30 – FOTOGRAFIAS DA GRANDE FAMÍLIA

A Goretti  me mandou muitas fotos. Publiquei algumas que se referiam às casas onde a família viveu.

Aqui publico as fotos de outros lugares, na esperança de que apreciem e mandem também suas fotos para complementarem este registro que deixaremos para as próximas gerações!

FOTOS EM BICAS – ONDE MOREI

Marcelo e Dani

Esta foto é em São Geraldo, Marcelo e Dani

mamãe em bicas 3_0001

Mamãe em minha casa

Em Bicas

Regininha, Daniela e Juçara colhendo cenouras

Foto 1

Júlia Paula

Goretti, Dani e Guilherme

Goretti, Daniela e Guilherme

Guilherme em Bicas

Guilherme

Guilherme escalando

Guilherme escalando o morro

Juçara e Regina em Bicas

Juçara e Regina

Marcelo em Bicas

Marcelo

Marcelo, Dani, Regininha e Gui em Bicas 1977

Marcelo, Daniela, Regininha, Guilherme

Regina e Dani colhendo cenouras

A colheita de cenouras

Regina e Dani em Bicas

Regina exibe a colheita

Regininha e Dani em Bicas

Daniela e Regininha

Regininha.jpg

Regininha

Vovó Laura e Guilherme em Bicas

vovó Laura e Guilherme

CHEGADA DA JÚLIA DOS ESTADOS UNIDOS

Galeão 1979 Chegada da Júlia e Cia

Galeão na chegada da família da Júlia de Chicago 1979

Mamãe recebendo a família no Galeão, vindo de Chicago

Júlia e mamãe Galeão 1979

Júlia

Ana Raquel cansada da viagem

Ana Raquel, dormindo, cansada da viagem

Mamãe no Galeão esperando a Júlia chegar de Chicago fev 1979

Mamãe no Galeão esperando a chegada da família da Júlia

FOTOS NA CASA DA GORETTI E VERMELHO EM BOTAFOGO

adriana, ana raquel, julia paula, carolina, clara, beatriz e Davi

Esquerda: Adriana, Ana Raquel, Júlia Paula, Carolina, Clara, Beatriz, …Beatriz brinca de bonecas e inclui o Gabriel entre elas. 1988

Beatriz brinca de bonecas e inclui o Gabriel dormindo na brincadeira

Conceição e sobrinhos na Vista Chinesa

Conceição e sobrinhos na Vista Chinesa Rio de Janeiro

daniel e beatriz set 1985

Daniel e Beatriz

Julia Paula apto Botafogo retorno dos EUA_0002

Julia Paula no retorno ao Brasil

Julia Paula exibe o penteado que Tia Ção fez

Julia Paula com o penteado que a Tia Ção fez

Tia Ção curtindo os sobrinhos 1979

Tia Ção curtindo os sobrinhos que acabavam de chegar de Chicago

Vovó Laura e Júlia Paula Galeão 1979

Vovó Laura e Júlia Paula no Galeão

Mamãe de papai com Beatriz em Botafogo 1986

Na casa de Botafogo 1986

CASA DA GORETTI E VERMELHO NA VITOR MEIRELES – RIO DE JANEIRO

mamãe e papai com Gabriel março 1988

Papai e Mamãe com o Gabriel

papai e mamãe saindo da maternidade com a Beatriz agosto 1984

Saindo da maternidade com a Beatriz

maio 1992 na frente prédio Rua Vitor Meireles

Em frente ao prédio no Riachuelo

EM CAMPINAS NA CASA DA JÚLIA

beatriz em campinas 1992

Beatriz

Gabriel em Campinas 1992

Gabriel

Júlia com Ana Raquel e as mangas ubás 1992

Júlia, Ana Raquel e as mangas…

D. Laurinha e Dulce na casa da Júlia em Campinas 1992

Mamãe e Dulce

D. Laurinha, Dulce, Goretti, Gabriel e Daniel na casa da Júlia

OUTROS LOCAIS

Natal na casa do Zé e Solange

Natal na casa do José Reinaldo e Solange

D. Orita

Dona Orita, mãe da Solange

Associação CEF 1991

Na Associação da CEF em Juiz de Fora

FAMÍLIA DO LUIS AUGUSTO

Ana Cláudia 25 fev 1979

Ana Cláudia, 25/02/1979

Goretti de Ana Cláudia fev 1979

Goretti a Ana Cláudia

Lucilia e D. Ivone com Ana Cláudia 1979 fev

Lucília e D. Ivone com Ana Cláudia

Lucília, Goretti com Ana Cláudia e Lizote fev 1979

Papai, Goretti com Ana Cláudia e Lucília

Luiz Augusto de Ana Cláudia 1979

Luis Augusto e Ana Cláudia

casamento ana cláudia e bene

Casamento da Ana Cláudia

SÉRIE DE FOTOGRAFIAS DO ACERVO DO LUIS AUGUSTO CASULARI ROXO DA MOTTA

4 serie desfile

Desfile da 4 série do Ginásio Santo Antonio, São Geraldo, 1963 – hoje seria chamada de 8 série

Turma da quarta serie 7-9-1963 e desfile

Desfile da 4 série do Ginásio Santo Antonio, São Geraldo, 1963 – hoje seria chamada de 8 série

Assinaturas no verso da foto turma 1963

Assinatura dos alunos no verso da fotografia acima

Carnaval São Geraldo - 1973 - 1

Carnaval em São Geraldo 1973 – LuizAugusto de bigode, na frente

LA vestibular 1

Luis Augusto aprovado no vestibular da UFJF 1973

LA vestibular

Luis Augusto ao centro, os outros não sei o nome

Carnaval São Geraldo 1973 - Lenita, eu e a sua tia

Carnaval de 1973, Luis Augusto e Lenita, a outra moça não sei o nome

Dora água na bica

A  prima Dora, filha de Manoel Roxo da Motta, tomando água na bica, 1973

conjunto do Ary

Conjunto do Ary de Oliveira, no violão, a direita o irmão dele Marcos de Oliveira,

bateria José Carlos, o outro não me lembro.jogo de botão

Jogo de botão

Seminario 1

Time de futebol do Seminário de Leopoldina onde estudou o Antonio Carlos

Roxo da Motta. 1963

Seminario 1963seminario futebol

SeminarioSeminario padre

Ainda o Seminário de Leopoldina

Aniversario da Clara

Aniversário da Clara, filha da Júlia Paula, agosto de 2004,

de pé Luis Augusto, a primeira a esquerda é a Júlia Paula.

defesa de tese julia

Defesa de Tese da Júlia Maria Casulari Roxo da Motta, em Campinas.

defesa de teses da julia cafe

Defesa de Teses da Júlia: Luis Augusto de pé, abaixo dele Regina, sentado em frente Dora e seu marido, com blusa branca, Lucília e de costas a Maria do Carmo, (Cacau)

Viçosa desfile Julia

Desfile de 7 de setembro do Colégio Nossa Senhora do Carmo, Viçosa, MG

Júlia estudou lá.

tia Ena

Nossa querida tia Ena Roxo da Motta – julho de 2004

FOTOS DO ACERVO DE LUIS AUGUSTO CASULARI ROXO DA MOTTA

casa da tia Lia chupando cana

Casa da Tia Lia Roxo da Motta em São Geraldo, esta casa ainda existe.

Todos são primos entre si.

A data da foto deve 1949 – da direita para a esquerda: Luis Carlos, filho da Lia,

sentada ao lado, Júlia Maria, filha de Diniz e Eunice, uma moça que trabalhava na casa,

Júlia, filha da Lia, Júlia, de laço no cabelo, filha de Luiz e Laura, minha irmã. depois Regina (eu) e de pé Carlos (Carlinhos), filho de Diniz e Eunice

casa tia lia JF

Casa da Tia Lia em Juiz de Fora, Rua Dr. Vilaça 33

Década de 1950 – Crianças em pé na calçada: da direita

para esquerda: João Lúcio, Antonio Carlos, Luis Carlos, Regina,

Luis Augusto, Júlia e Julinha (Júlia Sales). As pessoas

da varanda não consigo distinguir. A de cabelos brancos é a

Tia Deolinda Cardoso, “vovó titia”, como a chamávamos.

Esta casa ainda existe em Juiz de Fora.

familia salles e roxo motta

Não consigo identificar todos. A direita, Laura, minha mãe, tendo

Júlia ao colo. Tio Antonio Sales com uma filha que pode ser a Júlia,

a senhora de blusa preta me parece a Carolina, irmã do Tio Sales, a menina

de pé, na frente dele poderia ser eu, Regina.alto da serra

Luis Augusto no alto da Serra de São Geraldo.

Clube.

Luis Augusto e amigos na porta do Clube de São Geraldo, s.d.

familia da Re

Família – criança encostada na parede é a Aparecida,

de pé, ao lado, Regina, sentada com bebê no colo, Júlia, abaixado. de branco, Luis Augusto, a esquerda Ary, de pé atrás a criança é o Marcelo, de pé com gola preta no vestido, Goretti, e Laura, nossa mãe

Formatura LA

Missa de Formatura do Dr. Luis Augusto Casulari Roxo da Motta, ao lado a Lucília Domingues, hoje sua esposa, também médica. 1974

Julia com Gracinha Viçosa.j

Júlia coma amiga Gracinha no Colégio Nossa Senhora do Carmo Viçosa

Colegio de Viçosa

Desfile de 7 de setembro do Colégio Nossa Senhora do Carmo Viçosa

29 – MUDANÇA PARA JUIZ DE FORA

Datas eu não sei, deixo para os que souberem e quiserem completar estas lembranças!

Sei que 1967, quando a Daniela nasceu e em 1969, quando a Regininha nasceu, eles ainda moravam em Ponte Nova.

Segundo informações da Conceição, eles se mudaram em 1968.

Quando os meninos mais velhos terminaram o segundo grau, época de fazerem o vestibular, a mudança para Juiz de Fora aconteceu. Papai conseguiu transferência para a Receita Federal e a mamãe decidiu que não queria mais dar aulas e pediu demissão.

Ela dizia que foi a história da Matemática Moderna, do “Conjunto Vazio”, que a ajudou a decidir-se. Poderia ter conseguido uma transferência para Bicas, onde havia uma escola ferroviária, mas já estava cansada!

Foram morar em uma casa antiga, na Rua São Mateus, quase esquina com a Dr Romualdo. Aí já estavam todos adolescentes e adultos.

Nesta época, ainda sobre o domínio do Golpe de 64, os meninos começaram a se engajar em política e o papai ficava temeroso das possíveis consequências. Uma vez, não sei qual deles, mandou fazer uma faixa escrita MDB e colocou na frente da casa. Muito sábio, o papai ao invés de criar caso, mandou fazer uma faixa ARENA e pendurou ao lado da outra.

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Conceição, Antonio Carlos e Cacau, Papai

DEPOIMENTO DO JOSÉ REINALDO SOBRE AS FAIXAS POLÍTICAS

Ré, belíssima memorialística conduzida por você, com a colaboração da Júlia, da Goretti, da turma do tio Neneo, de todos, enfim, até de quem, como eu, não mandou mais colaboração, pois pode ter certeza que torcemos muito para o projeto caminhar.

Como acho que ainda está em tempo de complementar o roteiro desenhado por você, esclareço a questão da faixa política na casa de S. Mateus. Na campanha de 1978, numa reunião, sem pensar muito autorizei que um candidato de oposição ao governo colocasse uma faixa de propaganda na parede externa. Quando foram lá eu não estava, mas como eles mostraram ao papai a autorização, ele consentiu. Só que depois ele mandou fazer, por conta própria, uma faixa do candidato dele, de outro partido, e colocou junto da do meu. Ficava claro para os da rua que naquela casa não havia só quem apoiasse o partido da oposição.

Mais uma lição do Lizote: aprendi que a “casa não era minha”, isto é, que ali moravam outras pessoas, que eu não podia decidir algumas coisas sozinho etc e tal. Isso sem ele brigar comigo, sem fazer até um justo sermão: uma manhã, quando acordei, ele me levou pra ver as duas faixas – e dando a maior risada…

Fiquei em São Geraldo, já casada e depois me mudei para Bicas, que era perto e, portanto, estava sempre por lá.

A casa era uma festa, sempre cheia de jovens, amigos de uns e de outros. Aos domingos, a moçada de São Geraldo que morava em Juiz de Fora para estudar, aparecia lá para “filar” o almoço porque o Restaurante Universitário não funcionava neste dia.

São Mateus

Única fotografia que eu tenho!

tartaruga

A tartaruga do quintal, que na verdade era um cágado macho, com a Júlia Paula e Sérgio Ricardo (Tuca). Depois tivemos que levá-la para o Parque Mariano Procópio porque ela fugia para a rua.

A casa tinha um quintalzinho e um cômodo nos fundos. No quintal o papai plantava horta e os netos, quando íamos lá, brincavam de Escolinha, a Daniela sempre era a professora!

Uma vizinha que morava sozinha e havia sido professora, ouvia as aulas da Daniela e dizia pra mamãe: Esta menina nasceu professora!

No Natal, a Júlia vinha com os filhos e era uma festa, os meus e os dela! Às vezes saia alguma briguinha, mas a brincadeira era maior.

Tia Ena estava sempre lá, Tia Fiuta, amiga da mamãe de São Geraldo, morava perto, Dona Delizete, outra amiga da mamãe, sempre aparecia e Dona Magdá, de quem a mamãe havia sido babá, também vinha sempre.

Era uma casa velha, grande, e no quintal houve uma tartaruga (ou cágado, não sei!). Como chegou lá, não me lembro, mas sei que levamos para o parque do Museu Mariano Procópio porque o bichinho fugia quando encontrava o portão aberto.

Mamãe queria muito que comprassem uma casa. Quando começaram a urbanização do Bairro Cascatinha, ela insistiu com o papai que fossem lá ver uma casa para comprar. Ele foi e perguntou ao corretor quantos anos a casa teria de garantia. Quando ouviu que seriam 5 anos, desistiu, dizendo que 5 anos é garantia de geladeira!

Muito mais tarde compraram a casa do Monte Castelo onde viveram até o final de suas vidas.

avião Projeto Rondon

Goretti no avião do Projeto Rondon, que o papai cita em uma de suas cartas!

FOTOS NA CASA DE SÃO MATEUS

NATAL DE 1978

Cacau e Antonio Carlos natal 1978

Antonio Carlos e Cacau

Ari no Natal 1978

Regininha, Ary, Gorettti

Daniela, Regina e mamãe natal 1978

Daniela, Regina (eu), Mamãe

dani, regininha e marcelo

Daniela, Regininha, Marcelo, atrás a Goretti e o amigo Ricardo

Mamãe Natal 1978

Mamãe

Papai natal 1978

Papai, Goretti e Ricardo!

Regininha e Dani no natal 1978

Regininha e Daniela

Juninho natal 1978

Juninho, Natal de 1978

Juninho no natal 1978

Juninho, Natal de 1978

Antonio Carlos e Juçara natal 1978

Antonio Carlos e Juçara, amiga da família, Natal de 1978

arrumados para o casamento do Luiz Augusto 17 dez 1976_0002

Todos arrumadinhos para o casamento do Luis Augusto! Direita Marcelo, Júlia Paula, Daniela, Regininha, Tuca (Sérgio Ricardo)

D. Laurinha curtia um jornal!

Mamãe curtindo o jornal!

Sobre jornal, me lembrei de uma história! Papai comprava o jornal todos os domingos e eram muitos leitores para um jornal só! Cada um pegava uma folha e depois era o troca troca. Os lugares nas poltronas também não eram suficientes para todos. Aí havia uma disputa… Lembro-me do Zé Reinaldo chegar na sala e dizer: Luis Augusto, telefone para você! Ele saia para atender o telefone que ficava em outra sala, não havia ligação nenhuma e quando voltava, já havia perdido o lugar!…Formatura Goretti (abraçando Tia Ruth e mamãe ao fundo) dez 1976

Formatura da Goretti

D. Magdá!

Esquerda: Eu, Dona Magdá (grande amiga da mamãe, Goretti e Vermelho – casa da Júlia em Campinas.

MUDANÇA PARA O BAIRRO  MONTE CASTELO

A compra da casa foi uma grande alegria para a mamãe! Era uma casa novinha, como nunca tinha tido ou morado.

Havia um jardinzinho na frente, uma garagem que servia de varanda e onde ela cultivava seus vasos, samambaias enormes, tudo muito bonito. Ela dizia que as pessoas do bairro só começaram a plantar vasos e jardins depois de verem os seus!

Outra invenção dela no bairro foi ornamentar a rua para o procissão de Corpus Christi. Ficava entusiasmada e punha toda a vizinhança para ajudar! Não sei se ainda fazem isto lá!

preparando a rua

Preparando a rua para a procissão! Toda vizinhança se envolvia!

rua monte castelo

A menininha de blusa branca é a Carolina

rua monte castelo 1

altar

Papai  e o altar na porta de casa

Fazia também novenas em casa e convidava as crianças da vizinhança para coroarem Nossa Senhora.

Já o quintalzinho e a horta eram o reino do papai! De todas as frutas que comíamos ele recolhia as sementes e fazia mudas em saquinhos de leite que eram usados para cercar os canteiros de verduras.

quintal 1

quintal 2

quintal

Quando os netos chegavam, sua horta sofria! Eles adoravam brincar lá, na terra e papai não se importava. Um vez o Guilherme estava furando um buraco lá e o papai perguntou o que ele estava fazendo. Disse que estava furando para chegar do outro lado do mundo, lá no Japão!

Depois não tinha onde plantá-las e distribuía a quem quisesse, que não eram muitos! Então resolveu plantá-las no quintal da creche do bairro. Arranjou uns ajudantes que, segundo a mamãe, exploravam dele, e iam para a creche plantar. Chegou a fazer um belo pomar lá!

Uma vez sofreu um acidente descendo a escada da creche, foi apoiar se no muro e este caiu sobre a sua mão, quebrando-a, o que deixou uma sequela.

A comemoração de Natal era pensada e planejada com grande antecedência. O cardápio do dia era fonte de preocupações da mamãe e de muitas idas ao mercado para comprar tudo!

Natal 83 1

Natal de 1983

Natal 83

natal 2

Este Natal eu não sei a data!

natal 1

No Monte Castelo já sem a mamãe 1999 (1)

Este Natal foi em 1999, mamãe e papai já não eram vivos, mas eu morava na casa que tinha sido deles e comemoramos o Natal. Tia Ena, de cabeça branquinha, estava conosco e representava os dois.

No Monte Castelo já sem a mamãe 1999 (2)

Natal 1999

No Monte Castelo já sem a mamãe 1999 (3)

Natal 1999 – Lúcia da tia Ena, Tia Ena de costas, Goretti, José Reinaldo, Solange e de pé sou eu, Regina

No Monte Castelo todas as mocinhas elegantes!

As mocinhas elegantes!!!

goretti,conceição, julia, antonio carlos e josé reinaldo

Esquerda Goretti, Conceição, Júlia, Antonio Carlos, José Reinaldo, casa da Júlia em Campinas

Juiz de Fora Monte Castelo 1991

1991 – Luis Augusto, Mamãe, Goretti com Beatriz no colo e Gabriel

Varanda Monte Castelo 1989

Natal de 1989

Vermelho e Goretti no dia do casamento com sobrinhos 1981

Goretti e Vermelho no dia do casamento. Na direita Júlia Paula com um bebê no colo (será a Flávia?) Tuca (Sérgio Ricardo, na frente da Goretti é a ana Raquel e ao lado a Regininha, o garoto a esquerda deve ser vizinho.

Os presentes também eram uma preocupação. Eu saia com ela e rodávamos o comércio, comprava presentes para todo mundo. Chegava em casa e começava a pensar que fulano não ia gostar disso e voltávamos novamente para comprar outra coisa.

Papai vinha da cidade com a sua inseparável bolsa trazendo o queijo palmira, e mais balas e mais doces…E castanhas para cozinhar que a mamãe gostava.

Começavam a chegar os  filhos e netos e a casa se enchia, dormiam pelo chão, em colchões e tudo era festa. Era um tempo de maior simplicidade, hoje não sei se seria assim…

Cesar e Vovó Laura com Beatriz out 1984

César e Vovó Laura com Beatriz

Beatriz e primos Monte Castelo 1984

Goretti com Beatriz no colo. Na direita César, as duas meninas são sobrinhas da Juçara, Laura e Eloise , Carolina Flávia e Daniel

Ana Raquel em Monte Castelo 1989

Ana Raquel

Beatriz e Gabriel em Monte Castelo 1989

Beatriz e Gabriel

Daniel e Cesar - Monte Castelo 1989

Daniel e César limpando um carro…

flavia carol e dani 1982 no monte castelo

Daniela atrás, na direita Carolina e Flávia 1982

Flávia e Carol dentro do guarda roupa da vó Laura 1982

Flávia e Carolina dentro do guarda-roupas da vovó!!!

Flávia em Monte Castelo 1989

Flávia fazendo pose!! 1984

flavia preparada por ela mesma 1984 Monte Castelo

Flávia preparada por ela mesma!!!

Vó Laura e netos no Monte Castelo fev 1997

Vó Laura e netos

Gabriel com o presépio da mamãe 1991

Gabriel com o presépio, em 1991

passeio com vovô 1

passeio com vovô 2

passeio com vovô

varanda

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Flores colhidas no jardim da mamãe

Papai reunia a meninada e os levava para passear pelo morro, onde havia uma cachoeirinha. Voltavam molhados, sujos e na maior alegria… Temos algumas fotos destes passeios e deste tempo tão bom!

Comunicação do nascimento da Ana Raquel, filha da Júlia, minha irmã

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Carta da Flávia para a prima Ana Claudia, filha do Luis Augusto, meu irmão.

carta flavia ana claudia

“Deixamos algo de nós para trás ao deixar um lugar: permanecemos lá, apesar de termos partido. Há coisas em nós que só reencontraremos ao voltar. Viajamos ao nosso encontro quando vamos a um lugar aonde vivemos parte de nossa vida, por mais breve que tenha sido”.

 Da novela “Trem Noturno para Lisboa”, de Pascal Mercier

28 – Mudança para o Morro da Estação e outras casas

Fomos morar em uma casa no morro da estação, mas ficamos lá por pouco tempo. Desta casa não tenho fotos.

A Conceição devia ter 1 ano, mais ou menos. Eu já estava fazendo o curso de admissão que era necessário para entrar no ginásio. Mamãe dava aulas de manhã e minhas aulas começavam no segundo turno às 11 horas. Por falta de salas, a escola funcionava em 3 turnos.

Ficamos sem empregada. Eu fazia o almoço no fogão de lenha, colocando um banco para subir e alcançá-lo. Dava almoço aos meninos e pegava a Ção e ia com ela pelo caminho até encontrar a mamãe que voltava para casa. Antes de sair, punha os meninos para fora de casa e trancava a porta. Ela tinha medo que eles brincassem com fogo!

Os meninos brincavam de pique à noite e iam se esconder no cemitério que ficava logo acima.

Desta casa, mudamos logo para uma acima da praça de Santo Antônio, a última casa da rua na subida que levava ao sítio da Luzia Rocha. Uma casa velha, feia, que está lá até hoje, parece que desabitada.

São Geraldo 023

Hoje está uma casa velha abandonada. Moramos aí por um tempo curto

Deste lugar só tenho uma lembrança: Havia uma vizinha que não tinha filhos. Ela gostava muito da Júlia que sempre a visitava. Esta mulher, que não me lembro o nome, suicidou-se com formicida. Foi uma coisa que me impressionou muito!

Também não foi por muito tempo, de lá mudamos para outra mais abaixo, mais próxima da praça de Santo Antônio, e foi nesta que o José Reinaldo nasceu.

casa onde ze nasceu

Esta foto foi feita em 2016, quando fomos lá em São Geraldo em comemoração ao centenário da mamãe. A casa continua a mesma!

praça santo antonio

A Praça Santo Antonio hoje. Na época era um campo sem nada. Os moleques jogavam  bola. Quando vinha circo para a cidade era lá que ficavam. Ciganos também!

igreja 1

A Igreja de Santo Antônio atual. Na época não havia.

Me lembro te ter visto aí uma apresentação de “Cavalhada”, um grupo folclórico que representava a luta entre mouros e cristãos. Eram cavaleiros fantasiados, os mouros vestidos de vermelho e os cristãos de azul. Simulavam uma luta com grandes varas nas mãos. Nunca mais vi isto em São Geraldo.

Nascimento do José Reinaldo

Acordamos de madrugada com o movimento da casa, o Dr. Celso foi chamado (nesta época já tínhamos médico em São Geraldo) e, depois de ver o menino que achamos feio demais, fui andar de bicicleta pela rua com o dia amanhecendo. Tínhamos só uma bicicleta para todos e cada dia da semana era reservado para um. E este era o meu dia!

Diziam que o Dr. Celso, que fez o parto, respondeu, quando eu disse: Nossa! Que menino feio!

– Não se preocupe, uma Dona Laura ele sempre vai arrumar para casar!

José Reinaldo teve problemas de saúde enquanto bebê, mamãe levou-o ao médico em Juiz de Fora que receitou que tomasse leite desnatado, o que não havia na época. Então o leite era colocado em uma garrafa e precisávamos sacudí-la por muito tempo para que a gordura formasse uma nata, que era retirada e aproveitada depois para fazer biscoitos.

A PROMESSA

Por esta época aconteceram histórias memoráveis:

Mamãe estava na escola, o Luís Augusto juntou-se com um amigo e resolveram ir até a uma gruta que há na serra, a gruta do índio, que despertava curiosidade em todos nós: diziam que lá vivia um índio, o último daquela região.

De repente, caiu uma tempestade tremenda, com raios e trovões e, como sempre acontecia, as aulas terminaram mais cedo, mamãe chegou em casa e tive que contar onde ele havia ido. Ela se desesperou, o papai chegou também e saíram os dois de guarda-chuva em punho para procurá-lo.

Para chegar na serra teriam que atravessar o rio que era raso mas, quando chovia, ficava cheio. Júlia e eu começamos a rezar e fizemos uma promessa: Se ele não morresse, ficaríamos por um mês sem ir à matinê de domingo no cinema! E era um sacrifício tremendo, era a única diversão que tínhamos, passávamos a semana inteira juntando moedinhas e esperando o domingo. Além do filme, o mais importante mesmo era a série que passava ao final. Havia séries de faroeste e do Tarzan que era a nossa preferida.

Quando eles chegaram foi um alívio. Mas, no domingo, o Luís Augusto dançava na nossa frente: Vou à matinê!!  Vou à matinê, eu não fiz promessa!

Aí não tinha jeito: A Júlia segurava e eu batia, e ele nem se importava, o que era pior! E nós cumprimos a promessa até o fim.

Outra peripécia dessa época:

ASSASSINATO DO FRANGO!

Antes de sair para a escola, Mamãe me disse que a Tia Fiuta, uma grande amiga dela que até chamávamos de Tia, viria almoçar e, como a empregada Sá Ritinha, não havia aparecido, eu devia fazer o almoço. Para isto, devia matar um frango que era do Luís Augusto, presente da vovó Maria em seu aniversário.

– Mãe, eu não sei matar frango!!

– Você já viu a Sá Ritinha matar, então faça igual.

Fomos eu e Júlia correr atrás do frango, solto no quintal, debaixo de chuva. Conseguimos pegá-lo e fiz o que vi fazer: Pisei nas asas e passei a faca no pescoço do coitado. Ele se debateu, não consegui segurar e saiu pulando pelo quintal com o pescoço caído e sangrando.

Chega o Luís Augusto, pega o frango ensanguentado e sai correndo para levá-lo até a farmácia, chorando e gritando: -Assassinas! Vocês mataram o meu frango!

E nós correndo atrás dele. Como éramos duas, conseguimos tomar o frango que, a essa altura, já estava morto e voltamos para casa.

E tirar as penas do frango? Mergulhei-o na água quente, mas como já tinha se molhado todo não conseguia, tive que tirar a pele toda. E partir os pedaços??? Meu Deus, nem sei que almoço foi aquele que fiz!

Vou me recordando das histórias da infância…

As fugidas dos meninos para nadar no rio sempre aconteceram e, depois, para piorar, começaram a ir nadar numa lagoa de um sítio, distante da cidade: A lagoa do Antenor.

Uma vez eles haviam ido pra lá, mamãe ficou sabendo e saiu desesperada, junto com a Tia Alzira, para buscá-los. Estava na estrada e tiveram que se afastar para a margem para dar passagem a um caminhão de cana, que corria em meio ao poeirão. Quando elas olharam atrás do caminhão viram os dois pendurados na rabeira do mesmo.

Acho que foi desta vez que o papai deu uma surra neles e o Antonio Carlos, depois, fugiu de casa, entrando na carroceria de um caminhão que estava parado. Foi até Rio Branco, quando o caminhoneiro o descobriu e quando soube de quem era filho, retornou com ele para São Geraldo.

José Reinaldo era bem pequeno, devia ter uns quatro anos, estávamos no quintal e passou um avião, coisa raríssima por lá. Então ele gritou:

– Ô avião, tráz um neném pra nós!

Fiquei bravíssima com ele!

– Deus me livre de mais neném nesta casa!

Conceição sofria com muita alergia, ficava com a pele irritada, vermelha. Mamãe usava uma pomada e, para que não grudasse nos lençóis, usava uma folha de bananeira, amolecida e esterilizada no fogo do fogão à lenha, para forrar a cama onde ela dormia.

Ainda morávamos nesta casa, quando fui pra Viçosa estudar interna no colégio Nossa Senhora do Carmo, por ajuda da Tia Rachel que era freira lá, professora de Português. Não fora ela, não teria conseguido estudar, além da quarta série primária. São Geraldo não tinha ginásio e pagar o Colégio interno seria impossível!

Por obra da Tia Rachel também o papai foi nomeado Coletor Federal em São Geraldo, com a criação da Coletoria lá. Ela tinha uma aluna cujo pai era deputado ou alguma coisa assim e através do pedido dela, saiu a nomeação no Diário Oficial.

Ele relutou em aceitar, dizia que não queria ser funcionário público de jeito nenhum. E perdeu a data da posse! Pois a Tia Rachel tanto fez que conseguiu que ele tomasse posse depois.

A vida começou a melhorar e conseguiram comprar a casa onde moramos no final da estadia em São Geraldo, na Rua 21 de Abril, ao lado do Clube Philarmônica Scipião Rocha.

Com a criação da Escola dos Ferroviários, mamãe foi convidada a dar aulas lá. O salário era muito melhor do que o do Grupo Escolar, mas o papai não queria de jeito nenhum que ela aceitasse.

Com muito custo ele acabou cedendo e ela acumulou as duas escolas por um tempo, até que se aposentou no Grupo.

Nesta casa, que era bem grande, vivemos bem melhor. E muitas histórias aconteceram.

A NOSSA CASA DA RUA 21 DE ABRIL

ultima casa

rua em frente

Rua 21 de Abril, em frente a nossa casa, foto mais antiga. Do lado direito a casa com varanda era da D. Maninha, onde está o caminhão era uma farmácia, agora esqueci o nome do dono, só me lembro que tinha um filho chamado Hitler, do lado direito, a casa com o carro branco em frente era da família Fois.

Regininha casa 21 de abril

Regininha, com 1 ano, na entrada da casa, em frente a casa da Dona Lourdes

Regininha e goretti 21 de abril

Regininha e Goretti

A casa não tinha esta pintura rosa. Era cinza, chapiscada. Também não tinha esta cobertura. Nesta ruazinha do lado havia poucas casas e mais nada, um pasto. Mais tarde foi construído o Ginásio Santo Antonio.

o clube

O Clube em azul e a casa está pintada de rosa. Não sei se ainda funciona como clube

Era uma casa bem grande, com um quintal onde havia uma outra casinha, de um único cômodo, que ficou sendo chamada de Jardim da Infância porque, por um breve período, lá funcionou um jardim de infância particular, não me lembro de quem era a professora.

Logo que mudamos, ficamos alojados nesta casinha para que a casa grande fosse pintada e fossem feitos alguns reparos.

Em uma época que o Grupo Escolar foi reformado, esta casinha também abrigou sala de aula. As outras classes ficaram na casa em frente da nossa.

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Goretti, Conceição e José Reinaldo no quintal

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Brincadeira no quintal – José Reinaldo, Goretti e Luis Augusto

segundo ano

Goretti no segundo ano do Grupo Escolar, a terceira da direita para a esquerda, um pé de sapato e outro de chinelo!!

Luiz Augusto no Grupo Escolar:

Era uma briga da mamãe com ele! Fugia da escola para jogar bola num campinho a beira do rio. Chegava em casa e a mamãe fiscalizava o pé dele, se tivesse areia, ela já sabia de onde era e o castigo era certo!

Ele dizia que queria ser jogador de futebol e, para isso, já sabia muito: sabia ler e assinar cheques!

Mamãe trabalhando muito, ainda se preocupava em tomar o “ponto dele”!

– Meu filho, qual é a matéria da prova?

– Região Nordeste.

E toca ela a fazer perguntas que ele respondia direitinho. Depois ela descobriu que a prova da Região Nordeste já tinha passado há muito tempo! Ele só sabia esta!

Depois chegou a vez do José Reinaldo:

Mamãe trabalhando e a empregada o levava para a escola, ia arrastado, com as pernas duras, sem mudar o passo, fazendo uma trilha pela poeira da rua. E costumava fugir e voltar pra casa!

O Salvador, meu primo, lembrou-se do apelido do José Reinaldo: Zé quiabo, porque escorregava de todo jeito para não ir para a escola!

MAMÃE COMUNISTA!!!!!!

Mamãe aposentou-se no Grupo e continuou a dar aulas na escola dos ferroviários.

Houve um problema lá na escola e a diretora, D. Tute, foi afastada. Em seu lugar deveria ficar a vice- diretora D. Terezinha Santini, que estava grávida de um filho temporão, os outros já crescidos. Então ela pediu à mamãe que ficasse na direção até o bebê nascer, porque iria licenciar-se por um tempo, não queria se expor grávida.

Para ajudá-la, mamãe aceitou.

Aconteceu a Revolução de 1964. A escola havia sido criada pelo Sindicato dos Ferroviários, muito forte na época anterior. Com a Revolução, o Sindicato foi extinto, vários membros da Diretoria foram presos, outros se exilaram. A consequência desta história veio parar em São Geraldo.

Mamãe foi taxada de Diretora Comunista, demitiram-na do cargo e instauraram um IPM no Rio de Janeiro, onde ela teve que comparecer para responder ao processo.

Foi acompanhada por várias autoridades da cidade, que testemunharam em seu favor. Como castigo, foi transferida para Ponte Nova, para onde se mudou com os filhos, deixando o papai em São Geraldo, por causa da Coletoria. Ele ficou morando comigo na casa que era deles.

Eu já era casada e a Júlia ficou comigo por um ano, até terminar seu Curso Normal em Visconde do Rio Branco.

A PRISÃO DOS COMUNISTAS!

A Revolução de 64 também causou outra interferência na família que poderia ter sido muito séria e mudar a vida dos irmãos.

Luis Augusto e Antonio Carlos passaram no vestibular da UFJF e, já morando em Juiz de Fora, vieram passar o Carnaval em minha casa, em São Geraldo para comemorarem.

O carnaval de São Geraldo era famoso, blocos pela rua e praça o dia todo, e um grande baile no clube à noite. Os blocos paravam nas casas e puxavam os moradores para a rua. Se não fossem, pelo menos serviam alguma bebida para os foliões.

Fazendo um parêntesis neste “causo”, lembrei-me de um carnaval em que a Julinha da tia Lia veio com o Hilberto, seu noivo, passar o carnaval lá em casa. O Hilberto caiu na farra o dia todo e me disse: – Isto aqui é um paraíso!

Mas, voltando ao assunto: Na terça-feira de carnaval, pela manhã, o Antonio Carlos, sem camisa, pediu que eu escrevesse em suas costas os nomes admirados por ele e perseguidos pela “Redentora”. Com batom escrevi o que me pediu: Che Guevara, Fidel Castro, Mao Tse Tung!

Saiu de casa, entrou num bloco e sumiu. De tardinha, fui dar uma volta na praça com o Marcelo ainda bebezinho e alguém me disse que havia visto o sargento levando o Antonio Carlos para o lado da cadeia.

Imaginei que ele devia estar bêbado e ter feito alguma inconveniência, mexido com mulher dos outros, qualquer bobagem!

Fui pra casa e pedi ao Ary que fosse lá na Delegacia e dissesse que eles poderiam soltá-lo que eu me responsabilizaria e não deixaria que saísse mais. Volta o Ary me dizendo que o sargento disse que ele estava preso por subversão, que tinha sido uma denúncia e estava incomunicável, esperando a chegada do Capitão, que viria de Rio Branco com escolta, para levá-lo para Juiz de Fora, ao Quartel do Exército.

O Luis Augusto, que estava na casa de uma namoradinha, ficou sabendo e foi até lá. O sargento explicou que era por causa dos nomes escritos nas costas. Então, o “heroico” irmão disse que ele é quem havia escrito os tais nomes, que soltasse o irmão preso e ele ficaria em seu lugar!

O sargento prendeu os dois até a chegada do capitão. A esta altura, a cidade já sabia das prisões e os moradores começaram a se aglomerar sobre a linha de trem que ficava na frente da cadeia, com paus e pedras, ameaçando que, se fizessem qualquer coisa com os meninos, eles iriam quebrar tudo!

Na época, havia a história do Dops e dos espiões em toda parte, vigiavam a todo mundo e denunciavam os “comunistas”! Dizia-se que o João Torrent, “João Vassourão”, um filho da cidade que, há tempos fora para o Rio de Janeiro e voltara depois de 64 para a cidade, era do Dops. Devia ser mesmo, porque foi a única pessoa que o sargento deixou entrar na cadeia.

Ele disse aos meninos que a prova do crime eram os nomes escritos nas costas, então que dessem um jeito de apagá-los. Como não havia água no cômodo em que estavam presos, tiveram que usar a própria urina para desfazer a prova!

Não havia telefone em casa, sai desesperada e fui ao Centro Telefônico pedir uma ligação para Juiz de Fora, para a casa da Tia Ena para que ela avisasse ao papai do que estava acontecendo e pedir que ele viesse para São Geraldo.

Chega, então, o capitão em uma caminhonete cheia de soldados, com  armas de cano longo. Dois deles ficaram na porta de minha casa, onde as vizinhas já estavam, com velas acesas e rezando o terço, morrendo de medo do que poderia acontecer. Se levassem os dois para Juiz de Fora, adeus faculdade! Não poderiam se matricular com ficha suja por subversão.

A multidão na porta da cadeia só crescia e estava cada vez mais exaltada. O capitão, chamado Ilo, não me lembro o sobrenome, conversa com os meninos. Ao saber de quem eles eram filhos, a história mudou. São filhos do Lizote? Então não podemos levar esta acusação a sério! Ele não permitiria nunca que filhos seus fossem comunistas!

Vamos sair agora, vamos para o Clube para começarem o baile, não aconteceu nada aqui!

O Antônio Carlos pediu para ir pra casa, estava imundo e fedorento! Mas ele foi inflexível. Temos que entrar no Clube e todos verão que foi um engano! E assim foi feito.

Saíram na frente e o povo atrás, como uma procissão! E o baile começou, graças a Deus!

Nunca soubemos de quem foi a tal denúncia, há uma desconfiança, mas nada concreto.

A HISTÓRIA DA APARECIDA

Esta é a história da menina que o José Reinaldo narrou que não queria que ficasse lá em casa, no capítulo sobre o papai. Ele era o caçulinha mimado e era natural que não quisesse “concorrente”!

Tanto a mamãe quanto o papai gostavam de ajudar às pessoas. Havia sempre alguém a nossa porta pedindo ajuda ou conselho.

Havia uma senhora, com quatro filhos pequenos, inclusive um bebê, que sempre vinha lá em casa. Mamãe dava mantimentos, dinheiro, sempre ajudando.

Um dia vieram avisar que esta senhora havia falecido. Os vizinhos encontraram-na morta na cama com o bebê do lado. Imediatamente a mamãe foi para a casa dela, que ficava no morro do Querosene, em frente ao campo, onde hoje é a Praça de Santo Antonio. Era um morro cheio de casebres, onde não havia eletricidade, daí o nome.

Chegando lá, uma das filhas, uma menina de uns 4 anos, correu para perto da mamãe dizendo que ela era sua madrinha. Ai não teve jeito, a mamãe a trouxe para casa. As outras crianças foram distribuídas por várias casas e não faço a menor idéia de quem as adotou.

Como a menina não tinha qualquer documento, providenciaram um registro para ela. E ficamos com a Aparecida em casa!

A família mudou-se para Ponte Nova, depois Juiz de Fora, e a Aparecida junto, como filha mesmo.

Ela não gostava de estudar, foi matriculada em um Grupo em Juiz de Fora, mas não ficou. Depois a mamãe conseguiu um Colégio interno de freiras para ela em Juiz de Fora, onde também ela não conseguiu ficar.

Já estava mocinha quando o Salvador e a Gracinha, primos de Brasília, pediram que ela fosse para lá, para tomar conta de seus dois filhos, ainda crianças, porque os pais trabalhavam o dia todo.

Lá foi a Aparecida que ajudou a eles por vários anos. Depois ela se casou, mudou-se para o Rio de Janeiro. Quando teve uma filha mandou uma foto do batizado para a mamãe. Depois não tivemos mais notícia.

Há pouco tempo ela entrou em contato com a Goretti, querendo descobrir informações sobre os irmãos, que, infelizmente não temos. A Goretti mandou esta foto para ela.

Aparecida

Aparecida e Marcelo, meu filho, na casa da Rua São Mateus em Juiz de Fora

Atrás da capela o Morro do Querosene, foto mais recente. Na época não havia a capela. Este campo em frente hoje é uma praça urbanizada.

batizado

Batizado da filha da Aparecida, ela mandou esta foto para a mamãe, não tenho a data.

Agora, ela nos surpreendeu com estas palavras sobre a mamãe que nos deixou muito comovidas!

DEPOIMENTO DA APARECIDA

“Obrigada, estou muito emocionada. Me lembrei que sua mãe fez meu aniversário, acho que de 8 anos, e fez um bolo que era em forma de coelho. Ela tinha uma foto deste dia”.

“lembrei que fiquei num internato e sua mãe foi me buscar, tinha o Padre Aristides e madre Clara.  Me lembro do Marcelo, da Daniela e da Regininha. Me lembro quando você arrumava meu cabelo com fitas para ir domingo na missa com a madrinha (Laura) . Era numa igreja que tinha uma gruta com a N. S. Aparecida. Foi ela que me deu este nome. Ela me ensinou a ler e a escrever. Se sou o que sou devo a ela que me ensinou coisas boas. Que saudade daquela casa cheia de gente, da vitrola tocando Chico Buarque.”

“Você se lembra quando a gente foi num piquenique numa Rural (acho que foi em São Geraldo) e os bois tentaram atacar a gente? Lá em Juiz de Fora tinha uma vizinha, dona Ermengarda, que tinha um pomar e os meninos pegavam frutas escondidos. Lembra da tartaruga Margarida? Sei fazer todos os doces pois ela me ensinou. Foi vendendo doces que comprei meu carro usado. Mas comprei.”

MUDANÇA PARA PONTE NOVA

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Única foto que eu tenho da casa de Ponte Nova

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Morando em Ponte Nova, no Bairro Palmeiras, as meninas foram estudar no Colégio Nossa Senhora Auxiliadora, os meninos em um colégio que não sei o nome e o José Reinaldo na Escola dos Ferroviários onde mamãe lecionava. De lá ele fugiu uma vez pulando a janela do segundo andar!

Antônio Carlos fez o curso ginasial no Seminário de Leopoldina, havia resolvido ser padre o que encheu a mamãe de alegria. Mas quando terminou o curso, desistiu da idéia e voltou para casa.

Luis Augusto e Antônio Carlos não estavam levando a sério os estudos. Papai pedia para ver os boletins e sempre havia uma desculpa da parte deles. Mas um dia ele conseguiu que lhe mostrassem e as notas eram péssimas. Então ele disse:

– Vocês já fizeram o ginásio, já está bom, não querem estudar mais, não tem problema! Arrendei um terreno no alto da serra de São Geraldo para plantar milho. Tem um rancho, vocês vão pra lá trabalhar na plantação e no final de semana levo mantimentos para vocês. E, para chegar lá, só à cavalo!

Então eles resolveram estudar a sério e tudo se resolveu!

Nas férias e feriados, vinham todos para São Geraldo, de trem, saindo de manhã e só chegando à noite.

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Goretti e amigos na casa de Ponte Nova (Palmeiras)

com amigos

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Na frente Conceição, a Goretti é a terceira, os outros não tenho os nomes

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Dentro do rio, Goretti a primeira a esquerda

A HISTÓRIA DO FRANGO DE SÃO SEBASTIÃO    

Uma vez, ela pediu ao Antonio Carlos para ir até uma vendinha perto da casa, lá em Palmeiras, comprar uma dúzia de ovos para que comessem alguma coisa antes da viagem. O dinheiro era curto, não dava para comprar lanches pelo caminho.

Ele voltou com uma caixinha com 6 pintinhos dizendo que não havia ovos na venda! Estes pintinhos vieram para São Geraldo, para minha casa, porque nesse tempo eu já estava morando, com o Ary e o Marcelo, na casa que era deles, junto com o papai.

Dois desses pintinhos sobreviveram e se tornaram galos brancos, muito bonitos.

Era a época da Festa de São Sebastião, o padroeiro da cidade, havia procissão e um leilão na porta da Igreja para angariar fundos para a reforma desta. Antonio Carlos voltava pra casa, de noitinha, encontrou com um grupo de mulheres carregando um galo branco. Não teve dúvidas, era o seu galo!

Apesar dos protestos das mulheres, dizendo que a mamãe havia dado o galo para o leilão, conseguiu pegá-lo e trazê-lo de volta.

Mamãe ficou muito brava com ele, dizendo que o Santo iria castiga-lo. Pois não é que no dia seguinte, pela manhã, o galo estava arrastando as asas pelo chão! Então ele, a mando da mamãe, pegou o outro galo saudável e levou-o para o leilão.

O fim da história do galo com as asas caídas eu não me lembro!

OS BAILES NO CLUBE

Das janelas da cozinha desta casa, conseguíamos ver dentro do Clube, ao lado. Quando havia bailes, mamãe olhava pela janela com um copo de leite na mão, fazendo sinal para os meninos irem em casa comer…Resultado, todo mundo dançava dando voltas para não serem vistos por ela!

Uma vez o Luiz Augusto pediu a mamãe um dinheirinho para ir ao baile. Na hora ela não deu, mas depois se arrependeu e chamou a Goretti para entrar lá no Clube e entregar uma nota pra ele, tipo uns dez reais, e dizer que ele gastasse 5 e trouxesse o troco pra ela. A Goretti foi e deu o recado direitinho, mas perto da paquera dele, que ficou envergonhado demais.

27 – HISTÓRIAS DE NOSSA INFÂNCIA – A PRIMEIRA CASA NA CIDADE

 

Mudamos para Rua 21 de Abril, com o Luiz Augusto ainda bebê. Lá nasceram Antonio Carlos, Goretti, Conceição.

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Conceição e Goretti em São Geraldo em frente à casa que çâo nasceu

Conceição e Goretti em frente a casa onde nasceram, continua igual

Esta é a casa, continua a mesma. No lugar desta bananeira havia um abacateiro e ao lado uma mangueira muito alta.

Fotografias eram raríssimas, ninguém possuía máquina fotográfica!

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Na casa da Tia Lia, Luis Augusto à direita, depois Luis Carlos, João Lúcio, e no colo a Helena (filhos da tia Lia)

Quando o Antonio Carlos era bebê, engatinhando, eu tomava conta dele. Ficávamos em uma esteira de taboa no chão, amarrava a ponta da camisola dele na minha mão, pegava um livro e ele se soltava da tal camisola e eu nem via. (naquele tempo os bebês usavam camisolas, não havia macacão).

As fraldas sujas deviam ficar no tanque para serem fiscalizadas pela mamãe. Se havia pedaços de esteira eu levava umas palmadas!

Por um certo tempo, ela lecionava de manhã e também à noite, no antigo Mobral, para ganhar mais um pouco porque as dificuldades eram muitas. Sei que o papai, por um tempo, vendeu lotes do Bairro Bandeirantes, em Juiz de Fora, que estava sendo criado. Mas vender não era seu forte!

Quando a Goretti nasceu, ele estava viajando também. Mamãe nos acordou de madrugada, a mim e a Júlia, para irmos até a casa da vizinha pedir que ela fosse chamar a Dona Alexandrina, que era a parteira.

Batemos em sua casa e ela disse que não poderia sair porque havia tomado chá quente e não poderia pegar sereno! Então fomos nós duas, eu com 7 anos e a Júlia com 6, por uma estradinha escura, saindo de um portão que havia em frente a nossa casa e que levava à Fábrica de Massa de Tomate do Dr Oswaldo, uma estrada desabitada. A casa dela ficava depois, em um pequeno sítio, fechado por uma porteira.

Chegamos na porteira e quando começamos a gritar por ela, vieram vários cachorros latindo. Subimos na porteira e ficamos esperando que ela nos acudisse.

 

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Uma viagem a Juiz de Fora, na casa da Tia Lia, Conceição ainda não havia nascido. Goretti na frente com lacinhos de fita.

Dois anos depois foi a vez da Conceição nascer. Aí já foi diferente, mamãe nos mandou para a casa da Dona Nenem, do Caxixe, e lá ficamos até que o Ruthelis, nosso primo, que morava lá em casa nessa época, viesse nos avisar de que havia nascido uma menina e que poderíamos voltar pra casa.

Aqui vale uma história: Na véspera da Conceição nascer, havia um Circo em São Geraldo e o papai resolveu nos levar, o que era uma festa, para nós e toda a cidade. Mamãe ficou sozinha em casa e caiu uma tempestade, com muito vento e o forro do quarto onde a Goretti dormia caiu sobre ela.

Mamãe se desesperou, não conseguia abrir a porta, uma peça de madeira que caiu deixou-a travada. Com o barulhão do desmoronamento, a Madrinha Odila, que era vizinha, correu lá em casa. Dizia que precisou pular a janela da sala porque a mamãe, no escuro, não conseguia achar a chave. Foi ela então que conseguiu entrar no quarto e tirar a Goretti do berço, sem qualquer ferimento. A barra de madeira que caiu ficou pousada na cabeceira do berço.

O mais incrível é que tudo no quarto ficou destruído, salvando-se o berço da Goretti e a imagem de Nossa Senhora da Conceição, que foi da capela do sítio e hoje está comigo.

Em decorrência do susto que ela levou, o parto se antecipou e no dia seguinte a Conceição nasceu e recebeu este nome em homenagem à santa.

Cada um de nós tem as suas lembranças e nem sempre são as mesmas de todos. Vou contar algumas que vêm a minha lembrança:

Tínhamos uma mocinha lá em casa para ajudar a mamãe, a “Bastianinha”. Um dia, estávamos no quarto que chamávamos de escritório, ligado à sala de visitas. Papai estava escrevendo alguma coisa e a Bastianinha com uma das crianças no colo e eu por lá, desenhando talvez, não me lembro. O fato é que a Bastianinha falou ou fez alguma coisa comigo e eu lhe dei um tapa.

Papai levantou-se e me deu uma palmada da qual eu jamais me esqueci. Foi a única vez que me castigou, que eu me lembre.

Quando o Luiz Augusto era pequeno, ele chorava e “engolia fôlego” como se dizia. Mamãe ficava desesperada!

Uma vez ela chegou em casa e não viu o menino, perguntou a Bastianinha onde ele estava e ela respondeu: _ Ele morreu!!!

Mamãe desmaiou em frente ao guarda-roupa e eu ouvi o menino chorando lá dentro e não tinha como abrir a porta para tirá-lo. Custei a fazê-la recuperar, jogando água em seu rosto.

Imaginem só o nível de babás que havia! E os apertos que eu também passava, sendo a mais velha.

A Júlia veio correndo da rua, tropeçou no degrau da varanda e caiu com o rosto no chão e seu dente da frente ficou pendurado. Mamãe empurrou o dente pro lugar e desmaiou! Ela gostava de contar que fez um implante na Júlia quando ninguém falava ou sabia disso.

Outra história: Os meninos, Luis Augusto e Antônio Carlos já estavam grandinhos e tinham a mania de fugir para nadar no rio. Mamãe tinha pavor disso e me encarregava de mantê-los em casa, com ameaças de surras. Mas eles fugiam, não tinha jeito!

Um dia, vi que estava se aproximando do horário da mamãe chegar e resolvi ir procurá-los no rio, levando pela mão a Goretti que devia ter uns 3 ou 4 anos. O tal rio não era o que passava dentro da cidade, pela ponte. Era mais acima de nossa casa, em uma estradinha que levava ao Monte Celeste.

Chegando lá eles estavam na maior folia, nadando pelados, com outros amigos. Estava tão quente e a água tão convidativa que entrei na beiradinha segurando a Goretti, só molhando os pés.

De repente vimos a mamãe chegando de vara na mão, furiosa! Larguei a mão da Goretti e saí correndo na frente e os meninos atrás, pelados. Mamãe gritava que ia fazer uma “roda de coro” e nós correndo. Na entrada da casa havia um abacateiro e me atrevi a subir nele até no alto.

Mamãe gritava para eu descer e eu gritava que não ia descer porque não queria apanhar. Um escândalo! Mas o escândalo ficou maior quando eu vi um monte de mandruvás verdes no galho onde eu estava, levei um susto e me esborrachei lá embaixo.

Aí a mamãe já chorava: – Matei a minha filha! Socorro!

Felizmente não tive nada e ainda me livrei de umas varadas, alíás, todos nós porque ela até se esqueceu de nos castigar!

Aliás, sobre esta história de castigo, varadas ou chineladas, que eram muito comuns em todas as famílias, eu consegui me livrar de quase todas.

Em frente à nossa casa, em uma casa geminada, tínhamos duas famílias: A da D. Luzia que tinha uma porção de filhos e a Dona Zizinha que não tinha filhos. Quando a mamãe ameaçava me castigar eu aprontava uma gritaria, chamando a D. Zizinha para me acudir, que ela ia me matar!!

Zizinha vinha correndo: – Chega, Dona Laura, não bate mais, ela é tão pequenininha! E a mamãe: – Mas eu não bati nela ainda! É só escândalo!

Eu me escondia atrás da D. Zizinha que só ia embora quando via que o perigo havia passado.

Lembro-me de uma outra vez em que me livrei de uma surra: Mamãe me deu um dinheiro e me mandou até à papelaria da Madrinha Odila comprar uma pulseirinha que ela havia visto lá para dar de presente a sua afilhada, a Aparecida, filha da Dona Célia Batalha.

Eu adorava estas saídas porque aproveitava para passar na casa da Dona Nenem, onde as filhas dela Arlete, Águida e Anete tinham revista de fotonovelas que eram proibidas lá em casa. Distrai-me com as revistas e o rádio, que nós não tínhamos, demorei e, o pior, quando cheguei em casa estava sem a tal pulseira! Dessa vez eu não escapei!

De manhãzinha, antes de sair para o Grupo, ela me fez voltar pelo caminho procurando o embrulhinho com a pulseira e não é que encontrei? Fui seguindo o trajeto que havia feito na volta e, lá perto da ponte, vi o embrulhinho cor de rosa!

Antônio Carlos fez uma arte muito grande, não me lembro qual e, para escapar, subiu em uma mangueira enorme do quintal. Quando estava lá no alto, começou a chorar com medo de descer. Chamamos o filho da Dona Luzia, que já era mais velho, ele subiu e foi mostrando a ele onde colocar os pés para descer. E a mamãe chorando e rezando lá em baixo.

A casa, que existe até hoje, tinha um quintal muito grande, com árvores altas, mangueiras, pelo que me lembro. Tínhamos galinhas soltas pelo quintal e, de vez em quando, mamãe mandava procurarmos os ninhos que já estavam cheios de ovos, mas se ela estivesse choca, não podíamos mexer.

Ás vezes, ela dava aula particular em casa também e, por ficar rodeando os alunos, aprendi a ler sem ter ido à escola. Com 6 anos comecei a frequentar o Grupo Escolar. Minha primeira professora foi Dona Alvanete, estive com ela quando da inauguração da Biblioteca que tem o nome de Laura Casulari da Motta, uma homenagem muito merecida pela sua extrema dedicação ao ensino.

Ainda desta época, nesta casa, me lembro de quando tivemos sarampo. Começou com o Luiz Augusto e depois chegou a todos. Fui a última a adoecer. Estava já melhorando quando vi da janela o papai chegando à cavalo, com a grande capa de boiadeiro que ele usava e que adorávamos brincar sobre ela quando ele a espalhava pelo chão. Estava chovendo e sai correndo para me encontrar com ele, para que me pusesse no cavalo, como sempre fazia.

Voltei a ter febre muito alta, médico não havia, era só o Luis Marcondes da farmácia para nos tratar. Mamãe então resolveu ligar para o Tio Paulo, que era médico pediatra em belo Horizonte. Ele receitou penicilina e ela se desesperou achando que eu ia morrer. Naquele tempo, ninguém conhecia penicilina por lá, teve que ser buscada em Rio Branco.

Naquele tempo, criança não participava das conversas de adultos. Quando chegava uma visita, mamãe nos olhava e falava firme: -Vai brincar! E tínhamos que sair de perto mesmo.

Uma vez, Júlia e eu queríamos ouvir a conversa dela com a Dona Magdá, uma visita constante lá em casa e que nos causava muita curiosidade e admiração: Usava calças compridas, morava na fazenda e vinha de charrete, de óculos escuros, parecia uma artista!

Morríamos de curiosidade para escutar o que diziam, elas foram para o quarto e fecharam a porta. Tentamos ouvir pela janela, mas não conseguimos. Aí resolvemos fugir de casa. Preparamos uma trouxinha que amarramos na ponta de uma vara, como as figuras das histórias, e saímos pela estrada que passa em frente à Fazenda Caeté que foi de nossos avós.

Andamos, andamos, cansamos, ficamos com sede e fome, resolvemos voltar! E a mamãe nem deu pela nossa falta!

Quando morávamos aí, aconteceram as coroações no mês de maio. Éramos 3, Júlia, eu, e Julinha da tia Lia. Uma vez, em vez da Julinha, foi a Zélia da Tia Deolinda. A camisola da Julinha era rosa, simbolizando a Caridade e ela levava um coração de purpurina, a Júlia ia de verde, carregando uma âncora de papelão coberta de purpurina verde, simbolizando a Esperança, eu ia de azul, carregando uma cruz, simbolizando a Fé.

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Íamos em procissão pela rua, várias crianças vestidas de anjo enfileiradas na frente e os adultos atrás. Era costume as coroadeiras, as meninas que iriam coroar, distribuírem sacolinhas feitas de papel crepom, com doces. Uma vez, porque sempre havia tumulto na distribuição, crianças que não estavam participando, entravam na fila e no empurra para ganhar as sacolinhas, resolveram colocar todas as crianças vestidas de anjo dentro do salão do cinema e a Tia Alzira ficou na porta, distribuindo as sacolinhas. Empurraram tanto a tia Alzira que ela teve a costela quebrada!

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O Grupo onde mamãe dava aulas e nós estudamos.Eu também fui professora nesta Grupo. Era perto de nossa casa, na mesma rua.

BRINCADEIRAS

Brinquedos industrializados não havia, ou eram pouquíssimos que ganhávamos no Natal: boneca de papelão, bola para os meninos. Não havia brinquedos de plástico!

Brincávamos de fazer comidinha no quintal, usando latas como panelinhas. Pular corda, pique, belisca que era um jogo com pedrinhas que achávamos no rio, brincadeira de roda, cantando.

ALGUMAS HISTÓRIAS DESSE TEMPO

Entro aqui com o Dr. Oswaldo que era muito amigo do papai e morreu quando morávamos nesta casa. Eu me lembro também da consternação de todos quando o Getúlio Vargas, presidente do Brasil, morreu. Ouvimos pelo rádio. Lembro que foi feriado, não teve aula (isto foi bom!!)

GEORGINA HOTEL E O DR. OSWALDO

Dr. Oswaldo era do Rio de Janeiro, não sei porque veio para São Geraldo. O que me recordo de ouvir falar é que a mulher dele era muito chique e não gostou da cidade, tendo voltado para o Rio. Eles tinham um filho que também não me lembro de vê-lo em São Geraldo. O nome do Hotel é uma homenagem à uma filha que morreu ainda criança.

Ele morava em uma casa grande na rua 21 de abril, a casa mais bonita e imponente da cidade e que existe até hoje, antes da ponte. Tinha também uma fábrica de massa de tomate. A entrada era por um portão na mesma rua, em frente à casa que moramos. Depois de sua morte, ali se tornou a marcenaria do Sr. Joaquim Vicente.

Eu era muito criança quando ele morreu, mas me lembro da consternação de todos, principalmente do papai. Ele havia ido com o Dr Oswaldo, à cavalo, até a serra para ver algum negócio. O sol estava muito quente, muito calor. Dr. Oswaldo chegou em casa sentindo-se mal e tomou um comprimido para dor e morreu. Diziam que era insolação e que, neste caso, o comprimido era contra-indicado. Se é verdade, eu não sei!

O Georgina Hotel existe até hoje e lá nos hospedamos quando vamos em São Geraldo.

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Construção do Georgina Hotel

 

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Na frente do Hotel, em 2016, na ida a São Geraldo para a Missa pelo centenário da Mamãe.

PRIMEIRA COMUNHÃO NA IGREJA DE SÃO GERALDO – FOTOS DE 1955

 

 

AS FESTAS DE SÃO GERALDO

A Semana Santa era comemorada por toda a população. As pessoas de mais posses que viviam na roça alugavam casa na cidade e, muitas delas, já tinham casa no centro. As mais pobres vinham à cavalo, de charrete, de carro de bois e até mesmo á pé.

Quem vinha à pé, trazia os sapatos e, chegando ao rio, lavavam os pés para calçá-los. Havia a tradição de se fazerem roupas novas, as costureiras ficavam cheias de trabalho. Me lembro de Tia Alzira costurando até tarde da noite!

Lembro-me de seguirmos as procissões, correndo em volta delas para pegarmos os toquinhos de velas que as pessoas deixavam nas calçadas! Para quê? Sei lá…

Na procissão de sexta-feira, dia da morte de Jesus, havia alguns homens vestidos de soldados romanos, com lanças de pau pintadas de prateado e o Chefe dos soldados ia a cavalo na frente. Quem se vestia de centurião romano e seguia a cavalo era o Ernesto Tavares. A procissão parava na praça em frente a Igreja para o sermão do Padre. Muitas mulheres devotas, iam até o cavalo e nele encostavam terços e santinhos, para elas era São Sebastião!

MÊS DE MARIA – MAIO

Havia as coroações, todas as noites de maio. Era uma festa!

Para chegar até a Igreja, havia uma procissão com as meninas que iam coroar na frente, seguidas das outras crianças e distribuição de sacolinhas de doces. Já falei sobre isso e não vou me estender!

Havia sempre, nesta época, um leilão de prendas oferecidas pelos fiéis. E vinham animais, porcos, bezerros, frangos, além de comidas e outras prendas para serem leiloadas com a renda para a igreja. Era divertido acompanhar o leilão que acontecia na praça, em frente à igreja, em uma barraca montada para isso.

FOLIA DE REIS

No período após o Natal, saiam as Folias pelas ruas. Paravam nas casas, cantavam e tocavam as músicas próprias. Na frente ia uma pessoa carregando um estandarte com a imagem de Nossa Senhora do Rosário, as pessoas pregavam uma nota de dinheiro no estandarte com alfinetes.

A Folia durava até o dia 6 de janeiro, o dia de Reis Magos.

Havia também as Pastorinhas que saiam em grupo, vestidas de longas saias, cantando pelas ruas, na época de Natal. Esta apresentação não durou muito tempo, não sei porque.

VISITAÇÃO DE PRESÉPIOS

Era uma festa para nós, crianças! Iamos de casa em casa para visitá-los. Me lembro muito do presépio de Sr. Otacílio e D. Sinvalina, pais da madrinha Odila. Já falei sobre eles no capítulo sobre a mamãe.

Mamãe sempre fazia o presépio e era também uma festa para nós.

Durante todo o ano guardávamos as latinhas de sardinha para por volta de 10 de dezembro plantarmos arroz que crescia para formar a grama. Mamãe passava grude em folhas de papel e jogava pó de pedra para depois de seco, formar a gruta onde o menino iria ficar. Pegávamos areia no rio, pedrinhas, para formar a estradinha por onde viriam os Reis Magos. A cada dia um de nós era encarregado de mover os reis um pouquinho na estrada. Eles só chegariam junto à gruta no dia 6 de janeiro. E o Menino Jesus era colocado na manjedoura na Noite de Natal.

Os sapatos ficavam em torno do Presépio para receber os presentes. Havia a Missa do Galo, à meia-noite. Mas não me lembro de irmos a essa missa.

Era tudo tão simples… e tão bonito para nós!

CONGADO

Esta apresentação era em outubro. Era muito bonita! No ano anterior era escolhido o casal que seria o Rei e a Rainha do congado do próximo ano. Eles ficavam encarregados de toda a organização do desfile. Iam coroados, vestidos de cetim e os seguidores com roupas coloridas e uma espécie de chapéu enfeitados com espelhos. Era em homenagem a Nossa Senhora do Rosário, padroeira dos negros.

CARNAVAL

Era famoso o carnaval de São Geraldo! Os blocos saiam pelas ruas o dia todo! Paravam nas casas e as pessoas ofereciam bebidas ou salgadinhos para os foliões.

Enquanto crianças, não me lembro de termos qualquer relação com o Carnaval. Só depois de adolescentes, morando na última casa, ao lado do Clube é que o Carnaval começou a existir para nós!

“Deixamos algo de nós para trás ao deixar um lugar: permanecemos lá, apesar de termos partido. Há coisas em nós que só reencontraremos ao voltar. Viajamos ao nosso encontro quando vamos a um lugar aonde vivemos parte de nossa vida, por mais breve que tenha sido”.

Da novela “Trem Noturno para Lisboa”, de Pascal Mercier

MEMÓRIAS DA GORETTI

MEMÓRIAS DA MINHA INFÂNCIA

Acompanhando a sugestão da Regina de situar as memórias de infância associadas às casas onde vivemos em São Geraldo, tomo a liberdade poética de começar o meu relato descrevendo uma “memória” que tenho que não é, de fato, real minha, mas formada na minha cabeça pelo relato que a mamãe fazia de vez em quando de um episódio acontecido comigo na casa da Rua 21 de abril, de esquina com a rua de Baixo (não lembro o nome).

Pelo que sei eu nasci nesta casa, que já era velha naquele tempo, mas resiste ainda. A foto mais ou menos recente dela já está no blog. Quando tinha dois anos e quatro meses, mamãe estava grávida da Conceição e ficou em casa comigo num domingo e todos os outros foram para o circo.

Mamãe contava que estava na sala e eu dormindo no quarto. De repente ela ouviu um enorme barulho vindo do quarto. Correu para ver o que era, mas não conseguiu entrar porque a porta estava impedida por madeiras enormes que tinham desabado com o teto todo do quarto! Eu não chorava, ela pensou no pior… Gritou desesperada.

Vizinhos acudiram. Ela conta que estava com um barrigão de 9 meses e uma camisola fina que rasgou na tentativa de entrar no quarto. Mas nem se lembrou disto. Na minha lembrança ela contava que a Madrinha Odila (madrinha da Júlia, mas todos nós a chamavam assim também) é que pegou uma colcha e jogou sobre ela (outros tempos…). Também foi a madrinha Odila que pulou a janela e conseguiu chegar no berço onde eu dormia placidamente coberta de poeira e cacos de telha, mas inteirinha!

Mamãe sempre dizia que se tivesse conseguido empurrar a porta, uma grande viga teria caído direto sobre mim. Assim, completava que foi a imagem de Nossa Senhora que havia no quarto (e que também já apareceu no blog) é que me salvou por milagre! Linda história, que tenho “montada” nos detalhes na minha memória afetiva!

Uma consequência deste milagre é que a Conceição nasceu dois dias depois e foi batizada com o nome da imagem e não com o nome escolhido previamente (que seria Úrsula, mas não sei se é verdade, pode ser que inventei este nome para chatear a Çãozinha…).

Desta casa, lembro também como memória contada pela mamãe, é que a Regina subia numa árvore grande que havia no quintal e ela ficava debaixo pedindo: Desça minha filha, se não descer a mamãe vai embora… E a Regina respondia: não tem importância, eu moro com meu pai! Mamãe ficava uma arara!

Da Rua de Baixo me lembro, já mais velha, andando sozinha na rua, que tinha uma casa que era um centro espírita, e diziam que não podíamos passar nem na calçada. Eu sempre mudava o trajeto (muito medrosa!).

Não tenho nenhuma lembrança minha mesmo da casa do morro da Estação. A lembrança criada a partir de ouvir os causos é da história da mamãe ir para o Grupo dar aulas com um sapato diferente em cada pé, que já escrevi em algum momento em comentário no blog.

Lembro (de ouvir contar…) da casa que também ainda existe aos pedaços (tiramos fotos dela quando fomos as quatro irmãs em 2014 em São Geraldo e já está no blog), que é numa esquina, num morrinho.

Não sei também se lembro mesmo ou é do relato da mamãe sobre os meninos subindo o morro correndo fugindo de tomar injeção… A história que a Ré contou da moça que suicidou também me assombrava e chocava. Talvez nesta também é a história dos gêmeos que tinha na rua: um era branco e menino e a outra era menina e preta. Ninguém achava estranho pelo que me lembre.

Depois desta, numa casa mais nova e bonita na mesma rua (também está no blog a foto atual), é a memória que tenho certeza ser minha mesmo, que é do dia do nascimento do José Reinaldo, caçulinha, que como todos nós nasceu em casa, mas o único que foi com assistência de médico e não de parteira.

Estava com cinco anos e acreditava que a cegonha trazia os bebês. Era de noite, céu estrelado. Vieram nos acordar para dizer que o Zé tinha nascido. Fiquei muito brava por não ter me chamado a tempo de ver a cegonha chegando! E fiquei andando a casa toda pensando que ela poderia ainda estar por lá. Não via janela nem porta aberta onde a cegonha pudesse ter saído!

José Reinaldo era feinho e doente, que me lembro. Uma vez “perdeu o fôlego” e foi ficando roxo, mamãe desesperada saiu pela rua afora com ele, encontrou alguém com uma charrete e pediu para levar na farmácia do Luiz Marcondes (era a emergência geral de todos!). Andando na charrete, com os solavancos o Zé retornou o fôlego e o susto passou. Também deveria ter refluxo ou algo assim, e mamãe conta que mandaram suspender o leite materno. Ela desesperada vendo o Zé definhar. Tinha que dar mamadeira de suco de cenoura, enrolada num pano branco para disfarçar e ele cuspia tudo. Um dia, dormiu cansada, com ele na cama, e ele achou o peito dela, mamou até se fartar e sarou!

Nesta casa, creio que moramos muitos anos pois me lembro que tinha um quintal grande, com árvores, e me lembro que já estava no Grupo Escolar Álvaro Giesta e davam remédio para vermes. Cheguei em casa e mamãe colocou um penico no quintal onde eu fiz uma montanha de lombrigas que foram “recolhidas” para provar que o remédio funcionou. Fiquei chocada com aqueles bichos todos que saíram de mim! Não sei se daí é que veio meu horror a minhocas!

Brincávamos na rua e tinha uma fala assim quando alguém se machucava ou se dava mal em alguma coisa: Bem feito! Dizia uma criança para a outra. E a outra respondia: Você não é filha de prefeito para falar “bem feito”! Aí se calavam. Mas quando era eu que dizia bem feito, respondia: Não sou filha de prefeito, mas sou filha de coletor! Calava a outra.

Creio que nesta casa é que o Totonho disse a famosa frase: “mãe, compra salsicha, é tão bom, nunca comi!”  Nesta também foi um dos meus desmaios famosos: mamãe deu um comprimido para o Totonho que entalou na garganta, o menino foi ficando roxo e mamãe quase louca tentando fazer o comprimido sair! Eu disse: “dá sal de fruta, mãe!” e desmaiei para o outro lado deixando mamãe mais louca ainda…

Penso como mamãe foi valente, criando sete filhos de carreirinha e ainda trabalhando fora, papai nem sempre presente, dinheiro curto, sem médicos… enfim, uma batalhadora!

Esta casa era próxima da casa da vovó Maria, que fica na praça Santo Antônio, hoje arborizada e arrumada. Mas antes era só um “pasto”. Na casa da vovó tinha muitas frutas, especialmente gostava da ata, que era o nome que a vovó dava para a graviola, como vim a saber muito mais tarde. Era um pé de galhos finos, com frutas muito grandes, que vovó só deixava apanhar quando estavam bem maduras. E era difícil de saber quando isto acontecia porque as atas continuavam verdes sempre. Então tinha que subir no pé e apertar cada uma para saber se estavam macias, sinal que podia ser colhida. Eu ia lá, e como gostava muito da fruta, apertava todas todos os dias. E vovó ficava brava! Outra coisa era o pé de limão galego, que vovó só deixava pegar quando o limão estivesse amarelinho! Era uma briga. Adoro limão especialmente o galego até hoje!

Já escrevi no blog algumas lembranças da vovó Maria. Quando ficava muito tempo sem chover ela nos levava para rezar num cruzeiro que tinha no alto do morro do Querosene, e levava uma latinha com água para jogar no pé da cruz, tipo uma apelação para fazer chover. Sobre os pés de manga, de goiaba e de quiabo acho que já escrevi…

Lembro que no outro lado da praça em relação à casa da vovó tinha uma casa onde se comprava ou pegava de graça, não lembro, muitas verduras. Eles também criavam abelhas e vendiam mel. Os favos eram deliciosos!

No final da Rua 21 de abril tinha um sítio que pertencia a um homem que não lembro o nome, mas que tinha ido à guerra, era o que diziam. Ele plantava muitos legumes para vender. Os tomates que ficavam amassados ou muito maduros eram colocados em caixas na porta do sítio para quem quisesse pegar. Sempre ia lá pegar, uma fartura! Adoro tomate até hoje!

Tinha a casa da dona Tute, muito chique, uma espécie de sítio, longe da rua, com coqueiros baixos na entrada. Conceição e eu pegávamos as folhas de coqueiro para fazer sandálias romanas, transadas pela perna toda! Brincávamos à beça! Na cabeça colocávamos coroas feitas com uma florzinha amarela que crescia nos pastos.

A casa da Rua 21 de abril perto do clube é a que tenho mais lembranças certamente porque já estava mais velha. Lembro das obras de reforma da casa, acho que já escrevi também sobre isto e como a mamãe gostava de coisas modernas e foi comprar as louças para o banheiro em Juiz de Fora, super modernas, preto e amarelo. Lembro do Jardim da Infância e que eu adorava ficar ajudando a professora com as crianças. Na formatura me chamaram para “paraninfa” e papai escreveu um poema para eu ler na solenidade. Acho até que tenho cópia, vou procurar…

No fim da rua lateral, que quase não tinha casa e era sem saída, como disse a Ré, morava uma família de fora que tinha uma menina quase da minha idade. Eles eram espíritas, nos diziam “coisas” sobre isto e tínhamos receio de encontrar fantasmas. Uma vez a Glorinha, eu e mais outras crianças resolvemos dar um susto nesta menina. Pusemos uma vela dentro de uma abóbora e no alto de uma árvore. Chamamos a menina como quem não quer nada. Ela quase desmaiou de susto. Ficou “de mal” conosco um tempão. A família se mudou para Macaé e nunca mais a menina que pelejo para lembrar o nome e nada…

Glorinha era uma amigona. Filha única da dona Maninha, tinha muitos brinquedos e, mais tarde até uma bicicleta, onde todos da rua aprenderam a andar. Brincávamos muito no quintal da casa dela, enorme e cheio de frutas. Tinha um palco, bem grande e bem arrumado, onde montávamos “peças de teatro” sem nunca ter visto uma!

O figurino era sempre roupas dos adultos, muito maiores do que nós. Brincávamos de viajar nos galhos das goiabeiras, cada uma com um destino longe, as cidades que ouvíamos falar no rádio.

Quando aparecia ciganos na cidade também passávamos a nos comportar como eles, falando enrolado e colocando saia longa e mil enfeites. Achávamos o máximo aquele povo em barracas, andando de lá para cá, por toda parte “do mundo” pensávamos.

Uma vez eu e a Glorinha roubamos através da cerca umas panelinhas de uma menina que morava ao lado. Escondemos. Vieram procurar e não acharam. A menina chorava à beça e a mãe brava pensando que ela tivesse estragado e contado que tínhamos pegado para se livrar. Passado um dia nos arrependemos e devolvemos através da cerca mesmo.

Na outra esquina desta rua sem saída e quase sem casa morava um parente da Glorinha e às vezes ela me chamava para irmos lá comer pão esquentado no fogo do fogão à lenha. Fincávamos o garfo no pão dormido e colocávamos direto na chama, ficava chamuscado e cheio de bolinhas, mas era ótimo!

Tinha uma venda perto da casa dos Fois (que a Ré sinalizou na foto da rua), onde tinha umas barricas com peixe seco. Também em dias especiais se comprava “salame” (hoje sei que é mortadela…) para botar no pão, muito chique, cortado grosso à beça. Refrigerante, mais raro ainda era o Abacatinho!

Tinha muitas brincadeiras na calçada à tardinha com toda a molecada junto: passar anel, pique esconde, pique bandeira, queimado, belisca, cinco marias, bola na parede (não lembro o nome), bambolê e muitas outras. Eu não era boa especialmente em nada. Mas gostava de participar.

Tinha também brincadeiras mais de “meninos” que muitas meninas encaravam: pião, birosca (nome que dávamos para bola de gude), papagaio, etc. Não conseguia fazer nada disto, mas tinha uma chamada finco (“psi-pisse” seja lá o que isto for) que brincávamos logo depois das chuvas, na rua do lado de casa que não era calçada. (A rua 21 de abril, a principal da cidade, desde que me lembro sempre foi de paralelepípedos, muito bem feito!). Consistia num ferro fino com ponta afiada que cada um tinha o seu e se jogava em dupla fazendo um caracol tentando prender o oponente. Uma vez o finco entrou no meu pé esquerdo! Horrível, tenho cicatriz até hoje. Este jogo eu gostava e nem era a mais fraquinha, mas nunca campeã geral.

Brincávamos de fazer barragem na enxurrada que descia nesta rua lateral, memória tão querida e “engenheiral” que até descrevi no meu memorial para professora Titular…

Brincávamos muito no quintal da casa da D. Lourdes Goulart, enorme e que dava para o rio Chopotó.  Tinha um moinho de descascar arroz e milho. A Conceição tem uma história boa deste local do moinho, vou deixar para ela contar. Fazíamos roupas de papel crepom e representávamos as músicas de roda. D. Lourdes era professora de acordeom e a Glorinha estudou com ela, eu só assistia a aula.

Tinha a Gagaça também vizinha, da minha idade mais ou menos.  Brigávamos muito, e os pais vinham interferir para fazermos as pazes. Na casa dela víamos televisão pela janela, e tinha um papel celofane na frente com várias faixas de cores distintas para deixar a imagem “colorida”.  Quando faltava luz na hora da novela era um deus nos acuda. Depois alguém ligava para pedir para repetir o capítulo.

Quase ninguém tinha televisão nem geladeira, tudo muito caro. A primeira novela que me lembro que vi foi com o Francisco Cuoco, mas não lembro o nome.

A calçada perto do clube era alta, tinha um “degrau” enorme onde sentávamos para fofocar, quando maiorzinhas. Hoje não existe mais e não entendo como acabou este desnível…

Mamãe mandava comprar ovos numa casa próxima, do outro lado da rua, que tinha produção intensiva ou comprava da roça não sei. Achava bonito que a pessoa que vendia olhava um por um os ovos contra uma luz de uma lâmpada para ver se não tinha pintinho dentro!

Tinha a padaria do seu Chiquinho (existe até hoje no mesmo lugar, mas de outro dono). Nesta comprávamos caçarola italiana, para nós denominada mata-fome, brevidade e picolés, feitos lá mesmo, redondos! Tudo era desejado com fervor porque sempre era difícil comprar, o dinheiro curto…

Tinha as coroações e os leilões sempre movimentando o mês de maio. Depois as festas juninas, muito movimentada na rua 21 de abril, com fogueira e tudo. Fazíamos “testes” para saber a letra inicial do nome do futuro marido colocando papeis com as letras numa vasilha com água deixada no sereno (tinha sereno lá!) na noite de São João …

Fiquei “mocinha” com menos de 11 anos, a primeira vez foi na fazenda da d. Magdá. Levei um susto e fiquei muito sem graça, não tinha coragem de contar. A Maguinha, filha da d. Magdá é que contou para ela, que contou para a minha mãe, que me levou no médico em Rio Branco, mas não falou nada direto comigo. Ganhei as famosas (e nojentas) toalhinhas e entrei na adolescência sem nem saber o que era. Continuei uma criançona por muito tempo. A Júlia me deu meu primeiro sutiã, que usava só para sair em datas especiais. Júlia sempre foi minha protetora, e mais tarde me levava para todos os locais onde foi morar depois de casada.

Quando fui crescendo um pouco mais, lá pelos 12 ou 13 anos, eram as voltas no jardim da cidade, nos finais de semana, meninos no sentido anti-horário e as meninas no sentido horário, para poder “paquerar”, mas não era este termo ainda, acho que era flertar.

Não me interessava muito, mas era a única diversão. Cinema tinha mas era caro, íamos muito pouco e na matinê. Lembro do filme “Marcelino pão e vinho”, lindo, mas também de um que muito me impressionou que não lembro o nome mas tinha cangaceiros que eram decapitados e as cabeças colocadas em postes altos. Fiquei traumatizada! E saber depois que era verdade foi pior. Tarzan como disse a Ré também era apreciado.

Já contei de como aprendi a dançar com um lindo rapaz de fora que ia para São Geraldo nas férias. Isto nas “brincadeiras” que a Júlia e Regina programavam na sala da casa, com a vitrola do Tio Alberto, que foi feita na fábrica de móveis da cidade e ficou um tempinho lá em casa. Gostava de dançar, queria ir ao clube, mas não deixavam entrar menores de 14 anos. Eu e a Marisa, tínhamos corpão já, mas não idade, ficávamos babando na porta do Clube.

Quando fiz 14 anos participei do baile de debutantes e foi a glória. Mamãe e Júlia providenciaram um lindo vestido de “laise” (será assim que se escreve?).  Os meus quinze anos foi já em Palmeiras (Ponte Nova), e Júlia providenciou uma “brincadeira” na varanda da casa, mas isto conto depois.

 

 

PADRE OROZIMBO – Á DIREITA , ANTONIO CARLOS E LUIZ AUGUSTO DE BRANCO (NÃO CONSEGUI IDENTIFICAR OS OUTROS)
NÃO IDENTIFIQUEI O PADRE, AO LADO DELE A TIA ALZIRA , O SENHOR NO MICROFONE CREIO SER O ROGERINHO, NO FUNDO APARECE A DONA MARIQUINHA, MÃE DO ARY, PAI DOS MEUS FILHOS
IGREJA DE SÃO GERALDO 1955