomba, onde havia uma senhora, a Lola, que dizia-se que não se alimentava há 20 anos, só recebia a hóstia, todos os dias e água. Diziam que fazia milagres!

Ia também a Urucânia, de trem até certo ponto, acho que até Ponte Nova, com algumas amigas, para visitar o Padre Antonio, de lá, que também era considerado milagroso.

Papai brincava dizendo que ela tinha uma paixão no Rio: O cantor Silvio Caldas, que ela admirava muito.

Ouvi dizer que ela já tinha sido noiva, e descobri que foi mesmo! O ex noivo se casou com uma amiga dela, Anita.

cordeiro e anita

Cordeiro e Anita

Maria mãe do Cordeiro

Maria, Mãe do Cordeiro

O REGIME MILITAR DE 64 ENTRA NA VIDA DE D. LAURINHA

OBS: A mudança no título é um adendo do Antonio Carlos!

Houve um problema lá na escola dos ferroviários onde ela era professora, já tendo se aposentado do Grupo Escolar. A diretora, D. Tute, foi afastada. Em seu lugar deveria ficar a vice- diretora D. Terezinha Santini, que estava grávida de um filho temporão, os outros já crescidos. Então ela pediu à mamãe que ficasse na direção até o bebê nascer, porque iria licenciar-se por um tempo, não queria se expor grávida.

Para ajudá-la, mamãe aceitou.

Aconteceu a Revolução de 1964. A escola havia sido criada pelo Sindicato dos Ferroviários, muito forte na época anterior. Com a Revolução, o Síndicato foi extinto, vários membros da Diretoria foram presos, outros se exilaram. A consequência desta história veio parar em São Geraldo.

Mamãe foi taxada de Diretora Comunista, demitiram-na do cargo e instauraram um IPM no Rio de Janeiro, onde ela teve que comparecer para responder ao processo.

Foi acompanhada por várias autoridades da cidade, que testemunharam em seu favor. Como castigo, foi transferida para Ponte Nova, para onde se mudou com os filhos, deixando o papai em São Geraldo, por causa da Coletoria.

Eu já era casada e a Júlia ficou comigo por um ano, até terminar seu Curso Normal em Visconde do Rio Branco.

A Revolução de 64 também causou outra interferência na família que poderia ter sido muito séria e mudar a vida dos irmãos. Mas esta é outra história que conto depois

ESCRITOS DE D. LAURINHA

O GRUPO ESCOLAR

 Grupo Álvaro Giesta

Parece que pediram à mamãe que escrevesse sobre a história do Grupo Escolar Álvaro Giesta, onde nós estudamos, papai, ela, eu e os irmãos mais velhos e onde ela deu aulas e também eu. Não tenho a data em que foi escrito

Atendendo ao crescimento da população, o Governo do Estado mandou construir um prédio para o Grupo Escolar no lugar do antigo prédio do Conselho que vinha servindo ao funcionamento das escolas isoladas, masculinas e femininas.

Esta construção foi feita em 1919, tendo custado ao estado pouco mais de uma dezena de contos de réis, quantia esta bastante vultosa para a época.

Afinal, em 24 de fevereiro de 1920, foi solenemente instalado o GRUPO ESCOLAR ÁLVARO GIESTA, com a presença do Inspetor Regional Bento Ernesto, representando o Presidente do Estado.

Foi seu primeiro diretor o Prof. Ormindo de Souza Lima e os primeiros professores Francisco Furtado, D. Elvira Bittencourt, D. Flávia Andrade, D.Zulmira Meireles, D. Milota Correa Dias, D. Elisa Correa, D. Gloria Rabelo, D. Leonor Rabelo, D. Ana Boechestein.

Desde a sua fundação o Grupo Escolar Álvaro Giesta vem funcionando sem interrupção e com apreciável regularidade, prestando serviços de altíssimo valor ao povo. Basta dizer que, antes de sua existência, o ensino era ministrado em cursos compostos de alunos de adiantamento variável. Ao lado dos que já liam se assentavam os que jamais haviam visto uma letra. Nessas condições, o ensino se limitava quase ao simples aprender a ler, escrever e a fazer as operações aritméticas elementares. Além deste fator diminuitivo da eficiência do ensino, as escolas não tinham a regularidade indispensável, especialmente antes de 1916. Talvez não seja exagero dizer que o nível máximo de ensino, antes do Grupo Escolar, pouco ultrapassava o do atual 2º ano primário.

O crescimento da população trouxe o problema do acúmulo de alunos para o Grupo, cujas aulas passaram a ser insuficientes. Em alguns anos houve até necessidade de seu funcionamento em 3 turnos e, ainda assim, com uma sala dividida em duas, com tabiques de madeira e superlotadas.

Provisoriamente este problema foi solucionado com o aluguel de salas do prédio do Ginásio (este Ginásio particular, veio muito depois, criado pelo Prof. Antonio Tavares. Nesta casa antiga, que existe até hoje, moraram o Coronel Luiz da Motta e sua esposa Júlia Roxo da Motta, enquanto era construída a nova sede da Fazenda Caeté. Quando o papai escreveu este documento, que estou transcrevendo, já tinha acontecido o Ginásio ali nesta casa.) solução esta que não pode ser aceita como definitiva dados os inconvenientes para a boa direção dos trabalhos, assistência às crianças longe da cantina que funciona junto ao Grupo, como também os inconvenientes da localização do prédio alugado, próximo às oficinas da Rede Ferroviária Federal (quando este texto foi escrito a antiga Estrada de Ferro Leopoldina já se tornara Rede Ferroviária Federal).

Aliás, devido a este último fato, o diretor do Ginásio já está envidando esforços para mudá-lo para ponto menos atingido por ruídos e fumaça.

(NOTA:Este Ginásio citado, que surgiu muito após o Grupo, Ginásio Santo Antonio, foi onde a Júlia estudou por 2 anos e também onde eu dei aulas, depois de formada, por 2 anos. Papai também deu aulas lá. Depois passou a funcionar em outro prédio, construído para ser ginásio. Ficava atrás da última casa em que moramos em São Geraldo. Luis Augusto, Antonio Carlos estudaram lá. Não me lembro se a Goretti e Conceição estudaram lá, acho que não. )

Assim sendo, o grande problema atual do Grupo Escolar vem da deficiência de suas instalações. O prédio não é muito velho, mas tendo sido construído em época de menos recursos e em outras condições da cidade, apresenta falhas lamentáveis e péssimo estado de conservação.

Na época de sua construção a rua, no ponto em que está o Grupo, quase não tinha movimento, também não existiam automóveis na cidade. Assim o prédio foi feito no alinhamento da rua.

PRIMEIROS DIRETORES

(Este texto no original está manuscrito, com a letra da mamãe Laura Casulari da Motta)

O 1º Diretor do Grupo foi o Prof. Ormindo de Souza Lima, ex seminarista, cuja vida foi inteiramente dedicada ao ensino. Por muitos anos, logo que deixou o Seminário, foi professor primário, lecionando em escolas particulares na zona rural. Em 1915 foi nomeado para a escola pública que funcionava na casa do Conselho. Em 1920, com a criação do Grupo Escolar que funcionou nesta mesma casa, foi nomeado Diretor.

Por toda parte onde lecionou ou dirigiu o ensino deixou tradição de honradez e dedicação inexcedível à causa do ensino. Até hoje, os que tiveram a ventura de ser seus alunos, guardam do Prof. Ormindo uma lembrança carinhosa da sua bondade e de suas qualidades, nunca assaz louvadas, de mestre e de educador.

Aposentando-se o Prof Ormindo, foi substituído pela Prof ª Elisa Augusta, quando aposentada, assumiu a direção a Prof ª Laura de Castro Jorge que vem exercendo o cargo até a presente data, com uma pequena interrupção, entre 1953 e 1954, ocasião em que a direção esteve a cargo da Prof ª Antônia Ubaldo da Silva Brasil.

ORIENTADORA DO GRUPO

Atualmente o Grupo vem recebendo orientação técnica da Prof ª Albertina Lima C. Duarte. Releva notar que essa assistência tem sido de notável valor para o melhoramento do ensino. Em suas constantes visitas e ainda por correspondência, a Sra. Inspetora Técnica traça diretrizes inspiradas nas melhores e mais sábias doutrinas pedagógicas, aplicadas com base sua larga experiência do magistério e alta compreensão dos problemas humanos das crianças e professores.

A assistência alimentar às crianças é dada pela Caixa Escolar, através da Cantina Imaculada Conceição, com o fornecimento de sopas e outros alimentos substanciais gratuitamente.

A organização deste serviço, de modo permanente e eficaz, assim como a construção do Galpão e aparelhagem da cantina foi feita em 1954. Era diretora a Prof ª Antonia Ubaldo da Silva Brasil a cuja alta e nobre compreensão dos problemas infantis, aliada à notável energia realizadora se deve este inestimável melhoramento nos serviços de assistenciais da Caixa Escolar.

Antes da organização da cantina, já era dada alguma assistência alimentar aos alunos pobres, mas em escala reduzida e de eficiência dietética muito limitada.

Aliás, a Caixa Escolar foi instalada no próprio dia da instalação do Grupo. Suas atividades, porém, até 1954, embora constantes, não tinham a amplitude desejável, no sentido de proporcionar a complementação alimentar indispensável às crianças, geralmente desnutridas, de famílias de poucos recursos financeiros.

Desde sua organização, em 1954, a CANTINA IMACULADA CONCEIÇÃO vem suprindo esta lacuna, proporcionando a muitas crianças, ao menos no período escolar, a alimentação racional e farta que, nem sempre, suas famílias podem lhes dar.

É um trabalho notável em que o espírito de fraternidade cristã se manifesta com uma homenagem e uma prece congratulatória à doce Virgem Maria, a cuja Imaculada Conceição, em boa hora, foi a canina consagrada.

Infelizmente este amparo dietético ainda não pode ser completado com um serviço de assistência médica e odontológica, como é desejável.

COLABORAÇÃO DOS PAIS

Desde a sua fundação, o Grupo vem recebendo o apoio dos pais, ou melhor, do povo em geral. Há razoável número de sócios contribuintes da Caixa Escolar, assim como contribuições extras, quando necessário, coletadas pelos meios usuais nestes casos. As festas cívicas e de entrega de diplomas são sempre bem concorridas e passam-se em animador espírito de cordial entusiasmo.

Todavia ainda está por ser organizada e, talvez mesmo compreendida com toda a clareza desejável, a colaboração permanente dos pais no trabalho do ensino e, mais ainda, no trabalho educacional de característica indispensável na escola primária.

Também os esforços do Grupo, em conjunto, neste sentido, não são constantes, nem têm tido intensidade. Os contatos coletivos com os pais limitam-se a uma ou outra festa cívica, nem sempre em praça pública, e as festas anuais de entrega de diplomas. Reuniões estas que, por sua destinação especial e por seu caráter solene e ocasional, não criam o sentido íntimo de colaboração estreita entre o trabalho do educador e a família do educando.

É um esforço a ser iniciado e cujas diretrizes de ação merecem carinhoso estudo. Talvez a melhor individualização do estabelecimento, adotando características originais para reuniões e adoção de um hino próprio que se grave como um nome sonoro e musical. Enfim, todo um trabalho metódico de fazer do período escolar uma constante nas palestras familiares e sociais.

FESTAS MAIS IMPORTANTES

Naturalmente, depois da festa primeira da instalação, duas outras marcaram época na vida do Grupo Escolar Álvaro Giesta: A primeira, em 1926, na ocasião da entronização da Imagem de Jesus Cristo, pelo seu significado todo especial de significar a dependência eterna de todo trabalho humano da MISERICÓRDIA E BONDADE DE DEUS.

A segunda, em 13 de junho de 1954, a instalação da Cantina IMACULADA CONCEIÇÃO, por significar o início de um trabalho material, sem dúvida, mas originado de um alto sentido de fraternidade cristã.

Laura Casulari da Motta

professores do grupo pequena

Professores do Grupo Escolar Álvaro Giesta, a esquerda Professor Ormindo de Souza Lima, D. Glória Rabelo,Isabel, Maria Salomé, Mamãe é a segunda, da direita para a esquerda. A outra não sei o nome. .

D nanete pequena

Laura de Castro

D.Laura de Castro, foi minha professora no 4o Ano e Diretora do Grupo

Professora Lurdinha

Professota Lurdinha Correia Dias, observem os alunos descalços!

mamãe e alunos

Dona Laurinha e alunos, não sei a data. Os alunos, como sempre, descalços

professoras do grupo

Professoras: Esquerda Dora Torrent, atrás D. Antonia Brasil, D. Terezinha Queiroz, D. Laurinha, a direita, na frente D. Laura de Castro, D. Célia Batalha, D. Maria da Glória de Rio Branco

BIBLIOTECA MUNICIPAL PROFESSORA LAURA CASULARI DA MOTTA.

placa

Placa na Biblioteca Profa. Laura Casulari da Motta

Em 18 de julho de 2011, nós, os filhos de D. Laurinha, com muito orgulho e emoção, participamos da inauguração da biblioteca de São Geraldo, que recebeu o seu nome e esta justa homenagem.

filhos biblioteca

Fotos do belo evento, que contou com um grande público e a nossa presença emocionada.

lateral da biblioteca

Lateral do prédio

fanfarra festa

fanfarra infantil

Fanfarra infantil na festa de inauguração

filhos inauguração

Os filhos na frente da igreja de São Geraldo

toda família

Todos da família que estiveram na inauguração da biblioteca

dentro da biblioteca

MEMORIAL DE LAURA CASULARI PARA A BIBLIOTECA

Autor: Júlia Maria Casulari Roxo da Motta

Introdução

Para contar um pouco da história da professora Laura Casulari da Motta, que nasceu no dia 18 de junho de 1916, na cidade de São Geraldo, é preciso contextualizar suas origens, retornando aos fins do século XIX e início do século XX no mundo e, em especial, no Brasil.

A primeira Revolução Industrial foi iniciada em meados do século XVIII, na Inglaterra, e expandida para outras partes do mundo no século seguinte, transformando o modo de vida das famílias e seus traços culturais. Inúmeras mudanças tecnológicas produziram profundos impactos nos processos produtivos, econômicos e sociais.

Até então, as formas de organização das famílias eram basicamente rurais. A partir da criação da máquina a vapor, das fábricas, das transformações econômicas e industriais, houve o deslocamento de grande parte dessas famílias e dos trabalhadores para as cidades, criando novas culturas, modificando padrões de organização, resultando em crises nunca antes vividas.

No fim do século XIX e início do XX, a Europa e, em especial, a Itália, vivia novas crises, que resultaram na Primeira Grande Guerra Mundial (1914-1918). A Itália passava por um período de pobreza, desemprego, dificuldades econômicas e sociais.

O Brasil, por outro lado, vivia um movimento de saída da economia rural e buscava a modernização econômica e social com a criação de uma cultura econômica industrial. O país abriu suas portas à imigração de trabalhadores europeus com experiência industrial. Mas, nem todos que vieram para cá tinham essas qualificações profissionais; muitos, na verdade, apenas queriam fugir da pobreza rural da Itália, sonhando com um mundo melhor para seus filhos e netos.

Dentre os trabalhadores rurais italianos que vieram no fim do século XIX, estava uma família composta de um casal e três filhos, dois meninos e uma menina. Estamos falando de Enrico di Paolo Suppini e Virginia Bertolatti, que vieram de Marzabotto, lugarejo vizinho a Bolonha, analfabetos, em busca de mais oportunidade de vida. Sua filha, uma menina de sete anos, Maria Suppini, viria a ser a mãe de Laura.

Após a chegada no porto do Rio de Janeiro, os imigrantes apresentaram-se ao serviço de imigração para distribuição entre as regiões que podiam abrigar novas famílias. Vieram para São Geraldo e, aqui, encontraram outro imigrante italiano, Augusto Cassolari, que também sonhava com uma nova vida no Brasil. Ele nasceu em Cologna Veneta, cidade vizinha a Verona. O sobrenome Cassolari sofreu uma mudança em português, passando a ter uma nova grafia: Casulari.

Augusto e Maria casaram-se em São Geraldo e tiveram cinco filhos, sendo quatro meninas e um menino: Maria Verônica Casulari (Mariquinha), Deolinda Casulari, Laura Casulari, Alzira Casulari e Normandino Casulari. O casal, que já trabalhava na zona rural, continuou sua trajetória brasileira.

Enrico di Paolo Suppini e Virginia Bertolatti, e seus dois filhos homens, não encontrando boas condições de vida por aqui, resolveram se mudar para a Argentina, deixando o jovem casal Maria e Augusto no Brasil. Na Argentina, tiveram mais um filho. Somente muitos anos depois, o vínculo entre a parte da família radicada na Argentina e o ramo brasileiro se reencontrou, restabelecendo vínculos afetivos.

Maria Casulari ficou viúva muito cedo. Sozinha, analfabeta e com cinco filhos pequenos, enfrentou uma dura rotina na zona rural. Pela manhãzinha, fazia o embornal com os alimentos, vestia seus filhos e saía cedo para trabalhar na roça, levando os filhos consigo. Vale lembrar que, na época em que ficou viúva, o filho caçula de Maria, Normandino, tinha apenas poucos meses de vida. As crianças pequenas ficavam debaixo de uma árvore, brincando, dormindo, esperando o dia passar, até voltarem para a casa, dormir e, depois, despertar para um novo dia.

Vida de cortadora de cana, colhedora de café, de puxadora de enxada, de mãe-heroína anônima, como milhares de outras mulheres brasileiras que lutam por criar seus filhos em condições precárias. Mesmo com tudo isso, Maria não desanimou. Sempre buscou  fazer de seus filhos pessoas íntegras e úteis à sociedade. Como analfabeta, queria que seus filhos estudassem; por outro lado, dada as dificuldades, precisava também que os filhos trabalhassem na peleja pelo pão de cada dia.

Enquanto isso, as condições brasileiras e mundiais sofriam novos baques com a queda do café (1929), principal produto brasileiro de exportação; com a revolução de 1930 e, em seguida, com a Segunda Grande Guerra Mundial (1939-1945).

Também é preciso considerar que a abolição da escravidão no Brasil, em 1888, já fazia parte do plano de criação de um Brasil industrial e moderno. E foi acompanhada da reforma de ensino, que tornou a educação primária pública e obrigatória, tirando das mãos dos jesuítas a exclusividade educacional. Para isso, foi necessário criar as Escolas Normais para formar educadores brasileiros. Minas Gerais se notabilizou como o estado pioneiro na formação de professores.

Fragmentos da história de Laura: da idade escolar à profissionalização

Sua primeira infância foi acompanhando sua mãe na luta rural pela sobrevivência. Depois, chegou o tempo da escola e, com suas irmãs mais velhas, já não acompanhava a mãe Maria no trabalho. Ficavam em casa, cuidavam do irmão mais novo e iam à escola aprender a ler e a escrever.

Laura gostava de estudar, aprendia com facilidade e começou a pensar em ser professora. Queria ser como suas mestras eram. No entanto, a pobreza familiar deixava dúvidas se conseguiria, ou não, realizar seu sonho profissional.

Suas irmãs mais velhas, Mariquinha e Deolinda, depois de concluírem o curso primário, passaram a trabalhar como telefonista e costureira para auxiliar na casa. Maria esperava que Laura seguisse os passos das irmãs.

Mas, não foi isso que aconteceu.

Laurinha, como era chamada, ao terminar o curso básico, buscou uma solução para continuar estudando. Uma de suas professoras, vendo seu empenho e conhecendo seu potencial intelectual, auxiliou-a nesta busca. Encontraram um emprego de doméstica, mais precisamente, de babá, em uma casa de família abastada em Visconde do Rio Branco. Nessa cidade também estava a sonhada Escola Normal, que possibilitaria que se formasse professora.

Mudou-se para lá, onde trabalhava parte do dia em troca de casa e comida. Não havia salário. Pela manhã, podia frequentar a Escola Normal que tanto sonhava. À noite, enquanto todos dormiam, Laurinha fazia casaquinhos de tricô para bebês para comprar seu material escolar. Também vendia os presentes que eventualmente ganhava, para ter dinheiro para sustentar seus estudos. Quando o caderno acabava e não tinha dinheiro, pegava a borracha e desmanchava a escrita, reaproveitando o mesmo caderno. Outras vezes, arrumava folhas de papel de pão, costurava-as em bloco, fazendo um “novo” caderno. Nessa casa, permaneceu no trabalho de babá por sete anos, enquanto estudava o ginásio, que na época era de cinco anos, e durante os dois anos de magistério.

Sua mãe Maria não aprovava sua decisão de estudar em tais condições. Quando vinha a pé desde Rio Branco até São Geraldo para visitar a família, Laura recebia novos conselhos de que seria preferível trabalhar logo, em vez de buscar educação com tanto esforço.

Mais tarde, Laura contava aos filhos que, muitas vezes, sentia fome, medo e insegurança. Daria conta de bancar seu sonho sozinha? Pensava em desistir, voltava atrás, pensava de novo… Mas, assim como sua mãe não desistiu de criar seus filhos em condições adversas, ela também não desistiu de estudar, mesmo quando as dificuldades eram grandes.

Um dia, tornou-se professora. Foi a única dos irmãos a estudar além do básico. Teve início outra luta: Onde trabalhar? Como conseguir ser professora?

Nessa busca, encontrou uma possibilidade em uma fazenda em Volta Grande, uma cidade próxima ao estado do Rio de Janeiro. Mudou-se para lá e iniciou sua carreira de professora. Trabalhava como professora, mas continuava fazendo tricô, complementando o rendimento para si e para auxiliar a família.

Um ano depois, surgiu uma vaga de professora no Grupo Escolar Álvaro Giesta, em São Geraldo. E Laura voltou para casa. Sua vida entrava numa nova fase. Durante quase trinta anos, dedicou-se à educação de centenas de brasileirinhos são-geraldenses. As professoras podiam se aposentar com 25 anos de magistério, mas dona Laurinha ficou mais tempo na ativa.

Fazendo uma estimativa de quantos alunos passaram por suas mãos, podemos dizer que se a cada ano teve 40 alunos, e que trabalhou no Grupo Escolar Álvaro Giesta por 30 anos, ela foi professora de cerca de 1200 são-geraldenses. Acrescentando que parte do tempo foi professora em tempo integral, pois lecionou concomitante na Escola dos Ferroviários da Leopoldina durante 12 anos, esta estimativa cresce para 1680 alunos.

Além deste expressivo número de alunos, dona Laurinha ainda criava tempo para estudar e aperfeiçoar seus conhecimentos. Desenvolveu um teste de prontidão para alfabetização que era usado por ela e pelas outras professoras para seleção das turmas de alunos da primeira série. Infelizmente, não foi preservado este material pedagógico tão rico e útil para os que estudam a arte da educação.

É muito importante lembrar que a dona Laurinha teve a sorte de fazer parte de uma geração de professoras que marcou presença no ensino primário em São Geraldo. Essas mulheres dedicaram grande parte de suas vidas a alfabetizar e educar para a vida várias gerações de são-geraldenses. O salário era pequeno e atrasava meses e, muitas delas, necessitavam de adiantamentos feitos por algum financista da cidade, pagando algum juro. Então, elas eram movidas muito mais pelo ideal de ensinar, de ver os alunos desenvolverem o aprender a ler – que é o início da cidadania. Muitos desses alunos, nos quais incluem todos os filhos da dona Laurinha, iniciaram a carreira de profissionais somente porque receberam os ensinamentos desse grupo idealista de professoras. Muitas das professoras antigas e atuais, que continuaram essa nobre atividade, tiveram seu exemplo neste grupo do qual a dona Laurinha fez parte.

Perpetuou-se, assim, um modo generoso de ensinar e transformar crianças. Deste grupo de professoras, temos que lembrar todas com um “Dona” antes do nome, como sinal de respeito e consideração: Dona Célia Batalha, Dona Terezinha Santini, Dona Laura de Castro, Dona Mirtes de Rio Branco, Dona Antônia do Camões, Dona Gloria, Dona Rute Torrent, dentre muitas outras cujos nomes fogem no momento, mas permanecem no fundo dos corações. Assim, entendemos que, ao colocar o nome de Laura Casulari da Motta na biblioteca pública de São Geraldo, a comunidade são-geraldense está homenageando toda uma geração idealista de professoras primárias.

Já aposentada do Estado, transferiu-se com a família para a cidade de Ponte Nova, onde continuou lecionando na escola dos Ferroviários por mais dois anos. Depois desse tempo, mudou-se para Juiz de Fora, encerrando definitivamente sua carreira profissional oficial, em 1967.

Pode-se dizer: “carreira profissional oficial” porque, uma vez professora, sempre professora e, mesmo não lecionando mais, continuou ensinando aos filhos e netos a arte da boa educação pela ética e moral da fraternidade cristã da qual é uma Mestra para todos nós. E passou o gosto pelo magistério: entre seus filhos e netos, muitos continuam a dar aulas e a ajudar na formação de brasileiros, em vários níveis e áreas do conhecimento.

Faleceu em Campinas, SP, no dia 13 de maio de 1998, dia consagrado à Virgem Maria de Fátima, permanecendo filha de Maria.

Dados biográficos:

Nasceu em 18 de junho de 1916, em São Geraldo. Faleceu em Campinas, São Paulo, no dia 13 de maio de 1998. Exerceu o magistério por mais de 30 anos e aposentou-se em 1967. Casou-se com Luiz Roxo da Motta (Sr. Lizote) no dia 8 de maio de 1944, às 9h, em capela modesta na zona rural. Tiveram sete filhos: Regina Helena Casulari Roxo da Motta, Luiz Augusto Casulari Roxo da Motta, Antônio Carlos Casulari Roxo da Motta, Laura Maria Goretti da Motta, Maria da Conceição da Motta Rodrigues, José Reinaldo da Motta e Júlia Maria Casulari Roxo da Motta.  Quando faleceu, deixou 18 netos e dois bisnetos.

HISTÓRIAS RECORDADAS PELA GORETTI ( LAURA MARIA GORETTI DA MOTTA)

Uma história do dia do casamento de Laura e Luiz

Mamãe contava que o papai sempre se atrasava nos encontros marcados no tempo de namorados. Então ela resolveu que no dia do casamento ele iria esperar.

Mamãe foi se aprontar e demorava para terminar visando chegar na igreja com certo atraso.

Demorou, demorou o quanto pode. Chegou na igreja e qual não foi a surpresa: papai não tinha chegado ainda!!!

Ele tinha esquecido de comprar sapatos e foi pedir ao dono da loja para atende-lo no dia do casamento! (Pelo que me consta o casamento foi num domingo).

Não teve jeito, mamãe também esperou naquele dia.

Ela contava e o papai ria.

Briga e reconciliação

Tem duas histórias com este tema.

Mamãe contava que uma vez ela e papai estavam brigados. Ele não sabia dançar. Mamãe gostava de dançar. Mas o motivo da briga não era este. Não sei qual foi desta vez. Mas envolve a dança na reconciliação. Mamãe estava num baile e começou a tocar a música “upa, upa, cavalinho alazão, ei, ei, ei, não faz assim comigo não”.

Papai foi onde a mamãe estava e a puxou para o salão. Mamãe brava falou que ele não tinha pedido para dançar, etc e tal.

Ele respondeu: só sei dançar esta música, não dá tempo para etiquetas. Depois da música conversamos. E assim fizeram as pazes.

Inda bem, senão não estaríamos aqui hoje!

Outra foi na estação. Esta não me lembro bem os detalhes. Mas foi mais ou menos assim. Estavam brigados e papai ia viajar. Mamãe deu uma violeta para ele. Ele guardou esta violeta seca por muitos anos. Poético.

Uma história da Mamãe que a Dulce conta.

Na fase que a mamãe foi morar com a Júlia em Campinas, a Dulce vinha de Sorocaba passar uns dias com ela. Conta que um dia estava no quarto e a mamãe chegou dizendo: Dulce estão chamando para sairmos.

Dulce perguntou: para onde?

Mamãe respondeu: não sei, mas vamos logo. Deve ser bom passeio. Se rico gosta é porque é bom!

Talvez a Dulce possa contar ao vivo com mais detalhes e graça. Mas ela repete isto até hoje quando está na nossa casa e a convidamos para sair.

O pedido de casamento

Mamãe conta que o papai foi falar com a Vovó para pedir a mão dela em casamento.

Vovó era “enfezada”, não sei o que pretendia. Mas falou para o papai: se quer casar, casa, mas preguiçosa taí…

Não lembro se falou mais algum “defeito” (porque o que a mamãe nunca foi é preguiçosa).

Mas era para espantar qualquer noivo daquela época.

(Eu herdei o nome, a cara, e o defeito da mamãe. Uma vez ela falou: vou levar a Conceição comigo para ajudar, a Goretti é preguiçosa…).

A história do sapato

Mamãe contava que vivia numa correria, de uma escola para outra, com uma renca de filhos, tendo que ir em casa no tempo curto do almoço, etc. (A Ré tem histórias para contar deste tempo e de como ela dava conta dos irmãos menores).

Um dia ela notou que estava mais cansada de andar e mancando um pouco, muitos olhando para ela na rua.

Só percebeu o por que ao chegar no Grupo: em cada pé tinha um sapato diferente, inclusive um de salto e outro sem.

Contava rindo.

O dia de fazer doce de goiaba e outros doces

Mamãe era uma exímia doceira. Na época das goiabas mandava a gente buscar várias latas de goiaba na casa da D. Camélia, que era a merendeira do Grupo Escolar.

Trazíamos as goiabas e era montado um mutirão para preparar tudo. Não tinha faca inoxidável na época. Mamãe fazia várias faquinhas afiadas de bambu para a gente usar. Goiaba ficava preta se cortada com as facas comuns de ferro.

Tinha toda uma lógica: as bonitas, inteiras e sem bicho ou machucado na casca eram reservadas para fazer o doce em compota. Tirávamos as sementes das metades de cada goiaba que eram reservadas para fazer geleia. Em algumas eram abertas somente um buraquinho no topo e com cuidado as sementes eram tiradas. Depois de cozidas eram recheadas de doce de leite. Uma delícia.

As amassadas eram usadas para fazer goiabada cascão. Davam menos trabalho para nós, mas demorava horas apurando o doce no fogão de lenha que tinha do lado de fora.

O doce de leite mamãe fazia num tacho grande e demorava horas também. Lembro que ela colocava um pires no fundo de “cabeça” para baixo que era para o leite não entornar no começo do cozimento quando fervia por muito tempo.

Eu sempre fui louca por goiaba. Aproveitava para comer bastante enquanto descascava.

Mamãe também fazia doce de mamão de vários tipos: em lascas, ralado, cristalizado, etc. Fazia um doce com o pé do mamão, com o tronco, não me lembro como.

Fazia um pé de moleque delicioso: com rapadura e um pouco de farinha de mandioca, que colocava para ficar mais macio e menos doce, parece. Os amendoins inteiros saltavam uns sobre os outros e gostávamos de “roubar” os mais destacados deixando a mamãe brava. Fazia de colherada cada um colocando para esfriar na pedra da pia. Aí era a chance de os filhos atacarem.

O doce de coco era ralado por ela com todo cuidado, deixando lascar ou pequenos pedaços do coco no meio, delicioso.

O cajuzinho é uma história a parte. Uma vez fui perguntar para ela a receita. Ela falou: põe mais ou menos tanto disto, tanto daquilo… Tive que ficar um dia ao lado dela medindo os “tantos” de cada coisa para guardar uma receita aproximada, que é a que resiste até hoje.

Pequenas histórias de diversas épocas

1)      Quando morávamos em São Geraldo, ao lado do Clube, mamãe não ia nos vigiar lá no salão, mas subia na bancada e ficava da janela olhando. Tínhamos que passar em frente de tempos em tempos. Para os meninos ela oferecia copo de leite!!! (as meninas da casa não gostavam de leite).

2)      Mamãe gostava de coisas modernas, era vaidosa, e dentro do possível gostava de nos ver arrumadas. Mas o dinheiro era sempre curto. Assim ela às vezes brigava com o papai quando ele comprava livros de viajantes que passavam por São Geraldo. Dizia: Lizote, os meninos estão precisando de sapatos e você comprando livros!

Não que ela não gostasse de livros, ao contrário, era uma excelente professora e sempre procurava leituras. Mas ela era a cabeça pragmática do casal. Os livros eram caros, e acho que também circulava alguma coisa sobre que os vendedores eram maçons, que o papai comprava também para ajudar por isto (tem a história dos sinais secretos…). Seja como for, nossa casa tinha livros e jornais que chegavam muito atrasados. Lembro dos suplementos infantis que traziam. Todos nós no final ficamos apegados aos livros, talvez por isto hoje a Biblioteca seja um marco importante.

3)      Quando mudamos para a casa ao lado do Clube, nossa primeira casa própria, mamãe resolveu fazer uma reforma para modernizar a casa, principalmente o banheiro. Inicialmente tinha somente um banheiro externo, na varanda de trás, eu acho. Para fazer o banheiro interno ela foi comprar as louças e os azulejos em Juiz de Fora (eu acho). Uma modernidade: com banheira e paredes e chão amarelo e preto. Tinha uma portinhola que dava para a parte externa num corredor do lado da casa, com um local onde recebia as roupas sujas. As janelas da frente foram trocadas. As antigas eram tão grandes que foram vendidas como portas. D. Lurdes, vizinha de frente colocou em quartos que fez no porão da casa dela.

4)      As camas que usamos até no Monte Castelo foram feitas numa fábrica em São Geraldo mesmo. (Agora a cidade voltou a ter fábricas de móveis!). A sala de jantar também era de madeira. Linda (eu achava), mas quando apareceram os móveis de fórmica a mamãe quis logo mudar: Moderno era com ela!

5)      Nesta casa tinha a “sala de visitas” que não podíamos usar. Era a sala de ouro, que ficava sempre arrumada para que nenhuma visita surpresa encontrasse bagunça de criança. No Monte Castelo ela manteve esta sala de ouro embora nela os netos pudessem fazer o que quisessem.

6)      Tem uma historinha de visitas. Mamãe recebeu uma visita de cerimônia para almoçar. Não lembro quem. Tudo era muito contado. Na sobremesa ela pergunta: Fulana quer mais doce? Antes que a fulana responda um dos filhos diz: eu quero. Mamãe diz pra ele: filho, doce não se repete. Quer mais fulana?

Outra visita famosa lá em casa sempre foi da D. Magdá. Ela chegava sempre linda e poderosa e a mamãe já nos mandava sair da sala. Não tínhamos autorização para ficar ouvindo conversa das visitas, mas da D. Magdá menos ainda! A curiosidade aumentava. Ela sempre nos visitou em todos os locais que moramos. Em Juiz de Fora tem a famosa história que ela queria ficar conversando com todos. Assim, levantava cedo, colocava a toalha de banho no ombro e sentava com cada um para tomar café e repetia: vou tomar banho, já , já, mas isto assim, assim … emendava o papo e chegava a hora do almoço ela ainda estava lá com a toalha sem ter tomado o banho. Virou dito.

7)      Em Ponte Nova, fomos morar em 1965, e papai ficou em São Geraldo. Mamãe arrumou uma casa moderna para alugar: tinha uma varanda com um que de Brasília, na minha lembrança. Nesta varanda a Júlia organizou várias festinhas dançantes e também cortava o meu cabelo e dos meus pretendentes a namorado, coitados se submetiam … Tinha a horta próximo do Rio que passava no fundo da casa. Mas uma vez nasceu um pé de tomate entre a casa e a calçadinha que tinha em volta. Milagroso dizia a mamãe: como naquele buraquinho ficou tão viçoso e deu quilos e quilos de tomate por muitos meses! Deus nos protegia.

8)      Em Juiz de Fora compramos nossa primeira geladeira. Já era pelo ano 1970 ou 71 por aí. Não lembro bem. Antes disto, mamãe fazia gelatina e deixava do lado de fora da casa para endurecer. No inverno fazia muito frio e dava conta. Não tínhamos ainda TV. Íamos assistir a novela das sete na casa da Tia Fiuta, amiga – irmã da mamãe a vida toda. Ela morava perto. Nos acolhia toda noite lá. Um tempo comemos de marmita por indicação da Tia Fiuta. Mas eram muitos adolescentes e muitos agregados que a mamãe dava acolhida principalmente nos finais de semana. Então a casa ficava cheia e animada. O hábito de ficar conversando na mesa após as refeições foi só ficando mais forte.

HOMENAGEM PELOS 80 ANOS PUBLICADA PELO ANTONIO CARLOS NO JORNAL DA OSASCO

totonho

ESCRITOS PESSOAIS  QUE GUARDEI

acrostico marcelo

TRANSCRIÇÃO DO ACRÓSTICO

Querido netinho Marcelo

Vovó, a guisa de homenagem aos seus 8 anos, rabiscou este acróstico:

Muito alegre e sorridente

Ama com ternura as suas irmãs

Revela esta grande afeição

Colaborando com suas fãs

Em seu adorado lar

Lembra um anjo de paz

Onde ele se encontrar.

  Acalando para os netos CERTO

Transcrição: ACALANTO PARA OS NETOS

Jogue pedras nas janelas

Pique papéis pelo chão.

Risque as paredes da casa

Com lápis, giz e carvão.

Ponha a linguinha de fora,

Fale e escreva palavrão.

Rache os ladrilhos do piso,

Acenda o gás do fogão.

Deixe aberta a geladeira,

Quebre o trinco do portão.

Retire os livros da estante,

E os espalhe pelo chão.

Besunte a toalha da mesa,

Entorne a sopa e o feijão.

Toque forte a campainha,

mexa na televisão.

Tire os móveis dos lugares,

arme enorme confusão.

Bote o dedo no nariz,

Cambalhote no colchão.

Não estude geografia

E nem prepare a lição.

Rasgue o jornal e a revista,

Jogue a japona no chão.

Quebre os cachimbos ingleses,

O da China e o do Japão.

Despetale as rosas rubras,

Que cobrem o caramanchão.

Mas, tome todo cuidado,

Não crave espinhos na mão,

Pois seriam punhaladas

No meu velho coração.

(Nóbrega de Siqueira)

carta mamãe 1

Carta da mamãe sem data, foi depois de uma temporada lá em casa, voltando para Campinas.

Transcrição:

Regina, minha filha querida,

Estou saindo da sua casa agradecendo a sua dedicação a mim dispensada e também agradecendo seus filhos as atenções recebidas, ao Milton também agradeço o modo gentil de me tratar.

O mais importante, minha filha, é agradecer a Deus tudo de bom que ele nos tem dado.

Peçamos a ele que nos perdoe por não termos sido gratos a Ele a todo momento, o quanto ele e nossa Mãe Santíssima tem nos proporcionado.

Dê-lhes alguns momentos de reflexão e chegará à conclusão que temos recebido muito mais do que lhes damos.

Estou pensando em voltar para a festa de Nossa Senhora, se Ela achar que devo voltar, voltarei.

Estou sentindo que esse convívio vai me fazer falta, mas lá também vou procurar mudar de vida para não ficar tão inútil como sou.

Deus abençoe a todos e a Mariana em especial. Mãe

carta mamãe

Outra carta da Mamãe, transcrição:

Querida Regina

Voltei tão entusiasmada com a festa que resolvi mandar para cada um umas pétalas das rosas que foram bentas lá.

O sol manifestou-se radiante e uma pétala da rosa ficou presa à testa da Virgem e ninguém tirou-a.

Coloque estas rosas no livro da Flavinha que creio que ela gostará. São bentas e dará muito fervor a quem acreditar.

Nossa Senhora está pedindo orações a todos. D. Odete que me deu este papel, pois não tenho bloco mais. Vou comprar.

Deixe a Flavinha o que quiser guardar na bolsa será bom.

Beijos da Mãe.

DISCURSO FEITO POR LAURA EM EVENTO NO GRUPO

dISCURSO

Reverendíssimo Padre Orozimbo

Reverendíssimo Padre Alberto

Digníssimas autoridades presentes

Ilustríssima Senhora Diretora

Prezados colegas

Ao iniciar esta despretensiosa palestra, desempenhando incumbência recebida de nossa ilustre Diretora, desejo que minhas primeiras palavras sejam de agradecimento.

Gratidão a Deus que nos dá a alegria desta festa, em que comemoramos a semana da Criança, assim em nosso São Geraldo, como em toda nossa Pátria.

Agradecimento ao nosso bondoso vigário, Padre Orosimbo, cujo carinhoso amor aos paroquianos, em especial às crianças, é por todos reconhecido. Ao padre Alberto que nos honra com sua visita e sua piedosa colaboração ao grande esforço de nosso vigário.

À todas as autoridades e famílias que engalanam com sua presença ilustre a nossa modesta festinha. Quero também fazer um agradecimento todo especial A Sra Selma Tudesco, catequista, que tão piedosa e dedicadamente ministrou o ensino da nossa Santa Religião às nossas crianças.

Quero trata-los assim, porque os estimo tanto quanto a meus próprios filhos. Meu coração vibra de intensa alegria ao vê-los jubilosos, contentes, cheios de vida, a receber o prêmio de seus esforços.

Ao receberem hoje a Santa Comunhão, e muitos o fizeram pela vez primeira, vocês receberam ao próprio Cristo Jesus Nosso Senhor, que quis premiar os seus esforços em aprender sua doutrina. Dias e dias seguidos seus passinhos gárrulos os levavam à nossa capela. E, nós os acompanhávamos cuidadosos, mas também repletas de esperança de sentir esta alegria que hoje nos é dada.

Agora, uma palavra final de amor e conselhos, meus queridos filhos:

Façam que esta presença viva de Cristo, que hoje está em vocês, os acompanhe por toda a vida. Lembrem-se sempre das lições do catecismo, e as aumentem dia a dia, procurando conhecer cada vez melhor a doutrina da Santa Igreja Católica.

E, mais que isto, procurem vivê-la a todo instante. Hoje vocês são crianças, seus deveres são leves, mas nem por isto, menos agradável a Deus o seu cumprimento. Formem seu caráter cumprindo bem seus deveres leves de criança, para saberem viver como adultos, em breve.

Sejam amigos uns dos outros, sejam alegres, brinquem expansivos. Mas não deixem que suas brincadeiras sejam perturbadas pelas brigas e discussões tão penosas para todos nós.

Estudem suas lições com carinho. Elas são a estrada suave que os levará ao triunfo, qualquer que seja a profissão que adotarem. O saber é a riqueza que os acompanhará toda a vida sem lhes pesar, nem ocupar espaço.

CARTA DO PADRE OROZIMBO PARA LAURA

CARTA

Vou transcrever aqui a carta que ele escreveu dizendo para ela que não me deixasse casar! Publico só a foto da primeira página, são 6 páginas. (Vou manter a grafia original) Observação: Ele não fez o meu casamento! Estava em Belo Horizonte e falou para meus pais procurarem um padre em Rio Branco. E nunca mais voltou para São Geraldo!

Belo Horizonte, 23-4-64

V.J.M

Prezada D. Laura

Paz!

Domingo p.f. depois da missa das 7, queria atende-la. Depois de engulir uma chícara de café, julgando que me esperava, ali na sala, sai logo a sua procura – mas a senhora não poude me esperar. E foi pena. Muito precisava falar com a senhora:

Queria primeiro falar sobre o seu leilão – Esperando contar c/ um esforço da parte da sua comissão que esse ano abre o Leilão. Queria sugerir que fizessem uma lista para serem os números vendidos fora – Raul Soares, Juiz de Fora e/f  queria sugestionar algo mais – tive de sair aquele dia mesmo na parte da manhã. Estou aqui amarrado na segunda feira: aula de manhã e a tarde. Frequento a cultura francesa. E não há jeito de deixar S. Geraldo – Contudo espero que sua Comissão faça o que puder – A Casa paroquial está clamando S.O.S.S – e a Igreja precisa ser terminada –

Mas o que queria fala – e de muita necessidade, era sobre o casamento da Regina – Nós párocos temos muita responsabilidade nos casamentos!

– Devo dizer e não escondo meu receio a respeito deste casamento –

É preciso lembrar que são duas vidas que são postas em comum para juntos amar, trabalhar, rezar e sofrer – e para sempre –

– Lembrar que o casamento cristão – é um sacramento – uma Bênção de Deus vai selar – vai sagrar para sempre o vínculo do matrimônio – Bênção que vai unir para sempre o coração da Regina e do rapaz diante de Deus e diante dos Homens –

O Matrimônio Cristão é uma mútua doação – corpo e alma – feita no Amor – verdadeiro, generoso, sincero.

União feita e levada por amor e não apenas pelos os eng. encantos e atrativos do sexo – um amor que torna sublime a união do sexo –

Quero lembrar e dizer que o rapaz – o Ari tem que prometer mudar de vida – Para isso tem de fugir das mas companhias que leva ao álcool – às farras de moleques –

Que desgraça para uma jovem esposa estar atrelada a um homem que bebe e vive a cheirar álcool -!

Ele precisa praticar a Religião – sinão,-  não –

– Lembro que é preciso que ambos se preparem, senão – não –

Que ideia eles fazem do matrimônio – ? Será que eles pensam que o Sacramento do matrimônio é apenas uma ficção religiosa? – uma Formalidade de alta conveniência social – à qual é necessário se submeter para serem tido como pessoa de bem- ?!

Qual a preparação que estão fazendo? Para receber esse Sacramento que é a Figura da união de Cristo e da Igreja?!

Muitos noivos pensam em tudo, em Festas – Fazem o cálculo das despesas – em convites, em Fotografia etc – Mas esquecem de duas coisas importantes: 1 – que o matrimônio é um Sacramento do vivos, e que, por isso deve ser Recebido em estado de Graça – Quantas vezes não vemos surgir ao lado de uma  donzela crente e verdadeiramente cristã, tomando-lhe as mãos, um homem sem fé, sem outra atitude senão uma vulgar honestidade – Que digo? Todos nos grandes centros, e também no interior, pobres donzelas conduzidas por pais sem escrúpulos, iludidos por vagas promessas, induzidos por um amor cego, vitimas do que chamaríamos conveniência social, entregam o coração, a vida a homem não somente despido da graça de Deus, mas ainda da mais elementar dignidade moral.

Creio que os males dos (não entendi a palavra escrita) e as infelicidades nos seio das famílias procedem desta causa: Esquecer a santidade do Matrimônio – calcar as Leis do Matrimônio –

Mas si olharmos o casamento santificado! Eu vos digo, digo a todos que na terra nada há de tão belo –

Ei-los a se preparar para o casamento os dois noivos honestos e cristãos que, em breve, irão ao altar permutar um juramento de amor que, como esse, só se troca uma vez na vida –

Nada é tão belo como a celebração de um casamento santificado. Jesus diz aos esposos que são dignos de ouvi-lo e capazes de compreendê-lo “Vinde a meu altar acender a chama do Amor puro e imortal

 

Espero que não me levem a mal – que os jovens compreendam que eu os quero ver felizes: Peço a bondade de transmitir essa minha palavra ao Ari – e que Regina se esforce também. Sem a cooperação dela é impossível mudança. Espero que procurem o Frei Mario – E a senhora participe o F Mario – Queira relevar esse rascunho feito com muita pressa.

Orosimbo

AMIGAS DE LAURA E DA FAMÍLIA

FOTOS ANTIGAS DAS AMIGAS

Sobre as fotos que publico aqui, devo dizer que as identifiquei, por sorte, junto com a mamãe. Assim como trabalhei com a Tia Ena identificando as fotos de seu acervo Roxo da Motta, tive a inspiração de fazer o mesmo com as fotos da mamãe. Não fora isto, não poderíamos usufruí-las hoje!

MADRINHA ODILA E A PAPELARIA

Exposição do Ary em JF

Madrinha Odila, de óculos, entre o Ary e eu, na inauguração da exposição de pintura que o Ary fez em Juiz de Fora. A direita, de óculos e bigodes, o Luis Augusto. Atrás do Ary, a Dalva, sua irmã. Ao lado do Ary, Rosângela Monteiro, Adílio,. Atrás do Adílio o Zizinho e a Luzia Cardoso, todos de São Geraldo.

Estou tentando encontrar uma foto da Madrinha Odila sozinha.

Era madrinha da Júlia, mas todos nós a chamávamos de madrinha. Muito amiga de meus pais, era uma figura especial na cidade. Andava de calças compridas, à cavalo, mais tarde dirigindo um carro, o que nenhuma das outras mulheres faziam.  Para mim, parecia uma artista de cinema!

Praça São Geraldo pequena

Esta era a praça por volta de 1910. A papelaria, seria nas duas primeiras portas comerciais, por volta de 1950, quando já havia um jardim nesta praça.

Sua papelaria, duas portas abertas para a praça, era um tesouro para nós, crianças. Tinha brinquedos, bonecas de papelão com roupa de papel crepom que ganhávamos no Natal e material escolar. Depois apareceram bonecas de louça, mas nunca tivemos delas. Plástico foi muito mais tarde, quando já éramos mocinhas e não mais queríamos saber de brinquedos!

Seus pais, Sr Otacílio e D. Sinvalina moravam com ela nos fundos da loja. Antes, porém, me lembro deles morando na 21 de abril, acima de nossa casa. No Natal eles faziam um presépio lindo, o mais bonito da cidade! As casinhas de papelão pintadas, rio de espelho e, o mais incrível, havia postezinhos entre as casas com mini lâmpadas de verdade, acesas!

TIA FIUTA

No sitioc

A esquerda, Tia Fiuta, depois vovó Maria, ao lado dela, de vestido claro estampado. Assunta, esposa de Ângelo Casulari (irmão de nosso avô, Augusto Casulari) que está atrás e não dá para distinguir as feições, mamãe comigo no colo e, debruçada no muro Tia Alzira, irmã da mamãe. O local é o Sítio onde nasci e que hoje não existe mais, no local hoje fica o Distrito Industrial de São Geraldo.

Manuelzinho mamãe e outras

Manuelzinho da prestação, Laura, Isabel de Barros e Fiuta. Mamãe dizia que ele paquerava todas!

tia-fiuta

Lembrança da Tia Fiuta (Dayr de Moura da Silva)

Seu nome era Adair de Moura Silva, era irmã de Dona Neném, também grande amiga, nos acompanhou sempre, esteve sempre junto de nós até ao seu falecimento em Juiz de Fora, quando a nossa família já morava lá.

Diziam que ela tinha sido namorada do Tio Neneo. Ele foi para a Expedição Roncador Xingu e, uma vez que esteve em São Geraldo, fizeram uma fofoca sobre ela que o levou a terminar o namoro.

Papai comentava que ela era uma moça muito bonita e que o Tio Neneo se referia a ela como “faceira” ou “saudável” não me lembro bem.

Ela se casou com Antonio Francisco da Silva que nós chamávamos também de tio e era oficial do exército e tiveram um filho, o Fernando César de Moura Silva, engenheiro, que frequentava também a nossa casa. Em Juiz de Fora, moravam na Rua Oswaldo Aranha, bem perto da casa de São Mateus.

Lembro-me de uma história da época da Golpe Militar: O Tio Antonio fazia um curso, ou tinha feito um curso, no Granbery e conhecia e admirava o professor Irineu que foi preso por subversivo e levado para o quartel do exército onde ele trabalhava. O professor já velhinho, foi deixado de cuecas no pátio, a noite toda e estava muito frio.

Ele ficou tão abalado com esta cena que deu um jeito de se aposentar, indo para a reserva.

Eu me lembro muito do casamento do Fernando, temos algumas fotos, onde estão seus pais.

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Casamento do Fernando, em Juiz de Fora. À direita, mamãe, Fernando, Goretti com a sua filha Beatriz, Tia Fiuta e um sobrinho dela que não me lembro o nome.

Por uma época foi professora de Yoga em Juiz de Fora e fiz algumas aulas com ela.

Depois do falecimento da tia Fiuta, repentinamente, vítima de um aneurisma, perdemos o contato com eles.

tIA FIUTA

Tia Fiuta e mamãe no apartamento onde moramos na Rua Santo Antonio em Juiz de Fora, foi no aniversário de 1 ano da Mariana, filha do Marcelo, minha primeira neta e o rapaz é o Tio da Mariana, irmão da Vânia, esposa do Marcelo, chama-se Hermenegildo. Esta informação foi a Mariana que me deu!

DONA MAGDÁ

Magdá moça

Uma amiga que até hoje é citada na família! Quando nos visitava em Juiz de Fora, levantava-se de manhã com um quimono comprido, de seda, colocava a escova de dentes no canto da boca e andava pra lá e pra cá dizendo que ia tomar banho. E conversava, tomava café e continuava dizendo que ia tomar banho…Chegava o almoço e ela ainda não tinha tomado banho!

Até hoje, quando alguém diz que vai tomar banho e fica enrolando, a gente diz que está igual a dona Magdá!

Mamãe foi babá dela, quando criança e a amizade durou pela vida toda. Era uma mulher muito bonita, elegante, chegava lá em casa, em São Geraldo de charrete, usando óculos escuros, o que era uma novidade para nós, crianças. E, principalmente, era uma visita de quem nós não podíamos ouvir a conversa, o que lhe dava uma aura de mistério!

Era casada com Luiz Bittencourt, fazendeiro, e tiveram filhos, que vou citar pelos apelidos: Luizito, Teresinha, Maguinha, Sérgio e Noeme.

Terezinha foi muito minha amiga, temos a mesma idade. Casou-se e foi para São Paulo e nunca mais a vi.

Magda e outra

Magdá à direita e uma amiga, que eu acho que era a Delizete, também muito amiga da mamãe.

Magda e Magdala

Magdá e sua irmã Magdala (Dainha)

dainha

Magdala (Dainha)

DONA DELIZETE

Lembro-me dela visitando a casa da rua São Mateus, em Juiz de Fora. Sei que era viúva do Sr. Coelho, cujo primeiro nome eu não sei.

Nessa época era já tinha muitos problemas de saúde, mas tinha uma alegria, que, segundo a mamãe dizia, era o que a mantinha viva!

Ela criou uma menina, Maria Helena, que só ficou sabendo que era adotiva depois de adulta e, por isso, não mantinha boas relações com a mãe. Maria Helena tinha um filho que era o xodó de D. Delizete.

Tia Rachel e Delizete

Tia Rachel, irmã do papai, se tornou freira e tem uma bela história que pretendo contar, a esquerda, e Delizete

Várias Amigas

Na entrada do Caeté: Direita Fiuta, Leinha, Lia, Laura, Delizete, Magdá. A criança é a Judite que a vovó criou.

OUTRAS AMIGAS

Zinha altair de Oliveira

Zinha, Altair de Oliveira

Zinha

Zinha

Eu me lembro da mamãe contar que ia passear na casa dela no Rio de Janeiro. Lembro-me de tê-la visto uma vez em nossa casa.

Zulmira 1

Zulmira, filha da Mariquinha portuguesa que morava na última casa da Rua 21 de abril, depois de sua casa era só uma estrada que levava até a Serra Verde. Hoje é um bairro industrial.

Zulmira Mariquinha portuguesa

Zulmira

Zulmira

Zulmira

Nice Vital

Nice Vital, morou com a mamãe na pensão em Rio Branco para estudarem. Anotei que a mamãe disse que a Nice usava as meias dela escondido! Eu não me lembro dela, morreu cedo. Mas a filha dela Maria do Carmo Cabral foi minha amiga e colega no internato em Viçosa. Tornou-se advogada e começou o inventário do Ary, pai dos meus filhos, mas faleceu antes de terminá-lo.

Floripes

Floripes, lembro que a mamãe era madrinha de uma filha dela.

Estou citando aqui as amigas de São Geraldo que nos acompanharam até o fim de seus dias. Havia muitas outras, colegas de trabalho, D. Célia Batalha, mamãe era madrinha de sua filha, D. Antonia, foi diretora do Grupo, mãe da Terezinha Brasil, D. Terezinha Santini, D. Nenem do Caxixe, que nos hospedou em sua casa quando a Conceição nasceu e muitas outras.

Em Juiz de Fora, morando já no Monte Castelo, tinha a D. Odete, uma vizinha muito querida, companheira das rezas.

Antes de falar de meu pai e do casamento deles, vou falar da família Motta e depois dos Roxo Motta.

CARTAS QUE A MAMÃE GUARDOU

CARTA DE MAGDALA, AMIGA E MADRINHA DA JÚLIA

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Magdala (Dainha) é irmã de Magdá, amiga de sempre da família, filhas de D. Tutinha e Sr. Waldemar que fazem parte de nossa história.

Ela se refere  à mamãe como Yayá, porque a mamãe foi babá dela. Morava em Cataguases, o marido era industrial lá.

Encontrei esta carta nos guardados da mamãe, vejam:

Querida Yayá e Lizote,

Cheguei ontem de Iriri e achei que um telegrama atrasado, pelo casamento do José Reinaldo e Solange, seria frio demais, então vai esta carinha levando os nossos parabéns e os mais sinceros votos de felicidades aos dois “pombinhos”.

E vocês, como vão? Por aqui tudo corre bem graças a Deus. Já temos uma netinha, Patricia, com quase 2 anos e a Judite já encomendou também. Ela está muito feliz com o casamento mas mora muito longe – Araçatuba – Daqui lá são quase 1200 km, isto é, 12 horas de viagem. Zezito e eu fomos lá e dividimos dormindo em São Paulo, mas é discomodo! Creio que ficarão por lá mais uns 2 anos e depois serão transferidos. O importante eu sei ´r que estejam bem, mas que seria bom estarem mais perto, também é certo. M. Claudia e Sergio continuam no Rio, bem como José e Marcelo que ainda estudam. O mais novo Gabriel faz agronomia em Viçosa. Tem horror do Rio e acho até que escolheu agronomia por ser fora de cidade grande! E seus filhos? Tenho sempre notícias pela Magadá – que anda sumida – cada qual mais inteligente e esforçado! Que Deus os proteja! E a minha afilhada Julia? Tenho muita vontade de vê-la! Escreva-me contando muito de vocês. Que notícias me dá da Lia, minha madrinha, e ena? Nenel Raquel também vão bem? Engraçado, a gente tem fases na vida de tanto atropelo, filhos pequenos, casa, escolas etc. que sinceramente, esquece um pouco os amigos, depois vem a fase que estou – pré velhice – bastante disponibilidade – filhos criados, um vazio enorme com a ausência da nossa Buide –e a gente vai ficando saudosista. As vezes fico pensando naquele S. Geraldo, de Caeté – aulas – a Marlene (Leninha) pra mim, que eu amava demais e que só hoje compreendo as deficiências que ela tinha e que me passavam despercebidas! E que notícias me dá da Mariquinhas, Deolinda e a outra, desculpe esqueci o nome! De vez em quando me dá um branco na cuca. No Natal deste ano lembrei a M. Claudia que, quando eu era criança os presentes que mais gostaba vinham da Tia Juju e Tia Deolinda – era assim: uma caixa de sapato com uma bonequinha de celuloide e umas roupinhas pra boneca, um travesseirinho e um colchãozinho e umas coisinhas que vinham junto, uma caixinha vazia e outra qualquer coisa sem valor material mas que eram surpresas e que me enchiam de felicidade. Então pensei: o meu presente para Patrícia quero que agrade a ela realmente. Encomendei a um cesteiro daqui, um carrinho de boneca de taquara com rodinhas de madeira que ele mesmo faz e que nem são muito redondas, comprei uma bonequinha, fiz um colchãozinho e travesseiro, e puz no pé da cama. Você sabe que acertei – ela não larga o bendito carrinho e a boneca que deu o nome de Patiche, quer levar pra todo lugar! Puxa vida, peguei no bloco pra escrever umas linhas cumprimentando pelo casório e lá vai um testamento e se não me chamam ao telefone acho que não parava aqui.

Qualquer hora vou a Juiz de Fora procurar um médico para regime, pois estou engordando e apareço por aí.

Muitos abraços saudosos da amiga

Dainha

Vou reler a carta como sempre me ensinou a minha professora, mas se tiver erro vai assim mesmo.

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  1. Foto da Dainha (Magdala) endereçada à Vovó Júlia (Vovó Juju)

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Carta

Carta de Olézio dos Santos, parente do Vermelho (Antonio José, marido da Goretti) Ele e sua esposa D. Zuza, estiveram em Juiz de Fora, em casa dos meus pais, pessoas maravilhosas, com uma bela história. Estive em casa deles em Salto do Pirapora, adorei!

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Transcrição:

Caríssima Dona Laura

Por este seu aniversário, PARABÉNS!

Conceda-lhe CRISTO um gostoso dia na união dos seus, sentindo a mais doce e santa alegria, fortificando-se para o seu amanhã, na ânsia de, com amor, esperança e fé, lutar por sua felicidade e pela felicidade dos que o reodeiam no lar, no serviço e na sociedade.

Nada lhe roube a paz nem o atemoriza, certo sempre de que, para cada obstáculo, Deus lhe dá força especial desde que nELE confie e nELE espere.

Que JESUS o ajude sempre a sentir-se feliz, corajoso, agradecido e otimista pelo pouco que você tem e que jamais aborreça, se maritiriza, se lamurie ou se desanime por aquilo que você não tem.

Que possa viver sempre o seu “H O JE” cheio de ardor, alegre, forte e seguro, pois que só ele, de fato, é seu.

O passado e o futuro a Deus pertencem!

O seu “HOJE” vivido com Deus, na plenitude do amor, esperança e fé haverá de lhe deixar, ainda que contratempos haja, gostosa e doce saudade, infundindo-lhe sólida e ardente esperança do amanhã.

Num terno lar de união e amor tenha longa vida, tá?

Em frente sempre… Deus Pai tem a sua MÃO à espera da sua.

Com um abraço irmão bem afetuoso, a minha sincera amizade.

Lembre-se de mim em suas orações, escrevendo-me ou visitando-me. Obrigado.

Seu “In Corde Jesu” irmão

Olézio dos Santos

Rua Vicente Ferreira dos Santos 51 (BOA IDÉIA)

18 160 – Salto do Pirapora – SP – Fone: 92 1437

mamae-d-zuza

Carta D. Zuza

Dona Laura

São 15,05 horas do dia 14/6/1982

Esperamos ansiosos o jogo do Brasil e Rússia

Lá na sala está a Goretti. Abrindo minha agenda para os próximos dias, vejo seu aniversário.

Lindo dia 18/6/1982 lhe dê o Bom Deus sem nem uma peninha pra atropalhar, sentindo, a todo momento, a delícia da paz, sempre invadida de esperança, amor e fé.

Maravilhoso seja cada dia seu de modo a lhe deixar sempre aquela ditosa saudade e lhe infundir corajosa esperança do amanhã.

Com um abraço irmão, toda a mizade de Zuza, filhos e Olézio que rogamos a Deus lhe conceda a felicidade com que sonha.

Zuza

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Carta Tia Alzira, irmã da mamãe

São Bartolomeu 12 de outubro, 1984

Saudações

Lizote e Laura

Sendo hoje o Dia de Nossa Senhora Aparecida lembrei de escrever-lhes depois de tanto tempo sem dar notícias, Luis Augusto que sempre vem aqui sabe como vai as coisas por aqui. Eu da minha vez sempre animada conformada com a vida que levo junto com Normandino passou uns dias muito abatido sem dormir quase 1 mês andando a noite pelo quintal bem variado. Levei no médico que receitou remédio chamado Gardenal urbanil, agora já dorme.

Aqui está calor ela as vezes atrapalha intestino todo cuidado que tenho com ele já melhorou.

Quando vocês vem aqui? Estou sem condições para sair ai com muitas saudades de todos. Ena e Lino estiveram aqui em casa c…(falta um pedaço) para ele esta todo feliz assim me deixa em paz com os móveis, para ele, a casa é bem perto e bem confortada.

Quanto ao meu negócio vão muito bem graças a Deus. O meu saldo na poupança tem 6 meses que não pego o resultado, creio que vai bem da importância que tenho.

Deolinda, Salvador da mesma forma. Zé Maria sem a família aqui, está em Brasilia, vão tudo bem.

Quando vier traga a Regina as crianças que ajudo na passagem, espero que aviza o dia que vem para ficar mais tempo comigo.

Sem mais termino enviando muitos abraços  para todos com as bênçãos de Nossa Senhora derrame sobre todos dai

Alzira

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São Bartolomeu 21 01 94

Querida e inesquecível Laura

Recebi a sua carta de 5 de janeiro de 1994 a primeira deste ano e fiquei muito contente de ter notícias suas, passamos bem o natal e no novo, com muitas orações e também algumas  alegrias apesar do que aconteceu com a minha casa que coincidiu com a data do casamento da rose e eu nem fui não estava em condições de sair.

A Rose na volta dela da viagem de núpcias me trouxe mais uma imagem de Nossa Senhora rosa Mística e recebi a sua que fiquei muito feliz e o restante vou arrumando como Deus for servido.

Recebi o dinheiro que você me mandou e coloquei na poupança para ir rendendo enquanto a chuva passa um pouco, pois tem chovido bastante e não dá pra fazer este tipo de serviço.

Assim que parar de chover vou mandar retocar a casa. Só depois que fizer este serviço poderei ir passar uns dias com você se Deus quiser. Quanto  a sua fé você é mais virtuosa do que eu e está muito perto de Deus e você é cheia de boas qualidades e tem feito tanta coisa boa tanto material quanto espiritual principalmente nas suas orações, quero ser muito forte e cheia de virtude quanto você mas você conta com as minhas orações continuas apesar da minha fraqueza.

Laura em junho eu fiz todo o tratamento até costumo dizer que fui muito feliz e passei por todos os médicos, mas eu digo que eu passei por todos os santos quando foi para fazer o exame que deu dia a dia  da operação ai chegando lá, o médico disse não pode ser feita então foi como se eu chegasse a Deus e ele dissesse não tem condições, então me conformei.

A cirurgia seria plástica e por causa da bronquite e eu ficar com a respiração mais curta por este motivo não pude fazer. Mas estou bem graças a Deus. Viajei muitas vezes a Brasília enquanto fazia o tratamento.

Laura pede em suas orações para abrandar o coração da Dorzinha e sua família que está precisando se converter a filha a 1ª comunhão a crisma e nem assim melhorou totalmente ainda tem muitas rebeldias e eu gostava que ela se modificasse para não sofrer e fazer a mãe sofrer.

Laura me despeço de você com muitas saudades e espero em breve estar com você.

A semana passada Salvador e família passaram aqui em casa na volta da viagem da Bahia estão bem.

Lauro continua com a chácara e a esposa está trabalhando de porteiro servente na escola e ina não recebeu, mas se Deus quiser recebe logo e as filhas dela uma foi para a 2ª série linda e lendo tudo e a pequenina vai para o Jardim 2.

O José Maria é que está providenciando tudo para mim e a família dele está em Brasília e estão bem.

Laura mais uma vez o meu abraço

Sua irmã

Alzira

Laura e a Júlia como está? E os filhos como vão? Dê um abraço na Júlia e seus filhos que Deus os abençoe. O Agnaldo manda dizer-lhe que vai servir o quartel embora seja contra a sua vontade.

Um abraço a todos e acho que agora terminei por aqui.

Laura, beijos e abraços a você

Alzira

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São Bartolomeu, 15 de setembro de 90

Bondosa Laura

Só hoje pude escrever para você depois da morte da Deolinda que foi muito triste para todos nós

Foi um encontro com a família toda só faltou você, eu esperava encontra-la, mais não possível o motivo foi justo, pela saúde do Lizote que é para nós muito importante. Se Deus quiser ele ficará bom.

Encontrei com a Regina, Ção, ela levou as creanças para conhecer, achei lindo o casal de filhos, muito bonitos, fiquei satisfeita, a minha demora foi pouca na casa da Zélia, precisava voltar, deixei o Normando em casa sentindo a minha falta. Cheguei às 11 da noite em casa estava tudo bem. Na missa de 7º Dia da Deolinda foi marcada em Brasília, eu Zé Maria, Lauro, Afonsina só que não chegamos a tempo, pois o carro quebrou na estrada do Guará.

Laura recebi as roupas que você mandou para mim, todos vestidos ficaram bons, estou desfilando os dias. Zélia também mandou todas as roupas da Deolinda para eu usar com Normando, lençóis, cobertor, flanelas, toalhas de banho, tudo que ela usava, fraldas descartáveis e calça enxuta, pacotes fechados, vestidos flanelas. Ela mandou uma poltrona que ele colocou rodas para andar dentro de casa, só Normandino não para sentado em lugar nenhum, só quer andar para cair, para dar mais preocupação para mim.

Laura você ainda está rezando muito, peço que me ajuda a rezar pela conversão do Mauro e Dorzinha, Nubia porque são muito revoltados só faz é xingar nome diabo durante o dia de luta, peço para não xingar e atraso mais ainda, só vendo que ambiente estou passando junto deles. Dorzinha vai bem com casal de gêmeos, estão desenvolvendo muito.

Aqui despeço com muitas saudades, abraços a todos, assim que Lizote puder viajar vem, saudades da irmã

Alzira

O Lauro já recuperou o carro dele que tinha desaparecido, está todo feliz, já está em casa, graças a Deus no dia do aniversário dele 14 de setembro.

COMEMORAÇÃO DO CENTENÁRIO DE DONA LAURINHA

Este ano de 2016 seria o centenário dela. Ainda que não esteja fisicamente conosco, ela está sempre presente em nossos corações e em nossa lembrança.

Em memória dela, nós, os filhos, fomos a São Geraldo, o berço de nossa família e, além de visitarmos a Biblioteca que tem o seu nome e que foi transferida para uma sede excelente, a Estação da Estrada de Ferro Leopoldina, visitamos a cidade e assistimos a uma Missa em sua intenção.

Apreciamos o desenvolvimento da cidade, que deixou de ser rural para se tornar um polo industrial. Devo confessar que não é mais a “minha São Geraldo”, mas está muito mais desenvolvida, limpa, organizada, uma beleza mesmo!

O único senão são os rios que não existem mais!!!

Foi uma viagem emocionante pelo passado, pela infância de todos nós! Agradecemos a Deus essa oportunidade de estarmos todos juntos, amigos, unidos e felizes.

Agradecemos a recepção que tivemos por parte da Prefeitura, através da Secretária de Educação, da Bibliotecária, do Prefeito, da Leninha do Georgina Hotel que nos hospedou, D. Célia Batalha e a Luzia Cardoso que encontramos por acaso, Hélio e Heloisa Monteiro, Arlete e Dr. Alexandre, tão carinhosos, a Dalva, minha cunhada, responsável por ter iniciado a Biblioteca e o contato com o Luis Augusto que se prontificou a ajudar no acervo, o que tem feito durante todos estes anos.

O sonho de nosso pai era reflorestar a serra de São Geraldo para revitalizar seus rios. Conversamos com o prefeito sobre o assunto e ele se mostrou entusiasmado com a idéia. Quem sabe voltaremos à cidade para vermos o projeto implantado e os rios com água e vida?!

Para quem quiser conhecer mais sobre a cidade, ai vai o link

http://saogeraldo.mg.gov.br/novo_site/index.php

Mensagem da Secretária de Educação Márcia

Caro Luiz Augusto,

Que família encantadora! Ficamos todos muito felizes em conhecê-los. Quando falamos de vocês aqui, alguns adjetivos são recorrentes: gentis, generosos, liberais, alegres, unidos, descontraídos, cultos, educados, zelosos, simples… Ah! Fotógrafos!

As professoras e as funcionárias da Prefeitura que foram à missa no domingo vieram me contar como foi linda a participação de vocês. Nosso assunto preferido continua sendo a visita da família (rsrsrsrs). Todos que os conheceram querem comentar algo, saber um pouco mais, saber se vocês gostaram do que vivenciaram aqui, expressar a agradável impressão que tiveram, enfim, falar de vocês. Falar bem, tenham certeza! Vocês trouxeram uma inspiração nova para nós. Poucas são as oportunidades de estarmos com  pessoas com a visão de mundo que vocês evidenciaram e com um coração tão Infelizmente, as relações se baseiam muito em interesses em que o predomínio é da competição e não da cooperação. Penso que o sentimento que vocês deixaram é de renovação da esperança,de  podermos acreditar que ainda há muitas pessoas que pensam como nós, que constroem caminhos para se chegar ao futuro, sem precisar destruir o passado; que preservam suas raízes e, independente do quanto se elevam, mas as alimentam e valorizam; que respeitam as pessoas pelo que elas são; que têm prazer em conhecer suas histórias de vida; que não têm vergonha de elogiar e reconhecer os feitos de outros, que compartilham com a mesma alegria de quem está recebendo…

É admirável!

Estamos correndo aqui com os preparativos da Festa Country, concluindo os trabalhos da Biblioteca e também da Exposição que agora já conta com algumas peças recuperadas da antiga estação ferroviária.  Durante a festa, o espaço ficará aberto para visitação até às 22h. Está bem bonito e…histórico. Pena que vocês não estarão aqui, mas prometo enviar fotos. Enviarei depois a foto da parteira de uma das irmãs. Foi um lapso! Eu deveria ter feito isso na hora, mas …

Esta semana está sendo de vitórias. Recebemos ontem o resultado do PROALFA  (trata-se de uma avaliação do Governo de Minas para alunos da 3ª série do Ensino Fundamental). De acordo com o desempenho, os alunos são classificados em 4 níveis: baixo, intermediário, recomendado e avançado. 59% dos nossos estão no recomendado, 41% no avançado; nenhum no baixo ou intermediário. Não é fantástico? Para você ter uma noção melhor, a proficiência média do Estado é 580,5; a de São Geraldo 634,2; a da nossa Escola 638,2. Estamos felizes e nos exibindo, reparou?

Bom, deixe-me despedir, porque já fiquei com saudade. Como me disseram  que compartilham minhas mensagens, meu abraço carinhoso a todos e até breve.

Márcia

Profª. Márcia Lúcia de Barros Balbino

Secretária Municipal de Educação

São Geraldo- Minas Gerais

FOTOS DA VIAGEM A SÃO GERALDO

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Homenagem à família que nos foi dada pelo Prefeito, Marcílio Moreira Barros, em um delicioso jantar oferecido pela Secretária Márcia, em sua mansão.

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A Estação da Estrada de Ferro Leopoldina, hoje transformada em Centro Cultural, onde está agora a Biblioteca Prof. Laura Casulari da Motta. A “artista” da foto é a Conceição, a caçula das irmãs.

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Esquerda: José Reinaldo, a Bibliotecária Tanusa Secretária de Educação Márcia, Antonio José Ribeiro Dias (Vermelho) marido da Laura Maria Goretti que está a seu lado, Maria da Conceição, Júlia, Regina, dona Célia Batalha, Luzia Cardoso, Luis Augusto, Antonio Carlos

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No Salão de Exposições do Centro Cultural

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Recebendo a homenagem do Prefeito Marcílio Moreira Barros. Na frente da foto está a Carolina, filha do Antonio Carlos, e a Lais, neta, representando as novas gerações da família. A senhora de blusa preta é a mãe do prefeito, que está atrás dela. Ao fundo o marido da Márcia.

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Ao final da Missa, os irmãos se apresentam, a pedido do Padre Renato Stampini que é filho de São Geraldo também. Deixou-nos muito emocionados com as suas palavras.

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Visão aérea de São Geraldo que está na Rodoviária construída sobre os antigos trilhos do trem. Os galpões são das fábricas de móveis.

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Com amigos, depois da missa.

HOMENAGEM DA FAMÍLIA AO CENTENÁRIO DE NOSSA MÃE, LAURA CASULARI DA MOTTA

Em 2010, ano em que o papai faria 100 anos, nós nos reunimos em Juiz de Fora para uma homenagem a ele. As fotos deste encontro publicarei depois, quando escrever o capítulo de Luiz Roxo da Motta.

Agora, em 2016, seria o centenário da mamãe, então nos reunimos novamente, para celebrá-lo e confirmar a união da família que está muito maior!

No dia 13 de novembro, assistimos a uma Missa na Igreja do Bairro Monte Castelo, em Juiz de Fora, onde eles residiram no final de suas vidas. Mamãe era assídua ás missas e eventos desta Igreja. Nada mais justo que fosse lá o nosso encontro.

Após a missa, tivemos um almoço no Clube Asa Branca, do mesmo bairro, onde recebemos alguns amigos também.

No dia 14, houve um almoço no Clube de Convivência dos moradores do condomínio Portal da Torre, no Bairro São Pedro, em Juiz de Fora, onde moram a Conceição, a Goretti também tem uma casa e o Marcelo, meu filho.

Foi uma rica e emocionante oportunidade de estarmos juntos, estreitar nossos laços. Pena que nem todos puderam comparecer!

Vejamos as fotos deste encontro memorável!

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Os 7 irmãos, da esquerda para a direita: Luis Augusto, Antonio Carlos, José Reinaldo, Regina, Laura Maria Goretti, Júlia e Maria da Conceição.

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Conceição e bisnetos de Laura Casulari da Motta na Missa (Mateus admirando o teto da igreja) todos muito comportados!

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Ao final da Missa

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Encontro no Clube, todo mundo olhando o filme da família na TV

Esquerda César, filho da Conceição, a namorada, Conceição, Daniela, Vãnia esposa do Marcelo, atrás Goretti

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Esquerda: Maria do Carmo (Cacau) esposa do Antonio Carlos, Pedro (filho do casal) Júlia, Beatriz (filha da Goretti, Claudio, marido da Júlia Paula, Antonio Carlos)

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Luis Augusto, Domingos (amigo) José Reinaldo, Sérgio Ricardo (Tuca) , Solange, Júlia Paula

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Cantando o parabéns para o Nícolas, neto do Luis Augusto, que não pode estar presente.

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100 anos da Vovó Laura (in memoriam) 15 anos da Marina, minha neta, filha do Guilherme, 1 ano do Nícolas

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Sarau: Violão Emanuel, filho da Ana Raquel que está cantando, Mariana, minha neta, a outra cantora, criançada no coro

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A nova Laura da família, filha da Júlia Paula, neta da Júlia

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Laís, filha da Carolina, neta do Antonio Carlos

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Flávia, minha filha e Beatriz, neta

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Os 7 irmãos

FOTOS DA MAMÃE EM ROMA 

Depois do falecimento do Papai, mamãe ficava ora comigo, ora com a Júlia, em Campinas. A Júlia realizou o seu grande desejo de ir ao Vaticano, mas não conseguiu ver o papa! Na época o Luis Augusto morava em Milão e passeou com ela bastante!

Algumas fotos:

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Cartão da Mamãe, Laura Casulari da Motta para mim
Comemorando o centenário da Mamãe

5 -Salvador Henrique Pinhati, um primo de muitas histórias

Salvador Henrique e sua esposa Gracinha foram sempre presentes em nossas vidas, apesar da distância geográfica. Sobre este primo querido, escrevi, há muito tempo, um pequeno texto que acho que pode ser chamado de crônica, que compartilho aqui.

No ano passado, compartilhei com ele e a Gracinha, sua esposa, que o enviou aos sobrinhos. Recebeu um comentário tão carinhoso, da Aline Casulari Pinhati, filha de Tarcísio Pinhati, que tomei a liberdade de anexá-lo no final do texto.

Também um comentário da sobrinha da Gracinha, Nívea, que convive muito com eles.

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Salvador Henrique em Suez 1961

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DADÔ

“Espero que um dia você se junte a nós para fazermos um mundo mais unido”

Imagine – John Lennon

         Você pode começar escolhendo o título dessa história. Pensei em:

  • Arquiteto de sonhos
  • Um conto quase de fadas
  • Um herói brasileiro
  • Revisitando o passado
  • Vencendo limites
  • De sonho e realidade
  • Das pirâmides à cidade
  • Retrato do Brasil

Talvez seja melhor que sua escolha seja feita depois de conhecer o Dadô. Antecipo que não posso descrevê-lo em criança. Conheci-o já rapaz, magro, de olhos profundos e uma seriedade impressionante.

A casa onde morava com os pais e irmãos, pequena e pobre, em bairro bem distante do centro da cidade. Lembro-me apenas de uma vez em que fui lá com a vovó. Ela matara um porco, como sempre fazia, escolhendo as melhores partes, segundo dizia a mamãe, enciumada, para levar para a Tia Deolinda. Fomos de trem, no expresso que passava de manhã e levava horas para cobrir a pequena distância entre as duas cidades.

Seu pai, tio Salvador era oleiro e a olaria ficava perto de sua casa, se bem me lembro. Dadô e seus muitos irmãos trabalhavam na secagem das folhas de fumo, que eram penduradas em varais sob uma coberta para serem depois enroladas.

Essas são as lembranças mais antigas que tenho da família, do irmão mais velho que tivera paralisia infantil, ficando deficiente. Eu lhe tinha medo, não sabia como entendê-lo. Achava-o muito alto e amedrontador. Lembro-me do carinho e do cuidado com que era tratado pelos irmãos, vigiando para que não fugisse de casa. Chamavam-no Miroca.

Tia Deolinda tinha uma fisionomia sofrida, lembro-me dela sempre assim, triste. Mamãe dizia que ela era muito vaidosa, caprichosa demais. Que sua casa era sempre muito limpa e que demorava horas para picar uma couve bem fininha, atrasando o almoço dos filhos.

Decidido a mudar a vida da família, a procurar um futuro melhor para si e seus irmãos, Dadô foi trabalhar em uma farmácia, tornando-se logo pessoa de confiança do farmacêutico.

Um dia soubemos que ele estava querendo ir para Suez, com a força de paz do Exército brasileiro. Foi para o Rio de Janeiro apresentar-se e, para ganhar o peso que lhe faltava, passou uma semana comendo quilos e quilos de banana, que dinheiro para coisas mais caras não havia.

E ele foi. E, para minha imaginação de criança, era uma aventura inominável. Jamais havia conhecido alguém que tivesse viajado para qualquer país. Para a África então!

Chegavam cartas e fotos para a mamãe, que era sua madrinha. Elas enchiam minha imaginação de histórias mirabolantes, de passeios em camelos, de visitas às pirâmides, de noites enluaradas passadas ao relento no deserto…

Há uma foto, guardada até hoje, onde ele está com a boina de expedicionário, tão bonito e tão mágico que suplantava qualquer artista de cinema!

Sua visita a nossa casa, quando retornou, deixou-me sem fôlego. Contava pra todas as minhas amigas sobre esse primo herói, que passara um ano na África e tinha voltado tão rico que pode comprar uma casa pra  família em Belo Horizonte.

Se eu o admirava por sua coragem em buscar uma vida melhor, em enfrentar desafios tão grandes, posso dizer que havia também alguma inveja – gostaria de viver aquelas aventuras, completamente impensáveis para uma moça, naquele tempo.

Hoje, sua filha está na Austrália, conhecendo novos mundos. Hoje, já é possível para uma menina alçar tais vôos. Que bom!

Uma nova aventura, tão ou mais excitante que a primeira! Vai para Brasília, a nova capital que estava sendo construída no interior do Brasil. Naquele tempo, chegar até lá talvez fosse mais arriscado e difícil que chegar até Suez. Estrada de terra, distância a ser percorrida em horas e horas de viagem, encontrando, ao final, um acampamento improvisado de candangos visionários como o presidente que sonhou esse sonho.

Mais uma vez promove uma mudança na vida da família, leva-os para a nova cidade, mudando o destino de todos, melhorando suas possibilidades de crescimento pessoal e material. E ele estuda à noite, trabalha, cresce, encontra uma companheira de destino que o apóia e se integra à família.

De sua vida pessoal adulta, ele mesmo poderá nos contar. Essa é uma história das impressões que guardei de alguém bastante especial, que povoou minha imaginação de aventuras. De alguém que se tornou um exemplo de determinação na busca por uma vida melhor para todos, não apenas para si mesmo.

Hoje, tento imaginar quanto lhe deve ter custado ser assim tão diferente. Qual o preço que foi pago perseguindo uma utopia visionária, enxergando algo onde todos viam o nada?

A mim, comum e cotidiana, é impossível definir como pode lhe ter tocado e afligido o comum e o cotidiano dos demais. Talvez seja mais fácil entender o desconforto e a estranheza daqueles que conviviam com ele. Penso em meu pai e sei que ser diferente, ainda que de uma forma positiva e excepcional, é um peso e uma dor. (Uma das poucas vezes em que conversamos disse-me que o velho Lizote era seu modelo).

Não conheci as pirâmides, jamais saí do Brasil. Também não ajudei na construção de uma cidade, um sonho de crescimento e realização. De meus pais e irmãos recebi muito, muito mais do que pude dar. Porém, porque eu sei, eu vi, testemunhei e posso contar, sinto-me partícipe dessa história que nos convence de que não há limites para alguém que se permite sonhar.

  • DEPOIMENTO DE ALINE CASULARI PINHATI (Filha de Tarcísio Pinhati)

“Tia, ouso dizer que achei os dizeres da Regina, sensíveis e emocionantes! E aqui faço um paralelo com a escrita da História da Humanidade, que parte justamente do príncípio que a Regina utilizou para escrever estas memórias:

“Um olhar narrativo sob um determinado fato ou agente do passado que se encontra com outros olhares!”

Na eloquência da Regina, pude perceber diversos aspectos da História desta família, mas que me era contada por outro agente narrador: Meu pai!

A vaidade da vovó! Comecei a rir neste trecho porque o meu pai falava mesmo que era muito vaidosa e, embora eu tenha a conhecido, minhas memórias é de uma mulher muito debilitada por uma doença que me assustava, mas que sempre estava sentadinha com as pernas cruzadas que eu julgava ser uma forma de controlar os movimentos das pernas e meu pai dizia: “ela sempre sentou assim.”

Quando a Regina descreve sobre a couve cortada em finíssimas tiras, me lembrei das vezes que fui a Belo Horizonte, na casa do Tio Ruthelis e encontrava a Tia Estela na cozinha cortando couve bem fininha, porque, dizia ela: “O Ruthelis só gosta assim.” Impressionante como alguns costumes se perpetuam!”

Sobre a ida para Suez:

“Meu pai adorava contar este trecho da História… Porque, segundo ele, no dia da partida foi ele quem acompanhou a vovó na despedida ao tio Salvador, onde diante daquele irmão mais velho do meu pai, ela derramou somente uma lágrima em despedida, minutos depois tendo o ônibus já partido, ela cai em prantos e meu pai muito pequeno e preocupado com a mãe que chorava, perguntou porque ela só se emocionou depois da despedida e ela respondeu que era para o filho mais velho não desistir da partida!

Há uma música do Gonzaguinha que se chama: “Perna no mundo” que meu pai dizia muito se lembrar do tio Salvador! Meu pai tinha o irmão mais velho como um alicerce e o grande motivador para mudar aquela dura realidade da qual eram originários, foi com o exemplo do tio Salvador que ele estudou, trabalhou e logrou todos os êxitos do qual ele se orgulhava muito!

Enfim, uma história muito bonita de esperança, coragem e muito trabalho! Com aplausos de pé, transmita ao tio os meus parabéns.”

  • DEPOIMENTO DE NÍVEA, SOBRINHA DA GRACINHA

“Salvador, aquele que salva. Que salva de tudo, inclusive Dadô. Dadô de ser triste, Dadô de não conhecer poesia. Mas esse Dadô conhece. Porque é calmo, manso, de gestos pausados e elegantes. De homem de fibra, fazendeiro que conhece a terra e, por isso, se mantém fincado nela para criar raízes verdadeiras.

Homem fino porque é simples. Que me enternece quando pega o J Paulinho no colo com o mesmo cuidado do avô – meu pai. E quando meu filhote, no meio da apresentação de um coral, pára tudo para dar um beijo nesse tio-avô querido, me dá a certeza de que o essencial é percebido desde cedo.

Continue nos salvando, Tio Salvador, das banalidades do mundo, porque somente um homem de verdade merece a inspiração dos nossos corações e de nossas meras palavras.”

casa onde salvador nasceu
Casa onde o Salvador nasceu, em São Geraldo, no Sapecado, fotografada por ele em 1998

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Emblema das Forças Armadas Expedicionárias em Suez

cartão de natal não enviado pequeno

cartão tia mariquinha
Cartão que não foi enviado

Salvador e Maristela Kubstichek
Com Maristela Kubstichek, filha de Juscelino Kubstichek, presidente do Brasil, em Suez

Salvador 61 grande
Em Suez, 1961

navio de partida para Suez
Navio de partida para o Egito

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Com os netos na Austrália, foto atual

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Na Austrália, foto atual, a esquerda Michele, filha e a direita Troy, marido da Michele

Filipe e mariana
Filipe (filho do Salvador) e a esposa Mariana

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Netas Laila e Sophia

Salvador e a neta Laila
Salvador e Catarina

  • CONTRIBUIÇÃO DA GRACINHA, ESPOSA DO SALVADOR HENRIQUE

Ela faz uma correção na história que eu conto sobre o Tio Salvador, que era oleiro. Vejam:

“Lendo a parte que você escreveu sobre a família do Salvador, você fala do pai dele, que era oleiro. Apesar de ser apenas um detalhe, quase q insignificante dentro do contexto geral, para que seja o mais fidedigno possível, devo te dizer que o tijolo que possuo é do pai do Sr Salvador: Enrico Pignati, que veio para o Brasil, após a abolição da escravidão.

Ele produziu tijolos, especialmente para a construção das igrejas daquela região. Esse tijolo, era da torre da Igreja de São Genaro de Ubá. Naquele tempo, os imigrantes eram induzidos a aportuguesar seus nomes. Por isso, a marca impressa no tijolo é HP, ou seja, ele passou a assinar como Henrique Pinhati.

Ensinou o filho, Salvador Pinhati, a profissão de oleiro. Então, o Sr Salvador, pai do Salvador Henrique, era um produtor de telhas. Para conferir-lhes um registro de qualidade, porque realmente eram muito boas, ele as marcava, uma a uma, com um sinal  feito com seus dedos e, assim, facilitar a identificação das mesmas.

Era o “selo de qualidade”. Está vendo? De forma improvisada, pai e filho já tinham noção de marketing!

Eu, particularmente, tenho muito orgulho  em te relatar isto. É verdadeiramente a digna herança deixada por  uma família de honestos trabalhadores.”

Comemoração dos 80 anos de Salvador Henrique Pinhati

Homenagem da esposa, filhos, netos e amigos