31 – Arquivos da Grande Família que merecem ser conhecidos e arquivados.

Estes arquivos estão em meu poder e penso que compatilhá-los com toda a família é muito importante!

Alguns vão conhecê-los e apreciar!

Cartas de meu pai, Luiz Roxo da Motta para minha mãe, Laura Casulari da Motta, cartões, de filhos e netos, enfim lembranças de uma vida e de várias gerações!

Cartão de meu pai Luiz Roxo da Motta para minha mãe, Laura Casulari da Motta

Mariana, 25 – 12 – 1947

Laura querida,

Lembrando-me de um telefonema em um Natal passado, mando-lhe este retrato de Mons. Horta,

com os meus votos que elle interceda junto a Deus para nos fazer felizes. Pois hoje a sua felicidade é a

minha felicidade, e seremos felizes fazendo felizes nossas filhas. Não podendo ir pessoalmente lhe dar o meu

abraço saudoso. Do seu Lizote.

Igreja de Uberaba

Bilhete do papai me dando um presente de casamento, 8 de maio de 1964

Vou transcrever porque está muito apagado:

Com as bênçãos do papai de da mamãe o presente para a viagem durar mais ou para

trazer uma lembrança. Deus os abençoe como nós abençoamos.

Papai e Mamãe

Sem data

Carta de nosso pai, Luiz Roxo da Motta, para a nossa mãe, Laura Casulari da Motta, 1947

Fiz a transcrição para facilitar a leitura. Nessa época ele estava trabalhando em Paula Lima

em uma plantação de eucalipto, que estava sendo introduzido no Brasil. Tinha 3 anos de casado e

duas filhas: Regina e Júlia.





Transcrição da carta de Luiz Roxo da Motta para Laura Casulari da Motta – nossos pais

Vou usar a ortografia em que foi escrita, que era a usada na época

Belo Horizonte, 22 de dezembro de 1947

Minha querida Laura,

Que Deus dê a você e nossos “pixingos”um feliz Natal e um anno novo cheio de venturas e de paz é o meu desejo. Ainda não sei se poderei ir ahi pelo Natal, porisso resolvi mandar o dinheiro para você e receba antes do Natal. Peço-lhe pagar ao Normandino 300,00 que tomei emprestado delle e dar 300,00 ao Demósthenes. O outros 400,00 são para você.

Sobre o anno que vem ainda não resolvi nada. Mas confio que Nossa Senhora obterá de Deus, em sua infinita bondade, que me dê o caminho para poder viver sempre junto de vocês e para equilibrar nossa vida material, tanto quanto já equilibramos nossa vida moral, com a felicidade de nosso amor que muito cresceu dia a dia.

Dr. Dirceu quer que eu continue. Disse que augmenta meu ordenado e eu terei de janeiro em diante folga para ir ahi sempre. Eu ainda não resolvi coisa alguma. Quero ir ahi primeiro buscar inspiração em seus beijos e no carinho de nossas filhas, pois são para mim uma verdadeira benção de Deus.

Pode ser que possa lhe dar a surpresa de chegar ahi junto com um cheque, pois como lhe disse, nosso caro amigo chefe ganha de mim na desordem. E depois nesta phase de organização eu tenho lhe prestado serviço que muitas vezes só pessoalmente posso fazer. Tenho recebido de todos muita amabilidade econsideração. Mas não sei porque estou mais inclinado a não continuar. Já preveni ao Dr. Dirceu mas não de forma definitiva, mesmo porque elle não concorda com isto.

Enfim, eu mesmo ainda não estou plenamente decidido, pois não parece-me ser para nossa libertação econômica. Talvez seja melhor que eu não continue.

Mas devo lhe dizer, minha amada dengosa, que nunca me sinta tão animado como agora. Apezar das dificuldades materiais serem grandes, eu sinto que em breve hei de vencê-las. E então nossa vida será uma felicidade contínua, com a ajuda de Deus. Sinto uma serenidade admirável, mesmo quando considero as más consequências de meus erros passados. A única coisa que me faz sofrer é que eu também faço você sofrer sem que você tenha a menor culpa das tolices que fiz. Mas, graças a Deus, tudo isso pertence ao passado. Agora já entramos no pé da canna, O que ainda me esmaga é não viver perto de vocês ou pelo menos não ter notícias constantes.

Mas isto mesmo sei que em breve terminará quer eu continue nes emprego, quer eu saia. Pois só continuarei com a condição de ter mais liberdade de viajar. Aliás foi esta a promessa do Dr. Dirceu. Mas, sobre este ponto só pessoalmente poderei conversar com você, pois a conversa será longa. Mas se não seguir 4 feira para ahi, irei logo que o Dr. Dirceu termine o entendimento delle com o presidente do Estado e possamos terminar o plano do qnno que vem.

É por causa deste plano, em que também colaboro, que ainda tenho que me demorar aqui. Pois estou sendo uma espécie de secretário e consultor dos nossos amigos. De quando em vez um me consulta e logo vem um ofício para eu fazer. E logo tenho que fazer “Considerações a Vossa Excelência” e entregar pessoalmente. Estou quase como o Neca Venâncio, quase quebrando a língua de tanta V. Excia.

Bem minha dengosa, vou por esta no correio para ver se chega até quarta-feira. Abençoe as meninas e a você um abraço muito saudoso do seu marido que pede a Deus por vocês todos.

Lizote

Acabo de vir da casa do Paulo, onde fui jantar. E vou por aqui nas costas do papel uma boa notícia que elle recebeu e que sei que você, Lia e Sales vão ficar muito satisfeitos em saber.

O Paulo foi eleito membro da Academia de Pediatria do Mundo. Não precisa dizer que fica nos Estados Unidos. Há tempos elle mandou um trabalho para lá. Elles acharam tão bom que resolveram elegê-lo como sócio delles. O Paulo ficou tão satisfeito que disse ter atingido a maior honra que poderia esperar como médico. Graças a Deus foi um ótimo fim de anno. Que Deus o conserve sempre assim.

Do seu Lizote

Carta de 26 de outubro de 1949

Carta 26 de outubro de 1949

Minha querida Laura
	Recebi hoje sua carta de 23 deste, que me deixou trez impressões desencontradas: tristeza, surpreza e o que mais vai lhe causar admiração, alegria.
	Tristeza por vel-a sofrer, por sentir em toda sua carta todo o recalque de impressões depressivas que tanto a fazem se sentir menosprezada. Há tantos annos lutamos contra isto que eu já supunha não mais existir este recalque em você minha querida Gioconda. Hoje eu vejo, porem, que as impressões da infancia e adolescencia são de facto terríveis pequenos e obscuros despotas que tentam nos governar a vida inteira. Embora não nos apareçam como são na realidade, sombras do passado guardadas no subconsciente. E como sombras, se chegamos a reconhecel-os assim se desvanecem e não mais existem. Mas se lhes damos atenção são verdadeiros tiranos que nos governam para mal nosso.
	Você se lembra de uma conversa nossa, quando ainda na phase das “palestras intelecuais”, em que você se queixava de se sentir deslocada na vida? Nem a vontade no meio de origem nem a vontade num meio mais culto. Eu lembro-me como se fosse hoje. Estavamos no jardim e você me falou isto bem em frente do cinema. Se não me engano você estava com o vestido verde, de casaquinho, a que eu chamava de vestido da D. Fernandina. Vi o quanto você é importante em minha vida?
	Porque havia eu de esquecel-a? E porque havia de ter esta significação a falta de cartas depois de uma carta que a deixou tão de acordo comigo e tão confiante e alegre que você assignou com o nome que a chamo em seus momentos de maior beleza: aqueles em que você confia em mim e sorri com um sorriso lindo e bom que me faz lembrar a Gioconda e todo seu amor intenso e bom por Leonardo da Vinci? Porque minha querida, isto pode acontecer com você? Se eu não a esqueço, se estou trabalhando para que nunca mais nos separemos. Mas são estes tiranozinhos do subconsciente, despertados e ajudados de certo, por comentários “piedosos” de “boas amiguinhas” que a fazem esquecer  de minhas palavras e supor esta tolice que esteja esquecendo de você: Esta a minha tristeza, minha querida, porque sei o quanto  estas ideias depressivas tomam vulto e a fazem sofrer. Mas não lhes dê crédito, minha dengosa, tanto mais que não mais a deixarei só por tanto tempo.
	Fiquei admirado porque logo que recebi sua carta ou melhor da Gioconda lhe escrevi. Mas vou indagar do portador que mandei  trazela para o correio se elle a poz no mesmo dia. E talvez depois de perambular por seca e meca a estas horas já você tenha recebido.
	Mas de qualquer modo não pense um momento sequer que eu a possa esquecer. Lembro-me  das crianças, e lembro-me das crianças e de você. Mas lembro-me de você sozinha também, mesmo não associando a idea de mãe de meus filhos. Agora chegou a minha vez de dizer-lhe, você me comprehende.
	Agora chegou a vez da alegria, que deixei propositalmente para o fim, porque quero, que seja também a sua impressão mais forte, aqueça que há de perdurar para sempre. Mas primeiro quero lhe pedir que não veja ironia em nenhuma de minhas palavras, fale com os tiranozinhos do subconsciente que eu sou mais forte que elles, poque eu sou real e elles  são apenas sombras, recordações de um passado já morto e que eu quero que desapareça de sua memoria, pelo menos a significação depressiva que tem.
	Fiquei alegre, minha Gioconda, porque o seu desespero, a sua tristeza por uma simples falta de notícias significam a importância que tenho em sua vida! Muito mais que o simples mando legal, que já é muito, eu sou necessario a você. Muito mais que necessario fisicamente eu sou necessario a você moral e mentalmente. Todo seu pensamento se apoia em mim, minha querida, e isto é a maior alegria que pode existir para mim. Se a vida tem, por vezes, nos separado não mais nos separará, pois esta certeza me dá forças para vencer todas as dificuldades. Na realidade nem existem mais dificuldades. Você precisa de mim como do ar que respira e serei como o ar rodeando-a toda e dando-lhe vida. Bem se entende que não serei tão impalpável como o ar. Mas hei de estar junto de você em carne e osso bem tangível e apalpável. Parece-me que estou a vel-a, amarelinha e magra vendo fantasmas por todo lado a me escrever duramente: “ Afinal se já estou esquecida lembre-se de seus trez filhos...”
Como quem diz vou lembrar a este relapso a respondabilidade que tem, pois se elle não se lembra de mim como sua mulher, há de lembrar  de mim como mãe e como sua esposa legal.
	Tudo isto é muito importante para mim, meu anjo. De tudo isto me lembro sempre. De que sou seu marido, que temos 3 anjos que Deus confiou a nossa guarda, que eu preciso lhe dar assistencia por você e por elles a quem muito amo tambem. Mas coroando e completando todas estas partes, sem duvida, muito importantes em nossa vida, ainda vem a certeza que preciso lhe dar assistencia por você mesmo, porque tanto quanto as crianças, talvez mais, eu sou necessario a você. De facto, Laura, esta sua carta tão desesperada, veio me dar a certeza que Deus abençoou nosso casamento. Que presente Elle, somos dois e somos um.
	Se Deus em sua infinita sabedoria e bondade tem permitido que factores diversos nos tenham, por vezes, separados, não é para que nos desesperemos. Lembre-se que Deus “escreve direito por linhas tortas”. Talvez que juntos continuamente em meio as dificuldades não vissemos inteiramente a grande significação quee temos  um para o outro. Talvez que os pequeninos detalhes visíveis todos os dias nos deixasse ver a realidade magnifica de nossa união verdadeira.
	E aquela união que vem desde  as palestras intelectuais não se tornaria real e não nos causaria tanta felicidade, como agora que a vemos atravez da distancia e do apagamento total das aparencias que nos separavam. Porque agora você vê e eu vejo que nós somos necessários um ao outro.
	Agora  eu lhe faço um pedido. Nunca examine os fatos isoladamente do conjunto da vida. E sobretudo nunca os julgue com preconceitos nem influenciada  por sugestões alheias, por mais “piedosas” e inocentemente amigas que nos pareçam. Cada vida tem sua expressão própria e para cada um os mesmos fatos apresentam significação diferente.
	Terminando, minha gioconda, eu torno a lhe dizer, como em outra carta, Não suponha nem de leve que estes seus desabafos me enfraqueçam me desorientam. Muito pelo contrario dão-me mais animo e serena força para eliminar as causas materiais que ainda por alguns quilometros de chão entre nós. E o mais bem que você pode  me fazer é fazer de mim o seu confidente, ainda que estas confidencias sejam desabafos e aparentes acusações a mim. Não pense para me escrever, mas escreva-me  o que você sente, conta que eu saberei comprehender as sua tristezas e preocupações como suas alegrias.
	Tento mais que em breve você não mais precisará me escrever, mas sim poderá me falar tudo que você pensar e sentir, seja o que for.
	E hei de ser o seu amparo eu seu tudo fazendo-a muito e muito feliz, tanto quanto eu desejo e você merece.
	Abençoe a Regina, a Tuquinha e ao Liguto por mim, dando-lhes com minha benção um abraço muito carinhoso. E a você todo carinho do seu marido muito amigo e namorado. Lizote

São Geraldo 1 de março de 1966

Minha querida Laura,

Pedindo a Deus que abençoe nossos filhos, e também a você, mando-lhe antes de mais nada um abraço de carinho e saudade.

Recebi suas cartas e estou providenciando as encomendas. Amanhã vou mandar a declaração que você precisa. Espero que esteja boa. O resto levarei sábado quando for, se Deus quiser.

Faço ideia o quanto você ficou aflita com o “sumiço” do Antonio Carlos. O engraçado é que a notícia que chegou aqui, dava como ausente o Luiz Augusto. Não fiquei muito preocupado porque imaginei logo o que havia acontecido. O Jovem encontrou outros jovens, ou “jovenzinha” e a palestra se animou: “O trem demora muito, venha ver o jardim” e como já estava com as flores, esqueceu se da mamãe velha que esperava o trem. E quando menos esperava lá se foi o trem sem avisar que não o esperaria. Felizmente o Luizito estava aqui e me disse que havia onibus para Ponte Nova as 4,30. E eu havia dado “moneys crop” que causou euforia de não se importar com o trem.

Já estava resolvido a ir de expresso quando chegou o aviso que o jovem já havia chegado ahi. Enfim, tudo está bem o que acaba bem.

Por aqui vai tudo muito bem, graças a Deus. Marcelo está cada vez mais alegre e desembaraçado aprendendo uma porção de coisas, cada qual mais divertida. E cada vez mais amigo do vovô. Júlia tomou o remédio felizmente passou bem. Está lecionando a tarde o que para ela foi muito bom. O Ginásio e a E. Normal começam 2 feira próxima.

O Ary está de férias e todo cheio de vida tomando “fartão” de passear com o Marcelo. Está um “coruja” de marca maior.

Não fui ahi sábado apesar de ter ficado aborrecido por isto, por causa do serviço. Mas desta vez valeu a pena. Não compensou inteiramente a alegria que eu teria em ir ahi rever vocês e consolar você, que faço idea ficou muito deprimida e cansada com a demora do Antonio Carlos. Decerto não é a mesma cousa. Mas ofereci meu sacrifício a Deus pela felicidade de nossos filhos, pedindo-lhe que os encaminhe sempre para o bem e para a paz. E isto me consola pois, creio que Deus aceitou os votos que lhe fiz. Pois que o meu serviço adiantou bastante e a Júlia tomou o remédio peior sem esforço e sem sofrimento.

Estou lhe escrevendo da Exatoria a noite, onde vim fazer papeis para o balancete. Amanhã espero ir a Ubá receber o pagamento, de que já tive notícia que está lá. Os detalhes miudos, contarei sábado quando chegar ahi. Até lá, abençoe os meninos por mim, e a você um abraço muito carinhoso e saudoso do seu

Lizote

Julia pede para você mandar requisição para ela sábado.

Carta Sem data

Envelope de uma carta, não sei de qual delas

Transcrição da carta anterior

Minha querida Laura,

Quando esta chegar ai, já você deverá ter recebido outra do Zá Reinaldo com um vale postal para você. E não precisa se preocupar porque estamos com folga em matéria monetária. Quando você voltar, e é a única falta que estamos sentindo, conversaremos nos detalhes.

Desde sexta-feira que a Regina está aqui com as crianças e Ary. Sendo que o Ary voltou hontem para Bicas, por causa das aulas de violão.

Todos estão muito bem, especialmente o Guilherme que está grande e forte e muito alegre. Já está começando a engatinhar e aí você vê oque acontece. O cuidado tem que redobrar.

Regininha disse que queria estar com “zero” ano, só porque eu disse que ela já está mocinha, e criança é só o Guilherme. Nessa para ela se encostar na Regina velha, e protestou: – eu também sou criança, faz de conta que estou com zero ano”.

Mas o agarramento dela, Marcelo e Daniela, com o Guilherme continua o mesmo. Os jovens já estão de férias desde hontem e estão todos muito bem. Comprei o tal chá para a Goretti, mas tive que comprar também o mate, porque ela não gosta de chá forte. Mas eu estou dando conta dele, porque é gostoso e fácil de fazer.

Não sei se a Goretti ou Zé contaram que há dias estava aqui em casa os companheiros de viagem da Goretti. E foi uma noite de muita alegria, todos relembrando os fatos pitorescos da viagem e passando os respectivos slides na maquina do Juninho que também estava presente.

Hoje o Marcelo trouxe um bilhete para a Goretti, logo após a passagem de um avião e disse que foi o rádio-telepatico que mandou – o tal que pediu a Goretti em casamento, durante a viagem.

E vimos o retrato dele em um slide, junto com a Goretti, quando estava aprendendo a dirigir o avião. Fico imaginando o que será namoro a 2000 metros de altura!!! É bem provável que já seja o fim do nosso bom mundo.

O vazio por baixo, a terra lá bem longe, e dois jovens brincando de namorar, enquanto a jovem faz o avião subir e descer, igualzinho brinquedo. Não deve ter havido perigo, porque chegaram muito bem, e pousando diretamente no aeroporto de Juiz de Fora.

Já ia me esquecendo de dizer que pedi ao Zé paramandar o vele postal para você, porque o Delegado me designou para prestar serviços em Rio Branco por dois dias, inesperadamente.

De Rio Branco telefonei para São Geraldo, não pude ir lá, eu tive o prazer de conversar diretamente com o Dario, que casualmente estava no hotel quando telefonei.

Pode dar a notícia ao Celinho, que o Dario está passando bem, já está andando e no telefone pediu-me para mandar um abraço para todos, especialmente para o netinho. E ficou muito satisfeito com meu telefonema.

Tive pezar de não poder ir até lá pessoalmente. Mas estav a serviço e não dormi em Rio Branco. No primeiro dia fui de carro oficial da Delegacia, porque fomos até Viçosa. No segundo dia fui e voltei de ônibus, saindo daqui as 8,15 e voltando a noite.

Pela carta para a Fiuta, ficamos sabendo que vocês deverão vir antes do dia 4 de julho, para apanhar o Padre Guetta (não entendi bem no nome) antes de sua ida para Manaus.

E assim em vez de notícias veremos os Sergios e Julias, novos e velhos e também a Ana Raquel que imagino deve esar linda. Já era quando nasceu, imagino agora depois de um mês de leite materno com fartura.

Estive em casa de D. Ahy e as notícias de lá são tembém muito boas. Fiquei comovido foi de ver, sentir a alegria da Heloisa em ser madrinha da Ana Raquel. E também D. Ahy estava radiante com isto. Ainda não estiva com o Cavico, mas faço ideia que ele também está satisfeito.

E já estão fazendo planos para ir a Curitiba, no caso que por qualquer imprevisto, Sergio e Julia resolvam adiar a viagem. Conversamos sobre o assunto, mas julgando que não haverá adiamento, porque naturalmente, Sergio e Julia devem querer aproveitar as férias para vir. Pois, ficando lá mais um ano, com certeza a Julia há de querer continuar o curso da tal Psicologia, e ficar batura para advinhar o pensamento dos outros.

Aqui tivemos uma onda de frio com termômetro marcando 12 graus às dez da noite e mesmo de manhã. E com dias bruscos, sem sol, chegando a ter chuvinha miuda. Mas passou e hoje está um dia lindo, com sol claro e o ceu azul. E nem quente nem frio.

Luiz Augusto telefonou para a casa da Lucilia avisando que virá 6 feira, dia 27, aproveitando uma carona. Ai ficará mais perto para sua antena receber boas notícias.

Do Antonio Carlos não temos notícias recentes. Mas como dizem, falta de notícia, boas notícias, confiamos que tudo irá bem com ele, e fora os apertos sucessivos, digo de estudos. Pois parece que o curso dele é um prolongamento da Arthur Andersen do Sergio, ou dirigido pela “dita cuja”.

Junto vai uma carta do Marcelo. Parece que está havendo ciumes por causa da vovó demorar. Ó velhota querida, já estou vendo você protestar – velhota é a sua vó …

E é mesmo, my little woman, porque para mim você continua sempre a mesma Laura que me deu as tres violetas hontem, antes de hontem, ou a muitos anos. Nada disto, foi ou melhor é hoje mesmo.

Os riscos e amassado são trabalho do Guilherme que veio para meu colo para a Regina preparar o banho para ele.

E graças a Deus, será sempre, conforme seu telegrama que recebi com alegria e ternura, e os que mandei dia 13 e 18. Pedindo a Deus que abençoe sempre a todos, abraça-a carinhosamente o seu

Lizote.

Raul Soares, 18 de setembro de 1980

Meu Caro Eu Mesmo,

Vamos agradecer a Deus Pai de Bondade e Ternura e Infinita Misericórdia por este dia maravilhoso no qual, pela primeira vez conseguimos sentir um vislumbre da Luz da consciência da Verdade. Agora sabemos o sentido profundo, essencial, que tentamos expressar e que não encontramos palavra bastante expressiva para o fazer.

Cabe-nos agora não colocar “a luz sob o alqueire”. Mas sim procurar colocá-la de modo que ilumine as consciências que possamos receber a sua compreensão. Sabemos como o fazer e o faremos agora e sempre.

Como primeiro trabalho externo vamos começar a organizar a palestra para a qual fomos convidados sobre “Crescimento Interior” de “ Não Violência”

Mil e Mil vezes agradeço, Senhor, Pai de bondade e ternura e Infinita Misericórdia”, Vós sabeis exatamente a razão pela qual agradeço. Embora não me seja possível expressá-la em palavras compreensíveis ou claramente expressivas para mim mesmo, e muito menos para outrem.

Agora há pouco fui a um barzinho meio “fuleiro” e bebi uma garrafa de cerveja porque senti que me seria útil e benéfico bebê-la e o fazer exatamente nesse barzinho que, embora no centro de Raul Soares, me parece frequentado por minhas irmãs protestantes. Fiquei lá exatamente uma hora, das 22 as 23 horas. E dei um balanço (será este o termo exato?) rememorei minha vida desde os 18 anos. Ou mais exatamente desde meu ultimo encontro com a Filhinha, minha prima, com quem mantinha um romance. Seria de adolescente? Seria uma ilusão? Na despedida poderia tê-la beijado. Não o fiz. Teria sido um erro? Ou foi uma ação certa? Rememorei outras renuncias minhas, assim como rememorei muitos atos que, na época me pareciam certos e hoje me parecem errados. Teriam sido errados? Quando saí pensei em escrever a Odila Fonseca em São Geraldo descrevendo tudo isto, na suposição de conforta-la. Não vou fazer pois compreendi que na realidade não estava querendo conforta-la, mas sim, a mim mesmo. Mas agora sei que foi o último esforço do “Touro Vermelho” para sobreviver. Agora sei que posso fazer a palestra sobre o “Crescimento Interior” e a “Não violência” com pleno proveito para todos que a ouvirem e puder entendê-la. E todos irão ouvi-la e entenderão.

Governador Valadares 9 de outubro de 1971

Minha querida Laura

Mal cheguei e já estou escrevendo para você que está sempre presente em meu pensamento. Embora, as vezes, como agora (até que rimou!) o neu prazer passe a frente do que, realmente, me agradaria fazer, com a maior boa vontade.

Trabalhei para resolver o caso da Aparecida. Trabalhei para resolver o caso do Tatwa. E deixei para depois o meu prazer de vir até a fazenda do Sales, o trabalho proporciona meios para você vir se encontrar com a Mariquinha e tratar de melhorar as condições de sua mãe e de seus irmãos. Mas vou me castigar por este erro tão tolo.

Em primeiro lugar não voltarei por São Geraldo. Não me darei o prazer de viajar de trem de Caratinga a São Geraldo, por uma zona que não conheço de Caratinga a Raul Soares. Em segundo lugar diminuirei minha permanencia aqui onde terei a alegria de reviver os velhos tempos de mocidade quando eu e o Sales vivíamos as voltas com os bois e as boiadas.

Talvez quando você receber esta, já esteja de volta. Mas não importa, tenho a impressão que escrevendo é como se estivessemos conversando depois de catar as pulgas dez vezes, e mandar os jovens dormirem umas vinte vezes. E que Deus leve meu pensamento até você, e juntos trabalhemos para levar paz e tranquilidade a seus irmãos e saude para sua mãe.

Tive excelente impressão da cidade, inclusive de ser uma grande baixada entre montanhas. A surpresa maior que tive foi encontrar uma corrida de automóveis em uma longa e reta avenida. E, pasme e admire, rapazes barbudos e cabeludos e moças vestidas só de camisola…E, mais ainda, na sala de jantar do Hotel Bahia, um jovem que admira e deseja ver analisada a República de Platão. E não era cabeludo tipo Renato da Doce Namorada.

Também não definiu o que entende por República de Platão. De forma que fiquei na dúvida a qual República e a qual Platão se dirige sua admirativa vontade de delirar.

Vou agora procurar o correio e ver se ainda envio esta para você hoje mesmo. Não que espere que chegue antes de mim, mas que o ato de a por no correio complete o meu desejo que você receba ainda hoje todo o carinho do pensamento e amor do seu Lizote.

J.F. 25/5/1994
Laura,
Esta carta já está planejada faz tempo. Estou sempre adiando para uma hora bem sossegada e assim
podermos conversar bastante e, com isto, cheguei até hoje sem escrevê-la.
A Regina sempre me dá notícias suas, da Julia e filhos. Por cá continuamos na rotina habitual, todos com saúde, graças a Deus. Domingo último tivemos a agradável visita da Anita. Ela perguntou muito por você e lastimou bastante não encontrá-la. Deixou um grande e saudoso abraço para eu lhe enviar. Ela pediu que a Lia viesse cá para casa afim de fazermos uma “hora da saudade” completa. Ficou faltando você. A Anita está muito bem, sempre alinhadíssima e não aparentando os janeiros.
Não sei se já lhe contei que fui, com o Lininho, Rocilda e a Lia a Ouro Preto, Mariana e Tiradentes. Tomamos um fartão de velharias e também de ladeiras. As subidas e descidas foram mais em Ouro Preto.
Fizemos pouso em Mariana. Iamos sempre a missa na Igreja da Sé, que era bem perto do Hotel em que estávamos. Na volta, já de noite, a impressão que tinha era de ter voltado no tempo e estava em pleno Brasil colônia. Até o Hotel contribuia para esta impressão, era bem no estilo.
Foi um passeio muito agradável. Na volta viemos por Ponte Nova, almoçamos em Viçosa e demos uma entrada em São Geraldo.
Achei uma diferença muito grande na nossa terra, em termos de crescimento, só que não encontrei uma cara conhecida. Vi um senhor que me pareceu filho do Temponi. Perguntei se era e ele me disse que não.
O Luiz Augusto estes dias acudiu a filha da Rocilda que estava um sofrimento com um tumor no coccix e a família toda ficou encantada e grata com a atenção e carinho que ele dispensou.
E o inverno que este ano ainda não deu o ar de sua graça! Hoje tivemos um dia de sol e quente. Fico admirado porque já estamos praticamente no fim de maio. Fico me lembrando das noites de rezas e coroações em nossa infância. Eram sempre noites estreladas, as vezes de luar, mas sempre frias. Lembro-me que a vovó nos presenteava com vestidos de flanela branca para irmos de virgens acompanhar as coroadeiras.
Agora estou partindo para o saudosismo. Voltemos a 1994, com as paixões políticas de ano eleitoral, com as tecnologias avançadas, mas sem o principal que é a fraternidade. Estamos com saudades, daquela saudade que é vontade de ver e conversar pessoalmente. Um grande e carinhoso abraço para você, Julia, Julia Paula e Tuca e Ana Raquel

Ena

Cartão da Vovó Julia Roxo da Motta para o papai Luiz Roxo da Motta

Falecimento da Tia Maud
Cartão de minha mãe Laura para mim, Regina. Ela estava em Campinas em casa da Júlia, irmã.

Queridos,

Estou aproveitando a vinda da Regininha para mandar para você os recibos. Ela veio na festa da Júlia e Júlia Paula.

Tinha bastante gente, o pessoal é muito amigo deles e me tratam muito bem. Estou com saudades da Mariana, também da Flávia e Gui. Ainda não pensei em viagem, acho que por isso estou calma.

Mando abraços a todos. Da mãe que lhe pede para rezar, Laura

Regina,

Graças a Deus fiz boa viagem, alcançando o ônibus das 8,30 em Ubá e encontrando tudo em paz lá em casa.

Ao vir para o serviço, lembrei-me que o Ary, em conversa comigo, quando falávamos das dificuldades, disse que só comprando bilhete de loteria do Otávio. Como o Otávio está em São Geraldo e eu aqui, resolvi lhe mandar um pedacinho da sorte, que vai correr justamente no seu aniversário. Pode assim acontecer , e Deus queira que aconteça que você fique mais “velha” e mais rica no mesmo dia.

Não sei o número, vai fechado conforme comprei porque assim dará mais agrado abrir e encontrar alguns milhões em um pedacinho de papel. Estou escrevendo as pressas porque quero mandar hoje mesmo, talvez chegue na quarta feira.

Com uma benção toda especial pelos 26 anos, pedindo a Deus que a faça feliz junto com o Ari e os meninos. Papai

A uma certa Gioconda, atualmente my little woman, também conhecida por Laura, a velhota, não confundir com

a Laura Jovem. LMotta

Cartão da minha mãe, Laura para mim

Queridas,

Estou aproveitando a vinda da Regininha para mandar para você os recibos. Ela veio na festa da Júlia e Ana Raquel.

Tinha bastante gente, o pessoal é muito amigo deles e me tratam muito bem. Estou com saudades da Mariana, também da Flávia e Gui. Ainda não pensei na viagem, acho que por isso estou calma. Mando abraços para todos,

para o Zé, Solange e Daniel. Da mãe que lhe pede para rezar, Laura

Minha querida Laura,

Quando esta chegar ai, já você deverá ter recebido outra do Zá Reinaldo com um vale postal para você. E não precisa se preocupar porque estamos com folga em matéria monetária. Quando você voltar, e é a única falta que estamos sentindo, conversaremos nos detalhes.

Desde sexta-feira que a Regina está aqui com as crianças e Ary. Sendo que o Ary voltou hontem para Bicas, por causa das aulas de violão.

Todos estão muito bem, especialmente o Guilherme que está grande e forte e muito alegre. Já está começando a engatinhar e aí você vê oque acontece. O cuidado tem que redobrar.

Regininha disse que queria estar com “zero” ano, só porque eu disse que ela já está mocinha, e criança é só o Guilherme. Nessa para ela se encostar na Regina velha, e protestou: – eu também sou criança, faz de conta que estou com zero ano”.

Mas o agarramento dela, Marcelo e Daniela, com o Guilherme continua o mesmo. Os jovens já estão de férias desde hontem e estão todos muito bem. Comprei o tal chá para a Goretti, mas tive que comprar também o mate, porque ela não gosta de chá forte. Mas eu estou dando conta dele, porque é gostoso e fácil de fazer.

Não sei se a Goretti ou Zé contaram que há dias estava aqui em casa os companheiros de viagem da Goretti. E foi uma noite de muita alegria, todos relembrando os fatos pitorescos da viagem e passando os respectivos slides na maquina do Juninho que também estava presente.

Hoje o Marcelo trouxe um bilhete para a Goretti, logo após a passagem de um avião e disse que foi o rádio-telepatico que mandou – o tal que pediu a Goretti em casamento, durante a viagem.

E vimos o retrato dele em um slide, junto com a Goretti, quando estava aprendendo a dirigir o avião. Fico imaginando o que será namoro a 2000 metros de altura!!! É bem provável que já seja o fim do nosso bom mundo.

O vazio por baixo, a terra lá bem longe, e dois jovens brincando de namorar, enquanto a jovem faz o avião subir e descer, igualzinho brinquedo. Não deve ter havido perigo, porque chegaram muito bem, e pousando diretamente no aeroporto de Juiz de Fora.

Já ia me esquecendo de dizer que pedi ao Zé para mandar o vale postal para você, porque o Delegado me designou para prestar serviços em Rio Branco por dois dias, inesperadamente.

De Rio Branco telefonei para São Geraldo, não pude ir lá, eu tive o prazer de conversar diretamente com o Dario, que casualmente estava no hotel quando telefonei.

Pode dar a notícia ao Celinho, que o Dario está passando bem, já está andando e no telefone pediu-me para mandar um abraço para todos, especialmente para o netinho. E ficou muito satisfeito com meu telefonema.

Tive pezar de não poder ir até lá pessoalmente. Mas estav a serviço e não dormi em Rio Branco. No primeiro dia fui de carro oficial da Delegacia, porque fomos até Viçosa. No segundo dia fui e voltei de ônibus, saindo daqui as 8,15 e voltando a noite.

Pela carta para a Fiuta, ficamos sabendo que vocês deverão vir antes do dia 4 de julho, para apanhar o Padre Guetta (não entendi bem no nome) antes de sua ida para Manaus.

E assim em vez de notícias veremos os Sergios e Julias, novos e velhos e também a Ana Raquel que imagino deve esar linda. Já era quando nasceu, imagino agora depois de um mês de leite materno com fartura.

Estive em casa de D. Ahy e as notícias de lá são tembém muito boas. Fiquei comovido foi de ver, sentir a alegria da Heloisa em ser madrinha da Ana Raquel. E também D. Ahy estava radiante com isto. Ainda não estiva com o Cavico, mas faço ideia que ele também está satisfeito.

E já estão fazendo planos para ir a Curitiba, no caso que por qualquer imprevisto, Sergio e Julia resolvam adiar a viagem. Conversamos sobre o assunto, mas julgando que não haverá adiamento, porque naturalmente, Sergio e Julia devem querer aproveitar as férias para vir. Pois, ficando lá mais um ano, com certeza a Julia há de querer continuar o curso da tal Psicologia, e ficar batura para advinhar o pensamento dos outros.

Aqui tivemos uma onda de frio com termômetro marcando 12 graus às dez da noite e mesmo de manhã. E com dias bruscos, sem sol, chegando a ter chuvinha miuda. Mas passou e hoje está um dia lindo, com sol claro e o ceu azul. E nem quente nem frio.

O Luiz Augusto estes dias acudiu a filha da Rocilda que estava um sofrimento com um tumor no coccix e a família toda ficou encantada e grata com a atenção e carinho que ele dispensou.

E o inverno que este ano ainda não deu o ar de sua graça! Hoje tivemos um dia de sol e quente. Fico admirado porque já estamos praticamente no fim de maio. Fico me lembrando das noites de rezas e coroações em nossa infância. Eram sempre noites estreladas, as vezes de luar, mas sempre frias. Lembro-me que a vovó nos presenteava com vestidos de flanela branca para irmos de virgens acompanhar as coroadeiras.

Agora estou partindo para o saudosismo. Voltemos a 1994, com as paixões políticas de ano eleitoral, com as tecnologias avançadas, mas sem o principal que é a fraternidade.

Estamos com saudades, daquela saudade que é vontade de ver e conversar pessoalmente.

Um grande e carinhoso abraço para você, Julia, Julia Paula e Tuca e Ana Raquel.

Ena

Cartão da Júlia Paula para o vovô Lizote

Uma carta de um amigo da Tia Ena, amigo da nossa família, filho do Sr. Joaquim Faustino, morador de São Geraldo.

Ele se chamava Aod, foi soldado na Segunda Guerra e escreve para a Tia Ena da Itália.

Artigo do Totonho publicado no Jornal Página Zero, em Osasco pelo aniversário de 80 anos da mamãe.

Cartas dos netos para o papai – Marcelo, Daniela, Regininha e Guilherme – 1978

Carta Regininha

Carta do Guilherme
Ele desenhou e a Daniela escreveu!

4 comentários sobre “31 – Arquivos da Grande Família que merecem ser conhecidos e arquivados.

  1. Eu pude “ouvir” meu avô Lizote conversando quando li as cartas… até sua risada, “velhota é sua avó”… Uma alegria e um privilégio ser neta do vovô Lizote e da vovó Laura, só tenho pena de nunca ter lido as cartas dela…
    Beijo, mãe, continue brindando a família com tantas lembranças maravilhosas…

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