NOVAS FOTOGRAFIAS DA GRANDE FAMÍLIA

Na igreja de São Geraldo, em 16/07/2011 na reinauguração do novo espaço da Biblioteca Laura Casulari da Motta em São Geraldo.

Fotografia da família de Laura Casulari da Motta. Da esquerda para a direita: Filhos de Laura: Regina, José Reinaldo, Luis Augusto, Antonio Carlos, Carolina (filha do Antonio Carlos) Júlia, com a neta do Antonio Carlos, Laís, e Goretti.

A Biblioteca foi criada em 6 de fevereiro de 1974, com o nome de Biblioteca Laura Casulari da Motta, funcionando em outro local, uma pequena sala atrás do barracão da Leopoldina.

Carolina, Júlia com Laís, Goretti

Saída da Missa, na foto está também o amigo Hélio, filho do Longuinho de São Geraldo
Prédio na Praça, ao lado da Igreja, moravam D. Flavia e o marido dentista (vou lembrar o nome!)
A família e amigos na praça
Missa
Carolina, Laís e Júlia
Saída do Hotel
Na porta da biblioteca, na estação de São Geraldo – Esquerda José Reinaldo, Tanusa, não reconheci esta senhora, Vermelho, Goretti, Conceição, Júlia, Regina, Dona Célia Batalha, Luzia Cardoso, Luis Augusto, Antonio Carlos

Casa da Tia Lia, onde o Luis Augusto nasceu
Antonio Carlos e a netinha Laís
Despedida do jantar que nos foi oferecido pelo Prefeito de São Geraldo
Uma delícia o jantar oferecido pelo prefeito de São Geraldo
Despedida do jantar e da nossa querida cidade!
Casa da fazenda Caeté, berço da família paterna, ainda existe até hoje!
Casa onde o José Reinaldo nasceu

Viagem a Xavantina, em busca das memórias da Expedição Roncador – Xingu

Em final de dezembro de 2022, tivemos o prazer de viajar um pouco pelos caminhos da Expedição Roncador Xingu, buscando as memórias do Tio Manoel Roxo da Motta (Tio Neneo) que participou desta epopeia histórica, com a sua esposa Eny Malheiros e seus filhos que nasceram nestes sertões que, hoje, são prósperas cidades.

Livro que narra a epopeia desta expedição. ocorrida em 1943, encabeçada Por Orlando Villas Boas e Cláudio Villas Boas.

Casa onde morou Manoel Roxo da Motta (Neneo) e a esposa Eny Malheiros e nasceram suas filhas Márcia e Dora
Marcia, filha do Tio Neneo nascida em Xavantina, onde foi feita a foto.
Dora, filha de Manoel Roxo da Motta e Eny Malheiros, nascida em Xavantina, na casa acima

Algumas fotografias desta viagem inesquecível que fizemos, comandada por Wilson e Regina Célia de Oliveira, minha filha, e a neta Gabriela.

Nesta casa morou a família de Manoel Roxo da Motta e nasceram suas duas filhas, Márcia e Dora. A senhora que nos recebeu gentilmente, mora na casa e se recorda das duas meninas. Foi emocionante!

No quintal da casa existe uma centena de mangueiras que foram plantadas com mudas vindas de nossa cidade natal, São Geraldo, MG e que burramente não me lembrei de fotografar!

Xavantina, praça cívica

Esta é a parte histórica e antiga da cidade. Hoje existe Nova Xavantina, uma cidade moderna, que deve ser visitada! Linda!

Marco da criação de Xavantina
Placa da fundação de Xavantina. abril de 1944, pela Expedição Roncador Xingu
Mangueira na praça de Xavantina, plantada pelo expedicionário Manoel Roxo da Motta, Tio Neneo
marco de uma expedição inglesa, segundo me informaram.

Descobri uma informação sobre esta expedição:


Kelerson Semerene Costa

A Fundação Brasil Central e a pesquisa científica (1943-1967) Resumo: Apresentação:
Em 1943, como parte das inciativas do Estado brasileiro para ocupação e exploração de territórios ainda não incorporados pela sociedade nacional, no Centro-Oeste e na Amazônia, foi criada a Fundação Brasil Central (FBC). Entre 1943 e 1967, ano em que deu lugar à Superintendência do Desenvolvimento do Centro-Oeste (Sudeco), a FBC – atuando nas bacias dos rios Araguaia, Xingu, Tocantins e Tapajós – promoveu expedições de desbravamento – como a Roncador-Xingu e a Xavantina-Cachimbo -, construiu estradas e pistas de pouso, organizou colônias agrícolas, estabeleceu contato com povos indígenas, deu origem a diversos núcleos urbanos. Porém, ao lado dessa intensa atividade colonizadora e de deslocamento da fronteira interna, a FBC também apoiou ou promoveu diretamente a pesquisa científica nas regiões exploradas. São exemplos: os diversos estudos desenvolvidos por pesquisadores do Museu Nacional nas áreas de atuação da FBC, especialmente no rio Xingu; a constituição de um serviço de pesquisas, com a criação do cargo de “naturalista”, ocupado durante as décadas de 1940 e 1950 pelo ornitólogo alemão Helmut Sick; a organização de exposições e de um museu; e a promoção de uma expedição científica anglo-brasileira no Mato Grosso – a Expedição Xavantina-Cachimbo.
Objetivos:
O objetivo geral do trabalho é investigar as relações entre o processo de expansão da fronteira e o desenvolvimento do conhecimento científico nas atividades desenvolvidas pela FBC ao longo de seus 24 anos de existência, considerando as mudanças conjunturais vividas pelo País e seus reflexos sobre a atuação da Fundação.
Além disso, procuramos identificar: as pesquisas desenvolvidas e suas respectivas áreas de conhecimento; os pesquisadores envolvidos, sua formação, suas atividades e seus vínculos institucionais; as cooperações e vínculos estabelecidos, no campo científico, entre a FBC e outras instituições – nacionais ou estrangeiras.
Conclusão:
A pesquisa está em desenvolvimento e, por isso, ainda não é possível enunciar conclusões. Porém, as fontes nas quais se baseia o trabalho (essencialmente, o fundo documental da FBC) indicam: variações na abordagem e na importância atribuída à pesquisa científica em diferentes momentos da FBC (entre o fim do Estado Novo e os anos iniciais da ditadura militar instalada pelo golpe de 1964, passando pela “redemocratização”); maior abundância de estudos em zoologia, botânica, antropologia e geologia; momentos de relevante colaboração interinstitucional envolvendo a pesquisa de campo, o trabalho em laboratórios e a publicação de artigos em revistas especializadas, no Brasil e no exterior; períodos de relevantes esforços de divulgação científica, por meio de palestras para o grande público, da publicação de matérias em jornais e revistas de grande circulação e, também, da criação de um museu.
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Nesta casa em Xavantina morou o Coronel Vanique, membro da Expedição Roncador Xingu. No pátio da casa , em frente, está o Marco dos Ingleses
Entrada para o Parque Roncador Xingu
Memorial na Câmara dos Vereadores
Capela antiga de Xavantina
Antiga igrejinha de Xavantina
Casa do Dizé – Edvaldo C. Barbosa, morador de Xavantina e historiador da cidade, que nos recebeu com grande gentileza, juntamente com sua esposa! Gratidão eterna!
Família do Edvaldo C. Barbosa, que nos recebeu com muito carinho e atenção! Gratidão a todos!
Memorial da Expedição Roncador Xingu em Nova Xavantina

Vamos passear por Nova Xavantina! Moderna, linda, emocionante! Um passeio inesquecível!

Xavantina

Casa do Dize – Xavantina
Jardim da casa do Dize, (Edivaldo C. Barbosa) nosso anfitrião em Xavantina!
Casa do Dize, pintura mostrando a casa primitiva que era de um expedicionário da Expedição Roncador Xingu
Nesta casa morou o Coronel Vanique na época da expedição
Casa onde morou o Tio Neneo ( Manuel Roxo da Motta) e sua esposa Eny Malheiros e nasceram as filhas Márcia e Dora. Atrás da casa tem centenas de mangueiras que ele plantou, com mudas vindas de São Geraldo, MG onde nasceu. Foi emocionante esta visita!
Barra do Garças
Rio das Mortes, Xavantina Fotos cedidas pelo Dize, Edvaldo C.Barbosa, nosso guia e anfitrião em Xavantina

Rio das Mortes, Xavantina Fotos cedidas pelo Dize, Edvaldo C.Barbosa, nosso guia e anfitrião em Xavantina

Nova Xavantina – Foto do Edvaldo C.Barbosa
Aqui foi o Teatro Municipal de Xavantina – Teatro Municipal Villa Lobos
Vista da área em frente ao Hotel de Nova Xavantina
Presépio em Barra do Garças
Centro Cultural em Barra do Garças
Centro Cultural em Barra do Garças
Centro Cultural Barra do Garças
Goiás Velho – Casa de Cora Coralina
Goiás Velho, com a imagem de Cora Coralina!
Goiás Velho

31 – Arquivos da Grande Família que merecem ser conhecidos e arquivados.

Estes arquivos estão em meu poder e penso que compatilhá-los com toda a família é muito importante!

Alguns vão conhecê-los e apreciar!

Cartas de meu pai, Luiz Roxo da Motta para minha mãe, Laura Casulari da Motta, cartões, de filhos e netos, enfim lembranças de uma vida e de várias gerações!

Cartão de meu pai Luiz Roxo da Motta para minha mãe, Laura Casulari da Motta

Mariana, 25 – 12 – 1947

Laura querida,

Lembrando-me de um telefonema em um Natal passado, mando-lhe este retrato de Mons. Horta,

com os meus votos que elle interceda junto a Deus para nos fazer felizes. Pois hoje a sua felicidade é a

minha felicidade, e seremos felizes fazendo felizes nossas filhas. Não podendo ir pessoalmente lhe dar o meu

abraço saudoso. Do seu Lizote.

Igreja de Uberaba

Bilhete do papai me dando um presente de casamento, 8 de maio de 1964

Vou transcrever porque está muito apagado:

Com as bênçãos do papai de da mamãe o presente para a viagem durar mais ou para

trazer uma lembrança. Deus os abençoe como nós abençoamos.

Papai e Mamãe

Sem data

Carta de nosso pai, Luiz Roxo da Motta, para a nossa mãe, Laura Casulari da Motta, 1947

Fiz a transcrição para facilitar a leitura. Nessa época ele estava trabalhando em Paula Lima

em uma plantação de eucalipto, que estava sendo introduzido no Brasil. Tinha 3 anos de casado e

duas filhas: Regina e Júlia.





Transcrição da carta de Luiz Roxo da Motta para Laura Casulari da Motta – nossos pais

Vou usar a ortografia em que foi escrita, que era a usada na época

Belo Horizonte, 22 de dezembro de 1947

Minha querida Laura,

Que Deus dê a você e nossos “pixingos”um feliz Natal e um anno novo cheio de venturas e de paz é o meu desejo. Ainda não sei se poderei ir ahi pelo Natal, porisso resolvi mandar o dinheiro para você e receba antes do Natal. Peço-lhe pagar ao Normandino 300,00 que tomei emprestado delle e dar 300,00 ao Demósthenes. O outros 400,00 são para você.

Sobre o anno que vem ainda não resolvi nada. Mas confio que Nossa Senhora obterá de Deus, em sua infinita bondade, que me dê o caminho para poder viver sempre junto de vocês e para equilibrar nossa vida material, tanto quanto já equilibramos nossa vida moral, com a felicidade de nosso amor que muito cresceu dia a dia.

Dr. Dirceu quer que eu continue. Disse que augmenta meu ordenado e eu terei de janeiro em diante folga para ir ahi sempre. Eu ainda não resolvi coisa alguma. Quero ir ahi primeiro buscar inspiração em seus beijos e no carinho de nossas filhas, pois são para mim uma verdadeira benção de Deus.

Pode ser que possa lhe dar a surpresa de chegar ahi junto com um cheque, pois como lhe disse, nosso caro amigo chefe ganha de mim na desordem. E depois nesta phase de organização eu tenho lhe prestado serviço que muitas vezes só pessoalmente posso fazer. Tenho recebido de todos muita amabilidade econsideração. Mas não sei porque estou mais inclinado a não continuar. Já preveni ao Dr. Dirceu mas não de forma definitiva, mesmo porque elle não concorda com isto.

Enfim, eu mesmo ainda não estou plenamente decidido, pois não parece-me ser para nossa libertação econômica. Talvez seja melhor que eu não continue.

Mas devo lhe dizer, minha amada dengosa, que nunca me sinta tão animado como agora. Apezar das dificuldades materiais serem grandes, eu sinto que em breve hei de vencê-las. E então nossa vida será uma felicidade contínua, com a ajuda de Deus. Sinto uma serenidade admirável, mesmo quando considero as más consequências de meus erros passados. A única coisa que me faz sofrer é que eu também faço você sofrer sem que você tenha a menor culpa das tolices que fiz. Mas, graças a Deus, tudo isso pertence ao passado. Agora já entramos no pé da canna, O que ainda me esmaga é não viver perto de vocês ou pelo menos não ter notícias constantes.

Mas isto mesmo sei que em breve terminará quer eu continue nes emprego, quer eu saia. Pois só continuarei com a condição de ter mais liberdade de viajar. Aliás foi esta a promessa do Dr. Dirceu. Mas, sobre este ponto só pessoalmente poderei conversar com você, pois a conversa será longa. Mas se não seguir 4 feira para ahi, irei logo que o Dr. Dirceu termine o entendimento delle com o presidente do Estado e possamos terminar o plano do qnno que vem.

É por causa deste plano, em que também colaboro, que ainda tenho que me demorar aqui. Pois estou sendo uma espécie de secretário e consultor dos nossos amigos. De quando em vez um me consulta e logo vem um ofício para eu fazer. E logo tenho que fazer “Considerações a Vossa Excelência” e entregar pessoalmente. Estou quase como o Neca Venâncio, quase quebrando a língua de tanta V. Excia.

Bem minha dengosa, vou por esta no correio para ver se chega até quarta-feira. Abençoe as meninas e a você um abraço muito saudoso do seu marido que pede a Deus por vocês todos.

Lizote

Acabo de vir da casa do Paulo, onde fui jantar. E vou por aqui nas costas do papel uma boa notícia que elle recebeu e que sei que você, Lia e Sales vão ficar muito satisfeitos em saber.

O Paulo foi eleito membro da Academia de Pediatria do Mundo. Não precisa dizer que fica nos Estados Unidos. Há tempos elle mandou um trabalho para lá. Elles acharam tão bom que resolveram elegê-lo como sócio delles. O Paulo ficou tão satisfeito que disse ter atingido a maior honra que poderia esperar como médico. Graças a Deus foi um ótimo fim de anno. Que Deus o conserve sempre assim.

Do seu Lizote

Carta de 26 de outubro de 1949

Carta 26 de outubro de 1949

Minha querida Laura
	Recebi hoje sua carta de 23 deste, que me deixou trez impressões desencontradas: tristeza, surpreza e o que mais vai lhe causar admiração, alegria.
	Tristeza por vel-a sofrer, por sentir em toda sua carta todo o recalque de impressões depressivas que tanto a fazem se sentir menosprezada. Há tantos annos lutamos contra isto que eu já supunha não mais existir este recalque em você minha querida Gioconda. Hoje eu vejo, porem, que as impressões da infancia e adolescencia são de facto terríveis pequenos e obscuros despotas que tentam nos governar a vida inteira. Embora não nos apareçam como são na realidade, sombras do passado guardadas no subconsciente. E como sombras, se chegamos a reconhecel-os assim se desvanecem e não mais existem. Mas se lhes damos atenção são verdadeiros tiranos que nos governam para mal nosso.
	Você se lembra de uma conversa nossa, quando ainda na phase das “palestras intelecuais”, em que você se queixava de se sentir deslocada na vida? Nem a vontade no meio de origem nem a vontade num meio mais culto. Eu lembro-me como se fosse hoje. Estavamos no jardim e você me falou isto bem em frente do cinema. Se não me engano você estava com o vestido verde, de casaquinho, a que eu chamava de vestido da D. Fernandina. Vi o quanto você é importante em minha vida?
	Porque havia eu de esquecel-a? E porque havia de ter esta significação a falta de cartas depois de uma carta que a deixou tão de acordo comigo e tão confiante e alegre que você assignou com o nome que a chamo em seus momentos de maior beleza: aqueles em que você confia em mim e sorri com um sorriso lindo e bom que me faz lembrar a Gioconda e todo seu amor intenso e bom por Leonardo da Vinci? Porque minha querida, isto pode acontecer com você? Se eu não a esqueço, se estou trabalhando para que nunca mais nos separemos. Mas são estes tiranozinhos do subconsciente, despertados e ajudados de certo, por comentários “piedosos” de “boas amiguinhas” que a fazem esquecer  de minhas palavras e supor esta tolice que esteja esquecendo de você: Esta a minha tristeza, minha querida, porque sei o quanto  estas ideias depressivas tomam vulto e a fazem sofrer. Mas não lhes dê crédito, minha dengosa, tanto mais que não mais a deixarei só por tanto tempo.
	Fiquei admirado porque logo que recebi sua carta ou melhor da Gioconda lhe escrevi. Mas vou indagar do portador que mandei  trazela para o correio se elle a poz no mesmo dia. E talvez depois de perambular por seca e meca a estas horas já você tenha recebido.
	Mas de qualquer modo não pense um momento sequer que eu a possa esquecer. Lembro-me  das crianças, e lembro-me das crianças e de você. Mas lembro-me de você sozinha também, mesmo não associando a idea de mãe de meus filhos. Agora chegou a minha vez de dizer-lhe, você me comprehende.
	Agora chegou a vez da alegria, que deixei propositalmente para o fim, porque quero, que seja também a sua impressão mais forte, aqueça que há de perdurar para sempre. Mas primeiro quero lhe pedir que não veja ironia em nenhuma de minhas palavras, fale com os tiranozinhos do subconsciente que eu sou mais forte que elles, poque eu sou real e elles  são apenas sombras, recordações de um passado já morto e que eu quero que desapareça de sua memoria, pelo menos a significação depressiva que tem.
	Fiquei alegre, minha Gioconda, porque o seu desespero, a sua tristeza por uma simples falta de notícias significam a importância que tenho em sua vida! Muito mais que o simples mando legal, que já é muito, eu sou necessario a você. Muito mais que necessario fisicamente eu sou necessario a você moral e mentalmente. Todo seu pensamento se apoia em mim, minha querida, e isto é a maior alegria que pode existir para mim. Se a vida tem, por vezes, nos separado não mais nos separará, pois esta certeza me dá forças para vencer todas as dificuldades. Na realidade nem existem mais dificuldades. Você precisa de mim como do ar que respira e serei como o ar rodeando-a toda e dando-lhe vida. Bem se entende que não serei tão impalpável como o ar. Mas hei de estar junto de você em carne e osso bem tangível e apalpável. Parece-me que estou a vel-a, amarelinha e magra vendo fantasmas por todo lado a me escrever duramente: “ Afinal se já estou esquecida lembre-se de seus trez filhos...”
Como quem diz vou lembrar a este relapso a respondabilidade que tem, pois se elle não se lembra de mim como sua mulher, há de lembrar  de mim como mãe e como sua esposa legal.
	Tudo isto é muito importante para mim, meu anjo. De tudo isto me lembro sempre. De que sou seu marido, que temos 3 anjos que Deus confiou a nossa guarda, que eu preciso lhe dar assistencia por você e por elles a quem muito amo tambem. Mas coroando e completando todas estas partes, sem duvida, muito importantes em nossa vida, ainda vem a certeza que preciso lhe dar assistencia por você mesmo, porque tanto quanto as crianças, talvez mais, eu sou necessario a você. De facto, Laura, esta sua carta tão desesperada, veio me dar a certeza que Deus abençoou nosso casamento. Que presente Elle, somos dois e somos um.
	Se Deus em sua infinita sabedoria e bondade tem permitido que factores diversos nos tenham, por vezes, separados, não é para que nos desesperemos. Lembre-se que Deus “escreve direito por linhas tortas”. Talvez que juntos continuamente em meio as dificuldades não vissemos inteiramente a grande significação quee temos  um para o outro. Talvez que os pequeninos detalhes visíveis todos os dias nos deixasse ver a realidade magnifica de nossa união verdadeira.
	E aquela união que vem desde  as palestras intelectuais não se tornaria real e não nos causaria tanta felicidade, como agora que a vemos atravez da distancia e do apagamento total das aparencias que nos separavam. Porque agora você vê e eu vejo que nós somos necessários um ao outro.
	Agora  eu lhe faço um pedido. Nunca examine os fatos isoladamente do conjunto da vida. E sobretudo nunca os julgue com preconceitos nem influenciada  por sugestões alheias, por mais “piedosas” e inocentemente amigas que nos pareçam. Cada vida tem sua expressão própria e para cada um os mesmos fatos apresentam significação diferente.
	Terminando, minha gioconda, eu torno a lhe dizer, como em outra carta, Não suponha nem de leve que estes seus desabafos me enfraqueçam me desorientam. Muito pelo contrario dão-me mais animo e serena força para eliminar as causas materiais que ainda por alguns quilometros de chão entre nós. E o mais bem que você pode  me fazer é fazer de mim o seu confidente, ainda que estas confidencias sejam desabafos e aparentes acusações a mim. Não pense para me escrever, mas escreva-me  o que você sente, conta que eu saberei comprehender as sua tristezas e preocupações como suas alegrias.
	Tento mais que em breve você não mais precisará me escrever, mas sim poderá me falar tudo que você pensar e sentir, seja o que for.
	E hei de ser o seu amparo eu seu tudo fazendo-a muito e muito feliz, tanto quanto eu desejo e você merece.
	Abençoe a Regina, a Tuquinha e ao Liguto por mim, dando-lhes com minha benção um abraço muito carinhoso. E a você todo carinho do seu marido muito amigo e namorado. Lizote

São Geraldo 1 de março de 1966

Minha querida Laura,

Pedindo a Deus que abençoe nossos filhos, e também a você, mando-lhe antes de mais nada um abraço de carinho e saudade.

Recebi suas cartas e estou providenciando as encomendas. Amanhã vou mandar a declaração que você precisa. Espero que esteja boa. O resto levarei sábado quando for, se Deus quiser.

Faço ideia o quanto você ficou aflita com o “sumiço” do Antonio Carlos. O engraçado é que a notícia que chegou aqui, dava como ausente o Luiz Augusto. Não fiquei muito preocupado porque imaginei logo o que havia acontecido. O Jovem encontrou outros jovens, ou “jovenzinha” e a palestra se animou: “O trem demora muito, venha ver o jardim” e como já estava com as flores, esqueceu se da mamãe velha que esperava o trem. E quando menos esperava lá se foi o trem sem avisar que não o esperaria. Felizmente o Luizito estava aqui e me disse que havia onibus para Ponte Nova as 4,30. E eu havia dado “moneys crop” que causou euforia de não se importar com o trem.

Já estava resolvido a ir de expresso quando chegou o aviso que o jovem já havia chegado ahi. Enfim, tudo está bem o que acaba bem.

Por aqui vai tudo muito bem, graças a Deus. Marcelo está cada vez mais alegre e desembaraçado aprendendo uma porção de coisas, cada qual mais divertida. E cada vez mais amigo do vovô. Júlia tomou o remédio felizmente passou bem. Está lecionando a tarde o que para ela foi muito bom. O Ginásio e a E. Normal começam 2 feira próxima.

O Ary está de férias e todo cheio de vida tomando “fartão” de passear com o Marcelo. Está um “coruja” de marca maior.

Não fui ahi sábado apesar de ter ficado aborrecido por isto, por causa do serviço. Mas desta vez valeu a pena. Não compensou inteiramente a alegria que eu teria em ir ahi rever vocês e consolar você, que faço idea ficou muito deprimida e cansada com a demora do Antonio Carlos. Decerto não é a mesma cousa. Mas ofereci meu sacrifício a Deus pela felicidade de nossos filhos, pedindo-lhe que os encaminhe sempre para o bem e para a paz. E isto me consola pois, creio que Deus aceitou os votos que lhe fiz. Pois que o meu serviço adiantou bastante e a Júlia tomou o remédio peior sem esforço e sem sofrimento.

Estou lhe escrevendo da Exatoria a noite, onde vim fazer papeis para o balancete. Amanhã espero ir a Ubá receber o pagamento, de que já tive notícia que está lá. Os detalhes miudos, contarei sábado quando chegar ahi. Até lá, abençoe os meninos por mim, e a você um abraço muito carinhoso e saudoso do seu

Lizote

Julia pede para você mandar requisição para ela sábado.

Carta Sem data

Envelope de uma carta, não sei de qual delas

Transcrição da carta anterior

Minha querida Laura,

Quando esta chegar ai, já você deverá ter recebido outra do Zá Reinaldo com um vale postal para você. E não precisa se preocupar porque estamos com folga em matéria monetária. Quando você voltar, e é a única falta que estamos sentindo, conversaremos nos detalhes.

Desde sexta-feira que a Regina está aqui com as crianças e Ary. Sendo que o Ary voltou hontem para Bicas, por causa das aulas de violão.

Todos estão muito bem, especialmente o Guilherme que está grande e forte e muito alegre. Já está começando a engatinhar e aí você vê oque acontece. O cuidado tem que redobrar.

Regininha disse que queria estar com “zero” ano, só porque eu disse que ela já está mocinha, e criança é só o Guilherme. Nessa para ela se encostar na Regina velha, e protestou: – eu também sou criança, faz de conta que estou com zero ano”.

Mas o agarramento dela, Marcelo e Daniela, com o Guilherme continua o mesmo. Os jovens já estão de férias desde hontem e estão todos muito bem. Comprei o tal chá para a Goretti, mas tive que comprar também o mate, porque ela não gosta de chá forte. Mas eu estou dando conta dele, porque é gostoso e fácil de fazer.

Não sei se a Goretti ou Zé contaram que há dias estava aqui em casa os companheiros de viagem da Goretti. E foi uma noite de muita alegria, todos relembrando os fatos pitorescos da viagem e passando os respectivos slides na maquina do Juninho que também estava presente.

Hoje o Marcelo trouxe um bilhete para a Goretti, logo após a passagem de um avião e disse que foi o rádio-telepatico que mandou – o tal que pediu a Goretti em casamento, durante a viagem.

E vimos o retrato dele em um slide, junto com a Goretti, quando estava aprendendo a dirigir o avião. Fico imaginando o que será namoro a 2000 metros de altura!!! É bem provável que já seja o fim do nosso bom mundo.

O vazio por baixo, a terra lá bem longe, e dois jovens brincando de namorar, enquanto a jovem faz o avião subir e descer, igualzinho brinquedo. Não deve ter havido perigo, porque chegaram muito bem, e pousando diretamente no aeroporto de Juiz de Fora.

Já ia me esquecendo de dizer que pedi ao Zé paramandar o vele postal para você, porque o Delegado me designou para prestar serviços em Rio Branco por dois dias, inesperadamente.

De Rio Branco telefonei para São Geraldo, não pude ir lá, eu tive o prazer de conversar diretamente com o Dario, que casualmente estava no hotel quando telefonei.

Pode dar a notícia ao Celinho, que o Dario está passando bem, já está andando e no telefone pediu-me para mandar um abraço para todos, especialmente para o netinho. E ficou muito satisfeito com meu telefonema.

Tive pezar de não poder ir até lá pessoalmente. Mas estav a serviço e não dormi em Rio Branco. No primeiro dia fui de carro oficial da Delegacia, porque fomos até Viçosa. No segundo dia fui e voltei de ônibus, saindo daqui as 8,15 e voltando a noite.

Pela carta para a Fiuta, ficamos sabendo que vocês deverão vir antes do dia 4 de julho, para apanhar o Padre Guetta (não entendi bem no nome) antes de sua ida para Manaus.

E assim em vez de notícias veremos os Sergios e Julias, novos e velhos e também a Ana Raquel que imagino deve esar linda. Já era quando nasceu, imagino agora depois de um mês de leite materno com fartura.

Estive em casa de D. Ahy e as notícias de lá são tembém muito boas. Fiquei comovido foi de ver, sentir a alegria da Heloisa em ser madrinha da Ana Raquel. E também D. Ahy estava radiante com isto. Ainda não estiva com o Cavico, mas faço ideia que ele também está satisfeito.

E já estão fazendo planos para ir a Curitiba, no caso que por qualquer imprevisto, Sergio e Julia resolvam adiar a viagem. Conversamos sobre o assunto, mas julgando que não haverá adiamento, porque naturalmente, Sergio e Julia devem querer aproveitar as férias para vir. Pois, ficando lá mais um ano, com certeza a Julia há de querer continuar o curso da tal Psicologia, e ficar batura para advinhar o pensamento dos outros.

Aqui tivemos uma onda de frio com termômetro marcando 12 graus às dez da noite e mesmo de manhã. E com dias bruscos, sem sol, chegando a ter chuvinha miuda. Mas passou e hoje está um dia lindo, com sol claro e o ceu azul. E nem quente nem frio.

Luiz Augusto telefonou para a casa da Lucilia avisando que virá 6 feira, dia 27, aproveitando uma carona. Ai ficará mais perto para sua antena receber boas notícias.

Do Antonio Carlos não temos notícias recentes. Mas como dizem, falta de notícia, boas notícias, confiamos que tudo irá bem com ele, e fora os apertos sucessivos, digo de estudos. Pois parece que o curso dele é um prolongamento da Arthur Andersen do Sergio, ou dirigido pela “dita cuja”.

Junto vai uma carta do Marcelo. Parece que está havendo ciumes por causa da vovó demorar. Ó velhota querida, já estou vendo você protestar – velhota é a sua vó …

E é mesmo, my little woman, porque para mim você continua sempre a mesma Laura que me deu as tres violetas hontem, antes de hontem, ou a muitos anos. Nada disto, foi ou melhor é hoje mesmo.

Os riscos e amassado são trabalho do Guilherme que veio para meu colo para a Regina preparar o banho para ele.

E graças a Deus, será sempre, conforme seu telegrama que recebi com alegria e ternura, e os que mandei dia 13 e 18. Pedindo a Deus que abençoe sempre a todos, abraça-a carinhosamente o seu

Lizote.

Raul Soares, 18 de setembro de 1980

Meu Caro Eu Mesmo,

Vamos agradecer a Deus Pai de Bondade e Ternura e Infinita Misericórdia por este dia maravilhoso no qual, pela primeira vez conseguimos sentir um vislumbre da Luz da consciência da Verdade. Agora sabemos o sentido profundo, essencial, que tentamos expressar e que não encontramos palavra bastante expressiva para o fazer.

Cabe-nos agora não colocar “a luz sob o alqueire”. Mas sim procurar colocá-la de modo que ilumine as consciências que possamos receber a sua compreensão. Sabemos como o fazer e o faremos agora e sempre.

Como primeiro trabalho externo vamos começar a organizar a palestra para a qual fomos convidados sobre “Crescimento Interior” de “ Não Violência”

Mil e Mil vezes agradeço, Senhor, Pai de bondade e ternura e Infinita Misericórdia”, Vós sabeis exatamente a razão pela qual agradeço. Embora não me seja possível expressá-la em palavras compreensíveis ou claramente expressivas para mim mesmo, e muito menos para outrem.

Agora há pouco fui a um barzinho meio “fuleiro” e bebi uma garrafa de cerveja porque senti que me seria útil e benéfico bebê-la e o fazer exatamente nesse barzinho que, embora no centro de Raul Soares, me parece frequentado por minhas irmãs protestantes. Fiquei lá exatamente uma hora, das 22 as 23 horas. E dei um balanço (será este o termo exato?) rememorei minha vida desde os 18 anos. Ou mais exatamente desde meu ultimo encontro com a Filhinha, minha prima, com quem mantinha um romance. Seria de adolescente? Seria uma ilusão? Na despedida poderia tê-la beijado. Não o fiz. Teria sido um erro? Ou foi uma ação certa? Rememorei outras renuncias minhas, assim como rememorei muitos atos que, na época me pareciam certos e hoje me parecem errados. Teriam sido errados? Quando saí pensei em escrever a Odila Fonseca em São Geraldo descrevendo tudo isto, na suposição de conforta-la. Não vou fazer pois compreendi que na realidade não estava querendo conforta-la, mas sim, a mim mesmo. Mas agora sei que foi o último esforço do “Touro Vermelho” para sobreviver. Agora sei que posso fazer a palestra sobre o “Crescimento Interior” e a “Não violência” com pleno proveito para todos que a ouvirem e puder entendê-la. E todos irão ouvi-la e entenderão.

Governador Valadares 9 de outubro de 1971

Minha querida Laura

Mal cheguei e já estou escrevendo para você que está sempre presente em meu pensamento. Embora, as vezes, como agora (até que rimou!) o neu prazer passe a frente do que, realmente, me agradaria fazer, com a maior boa vontade.

Trabalhei para resolver o caso da Aparecida. Trabalhei para resolver o caso do Tatwa. E deixei para depois o meu prazer de vir até a fazenda do Sales, o trabalho proporciona meios para você vir se encontrar com a Mariquinha e tratar de melhorar as condições de sua mãe e de seus irmãos. Mas vou me castigar por este erro tão tolo.

Em primeiro lugar não voltarei por São Geraldo. Não me darei o prazer de viajar de trem de Caratinga a São Geraldo, por uma zona que não conheço de Caratinga a Raul Soares. Em segundo lugar diminuirei minha permanencia aqui onde terei a alegria de reviver os velhos tempos de mocidade quando eu e o Sales vivíamos as voltas com os bois e as boiadas.

Talvez quando você receber esta, já esteja de volta. Mas não importa, tenho a impressão que escrevendo é como se estivessemos conversando depois de catar as pulgas dez vezes, e mandar os jovens dormirem umas vinte vezes. E que Deus leve meu pensamento até você, e juntos trabalhemos para levar paz e tranquilidade a seus irmãos e saude para sua mãe.

Tive excelente impressão da cidade, inclusive de ser uma grande baixada entre montanhas. A surpresa maior que tive foi encontrar uma corrida de automóveis em uma longa e reta avenida. E, pasme e admire, rapazes barbudos e cabeludos e moças vestidas só de camisola…E, mais ainda, na sala de jantar do Hotel Bahia, um jovem que admira e deseja ver analisada a República de Platão. E não era cabeludo tipo Renato da Doce Namorada.

Também não definiu o que entende por República de Platão. De forma que fiquei na dúvida a qual República e a qual Platão se dirige sua admirativa vontade de delirar.

Vou agora procurar o correio e ver se ainda envio esta para você hoje mesmo. Não que espere que chegue antes de mim, mas que o ato de a por no correio complete o meu desejo que você receba ainda hoje todo o carinho do pensamento e amor do seu Lizote.

J.F. 25/5/1994
Laura,
Esta carta já está planejada faz tempo. Estou sempre adiando para uma hora bem sossegada e assim
podermos conversar bastante e, com isto, cheguei até hoje sem escrevê-la.
A Regina sempre me dá notícias suas, da Julia e filhos. Por cá continuamos na rotina habitual, todos com saúde, graças a Deus. Domingo último tivemos a agradável visita da Anita. Ela perguntou muito por você e lastimou bastante não encontrá-la. Deixou um grande e saudoso abraço para eu lhe enviar. Ela pediu que a Lia viesse cá para casa afim de fazermos uma “hora da saudade” completa. Ficou faltando você. A Anita está muito bem, sempre alinhadíssima e não aparentando os janeiros.
Não sei se já lhe contei que fui, com o Lininho, Rocilda e a Lia a Ouro Preto, Mariana e Tiradentes. Tomamos um fartão de velharias e também de ladeiras. As subidas e descidas foram mais em Ouro Preto.
Fizemos pouso em Mariana. Iamos sempre a missa na Igreja da Sé, que era bem perto do Hotel em que estávamos. Na volta, já de noite, a impressão que tinha era de ter voltado no tempo e estava em pleno Brasil colônia. Até o Hotel contribuia para esta impressão, era bem no estilo.
Foi um passeio muito agradável. Na volta viemos por Ponte Nova, almoçamos em Viçosa e demos uma entrada em São Geraldo.
Achei uma diferença muito grande na nossa terra, em termos de crescimento, só que não encontrei uma cara conhecida. Vi um senhor que me pareceu filho do Temponi. Perguntei se era e ele me disse que não.
O Luiz Augusto estes dias acudiu a filha da Rocilda que estava um sofrimento com um tumor no coccix e a família toda ficou encantada e grata com a atenção e carinho que ele dispensou.
E o inverno que este ano ainda não deu o ar de sua graça! Hoje tivemos um dia de sol e quente. Fico admirado porque já estamos praticamente no fim de maio. Fico me lembrando das noites de rezas e coroações em nossa infância. Eram sempre noites estreladas, as vezes de luar, mas sempre frias. Lembro-me que a vovó nos presenteava com vestidos de flanela branca para irmos de virgens acompanhar as coroadeiras.
Agora estou partindo para o saudosismo. Voltemos a 1994, com as paixões políticas de ano eleitoral, com as tecnologias avançadas, mas sem o principal que é a fraternidade. Estamos com saudades, daquela saudade que é vontade de ver e conversar pessoalmente. Um grande e carinhoso abraço para você, Julia, Julia Paula e Tuca e Ana Raquel

Ena

Cartão da Vovó Julia Roxo da Motta para o papai Luiz Roxo da Motta

Falecimento da Tia Maud
Cartão de minha mãe Laura para mim, Regina. Ela estava em Campinas em casa da Júlia, irmã.

Queridos,

Estou aproveitando a vinda da Regininha para mandar para você os recibos. Ela veio na festa da Júlia e Júlia Paula.

Tinha bastante gente, o pessoal é muito amigo deles e me tratam muito bem. Estou com saudades da Mariana, também da Flávia e Gui. Ainda não pensei em viagem, acho que por isso estou calma.

Mando abraços a todos. Da mãe que lhe pede para rezar, Laura

Regina,

Graças a Deus fiz boa viagem, alcançando o ônibus das 8,30 em Ubá e encontrando tudo em paz lá em casa.

Ao vir para o serviço, lembrei-me que o Ary, em conversa comigo, quando falávamos das dificuldades, disse que só comprando bilhete de loteria do Otávio. Como o Otávio está em São Geraldo e eu aqui, resolvi lhe mandar um pedacinho da sorte, que vai correr justamente no seu aniversário. Pode assim acontecer , e Deus queira que aconteça que você fique mais “velha” e mais rica no mesmo dia.

Não sei o número, vai fechado conforme comprei porque assim dará mais agrado abrir e encontrar alguns milhões em um pedacinho de papel. Estou escrevendo as pressas porque quero mandar hoje mesmo, talvez chegue na quarta feira.

Com uma benção toda especial pelos 26 anos, pedindo a Deus que a faça feliz junto com o Ari e os meninos. Papai

A uma certa Gioconda, atualmente my little woman, também conhecida por Laura, a velhota, não confundir com

a Laura Jovem. LMotta

Cartão da minha mãe, Laura para mim

Queridas,

Estou aproveitando a vinda da Regininha para mandar para você os recibos. Ela veio na festa da Júlia e Ana Raquel.

Tinha bastante gente, o pessoal é muito amigo deles e me tratam muito bem. Estou com saudades da Mariana, também da Flávia e Gui. Ainda não pensei na viagem, acho que por isso estou calma. Mando abraços para todos,

para o Zé, Solange e Daniel. Da mãe que lhe pede para rezar, Laura

Minha querida Laura,

Quando esta chegar ai, já você deverá ter recebido outra do Zá Reinaldo com um vale postal para você. E não precisa se preocupar porque estamos com folga em matéria monetária. Quando você voltar, e é a única falta que estamos sentindo, conversaremos nos detalhes.

Desde sexta-feira que a Regina está aqui com as crianças e Ary. Sendo que o Ary voltou hontem para Bicas, por causa das aulas de violão.

Todos estão muito bem, especialmente o Guilherme que está grande e forte e muito alegre. Já está começando a engatinhar e aí você vê oque acontece. O cuidado tem que redobrar.

Regininha disse que queria estar com “zero” ano, só porque eu disse que ela já está mocinha, e criança é só o Guilherme. Nessa para ela se encostar na Regina velha, e protestou: – eu também sou criança, faz de conta que estou com zero ano”.

Mas o agarramento dela, Marcelo e Daniela, com o Guilherme continua o mesmo. Os jovens já estão de férias desde hontem e estão todos muito bem. Comprei o tal chá para a Goretti, mas tive que comprar também o mate, porque ela não gosta de chá forte. Mas eu estou dando conta dele, porque é gostoso e fácil de fazer.

Não sei se a Goretti ou Zé contaram que há dias estava aqui em casa os companheiros de viagem da Goretti. E foi uma noite de muita alegria, todos relembrando os fatos pitorescos da viagem e passando os respectivos slides na maquina do Juninho que também estava presente.

Hoje o Marcelo trouxe um bilhete para a Goretti, logo após a passagem de um avião e disse que foi o rádio-telepatico que mandou – o tal que pediu a Goretti em casamento, durante a viagem.

E vimos o retrato dele em um slide, junto com a Goretti, quando estava aprendendo a dirigir o avião. Fico imaginando o que será namoro a 2000 metros de altura!!! É bem provável que já seja o fim do nosso bom mundo.

O vazio por baixo, a terra lá bem longe, e dois jovens brincando de namorar, enquanto a jovem faz o avião subir e descer, igualzinho brinquedo. Não deve ter havido perigo, porque chegaram muito bem, e pousando diretamente no aeroporto de Juiz de Fora.

Já ia me esquecendo de dizer que pedi ao Zé para mandar o vale postal para você, porque o Delegado me designou para prestar serviços em Rio Branco por dois dias, inesperadamente.

De Rio Branco telefonei para São Geraldo, não pude ir lá, eu tive o prazer de conversar diretamente com o Dario, que casualmente estava no hotel quando telefonei.

Pode dar a notícia ao Celinho, que o Dario está passando bem, já está andando e no telefone pediu-me para mandar um abraço para todos, especialmente para o netinho. E ficou muito satisfeito com meu telefonema.

Tive pezar de não poder ir até lá pessoalmente. Mas estav a serviço e não dormi em Rio Branco. No primeiro dia fui de carro oficial da Delegacia, porque fomos até Viçosa. No segundo dia fui e voltei de ônibus, saindo daqui as 8,15 e voltando a noite.

Pela carta para a Fiuta, ficamos sabendo que vocês deverão vir antes do dia 4 de julho, para apanhar o Padre Guetta (não entendi bem no nome) antes de sua ida para Manaus.

E assim em vez de notícias veremos os Sergios e Julias, novos e velhos e também a Ana Raquel que imagino deve esar linda. Já era quando nasceu, imagino agora depois de um mês de leite materno com fartura.

Estive em casa de D. Ahy e as notícias de lá são tembém muito boas. Fiquei comovido foi de ver, sentir a alegria da Heloisa em ser madrinha da Ana Raquel. E também D. Ahy estava radiante com isto. Ainda não estiva com o Cavico, mas faço ideia que ele também está satisfeito.

E já estão fazendo planos para ir a Curitiba, no caso que por qualquer imprevisto, Sergio e Julia resolvam adiar a viagem. Conversamos sobre o assunto, mas julgando que não haverá adiamento, porque naturalmente, Sergio e Julia devem querer aproveitar as férias para vir. Pois, ficando lá mais um ano, com certeza a Julia há de querer continuar o curso da tal Psicologia, e ficar batura para advinhar o pensamento dos outros.

Aqui tivemos uma onda de frio com termômetro marcando 12 graus às dez da noite e mesmo de manhã. E com dias bruscos, sem sol, chegando a ter chuvinha miuda. Mas passou e hoje está um dia lindo, com sol claro e o ceu azul. E nem quente nem frio.

O Luiz Augusto estes dias acudiu a filha da Rocilda que estava um sofrimento com um tumor no coccix e a família toda ficou encantada e grata com a atenção e carinho que ele dispensou.

E o inverno que este ano ainda não deu o ar de sua graça! Hoje tivemos um dia de sol e quente. Fico admirado porque já estamos praticamente no fim de maio. Fico me lembrando das noites de rezas e coroações em nossa infância. Eram sempre noites estreladas, as vezes de luar, mas sempre frias. Lembro-me que a vovó nos presenteava com vestidos de flanela branca para irmos de virgens acompanhar as coroadeiras.

Agora estou partindo para o saudosismo. Voltemos a 1994, com as paixões políticas de ano eleitoral, com as tecnologias avançadas, mas sem o principal que é a fraternidade.

Estamos com saudades, daquela saudade que é vontade de ver e conversar pessoalmente.

Um grande e carinhoso abraço para você, Julia, Julia Paula e Tuca e Ana Raquel.

Ena

Cartão da Júlia Paula para o vovô Lizote

Uma carta de um amigo da Tia Ena, amigo da nossa família, filho do Sr. Joaquim Faustino, morador de São Geraldo.

Ele se chamava Aod, foi soldado na Segunda Guerra e escreve para a Tia Ena da Itália.

Artigo do Totonho publicado no Jornal Página Zero, em Osasco pelo aniversário de 80 anos da mamãe.

Cartas dos netos para o papai – Marcelo, Daniela, Regininha e Guilherme – 1978

Carta Regininha

Carta do Guilherme
Ele desenhou e a Daniela escreveu!

30 – FOTOGRAFIAS DA GRANDE FAMÍLIA

A Goretti  me mandou muitas fotos. Publiquei algumas que se referiam às casas onde a família viveu.

Aqui publico as fotos de outros lugares, na esperança de que apreciem e mandem também suas fotos para complementarem este registro que deixaremos para as próximas gerações!

FOTOS EM BICAS – ONDE MOREI

Marcelo e Dani

Esta foto é em São Geraldo, Marcelo e Dani

mamãe em bicas 3_0001

Mamãe em minha casa

Em Bicas

Regininha, Daniela e Juçara colhendo cenouras

Foto 1

Júlia Paula

Goretti, Dani e Guilherme

Goretti, Daniela e Guilherme

Guilherme em Bicas

Guilherme

Guilherme escalando

Guilherme escalando o morro

Juçara e Regina em Bicas

Juçara e Regina

Marcelo em Bicas

Marcelo

Marcelo, Dani, Regininha e Gui em Bicas 1977

Marcelo, Daniela, Regininha, Guilherme

Regina e Dani colhendo cenouras

A colheita de cenouras

Regina e Dani em Bicas

Regina exibe a colheita

Regininha e Dani em Bicas

Daniela e Regininha

Regininha.jpg

Regininha

Vovó Laura e Guilherme em Bicas

vovó Laura e Guilherme

CHEGADA DA JÚLIA DOS ESTADOS UNIDOS

Galeão 1979 Chegada da Júlia e Cia

Galeão na chegada da família da Júlia de Chicago 1979

Mamãe recebendo a família no Galeão, vindo de Chicago

Júlia e mamãe Galeão 1979

Júlia

Ana Raquel cansada da viagem

Ana Raquel, dormindo, cansada da viagem

Mamãe no Galeão esperando a Júlia chegar de Chicago fev 1979

Mamãe no Galeão esperando a chegada da família da Júlia

FOTOS NA CASA DA GORETTI E VERMELHO EM BOTAFOGO

adriana, ana raquel, julia paula, carolina, clara, beatriz e Davi

Esquerda: Adriana, Ana Raquel, Júlia Paula, Carolina, Clara, Beatriz, …Beatriz brinca de bonecas e inclui o Gabriel entre elas. 1988

Beatriz brinca de bonecas e inclui o Gabriel dormindo na brincadeira

Conceição e sobrinhos na Vista Chinesa

Conceição e sobrinhos na Vista Chinesa Rio de Janeiro

daniel e beatriz set 1985

Daniel e Beatriz

Julia Paula apto Botafogo retorno dos EUA_0002

Julia Paula no retorno ao Brasil

Julia Paula exibe o penteado que Tia Ção fez

Julia Paula com o penteado que a Tia Ção fez

Tia Ção curtindo os sobrinhos 1979

Tia Ção curtindo os sobrinhos que acabavam de chegar de Chicago

Vovó Laura e Júlia Paula Galeão 1979

Vovó Laura e Júlia Paula no Galeão

Mamãe de papai com Beatriz em Botafogo 1986

Na casa de Botafogo 1986

CASA DA GORETTI E VERMELHO NA VITOR MEIRELES – RIO DE JANEIRO

mamãe e papai com Gabriel março 1988

Papai e Mamãe com o Gabriel

papai e mamãe saindo da maternidade com a Beatriz agosto 1984

Saindo da maternidade com a Beatriz

maio 1992 na frente prédio Rua Vitor Meireles

Em frente ao prédio no Riachuelo

EM CAMPINAS NA CASA DA JÚLIA

beatriz em campinas 1992

Beatriz

Gabriel em Campinas 1992

Gabriel

Júlia com Ana Raquel e as mangas ubás 1992

Júlia, Ana Raquel e as mangas…

D. Laurinha e Dulce na casa da Júlia em Campinas 1992

Mamãe e Dulce

D. Laurinha, Dulce, Goretti, Gabriel e Daniel na casa da Júlia

OUTROS LOCAIS

Natal na casa do Zé e Solange

Natal na casa do José Reinaldo e Solange

D. Orita

Dona Orita, mãe da Solange

Associação CEF 1991

Na Associação da CEF em Juiz de Fora

FAMÍLIA DO LUIS AUGUSTO

Ana Cláudia 25 fev 1979

Ana Cláudia, 25/02/1979

Goretti de Ana Cláudia fev 1979

Goretti a Ana Cláudia

Lucilia e D. Ivone com Ana Cláudia 1979 fev

Lucília e D. Ivone com Ana Cláudia

Lucília, Goretti com Ana Cláudia e Lizote fev 1979

Papai, Goretti com Ana Cláudia e Lucília

Luiz Augusto de Ana Cláudia 1979

Luis Augusto e Ana Cláudia

casamento ana cláudia e bene

Casamento da Ana Cláudia

SÉRIE DE FOTOGRAFIAS DO ACERVO DO LUIS AUGUSTO CASULARI ROXO DA MOTTA

4 serie desfile

Desfile da 4 série do Ginásio Santo Antonio, São Geraldo, 1963 – hoje seria chamada de 8 série

Turma da quarta serie 7-9-1963 e desfile

Desfile da 4 série do Ginásio Santo Antonio, São Geraldo, 1963 – hoje seria chamada de 8 série

Assinaturas no verso da foto turma 1963

Assinatura dos alunos no verso da fotografia acima

Carnaval São Geraldo - 1973 - 1

Carnaval em São Geraldo 1973 – LuizAugusto de bigode, na frente

LA vestibular 1

Luis Augusto aprovado no vestibular da UFJF 1973

LA vestibular

Luis Augusto ao centro, os outros não sei o nome

Carnaval São Geraldo 1973 - Lenita, eu e a sua tia

Carnaval de 1973, Luis Augusto e Lenita, a outra moça não sei o nome

Dora água na bica

A  prima Dora, filha de Manoel Roxo da Motta, tomando água na bica, 1973

conjunto do Ary

Conjunto do Ary de Oliveira, no violão, a direita o irmão dele Marcos de Oliveira,

bateria José Carlos, o outro não me lembro.jogo de botão

Jogo de botão

Seminario 1

Time de futebol do Seminário de Leopoldina onde estudou o Antonio Carlos

Roxo da Motta. 1963

Seminario 1963seminario futebol

SeminarioSeminario padre

Ainda o Seminário de Leopoldina

Aniversario da Clara

Aniversário da Clara, filha da Júlia Paula, agosto de 2004,

de pé Luis Augusto, a primeira a esquerda é a Júlia Paula.

defesa de tese julia

Defesa de Tese da Júlia Maria Casulari Roxo da Motta, em Campinas.

defesa de teses da julia cafe

Defesa de Teses da Júlia: Luis Augusto de pé, abaixo dele Regina, sentado em frente Dora e seu marido, com blusa branca, Lucília e de costas a Maria do Carmo, (Cacau)

Viçosa desfile Julia

Desfile de 7 de setembro do Colégio Nossa Senhora do Carmo, Viçosa, MG

Júlia estudou lá.

tia Ena

Nossa querida tia Ena Roxo da Motta – julho de 2004

FOTOS DO ACERVO DE LUIS AUGUSTO CASULARI ROXO DA MOTTA

casa da tia Lia chupando cana

Casa da Tia Lia Roxo da Motta em São Geraldo, esta casa ainda existe.

Todos são primos entre si.

A data da foto deve 1949 – da direita para a esquerda: Luis Carlos, filho da Lia,

sentada ao lado, Júlia Maria, filha de Diniz e Eunice, uma moça que trabalhava na casa,

Júlia, filha da Lia, Júlia, de laço no cabelo, filha de Luiz e Laura, minha irmã. depois Regina (eu) e de pé Carlos (Carlinhos), filho de Diniz e Eunice

casa tia lia JF

Casa da Tia Lia em Juiz de Fora, Rua Dr. Vilaça 33

Década de 1950 – Crianças em pé na calçada: da direita

para esquerda: João Lúcio, Antonio Carlos, Luis Carlos, Regina,

Luis Augusto, Júlia e Julinha (Júlia Sales). As pessoas

da varanda não consigo distinguir. A de cabelos brancos é a

Tia Deolinda Cardoso, “vovó titia”, como a chamávamos.

Esta casa ainda existe em Juiz de Fora.

familia salles e roxo motta

Não consigo identificar todos. A direita, Laura, minha mãe, tendo

Júlia ao colo. Tio Antonio Sales com uma filha que pode ser a Júlia,

a senhora de blusa preta me parece a Carolina, irmã do Tio Sales, a menina

de pé, na frente dele poderia ser eu, Regina.alto da serra

Luis Augusto no alto da Serra de São Geraldo.

Clube.

Luis Augusto e amigos na porta do Clube de São Geraldo, s.d.

familia da Re

Família – criança encostada na parede é a Aparecida,

de pé, ao lado, Regina, sentada com bebê no colo, Júlia, abaixado. de branco, Luis Augusto, a esquerda Ary, de pé atrás a criança é o Marcelo, de pé com gola preta no vestido, Goretti, e Laura, nossa mãe

Formatura LA

Missa de Formatura do Dr. Luis Augusto Casulari Roxo da Motta, ao lado a Lucília Domingues, hoje sua esposa, também médica. 1974

Julia com Gracinha Viçosa.j

Júlia coma amiga Gracinha no Colégio Nossa Senhora do Carmo Viçosa

Colegio de Viçosa

Desfile de 7 de setembro do Colégio Nossa Senhora do Carmo Viçosa

29 – MUDANÇA PARA JUIZ DE FORA

Datas eu não sei, deixo para os que souberem e quiserem completar estas lembranças!

Sei que 1967, quando a Daniela nasceu e em 1969, quando a Regininha nasceu, eles ainda moravam em Ponte Nova.

Segundo informações da Conceição, eles se mudaram em 1968.

Quando os meninos mais velhos terminaram o segundo grau, época de fazerem o vestibular, a mudança para Juiz de Fora aconteceu. Papai conseguiu transferência para a Receita Federal e a mamãe decidiu que não queria mais dar aulas e pediu demissão.

Ela dizia que foi a história da Matemática Moderna, do “Conjunto Vazio”, que a ajudou a decidir-se. Poderia ter conseguido uma transferência para Bicas, onde havia uma escola ferroviária, mas já estava cansada!

Foram morar em uma casa antiga, na Rua São Mateus, quase esquina com a Dr Romualdo. Aí já estavam todos adolescentes e adultos.

Nesta época, ainda sobre o domínio do Golpe de 64, os meninos começaram a se engajar em política e o papai ficava temeroso das possíveis consequências. Uma vez, não sei qual deles, mandou fazer uma faixa escrita MDB e colocou na frente da casa. Muito sábio, o papai ao invés de criar caso, mandou fazer uma faixa ARENA e pendurou ao lado da outra.

casa_rua_São_Mateus_156_JF

Conceição, Antonio Carlos e Cacau, Papai

DEPOIMENTO DO JOSÉ REINALDO SOBRE AS FAIXAS POLÍTICAS

Ré, belíssima memorialística conduzida por você, com a colaboração da Júlia, da Goretti, da turma do tio Neneo, de todos, enfim, até de quem, como eu, não mandou mais colaboração, pois pode ter certeza que torcemos muito para o projeto caminhar.

Como acho que ainda está em tempo de complementar o roteiro desenhado por você, esclareço a questão da faixa política na casa de S. Mateus. Na campanha de 1978, numa reunião, sem pensar muito autorizei que um candidato de oposição ao governo colocasse uma faixa de propaganda na parede externa. Quando foram lá eu não estava, mas como eles mostraram ao papai a autorização, ele consentiu. Só que depois ele mandou fazer, por conta própria, uma faixa do candidato dele, de outro partido, e colocou junto da do meu. Ficava claro para os da rua que naquela casa não havia só quem apoiasse o partido da oposição.

Mais uma lição do Lizote: aprendi que a “casa não era minha”, isto é, que ali moravam outras pessoas, que eu não podia decidir algumas coisas sozinho etc e tal. Isso sem ele brigar comigo, sem fazer até um justo sermão: uma manhã, quando acordei, ele me levou pra ver as duas faixas – e dando a maior risada…

Fiquei em São Geraldo, já casada e depois me mudei para Bicas, que era perto e, portanto, estava sempre por lá.

A casa era uma festa, sempre cheia de jovens, amigos de uns e de outros. Aos domingos, a moçada de São Geraldo que morava em Juiz de Fora para estudar, aparecia lá para “filar” o almoço porque o Restaurante Universitário não funcionava neste dia.

São Mateus

Única fotografia que eu tenho!

tartaruga

A tartaruga do quintal, que na verdade era um cágado macho, com a Júlia Paula e Sérgio Ricardo (Tuca). Depois tivemos que levá-la para o Parque Mariano Procópio porque ela fugia para a rua.

A casa tinha um quintalzinho e um cômodo nos fundos. No quintal o papai plantava horta e os netos, quando íamos lá, brincavam de Escolinha, a Daniela sempre era a professora!

Uma vizinha que morava sozinha e havia sido professora, ouvia as aulas da Daniela e dizia pra mamãe: Esta menina nasceu professora!

No Natal, a Júlia vinha com os filhos e era uma festa, os meus e os dela! Às vezes saia alguma briguinha, mas a brincadeira era maior.

Tia Ena estava sempre lá, Tia Fiuta, amiga da mamãe de São Geraldo, morava perto, Dona Delizete, outra amiga da mamãe, sempre aparecia e Dona Magdá, de quem a mamãe havia sido babá, também vinha sempre.

Era uma casa velha, grande, e no quintal houve uma tartaruga (ou cágado, não sei!). Como chegou lá, não me lembro, mas sei que levamos para o parque do Museu Mariano Procópio porque o bichinho fugia quando encontrava o portão aberto.

Mamãe queria muito que comprassem uma casa. Quando começaram a urbanização do Bairro Cascatinha, ela insistiu com o papai que fossem lá ver uma casa para comprar. Ele foi e perguntou ao corretor quantos anos a casa teria de garantia. Quando ouviu que seriam 5 anos, desistiu, dizendo que 5 anos é garantia de geladeira!

Muito mais tarde compraram a casa do Monte Castelo onde viveram até o final de suas vidas.

avião Projeto Rondon

Goretti no avião do Projeto Rondon, que o papai cita em uma de suas cartas!

FOTOS NA CASA DE SÃO MATEUS

NATAL DE 1978

Cacau e Antonio Carlos natal 1978

Antonio Carlos e Cacau

Ari no Natal 1978

Regininha, Ary, Gorettti

Daniela, Regina e mamãe natal 1978

Daniela, Regina (eu), Mamãe

dani, regininha e marcelo

Daniela, Regininha, Marcelo, atrás a Goretti e o amigo Ricardo

Mamãe Natal 1978

Mamãe

Papai natal 1978

Papai, Goretti e Ricardo!

Regininha e Dani no natal 1978

Regininha e Daniela

Juninho natal 1978

Juninho, Natal de 1978

Juninho no natal 1978

Juninho, Natal de 1978

Antonio Carlos e Juçara natal 1978

Antonio Carlos e Juçara, amiga da família, Natal de 1978

arrumados para o casamento do Luiz Augusto 17 dez 1976_0002

Todos arrumadinhos para o casamento do Luis Augusto! Direita Marcelo, Júlia Paula, Daniela, Regininha, Tuca (Sérgio Ricardo)

D. Laurinha curtia um jornal!

Mamãe curtindo o jornal!

Sobre jornal, me lembrei de uma história! Papai comprava o jornal todos os domingos e eram muitos leitores para um jornal só! Cada um pegava uma folha e depois era o troca troca. Os lugares nas poltronas também não eram suficientes para todos. Aí havia uma disputa… Lembro-me do Zé Reinaldo chegar na sala e dizer: Luis Augusto, telefone para você! Ele saia para atender o telefone que ficava em outra sala, não havia ligação nenhuma e quando voltava, já havia perdido o lugar!…Formatura Goretti (abraçando Tia Ruth e mamãe ao fundo) dez 1976

Formatura da Goretti

D. Magdá!

Esquerda: Eu, Dona Magdá (grande amiga da mamãe, Goretti e Vermelho – casa da Júlia em Campinas.

MUDANÇA PARA O BAIRRO  MONTE CASTELO

A compra da casa foi uma grande alegria para a mamãe! Era uma casa novinha, como nunca tinha tido ou morado.

Havia um jardinzinho na frente, uma garagem que servia de varanda e onde ela cultivava seus vasos, samambaias enormes, tudo muito bonito. Ela dizia que as pessoas do bairro só começaram a plantar vasos e jardins depois de verem os seus!

Outra invenção dela no bairro foi ornamentar a rua para o procissão de Corpus Christi. Ficava entusiasmada e punha toda a vizinhança para ajudar! Não sei se ainda fazem isto lá!

preparando a rua

Preparando a rua para a procissão! Toda vizinhança se envolvia!

rua monte castelo

A menininha de blusa branca é a Carolina

rua monte castelo 1

altar

Papai  e o altar na porta de casa

Fazia também novenas em casa e convidava as crianças da vizinhança para coroarem Nossa Senhora.

Já o quintalzinho e a horta eram o reino do papai! De todas as frutas que comíamos ele recolhia as sementes e fazia mudas em saquinhos de leite que eram usados para cercar os canteiros de verduras.

quintal 1

quintal 2

quintal

Quando os netos chegavam, sua horta sofria! Eles adoravam brincar lá, na terra e papai não se importava. Um vez o Guilherme estava furando um buraco lá e o papai perguntou o que ele estava fazendo. Disse que estava furando para chegar do outro lado do mundo, lá no Japão!

Depois não tinha onde plantá-las e distribuía a quem quisesse, que não eram muitos! Então resolveu plantá-las no quintal da creche do bairro. Arranjou uns ajudantes que, segundo a mamãe, exploravam dele, e iam para a creche plantar. Chegou a fazer um belo pomar lá!

Uma vez sofreu um acidente descendo a escada da creche, foi apoiar se no muro e este caiu sobre a sua mão, quebrando-a, o que deixou uma sequela.

A comemoração de Natal era pensada e planejada com grande antecedência. O cardápio do dia era fonte de preocupações da mamãe e de muitas idas ao mercado para comprar tudo!

Natal 83 1

Natal de 1983

Natal 83

natal 2

Este Natal eu não sei a data!

natal 1

No Monte Castelo já sem a mamãe 1999 (1)

Este Natal foi em 1999, mamãe e papai já não eram vivos, mas eu morava na casa que tinha sido deles e comemoramos o Natal. Tia Ena, de cabeça branquinha, estava conosco e representava os dois.

No Monte Castelo já sem a mamãe 1999 (2)

Natal 1999

No Monte Castelo já sem a mamãe 1999 (3)

Natal 1999 – Lúcia da tia Ena, Tia Ena de costas, Goretti, José Reinaldo, Solange e de pé sou eu, Regina

No Monte Castelo todas as mocinhas elegantes!

As mocinhas elegantes!!!

goretti,conceição, julia, antonio carlos e josé reinaldo

Esquerda Goretti, Conceição, Júlia, Antonio Carlos, José Reinaldo, casa da Júlia em Campinas

Juiz de Fora Monte Castelo 1991

1991 – Luis Augusto, Mamãe, Goretti com Beatriz no colo e Gabriel

Varanda Monte Castelo 1989

Natal de 1989

Vermelho e Goretti no dia do casamento com sobrinhos 1981

Goretti e Vermelho no dia do casamento. Na direita Júlia Paula com um bebê no colo (será a Flávia?) Tuca (Sérgio Ricardo, na frente da Goretti é a ana Raquel e ao lado a Regininha, o garoto a esquerda deve ser vizinho.

Os presentes também eram uma preocupação. Eu saia com ela e rodávamos o comércio, comprava presentes para todo mundo. Chegava em casa e começava a pensar que fulano não ia gostar disso e voltávamos novamente para comprar outra coisa.

Papai vinha da cidade com a sua inseparável bolsa trazendo o queijo palmira, e mais balas e mais doces…E castanhas para cozinhar que a mamãe gostava.

Começavam a chegar os  filhos e netos e a casa se enchia, dormiam pelo chão, em colchões e tudo era festa. Era um tempo de maior simplicidade, hoje não sei se seria assim…

Cesar e Vovó Laura com Beatriz out 1984

César e Vovó Laura com Beatriz

Beatriz e primos Monte Castelo 1984

Goretti com Beatriz no colo. Na direita César, as duas meninas são sobrinhas da Juçara, Laura e Eloise , Carolina Flávia e Daniel

Ana Raquel em Monte Castelo 1989

Ana Raquel

Beatriz e Gabriel em Monte Castelo 1989

Beatriz e Gabriel

Daniel e Cesar - Monte Castelo 1989

Daniel e César limpando um carro…

flavia carol e dani 1982 no monte castelo

Daniela atrás, na direita Carolina e Flávia 1982

Flávia e Carol dentro do guarda roupa da vó Laura 1982

Flávia e Carolina dentro do guarda-roupas da vovó!!!

Flávia em Monte Castelo 1989

Flávia fazendo pose!! 1984

flavia preparada por ela mesma 1984 Monte Castelo

Flávia preparada por ela mesma!!!

Vó Laura e netos no Monte Castelo fev 1997

Vó Laura e netos

Gabriel com o presépio da mamãe 1991

Gabriel com o presépio, em 1991

passeio com vovô 1

passeio com vovô 2

passeio com vovô

varanda

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Flores colhidas no jardim da mamãe

Papai reunia a meninada e os levava para passear pelo morro, onde havia uma cachoeirinha. Voltavam molhados, sujos e na maior alegria… Temos algumas fotos destes passeios e deste tempo tão bom!

Comunicação do nascimento da Ana Raquel, filha da Júlia, minha irmã

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Carta da Flávia para a prima Ana Claudia, filha do Luis Augusto, meu irmão.

carta flavia ana claudia

“Deixamos algo de nós para trás ao deixar um lugar: permanecemos lá, apesar de termos partido. Há coisas em nós que só reencontraremos ao voltar. Viajamos ao nosso encontro quando vamos a um lugar aonde vivemos parte de nossa vida, por mais breve que tenha sido”.

 Da novela “Trem Noturno para Lisboa”, de Pascal Mercier

28 – Mudança para o Morro da Estação e outras casas

Fomos morar em uma casa no morro da estação, mas ficamos lá por pouco tempo. Desta casa não tenho fotos.

A Conceição devia ter 1 ano, mais ou menos. Eu já estava fazendo o curso de admissão que era necessário para entrar no ginásio. Mamãe dava aulas de manhã e minhas aulas começavam no segundo turno às 11 horas. Por falta de salas, a escola funcionava em 3 turnos.

Ficamos sem empregada. Eu fazia o almoço no fogão de lenha, colocando um banco para subir e alcançá-lo. Dava almoço aos meninos e pegava a Ção e ia com ela pelo caminho até encontrar a mamãe que voltava para casa. Antes de sair, punha os meninos para fora de casa e trancava a porta. Ela tinha medo que eles brincassem com fogo!

Os meninos brincavam de pique à noite e iam se esconder no cemitério que ficava logo acima.

Desta casa, mudamos logo para uma acima da praça de Santo Antônio, a última casa da rua na subida que levava ao sítio da Luzia Rocha. Uma casa velha, feia, que está lá até hoje, parece que desabitada.

São Geraldo 023

Hoje está uma casa velha abandonada. Moramos aí por um tempo curto

Deste lugar só tenho uma lembrança: Havia uma vizinha que não tinha filhos. Ela gostava muito da Júlia que sempre a visitava. Esta mulher, que não me lembro o nome, suicidou-se com formicida. Foi uma coisa que me impressionou muito!

Também não foi por muito tempo, de lá mudamos para outra mais abaixo, mais próxima da praça de Santo Antônio, e foi nesta que o José Reinaldo nasceu.

casa onde ze nasceu

Esta foto foi feita em 2016, quando fomos lá em São Geraldo em comemoração ao centenário da mamãe. A casa continua a mesma!

praça santo antonio

A Praça Santo Antonio hoje. Na época era um campo sem nada. Os moleques jogavam  bola. Quando vinha circo para a cidade era lá que ficavam. Ciganos também!

igreja 1

A Igreja de Santo Antônio atual. Na época não havia.

Me lembro te ter visto aí uma apresentação de “Cavalhada”, um grupo folclórico que representava a luta entre mouros e cristãos. Eram cavaleiros fantasiados, os mouros vestidos de vermelho e os cristãos de azul. Simulavam uma luta com grandes varas nas mãos. Nunca mais vi isto em São Geraldo.

Nascimento do José Reinaldo

Acordamos de madrugada com o movimento da casa, o Dr. Celso foi chamado (nesta época já tínhamos médico em São Geraldo) e, depois de ver o menino que achamos feio demais, fui andar de bicicleta pela rua com o dia amanhecendo. Tínhamos só uma bicicleta para todos e cada dia da semana era reservado para um. E este era o meu dia!

Diziam que o Dr. Celso, que fez o parto, respondeu, quando eu disse: Nossa! Que menino feio!

– Não se preocupe, uma Dona Laura ele sempre vai arrumar para casar!

José Reinaldo teve problemas de saúde enquanto bebê, mamãe levou-o ao médico em Juiz de Fora que receitou que tomasse leite desnatado, o que não havia na época. Então o leite era colocado em uma garrafa e precisávamos sacudí-la por muito tempo para que a gordura formasse uma nata, que era retirada e aproveitada depois para fazer biscoitos.

A PROMESSA

Por esta época aconteceram histórias memoráveis:

Mamãe estava na escola, o Luís Augusto juntou-se com um amigo e resolveram ir até a uma gruta que há na serra, a gruta do índio, que despertava curiosidade em todos nós: diziam que lá vivia um índio, o último daquela região.

De repente, caiu uma tempestade tremenda, com raios e trovões e, como sempre acontecia, as aulas terminaram mais cedo, mamãe chegou em casa e tive que contar onde ele havia ido. Ela se desesperou, o papai chegou também e saíram os dois de guarda-chuva em punho para procurá-lo.

Para chegar na serra teriam que atravessar o rio que era raso mas, quando chovia, ficava cheio. Júlia e eu começamos a rezar e fizemos uma promessa: Se ele não morresse, ficaríamos por um mês sem ir à matinê de domingo no cinema! E era um sacrifício tremendo, era a única diversão que tínhamos, passávamos a semana inteira juntando moedinhas e esperando o domingo. Além do filme, o mais importante mesmo era a série que passava ao final. Havia séries de faroeste e do Tarzan que era a nossa preferida.

Quando eles chegaram foi um alívio. Mas, no domingo, o Luís Augusto dançava na nossa frente: Vou à matinê!!  Vou à matinê, eu não fiz promessa!

Aí não tinha jeito: A Júlia segurava e eu batia, e ele nem se importava, o que era pior! E nós cumprimos a promessa até o fim.

Outra peripécia dessa época:

ASSASSINATO DO FRANGO!

Antes de sair para a escola, Mamãe me disse que a Tia Fiuta, uma grande amiga dela que até chamávamos de Tia, viria almoçar e, como a empregada Sá Ritinha, não havia aparecido, eu devia fazer o almoço. Para isto, devia matar um frango que era do Luís Augusto, presente da vovó Maria em seu aniversário.

– Mãe, eu não sei matar frango!!

– Você já viu a Sá Ritinha matar, então faça igual.

Fomos eu e Júlia correr atrás do frango, solto no quintal, debaixo de chuva. Conseguimos pegá-lo e fiz o que vi fazer: Pisei nas asas e passei a faca no pescoço do coitado. Ele se debateu, não consegui segurar e saiu pulando pelo quintal com o pescoço caído e sangrando.

Chega o Luís Augusto, pega o frango ensanguentado e sai correndo para levá-lo até a farmácia, chorando e gritando: -Assassinas! Vocês mataram o meu frango!

E nós correndo atrás dele. Como éramos duas, conseguimos tomar o frango que, a essa altura, já estava morto e voltamos para casa.

E tirar as penas do frango? Mergulhei-o na água quente, mas como já tinha se molhado todo não conseguia, tive que tirar a pele toda. E partir os pedaços??? Meu Deus, nem sei que almoço foi aquele que fiz!

Vou me recordando das histórias da infância…

As fugidas dos meninos para nadar no rio sempre aconteceram e, depois, para piorar, começaram a ir nadar numa lagoa de um sítio, distante da cidade: A lagoa do Antenor.

Uma vez eles haviam ido pra lá, mamãe ficou sabendo e saiu desesperada, junto com a Tia Alzira, para buscá-los. Estava na estrada e tiveram que se afastar para a margem para dar passagem a um caminhão de cana, que corria em meio ao poeirão. Quando elas olharam atrás do caminhão viram os dois pendurados na rabeira do mesmo.

Acho que foi desta vez que o papai deu uma surra neles e o Antonio Carlos, depois, fugiu de casa, entrando na carroceria de um caminhão que estava parado. Foi até Rio Branco, quando o caminhoneiro o descobriu e quando soube de quem era filho, retornou com ele para São Geraldo.

José Reinaldo era bem pequeno, devia ter uns quatro anos, estávamos no quintal e passou um avião, coisa raríssima por lá. Então ele gritou:

– Ô avião, tráz um neném pra nós!

Fiquei bravíssima com ele!

– Deus me livre de mais neném nesta casa!

Conceição sofria com muita alergia, ficava com a pele irritada, vermelha. Mamãe usava uma pomada e, para que não grudasse nos lençóis, usava uma folha de bananeira, amolecida e esterilizada no fogo do fogão à lenha, para forrar a cama onde ela dormia.

Ainda morávamos nesta casa, quando fui pra Viçosa estudar interna no colégio Nossa Senhora do Carmo, por ajuda da Tia Rachel que era freira lá, professora de Português. Não fora ela, não teria conseguido estudar, além da quarta série primária. São Geraldo não tinha ginásio e pagar o Colégio interno seria impossível!

Por obra da Tia Rachel também o papai foi nomeado Coletor Federal em São Geraldo, com a criação da Coletoria lá. Ela tinha uma aluna cujo pai era deputado ou alguma coisa assim e através do pedido dela, saiu a nomeação no Diário Oficial.

Ele relutou em aceitar, dizia que não queria ser funcionário público de jeito nenhum. E perdeu a data da posse! Pois a Tia Rachel tanto fez que conseguiu que ele tomasse posse depois.

A vida começou a melhorar e conseguiram comprar a casa onde moramos no final da estadia em São Geraldo, na Rua 21 de Abril, ao lado do Clube Philarmônica Scipião Rocha.

Com a criação da Escola dos Ferroviários, mamãe foi convidada a dar aulas lá. O salário era muito melhor do que o do Grupo Escolar, mas o papai não queria de jeito nenhum que ela aceitasse.

Com muito custo ele acabou cedendo e ela acumulou as duas escolas por um tempo, até que se aposentou no Grupo.

Nesta casa, que era bem grande, vivemos bem melhor. E muitas histórias aconteceram.

A NOSSA CASA DA RUA 21 DE ABRIL

ultima casa

rua em frente

Rua 21 de Abril, em frente a nossa casa, foto mais antiga. Do lado direito a casa com varanda era da D. Maninha, onde está o caminhão era uma farmácia, agora esqueci o nome do dono, só me lembro que tinha um filho chamado Hitler, do lado direito, a casa com o carro branco em frente era da família Fois.

Regininha casa 21 de abril

Regininha, com 1 ano, na entrada da casa, em frente a casa da Dona Lourdes

Regininha e goretti 21 de abril

Regininha e Goretti

A casa não tinha esta pintura rosa. Era cinza, chapiscada. Também não tinha esta cobertura. Nesta ruazinha do lado havia poucas casas e mais nada, um pasto. Mais tarde foi construído o Ginásio Santo Antonio.

o clube

O Clube em azul e a casa está pintada de rosa. Não sei se ainda funciona como clube

Era uma casa bem grande, com um quintal onde havia uma outra casinha, de um único cômodo, que ficou sendo chamada de Jardim da Infância porque, por um breve período, lá funcionou um jardim de infância particular, não me lembro de quem era a professora.

Logo que mudamos, ficamos alojados nesta casinha para que a casa grande fosse pintada e fossem feitos alguns reparos.

Em uma época que o Grupo Escolar foi reformado, esta casinha também abrigou sala de aula. As outras classes ficaram na casa em frente da nossa.

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Goretti, Conceição e José Reinaldo no quintal

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Brincadeira no quintal – José Reinaldo, Goretti e Luis Augusto

segundo ano

Goretti no segundo ano do Grupo Escolar, a terceira da direita para a esquerda, um pé de sapato e outro de chinelo!!

Luiz Augusto no Grupo Escolar:

Era uma briga da mamãe com ele! Fugia da escola para jogar bola num campinho a beira do rio. Chegava em casa e a mamãe fiscalizava o pé dele, se tivesse areia, ela já sabia de onde era e o castigo era certo!

Ele dizia que queria ser jogador de futebol e, para isso, já sabia muito: sabia ler e assinar cheques!

Mamãe trabalhando muito, ainda se preocupava em tomar o “ponto dele”!

– Meu filho, qual é a matéria da prova?

– Região Nordeste.

E toca ela a fazer perguntas que ele respondia direitinho. Depois ela descobriu que a prova da Região Nordeste já tinha passado há muito tempo! Ele só sabia esta!

Depois chegou a vez do José Reinaldo:

Mamãe trabalhando e a empregada o levava para a escola, ia arrastado, com as pernas duras, sem mudar o passo, fazendo uma trilha pela poeira da rua. E costumava fugir e voltar pra casa!

O Salvador, meu primo, lembrou-se do apelido do José Reinaldo: Zé quiabo, porque escorregava de todo jeito para não ir para a escola!

MAMÃE COMUNISTA!!!!!!

Mamãe aposentou-se no Grupo e continuou a dar aulas na escola dos ferroviários.

Houve um problema lá na escola e a diretora, D. Tute, foi afastada. Em seu lugar deveria ficar a vice- diretora D. Terezinha Santini, que estava grávida de um filho temporão, os outros já crescidos. Então ela pediu à mamãe que ficasse na direção até o bebê nascer, porque iria licenciar-se por um tempo, não queria se expor grávida.

Para ajudá-la, mamãe aceitou.

Aconteceu a Revolução de 1964. A escola havia sido criada pelo Sindicato dos Ferroviários, muito forte na época anterior. Com a Revolução, o Sindicato foi extinto, vários membros da Diretoria foram presos, outros se exilaram. A consequência desta história veio parar em São Geraldo.

Mamãe foi taxada de Diretora Comunista, demitiram-na do cargo e instauraram um IPM no Rio de Janeiro, onde ela teve que comparecer para responder ao processo.

Foi acompanhada por várias autoridades da cidade, que testemunharam em seu favor. Como castigo, foi transferida para Ponte Nova, para onde se mudou com os filhos, deixando o papai em São Geraldo, por causa da Coletoria. Ele ficou morando comigo na casa que era deles.

Eu já era casada e a Júlia ficou comigo por um ano, até terminar seu Curso Normal em Visconde do Rio Branco.

A PRISÃO DOS COMUNISTAS!

A Revolução de 64 também causou outra interferência na família que poderia ter sido muito séria e mudar a vida dos irmãos.

Luis Augusto e Antonio Carlos passaram no vestibular da UFJF e, já morando em Juiz de Fora, vieram passar o Carnaval em minha casa, em São Geraldo para comemorarem.

O carnaval de São Geraldo era famoso, blocos pela rua e praça o dia todo, e um grande baile no clube à noite. Os blocos paravam nas casas e puxavam os moradores para a rua. Se não fossem, pelo menos serviam alguma bebida para os foliões.

Fazendo um parêntesis neste “causo”, lembrei-me de um carnaval em que a Julinha da tia Lia veio com o Hilberto, seu noivo, passar o carnaval lá em casa. O Hilberto caiu na farra o dia todo e me disse: – Isto aqui é um paraíso!

Mas, voltando ao assunto: Na terça-feira de carnaval, pela manhã, o Antonio Carlos, sem camisa, pediu que eu escrevesse em suas costas os nomes admirados por ele e perseguidos pela “Redentora”. Com batom escrevi o que me pediu: Che Guevara, Fidel Castro, Mao Tse Tung!

Saiu de casa, entrou num bloco e sumiu. De tardinha, fui dar uma volta na praça com o Marcelo ainda bebezinho e alguém me disse que havia visto o sargento levando o Antonio Carlos para o lado da cadeia.

Imaginei que ele devia estar bêbado e ter feito alguma inconveniência, mexido com mulher dos outros, qualquer bobagem!

Fui pra casa e pedi ao Ary que fosse lá na Delegacia e dissesse que eles poderiam soltá-lo que eu me responsabilizaria e não deixaria que saísse mais. Volta o Ary me dizendo que o sargento disse que ele estava preso por subversão, que tinha sido uma denúncia e estava incomunicável, esperando a chegada do Capitão, que viria de Rio Branco com escolta, para levá-lo para Juiz de Fora, ao Quartel do Exército.

O Luis Augusto, que estava na casa de uma namoradinha, ficou sabendo e foi até lá. O sargento explicou que era por causa dos nomes escritos nas costas. Então, o “heroico” irmão disse que ele é quem havia escrito os tais nomes, que soltasse o irmão preso e ele ficaria em seu lugar!

O sargento prendeu os dois até a chegada do capitão. A esta altura, a cidade já sabia das prisões e os moradores começaram a se aglomerar sobre a linha de trem que ficava na frente da cadeia, com paus e pedras, ameaçando que, se fizessem qualquer coisa com os meninos, eles iriam quebrar tudo!

Na época, havia a história do Dops e dos espiões em toda parte, vigiavam a todo mundo e denunciavam os “comunistas”! Dizia-se que o João Torrent, “João Vassourão”, um filho da cidade que, há tempos fora para o Rio de Janeiro e voltara depois de 64 para a cidade, era do Dops. Devia ser mesmo, porque foi a única pessoa que o sargento deixou entrar na cadeia.

Ele disse aos meninos que a prova do crime eram os nomes escritos nas costas, então que dessem um jeito de apagá-los. Como não havia água no cômodo em que estavam presos, tiveram que usar a própria urina para desfazer a prova!

Não havia telefone em casa, sai desesperada e fui ao Centro Telefônico pedir uma ligação para Juiz de Fora, para a casa da Tia Ena para que ela avisasse ao papai do que estava acontecendo e pedir que ele viesse para São Geraldo.

Chega, então, o capitão em uma caminhonete cheia de soldados, com  armas de cano longo. Dois deles ficaram na porta de minha casa, onde as vizinhas já estavam, com velas acesas e rezando o terço, morrendo de medo do que poderia acontecer. Se levassem os dois para Juiz de Fora, adeus faculdade! Não poderiam se matricular com ficha suja por subversão.

A multidão na porta da cadeia só crescia e estava cada vez mais exaltada. O capitão, chamado Ilo, não me lembro o sobrenome, conversa com os meninos. Ao saber de quem eles eram filhos, a história mudou. São filhos do Lizote? Então não podemos levar esta acusação a sério! Ele não permitiria nunca que filhos seus fossem comunistas!

Vamos sair agora, vamos para o Clube para começarem o baile, não aconteceu nada aqui!

O Antônio Carlos pediu para ir pra casa, estava imundo e fedorento! Mas ele foi inflexível. Temos que entrar no Clube e todos verão que foi um engano! E assim foi feito.

Saíram na frente e o povo atrás, como uma procissão! E o baile começou, graças a Deus!

Nunca soubemos de quem foi a tal denúncia, há uma desconfiança, mas nada concreto.

A HISTÓRIA DA APARECIDA

Esta é a história da menina que o José Reinaldo narrou que não queria que ficasse lá em casa, no capítulo sobre o papai. Ele era o caçulinha mimado e era natural que não quisesse “concorrente”!

Tanto a mamãe quanto o papai gostavam de ajudar às pessoas. Havia sempre alguém a nossa porta pedindo ajuda ou conselho.

Havia uma senhora, com quatro filhos pequenos, inclusive um bebê, que sempre vinha lá em casa. Mamãe dava mantimentos, dinheiro, sempre ajudando.

Um dia vieram avisar que esta senhora havia falecido. Os vizinhos encontraram-na morta na cama com o bebê do lado. Imediatamente a mamãe foi para a casa dela, que ficava no morro do Querosene, em frente ao campo, onde hoje é a Praça de Santo Antonio. Era um morro cheio de casebres, onde não havia eletricidade, daí o nome.

Chegando lá, uma das filhas, uma menina de uns 4 anos, correu para perto da mamãe dizendo que ela era sua madrinha. Ai não teve jeito, a mamãe a trouxe para casa. As outras crianças foram distribuídas por várias casas e não faço a menor idéia de quem as adotou.

Como a menina não tinha qualquer documento, providenciaram um registro para ela. E ficamos com a Aparecida em casa!

A família mudou-se para Ponte Nova, depois Juiz de Fora, e a Aparecida junto, como filha mesmo.

Ela não gostava de estudar, foi matriculada em um Grupo em Juiz de Fora, mas não ficou. Depois a mamãe conseguiu um Colégio interno de freiras para ela em Juiz de Fora, onde também ela não conseguiu ficar.

Já estava mocinha quando o Salvador e a Gracinha, primos de Brasília, pediram que ela fosse para lá, para tomar conta de seus dois filhos, ainda crianças, porque os pais trabalhavam o dia todo.

Lá foi a Aparecida que ajudou a eles por vários anos. Depois ela se casou, mudou-se para o Rio de Janeiro. Quando teve uma filha mandou uma foto do batizado para a mamãe. Depois não tivemos mais notícia.

Há pouco tempo ela entrou em contato com a Goretti, querendo descobrir informações sobre os irmãos, que, infelizmente não temos. A Goretti mandou esta foto para ela.

Aparecida

Aparecida e Marcelo, meu filho, na casa da Rua São Mateus em Juiz de Fora

Atrás da capela o Morro do Querosene, foto mais recente. Na época não havia a capela. Este campo em frente hoje é uma praça urbanizada.

batizado

Batizado da filha da Aparecida, ela mandou esta foto para a mamãe, não tenho a data.

Agora, ela nos surpreendeu com estas palavras sobre a mamãe que nos deixou muito comovidas!

DEPOIMENTO DA APARECIDA

“Obrigada, estou muito emocionada. Me lembrei que sua mãe fez meu aniversário, acho que de 8 anos, e fez um bolo que era em forma de coelho. Ela tinha uma foto deste dia”.

“lembrei que fiquei num internato e sua mãe foi me buscar, tinha o Padre Aristides e madre Clara.  Me lembro do Marcelo, da Daniela e da Regininha. Me lembro quando você arrumava meu cabelo com fitas para ir domingo na missa com a madrinha (Laura) . Era numa igreja que tinha uma gruta com a N. S. Aparecida. Foi ela que me deu este nome. Ela me ensinou a ler e a escrever. Se sou o que sou devo a ela que me ensinou coisas boas. Que saudade daquela casa cheia de gente, da vitrola tocando Chico Buarque.”

“Você se lembra quando a gente foi num piquenique numa Rural (acho que foi em São Geraldo) e os bois tentaram atacar a gente? Lá em Juiz de Fora tinha uma vizinha, dona Ermengarda, que tinha um pomar e os meninos pegavam frutas escondidos. Lembra da tartaruga Margarida? Sei fazer todos os doces pois ela me ensinou. Foi vendendo doces que comprei meu carro usado. Mas comprei.”

MUDANÇA PARA PONTE NOVA

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Única foto que eu tenho da casa de Ponte Nova

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Morando em Ponte Nova, no Bairro Palmeiras, as meninas foram estudar no Colégio Nossa Senhora Auxiliadora, os meninos em um colégio que não sei o nome e o José Reinaldo na Escola dos Ferroviários onde mamãe lecionava. De lá ele fugiu uma vez pulando a janela do segundo andar!

Antônio Carlos fez o curso ginasial no Seminário de Leopoldina, havia resolvido ser padre o que encheu a mamãe de alegria. Mas quando terminou o curso, desistiu da idéia e voltou para casa.

Luis Augusto e Antônio Carlos não estavam levando a sério os estudos. Papai pedia para ver os boletins e sempre havia uma desculpa da parte deles. Mas um dia ele conseguiu que lhe mostrassem e as notas eram péssimas. Então ele disse:

– Vocês já fizeram o ginásio, já está bom, não querem estudar mais, não tem problema! Arrendei um terreno no alto da serra de São Geraldo para plantar milho. Tem um rancho, vocês vão pra lá trabalhar na plantação e no final de semana levo mantimentos para vocês. E, para chegar lá, só à cavalo!

Então eles resolveram estudar a sério e tudo se resolveu!

Nas férias e feriados, vinham todos para São Geraldo, de trem, saindo de manhã e só chegando à noite.

casa PN

Goretti e amigos na casa de Ponte Nova (Palmeiras)

com amigos

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Na frente Conceição, a Goretti é a terceira, os outros não tenho os nomes

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Dentro do rio, Goretti a primeira a esquerda

A HISTÓRIA DO FRANGO DE SÃO SEBASTIÃO    

Uma vez, ela pediu ao Antonio Carlos para ir até uma vendinha perto da casa, lá em Palmeiras, comprar uma dúzia de ovos para que comessem alguma coisa antes da viagem. O dinheiro era curto, não dava para comprar lanches pelo caminho.

Ele voltou com uma caixinha com 6 pintinhos dizendo que não havia ovos na venda! Estes pintinhos vieram para São Geraldo, para minha casa, porque nesse tempo eu já estava morando, com o Ary e o Marcelo, na casa que era deles, junto com o papai.

Dois desses pintinhos sobreviveram e se tornaram galos brancos, muito bonitos.

Era a época da Festa de São Sebastião, o padroeiro da cidade, havia procissão e um leilão na porta da Igreja para angariar fundos para a reforma desta. Antonio Carlos voltava pra casa, de noitinha, encontrou com um grupo de mulheres carregando um galo branco. Não teve dúvidas, era o seu galo!

Apesar dos protestos das mulheres, dizendo que a mamãe havia dado o galo para o leilão, conseguiu pegá-lo e trazê-lo de volta.

Mamãe ficou muito brava com ele, dizendo que o Santo iria castiga-lo. Pois não é que no dia seguinte, pela manhã, o galo estava arrastando as asas pelo chão! Então ele, a mando da mamãe, pegou o outro galo saudável e levou-o para o leilão.

O fim da história do galo com as asas caídas eu não me lembro!

OS BAILES NO CLUBE

Das janelas da cozinha desta casa, conseguíamos ver dentro do Clube, ao lado. Quando havia bailes, mamãe olhava pela janela com um copo de leite na mão, fazendo sinal para os meninos irem em casa comer…Resultado, todo mundo dançava dando voltas para não serem vistos por ela!

Uma vez o Luiz Augusto pediu a mamãe um dinheirinho para ir ao baile. Na hora ela não deu, mas depois se arrependeu e chamou a Goretti para entrar lá no Clube e entregar uma nota pra ele, tipo uns dez reais, e dizer que ele gastasse 5 e trouxesse o troco pra ela. A Goretti foi e deu o recado direitinho, mas perto da paquera dele, que ficou envergonhado demais.

27 – HISTÓRIAS DE NOSSA INFÂNCIA – A PRIMEIRA CASA NA CIDADE

 

Mudamos para Rua 21 de Abril, com o Luiz Augusto ainda bebê. Lá nasceram Antonio Carlos, Goretti, Conceição.

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Conceição e Goretti em São Geraldo em frente à casa que çâo nasceu

Conceição e Goretti em frente a casa onde nasceram, continua igual

Esta é a casa, continua a mesma. No lugar desta bananeira havia um abacateiro e ao lado uma mangueira muito alta.

Fotografias eram raríssimas, ninguém possuía máquina fotográfica!

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Na casa da Tia Lia, Luis Augusto à direita, depois Luis Carlos, João Lúcio, e no colo a Helena (filhos da tia Lia)

Quando o Antonio Carlos era bebê, engatinhando, eu tomava conta dele. Ficávamos em uma esteira de taboa no chão, amarrava a ponta da camisola dele na minha mão, pegava um livro e ele se soltava da tal camisola e eu nem via. (naquele tempo os bebês usavam camisolas, não havia macacão).

As fraldas sujas deviam ficar no tanque para serem fiscalizadas pela mamãe. Se havia pedaços de esteira eu levava umas palmadas!

Por um certo tempo, ela lecionava de manhã e também à noite, no antigo Mobral, para ganhar mais um pouco porque as dificuldades eram muitas. Sei que o papai, por um tempo, vendeu lotes do Bairro Bandeirantes, em Juiz de Fora, que estava sendo criado. Mas vender não era seu forte!

Quando a Goretti nasceu, ele estava viajando também. Mamãe nos acordou de madrugada, a mim e a Júlia, para irmos até a casa da vizinha pedir que ela fosse chamar a Dona Alexandrina, que era a parteira.

Batemos em sua casa e ela disse que não poderia sair porque havia tomado chá quente e não poderia pegar sereno! Então fomos nós duas, eu com 7 anos e a Júlia com 6, por uma estradinha escura, saindo de um portão que havia em frente a nossa casa e que levava à Fábrica de Massa de Tomate do Dr Oswaldo, uma estrada desabitada. A casa dela ficava depois, em um pequeno sítio, fechado por uma porteira.

Chegamos na porteira e quando começamos a gritar por ela, vieram vários cachorros latindo. Subimos na porteira e ficamos esperando que ela nos acudisse.

 

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Uma viagem a Juiz de Fora, na casa da Tia Lia, Conceição ainda não havia nascido. Goretti na frente com lacinhos de fita.

Dois anos depois foi a vez da Conceição nascer. Aí já foi diferente, mamãe nos mandou para a casa da Dona Nenem, do Caxixe, e lá ficamos até que o Ruthelis, nosso primo, que morava lá em casa nessa época, viesse nos avisar de que havia nascido uma menina e que poderíamos voltar pra casa.

Aqui vale uma história: Na véspera da Conceição nascer, havia um Circo em São Geraldo e o papai resolveu nos levar, o que era uma festa, para nós e toda a cidade. Mamãe ficou sozinha em casa e caiu uma tempestade, com muito vento e o forro do quarto onde a Goretti dormia caiu sobre ela.

Mamãe se desesperou, não conseguia abrir a porta, uma peça de madeira que caiu deixou-a travada. Com o barulhão do desmoronamento, a Madrinha Odila, que era vizinha, correu lá em casa. Dizia que precisou pular a janela da sala porque a mamãe, no escuro, não conseguia achar a chave. Foi ela então que conseguiu entrar no quarto e tirar a Goretti do berço, sem qualquer ferimento. A barra de madeira que caiu ficou pousada na cabeceira do berço.

O mais incrível é que tudo no quarto ficou destruído, salvando-se o berço da Goretti e a imagem de Nossa Senhora da Conceição, que foi da capela do sítio e hoje está comigo.

Em decorrência do susto que ela levou, o parto se antecipou e no dia seguinte a Conceição nasceu e recebeu este nome em homenagem à santa.

Cada um de nós tem as suas lembranças e nem sempre são as mesmas de todos. Vou contar algumas que vêm a minha lembrança:

Tínhamos uma mocinha lá em casa para ajudar a mamãe, a “Bastianinha”. Um dia, estávamos no quarto que chamávamos de escritório, ligado à sala de visitas. Papai estava escrevendo alguma coisa e a Bastianinha com uma das crianças no colo e eu por lá, desenhando talvez, não me lembro. O fato é que a Bastianinha falou ou fez alguma coisa comigo e eu lhe dei um tapa.

Papai levantou-se e me deu uma palmada da qual eu jamais me esqueci. Foi a única vez que me castigou, que eu me lembre.

Quando o Luiz Augusto era pequeno, ele chorava e “engolia fôlego” como se dizia. Mamãe ficava desesperada!

Uma vez ela chegou em casa e não viu o menino, perguntou a Bastianinha onde ele estava e ela respondeu: _ Ele morreu!!!

Mamãe desmaiou em frente ao guarda-roupa e eu ouvi o menino chorando lá dentro e não tinha como abrir a porta para tirá-lo. Custei a fazê-la recuperar, jogando água em seu rosto.

Imaginem só o nível de babás que havia! E os apertos que eu também passava, sendo a mais velha.

A Júlia veio correndo da rua, tropeçou no degrau da varanda e caiu com o rosto no chão e seu dente da frente ficou pendurado. Mamãe empurrou o dente pro lugar e desmaiou! Ela gostava de contar que fez um implante na Júlia quando ninguém falava ou sabia disso.

Outra história: Os meninos, Luis Augusto e Antônio Carlos já estavam grandinhos e tinham a mania de fugir para nadar no rio. Mamãe tinha pavor disso e me encarregava de mantê-los em casa, com ameaças de surras. Mas eles fugiam, não tinha jeito!

Um dia, vi que estava se aproximando do horário da mamãe chegar e resolvi ir procurá-los no rio, levando pela mão a Goretti que devia ter uns 3 ou 4 anos. O tal rio não era o que passava dentro da cidade, pela ponte. Era mais acima de nossa casa, em uma estradinha que levava ao Monte Celeste.

Chegando lá eles estavam na maior folia, nadando pelados, com outros amigos. Estava tão quente e a água tão convidativa que entrei na beiradinha segurando a Goretti, só molhando os pés.

De repente vimos a mamãe chegando de vara na mão, furiosa! Larguei a mão da Goretti e saí correndo na frente e os meninos atrás, pelados. Mamãe gritava que ia fazer uma “roda de coro” e nós correndo. Na entrada da casa havia um abacateiro e me atrevi a subir nele até no alto.

Mamãe gritava para eu descer e eu gritava que não ia descer porque não queria apanhar. Um escândalo! Mas o escândalo ficou maior quando eu vi um monte de mandruvás verdes no galho onde eu estava, levei um susto e me esborrachei lá embaixo.

Aí a mamãe já chorava: – Matei a minha filha! Socorro!

Felizmente não tive nada e ainda me livrei de umas varadas, alíás, todos nós porque ela até se esqueceu de nos castigar!

Aliás, sobre esta história de castigo, varadas ou chineladas, que eram muito comuns em todas as famílias, eu consegui me livrar de quase todas.

Em frente à nossa casa, em uma casa geminada, tínhamos duas famílias: A da D. Luzia que tinha uma porção de filhos e a Dona Zizinha que não tinha filhos. Quando a mamãe ameaçava me castigar eu aprontava uma gritaria, chamando a D. Zizinha para me acudir, que ela ia me matar!!

Zizinha vinha correndo: – Chega, Dona Laura, não bate mais, ela é tão pequenininha! E a mamãe: – Mas eu não bati nela ainda! É só escândalo!

Eu me escondia atrás da D. Zizinha que só ia embora quando via que o perigo havia passado.

Lembro-me de uma outra vez em que me livrei de uma surra: Mamãe me deu um dinheiro e me mandou até à papelaria da Madrinha Odila comprar uma pulseirinha que ela havia visto lá para dar de presente a sua afilhada, a Aparecida, filha da Dona Célia Batalha.

Eu adorava estas saídas porque aproveitava para passar na casa da Dona Nenem, onde as filhas dela Arlete, Águida e Anete tinham revista de fotonovelas que eram proibidas lá em casa. Distrai-me com as revistas e o rádio, que nós não tínhamos, demorei e, o pior, quando cheguei em casa estava sem a tal pulseira! Dessa vez eu não escapei!

De manhãzinha, antes de sair para o Grupo, ela me fez voltar pelo caminho procurando o embrulhinho com a pulseira e não é que encontrei? Fui seguindo o trajeto que havia feito na volta e, lá perto da ponte, vi o embrulhinho cor de rosa!

Antônio Carlos fez uma arte muito grande, não me lembro qual e, para escapar, subiu em uma mangueira enorme do quintal. Quando estava lá no alto, começou a chorar com medo de descer. Chamamos o filho da Dona Luzia, que já era mais velho, ele subiu e foi mostrando a ele onde colocar os pés para descer. E a mamãe chorando e rezando lá em baixo.

A casa, que existe até hoje, tinha um quintal muito grande, com árvores altas, mangueiras, pelo que me lembro. Tínhamos galinhas soltas pelo quintal e, de vez em quando, mamãe mandava procurarmos os ninhos que já estavam cheios de ovos, mas se ela estivesse choca, não podíamos mexer.

Ás vezes, ela dava aula particular em casa também e, por ficar rodeando os alunos, aprendi a ler sem ter ido à escola. Com 6 anos comecei a frequentar o Grupo Escolar. Minha primeira professora foi Dona Alvanete, estive com ela quando da inauguração da Biblioteca que tem o nome de Laura Casulari da Motta, uma homenagem muito merecida pela sua extrema dedicação ao ensino.

Ainda desta época, nesta casa, me lembro de quando tivemos sarampo. Começou com o Luiz Augusto e depois chegou a todos. Fui a última a adoecer. Estava já melhorando quando vi da janela o papai chegando à cavalo, com a grande capa de boiadeiro que ele usava e que adorávamos brincar sobre ela quando ele a espalhava pelo chão. Estava chovendo e sai correndo para me encontrar com ele, para que me pusesse no cavalo, como sempre fazia.

Voltei a ter febre muito alta, médico não havia, era só o Luis Marcondes da farmácia para nos tratar. Mamãe então resolveu ligar para o Tio Paulo, que era médico pediatra em belo Horizonte. Ele receitou penicilina e ela se desesperou achando que eu ia morrer. Naquele tempo, ninguém conhecia penicilina por lá, teve que ser buscada em Rio Branco.

Naquele tempo, criança não participava das conversas de adultos. Quando chegava uma visita, mamãe nos olhava e falava firme: -Vai brincar! E tínhamos que sair de perto mesmo.

Uma vez, Júlia e eu queríamos ouvir a conversa dela com a Dona Magdá, uma visita constante lá em casa e que nos causava muita curiosidade e admiração: Usava calças compridas, morava na fazenda e vinha de charrete, de óculos escuros, parecia uma artista!

Morríamos de curiosidade para escutar o que diziam, elas foram para o quarto e fecharam a porta. Tentamos ouvir pela janela, mas não conseguimos. Aí resolvemos fugir de casa. Preparamos uma trouxinha que amarramos na ponta de uma vara, como as figuras das histórias, e saímos pela estrada que passa em frente à Fazenda Caeté que foi de nossos avós.

Andamos, andamos, cansamos, ficamos com sede e fome, resolvemos voltar! E a mamãe nem deu pela nossa falta!

Quando morávamos aí, aconteceram as coroações no mês de maio. Éramos 3, Júlia, eu, e Julinha da tia Lia. Uma vez, em vez da Julinha, foi a Zélia da Tia Deolinda. A camisola da Julinha era rosa, simbolizando a Caridade e ela levava um coração de purpurina, a Júlia ia de verde, carregando uma âncora de papelão coberta de purpurina verde, simbolizando a Esperança, eu ia de azul, carregando uma cruz, simbolizando a Fé.

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Íamos em procissão pela rua, várias crianças vestidas de anjo enfileiradas na frente e os adultos atrás. Era costume as coroadeiras, as meninas que iriam coroar, distribuírem sacolinhas feitas de papel crepom, com doces. Uma vez, porque sempre havia tumulto na distribuição, crianças que não estavam participando, entravam na fila e no empurra para ganhar as sacolinhas, resolveram colocar todas as crianças vestidas de anjo dentro do salão do cinema e a Tia Alzira ficou na porta, distribuindo as sacolinhas. Empurraram tanto a tia Alzira que ela teve a costela quebrada!

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O Grupo onde mamãe dava aulas e nós estudamos.Eu também fui professora nesta Grupo. Era perto de nossa casa, na mesma rua.

BRINCADEIRAS

Brinquedos industrializados não havia, ou eram pouquíssimos que ganhávamos no Natal: boneca de papelão, bola para os meninos. Não havia brinquedos de plástico!

Brincávamos de fazer comidinha no quintal, usando latas como panelinhas. Pular corda, pique, belisca que era um jogo com pedrinhas que achávamos no rio, brincadeira de roda, cantando.

ALGUMAS HISTÓRIAS DESSE TEMPO

Entro aqui com o Dr. Oswaldo que era muito amigo do papai e morreu quando morávamos nesta casa. Eu me lembro também da consternação de todos quando o Getúlio Vargas, presidente do Brasil, morreu. Ouvimos pelo rádio. Lembro que foi feriado, não teve aula (isto foi bom!!)

GEORGINA HOTEL E O DR. OSWALDO

Dr. Oswaldo era do Rio de Janeiro, não sei porque veio para São Geraldo. O que me recordo de ouvir falar é que a mulher dele era muito chique e não gostou da cidade, tendo voltado para o Rio. Eles tinham um filho que também não me lembro de vê-lo em São Geraldo. O nome do Hotel é uma homenagem à uma filha que morreu ainda criança.

Ele morava em uma casa grande na rua 21 de abril, a casa mais bonita e imponente da cidade e que existe até hoje, antes da ponte. Tinha também uma fábrica de massa de tomate. A entrada era por um portão na mesma rua, em frente à casa que moramos. Depois de sua morte, ali se tornou a marcenaria do Sr. Joaquim Vicente.

Eu era muito criança quando ele morreu, mas me lembro da consternação de todos, principalmente do papai. Ele havia ido com o Dr Oswaldo, à cavalo, até a serra para ver algum negócio. O sol estava muito quente, muito calor. Dr. Oswaldo chegou em casa sentindo-se mal e tomou um comprimido para dor e morreu. Diziam que era insolação e que, neste caso, o comprimido era contra-indicado. Se é verdade, eu não sei!

O Georgina Hotel existe até hoje e lá nos hospedamos quando vamos em São Geraldo.

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Construção do Georgina Hotel

 

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Na frente do Hotel, em 2016, na ida a São Geraldo para a Missa pelo centenário da Mamãe.

PRIMEIRA COMUNHÃO NA IGREJA DE SÃO GERALDO – FOTOS DE 1955

 

 

AS FESTAS DE SÃO GERALDO

A Semana Santa era comemorada por toda a população. As pessoas de mais posses que viviam na roça alugavam casa na cidade e, muitas delas, já tinham casa no centro. As mais pobres vinham à cavalo, de charrete, de carro de bois e até mesmo á pé.

Quem vinha à pé, trazia os sapatos e, chegando ao rio, lavavam os pés para calçá-los. Havia a tradição de se fazerem roupas novas, as costureiras ficavam cheias de trabalho. Me lembro de Tia Alzira costurando até tarde da noite!

Lembro-me de seguirmos as procissões, correndo em volta delas para pegarmos os toquinhos de velas que as pessoas deixavam nas calçadas! Para quê? Sei lá…

Na procissão de sexta-feira, dia da morte de Jesus, havia alguns homens vestidos de soldados romanos, com lanças de pau pintadas de prateado e o Chefe dos soldados ia a cavalo na frente. Quem se vestia de centurião romano e seguia a cavalo era o Ernesto Tavares. A procissão parava na praça em frente a Igreja para o sermão do Padre. Muitas mulheres devotas, iam até o cavalo e nele encostavam terços e santinhos, para elas era São Sebastião!

MÊS DE MARIA – MAIO

Havia as coroações, todas as noites de maio. Era uma festa!

Para chegar até a Igreja, havia uma procissão com as meninas que iam coroar na frente, seguidas das outras crianças e distribuição de sacolinhas de doces. Já falei sobre isso e não vou me estender!

Havia sempre, nesta época, um leilão de prendas oferecidas pelos fiéis. E vinham animais, porcos, bezerros, frangos, além de comidas e outras prendas para serem leiloadas com a renda para a igreja. Era divertido acompanhar o leilão que acontecia na praça, em frente à igreja, em uma barraca montada para isso.

FOLIA DE REIS

No período após o Natal, saiam as Folias pelas ruas. Paravam nas casas, cantavam e tocavam as músicas próprias. Na frente ia uma pessoa carregando um estandarte com a imagem de Nossa Senhora do Rosário, as pessoas pregavam uma nota de dinheiro no estandarte com alfinetes.

A Folia durava até o dia 6 de janeiro, o dia de Reis Magos.

Havia também as Pastorinhas que saiam em grupo, vestidas de longas saias, cantando pelas ruas, na época de Natal. Esta apresentação não durou muito tempo, não sei porque.

VISITAÇÃO DE PRESÉPIOS

Era uma festa para nós, crianças! Iamos de casa em casa para visitá-los. Me lembro muito do presépio de Sr. Otacílio e D. Sinvalina, pais da madrinha Odila. Já falei sobre eles no capítulo sobre a mamãe.

Mamãe sempre fazia o presépio e era também uma festa para nós.

Durante todo o ano guardávamos as latinhas de sardinha para por volta de 10 de dezembro plantarmos arroz que crescia para formar a grama. Mamãe passava grude em folhas de papel e jogava pó de pedra para depois de seco, formar a gruta onde o menino iria ficar. Pegávamos areia no rio, pedrinhas, para formar a estradinha por onde viriam os Reis Magos. A cada dia um de nós era encarregado de mover os reis um pouquinho na estrada. Eles só chegariam junto à gruta no dia 6 de janeiro. E o Menino Jesus era colocado na manjedoura na Noite de Natal.

Os sapatos ficavam em torno do Presépio para receber os presentes. Havia a Missa do Galo, à meia-noite. Mas não me lembro de irmos a essa missa.

Era tudo tão simples… e tão bonito para nós!

CONGADO

Esta apresentação era em outubro. Era muito bonita! No ano anterior era escolhido o casal que seria o Rei e a Rainha do congado do próximo ano. Eles ficavam encarregados de toda a organização do desfile. Iam coroados, vestidos de cetim e os seguidores com roupas coloridas e uma espécie de chapéu enfeitados com espelhos. Era em homenagem a Nossa Senhora do Rosário, padroeira dos negros.

CARNAVAL

Era famoso o carnaval de São Geraldo! Os blocos saiam pelas ruas o dia todo! Paravam nas casas e as pessoas ofereciam bebidas ou salgadinhos para os foliões.

Enquanto crianças, não me lembro de termos qualquer relação com o Carnaval. Só depois de adolescentes, morando na última casa, ao lado do Clube é que o Carnaval começou a existir para nós!

“Deixamos algo de nós para trás ao deixar um lugar: permanecemos lá, apesar de termos partido. Há coisas em nós que só reencontraremos ao voltar. Viajamos ao nosso encontro quando vamos a um lugar aonde vivemos parte de nossa vida, por mais breve que tenha sido”.

Da novela “Trem Noturno para Lisboa”, de Pascal Mercier

MEMÓRIAS DA GORETTI

MEMÓRIAS DA MINHA INFÂNCIA

Acompanhando a sugestão da Regina de situar as memórias de infância associadas às casas onde vivemos em São Geraldo, tomo a liberdade poética de começar o meu relato descrevendo uma “memória” que tenho que não é, de fato, real minha, mas formada na minha cabeça pelo relato que a mamãe fazia de vez em quando de um episódio acontecido comigo na casa da Rua 21 de abril, de esquina com a rua de Baixo (não lembro o nome).

Pelo que sei eu nasci nesta casa, que já era velha naquele tempo, mas resiste ainda. A foto mais ou menos recente dela já está no blog. Quando tinha dois anos e quatro meses, mamãe estava grávida da Conceição e ficou em casa comigo num domingo e todos os outros foram para o circo.

Mamãe contava que estava na sala e eu dormindo no quarto. De repente ela ouviu um enorme barulho vindo do quarto. Correu para ver o que era, mas não conseguiu entrar porque a porta estava impedida por madeiras enormes que tinham desabado com o teto todo do quarto! Eu não chorava, ela pensou no pior… Gritou desesperada.

Vizinhos acudiram. Ela conta que estava com um barrigão de 9 meses e uma camisola fina que rasgou na tentativa de entrar no quarto. Mas nem se lembrou disto. Na minha lembrança ela contava que a Madrinha Odila (madrinha da Júlia, mas todos nós a chamavam assim também) é que pegou uma colcha e jogou sobre ela (outros tempos…). Também foi a madrinha Odila que pulou a janela e conseguiu chegar no berço onde eu dormia placidamente coberta de poeira e cacos de telha, mas inteirinha!

Mamãe sempre dizia que se tivesse conseguido empurrar a porta, uma grande viga teria caído direto sobre mim. Assim, completava que foi a imagem de Nossa Senhora que havia no quarto (e que também já apareceu no blog) é que me salvou por milagre! Linda história, que tenho “montada” nos detalhes na minha memória afetiva!

Uma consequência deste milagre é que a Conceição nasceu dois dias depois e foi batizada com o nome da imagem e não com o nome escolhido previamente (que seria Úrsula, mas não sei se é verdade, pode ser que inventei este nome para chatear a Çãozinha…).

Desta casa, lembro também como memória contada pela mamãe, é que a Regina subia numa árvore grande que havia no quintal e ela ficava debaixo pedindo: Desça minha filha, se não descer a mamãe vai embora… E a Regina respondia: não tem importância, eu moro com meu pai! Mamãe ficava uma arara!

Da Rua de Baixo me lembro, já mais velha, andando sozinha na rua, que tinha uma casa que era um centro espírita, e diziam que não podíamos passar nem na calçada. Eu sempre mudava o trajeto (muito medrosa!).

Não tenho nenhuma lembrança minha mesmo da casa do morro da Estação. A lembrança criada a partir de ouvir os causos é da história da mamãe ir para o Grupo dar aulas com um sapato diferente em cada pé, que já escrevi em algum momento em comentário no blog.

Lembro (de ouvir contar…) da casa que também ainda existe aos pedaços (tiramos fotos dela quando fomos as quatro irmãs em 2014 em São Geraldo e já está no blog), que é numa esquina, num morrinho.

Não sei também se lembro mesmo ou é do relato da mamãe sobre os meninos subindo o morro correndo fugindo de tomar injeção… A história que a Ré contou da moça que suicidou também me assombrava e chocava. Talvez nesta também é a história dos gêmeos que tinha na rua: um era branco e menino e a outra era menina e preta. Ninguém achava estranho pelo que me lembre.

Depois desta, numa casa mais nova e bonita na mesma rua (também está no blog a foto atual), é a memória que tenho certeza ser minha mesmo, que é do dia do nascimento do José Reinaldo, caçulinha, que como todos nós nasceu em casa, mas o único que foi com assistência de médico e não de parteira.

Estava com cinco anos e acreditava que a cegonha trazia os bebês. Era de noite, céu estrelado. Vieram nos acordar para dizer que o Zé tinha nascido. Fiquei muito brava por não ter me chamado a tempo de ver a cegonha chegando! E fiquei andando a casa toda pensando que ela poderia ainda estar por lá. Não via janela nem porta aberta onde a cegonha pudesse ter saído!

José Reinaldo era feinho e doente, que me lembro. Uma vez “perdeu o fôlego” e foi ficando roxo, mamãe desesperada saiu pela rua afora com ele, encontrou alguém com uma charrete e pediu para levar na farmácia do Luiz Marcondes (era a emergência geral de todos!). Andando na charrete, com os solavancos o Zé retornou o fôlego e o susto passou. Também deveria ter refluxo ou algo assim, e mamãe conta que mandaram suspender o leite materno. Ela desesperada vendo o Zé definhar. Tinha que dar mamadeira de suco de cenoura, enrolada num pano branco para disfarçar e ele cuspia tudo. Um dia, dormiu cansada, com ele na cama, e ele achou o peito dela, mamou até se fartar e sarou!

Nesta casa, creio que moramos muitos anos pois me lembro que tinha um quintal grande, com árvores, e me lembro que já estava no Grupo Escolar Álvaro Giesta e davam remédio para vermes. Cheguei em casa e mamãe colocou um penico no quintal onde eu fiz uma montanha de lombrigas que foram “recolhidas” para provar que o remédio funcionou. Fiquei chocada com aqueles bichos todos que saíram de mim! Não sei se daí é que veio meu horror a minhocas!

Brincávamos na rua e tinha uma fala assim quando alguém se machucava ou se dava mal em alguma coisa: Bem feito! Dizia uma criança para a outra. E a outra respondia: Você não é filha de prefeito para falar “bem feito”! Aí se calavam. Mas quando era eu que dizia bem feito, respondia: Não sou filha de prefeito, mas sou filha de coletor! Calava a outra.

Creio que nesta casa é que o Totonho disse a famosa frase: “mãe, compra salsicha, é tão bom, nunca comi!”  Nesta também foi um dos meus desmaios famosos: mamãe deu um comprimido para o Totonho que entalou na garganta, o menino foi ficando roxo e mamãe quase louca tentando fazer o comprimido sair! Eu disse: “dá sal de fruta, mãe!” e desmaiei para o outro lado deixando mamãe mais louca ainda…

Penso como mamãe foi valente, criando sete filhos de carreirinha e ainda trabalhando fora, papai nem sempre presente, dinheiro curto, sem médicos… enfim, uma batalhadora!

Esta casa era próxima da casa da vovó Maria, que fica na praça Santo Antônio, hoje arborizada e arrumada. Mas antes era só um “pasto”. Na casa da vovó tinha muitas frutas, especialmente gostava da ata, que era o nome que a vovó dava para a graviola, como vim a saber muito mais tarde. Era um pé de galhos finos, com frutas muito grandes, que vovó só deixava apanhar quando estavam bem maduras. E era difícil de saber quando isto acontecia porque as atas continuavam verdes sempre. Então tinha que subir no pé e apertar cada uma para saber se estavam macias, sinal que podia ser colhida. Eu ia lá, e como gostava muito da fruta, apertava todas todos os dias. E vovó ficava brava! Outra coisa era o pé de limão galego, que vovó só deixava pegar quando o limão estivesse amarelinho! Era uma briga. Adoro limão especialmente o galego até hoje!

Já escrevi no blog algumas lembranças da vovó Maria. Quando ficava muito tempo sem chover ela nos levava para rezar num cruzeiro que tinha no alto do morro do Querosene, e levava uma latinha com água para jogar no pé da cruz, tipo uma apelação para fazer chover. Sobre os pés de manga, de goiaba e de quiabo acho que já escrevi…

Lembro que no outro lado da praça em relação à casa da vovó tinha uma casa onde se comprava ou pegava de graça, não lembro, muitas verduras. Eles também criavam abelhas e vendiam mel. Os favos eram deliciosos!

No final da Rua 21 de abril tinha um sítio que pertencia a um homem que não lembro o nome, mas que tinha ido à guerra, era o que diziam. Ele plantava muitos legumes para vender. Os tomates que ficavam amassados ou muito maduros eram colocados em caixas na porta do sítio para quem quisesse pegar. Sempre ia lá pegar, uma fartura! Adoro tomate até hoje!

Tinha a casa da dona Tute, muito chique, uma espécie de sítio, longe da rua, com coqueiros baixos na entrada. Conceição e eu pegávamos as folhas de coqueiro para fazer sandálias romanas, transadas pela perna toda! Brincávamos à beça! Na cabeça colocávamos coroas feitas com uma florzinha amarela que crescia nos pastos.

A casa da Rua 21 de abril perto do clube é a que tenho mais lembranças certamente porque já estava mais velha. Lembro das obras de reforma da casa, acho que já escrevi também sobre isto e como a mamãe gostava de coisas modernas e foi comprar as louças para o banheiro em Juiz de Fora, super modernas, preto e amarelo. Lembro do Jardim da Infância e que eu adorava ficar ajudando a professora com as crianças. Na formatura me chamaram para “paraninfa” e papai escreveu um poema para eu ler na solenidade. Acho até que tenho cópia, vou procurar…

No fim da rua lateral, que quase não tinha casa e era sem saída, como disse a Ré, morava uma família de fora que tinha uma menina quase da minha idade. Eles eram espíritas, nos diziam “coisas” sobre isto e tínhamos receio de encontrar fantasmas. Uma vez a Glorinha, eu e mais outras crianças resolvemos dar um susto nesta menina. Pusemos uma vela dentro de uma abóbora e no alto de uma árvore. Chamamos a menina como quem não quer nada. Ela quase desmaiou de susto. Ficou “de mal” conosco um tempão. A família se mudou para Macaé e nunca mais a menina que pelejo para lembrar o nome e nada…

Glorinha era uma amigona. Filha única da dona Maninha, tinha muitos brinquedos e, mais tarde até uma bicicleta, onde todos da rua aprenderam a andar. Brincávamos muito no quintal da casa dela, enorme e cheio de frutas. Tinha um palco, bem grande e bem arrumado, onde montávamos “peças de teatro” sem nunca ter visto uma!

O figurino era sempre roupas dos adultos, muito maiores do que nós. Brincávamos de viajar nos galhos das goiabeiras, cada uma com um destino longe, as cidades que ouvíamos falar no rádio.

Quando aparecia ciganos na cidade também passávamos a nos comportar como eles, falando enrolado e colocando saia longa e mil enfeites. Achávamos o máximo aquele povo em barracas, andando de lá para cá, por toda parte “do mundo” pensávamos.

Uma vez eu e a Glorinha roubamos através da cerca umas panelinhas de uma menina que morava ao lado. Escondemos. Vieram procurar e não acharam. A menina chorava à beça e a mãe brava pensando que ela tivesse estragado e contado que tínhamos pegado para se livrar. Passado um dia nos arrependemos e devolvemos através da cerca mesmo.

Na outra esquina desta rua sem saída e quase sem casa morava um parente da Glorinha e às vezes ela me chamava para irmos lá comer pão esquentado no fogo do fogão à lenha. Fincávamos o garfo no pão dormido e colocávamos direto na chama, ficava chamuscado e cheio de bolinhas, mas era ótimo!

Tinha uma venda perto da casa dos Fois (que a Ré sinalizou na foto da rua), onde tinha umas barricas com peixe seco. Também em dias especiais se comprava “salame” (hoje sei que é mortadela…) para botar no pão, muito chique, cortado grosso à beça. Refrigerante, mais raro ainda era o Abacatinho!

Tinha muitas brincadeiras na calçada à tardinha com toda a molecada junto: passar anel, pique esconde, pique bandeira, queimado, belisca, cinco marias, bola na parede (não lembro o nome), bambolê e muitas outras. Eu não era boa especialmente em nada. Mas gostava de participar.

Tinha também brincadeiras mais de “meninos” que muitas meninas encaravam: pião, birosca (nome que dávamos para bola de gude), papagaio, etc. Não conseguia fazer nada disto, mas tinha uma chamada finco (“psi-pisse” seja lá o que isto for) que brincávamos logo depois das chuvas, na rua do lado de casa que não era calçada. (A rua 21 de abril, a principal da cidade, desde que me lembro sempre foi de paralelepípedos, muito bem feito!). Consistia num ferro fino com ponta afiada que cada um tinha o seu e se jogava em dupla fazendo um caracol tentando prender o oponente. Uma vez o finco entrou no meu pé esquerdo! Horrível, tenho cicatriz até hoje. Este jogo eu gostava e nem era a mais fraquinha, mas nunca campeã geral.

Brincávamos de fazer barragem na enxurrada que descia nesta rua lateral, memória tão querida e “engenheiral” que até descrevi no meu memorial para professora Titular…

Brincávamos muito no quintal da casa da D. Lourdes Goulart, enorme e que dava para o rio Chopotó.  Tinha um moinho de descascar arroz e milho. A Conceição tem uma história boa deste local do moinho, vou deixar para ela contar. Fazíamos roupas de papel crepom e representávamos as músicas de roda. D. Lourdes era professora de acordeom e a Glorinha estudou com ela, eu só assistia a aula.

Tinha a Gagaça também vizinha, da minha idade mais ou menos.  Brigávamos muito, e os pais vinham interferir para fazermos as pazes. Na casa dela víamos televisão pela janela, e tinha um papel celofane na frente com várias faixas de cores distintas para deixar a imagem “colorida”.  Quando faltava luz na hora da novela era um deus nos acuda. Depois alguém ligava para pedir para repetir o capítulo.

Quase ninguém tinha televisão nem geladeira, tudo muito caro. A primeira novela que me lembro que vi foi com o Francisco Cuoco, mas não lembro o nome.

A calçada perto do clube era alta, tinha um “degrau” enorme onde sentávamos para fofocar, quando maiorzinhas. Hoje não existe mais e não entendo como acabou este desnível…

Mamãe mandava comprar ovos numa casa próxima, do outro lado da rua, que tinha produção intensiva ou comprava da roça não sei. Achava bonito que a pessoa que vendia olhava um por um os ovos contra uma luz de uma lâmpada para ver se não tinha pintinho dentro!

Tinha a padaria do seu Chiquinho (existe até hoje no mesmo lugar, mas de outro dono). Nesta comprávamos caçarola italiana, para nós denominada mata-fome, brevidade e picolés, feitos lá mesmo, redondos! Tudo era desejado com fervor porque sempre era difícil comprar, o dinheiro curto…

Tinha as coroações e os leilões sempre movimentando o mês de maio. Depois as festas juninas, muito movimentada na rua 21 de abril, com fogueira e tudo. Fazíamos “testes” para saber a letra inicial do nome do futuro marido colocando papeis com as letras numa vasilha com água deixada no sereno (tinha sereno lá!) na noite de São João …

Fiquei “mocinha” com menos de 11 anos, a primeira vez foi na fazenda da d. Magdá. Levei um susto e fiquei muito sem graça, não tinha coragem de contar. A Maguinha, filha da d. Magdá é que contou para ela, que contou para a minha mãe, que me levou no médico em Rio Branco, mas não falou nada direto comigo. Ganhei as famosas (e nojentas) toalhinhas e entrei na adolescência sem nem saber o que era. Continuei uma criançona por muito tempo. A Júlia me deu meu primeiro sutiã, que usava só para sair em datas especiais. Júlia sempre foi minha protetora, e mais tarde me levava para todos os locais onde foi morar depois de casada.

Quando fui crescendo um pouco mais, lá pelos 12 ou 13 anos, eram as voltas no jardim da cidade, nos finais de semana, meninos no sentido anti-horário e as meninas no sentido horário, para poder “paquerar”, mas não era este termo ainda, acho que era flertar.

Não me interessava muito, mas era a única diversão. Cinema tinha mas era caro, íamos muito pouco e na matinê. Lembro do filme “Marcelino pão e vinho”, lindo, mas também de um que muito me impressionou que não lembro o nome mas tinha cangaceiros que eram decapitados e as cabeças colocadas em postes altos. Fiquei traumatizada! E saber depois que era verdade foi pior. Tarzan como disse a Ré também era apreciado.

Já contei de como aprendi a dançar com um lindo rapaz de fora que ia para São Geraldo nas férias. Isto nas “brincadeiras” que a Júlia e Regina programavam na sala da casa, com a vitrola do Tio Alberto, que foi feita na fábrica de móveis da cidade e ficou um tempinho lá em casa. Gostava de dançar, queria ir ao clube, mas não deixavam entrar menores de 14 anos. Eu e a Marisa, tínhamos corpão já, mas não idade, ficávamos babando na porta do Clube.

Quando fiz 14 anos participei do baile de debutantes e foi a glória. Mamãe e Júlia providenciaram um lindo vestido de “laise” (será assim que se escreve?).  Os meus quinze anos foi já em Palmeiras (Ponte Nova), e Júlia providenciou uma “brincadeira” na varanda da casa, mas isto conto depois.

 

 

PADRE OROZIMBO – Á DIREITA , ANTONIO CARLOS E LUIZ AUGUSTO DE BRANCO (NÃO CONSEGUI IDENTIFICAR OS OUTROS)
NÃO IDENTIFIQUEI O PADRE, AO LADO DELE A TIA ALZIRA , O SENHOR NO MICROFONE CREIO SER O ROGERINHO, NO FUNDO APARECE A DONA MARIQUINHA, MÃE DO ARY, PAI DOS MEUS FILHOS
IGREJA DE SÃO GERALDO 1955

26 – O casamento de Luiz e Laura

1 Laura Casulari da Motta (18 de junho de 1916 + 13 de maio de 1999)

 e Luiz Roxo da Motta (8 de maio de 1910 + 01/12/1991 )

Casaram-se em São Geraldo em 8 de maio de 1944

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Esta foto foi feita 4 meses depois do casamento, mamãe já estava grávida de mim. Esta capela existia no sítio. Quando se casaram não havia fotógrafo na cidade.

06

 FILHOS, NETOS E BISNETOS, TRINETO:

1 -Regina Helena Casulari Roxo da Motta (18/02/1945) e Ary de Oliveira (+6/05/1986)

1 . 1 Marcelo Motta de Oliveira (11/03/1965) Juiz Federal e Vânia Pinto da Motta (10/01/1966) Assistente Social

1.1.1 Mariana da Motta Fagundes Lira (13/04/1987) Empresária e Prof de Inglês e Rafael Fagundes Lira (9/03/85) Empresário

1.1.2 Marcos Luiz Pinto Motta (20/01/1994) Estudante de Educação Física e Thais Souza Estudante de Pedagogia

davi

1.1.2.1 Davi Souza Motta (14/07/2014)

1.1.3 Lucas Pinto da Motta (26/6/2001)

1.2 Daniela Motta de Oliveira (28/08/1967) Prof Titular da UFJF e Mário Sérgio Ribeiro (21/11/1954) Médico Psiquiatra Prof da UFJF

1.3 Regina Célia de Oliveira (01/03/1969) Prof Dra de Botânica na UNB e Jorge Pereira dos Santos (Funcionário aposentado do Senado)

gabi

1.3.1 Gabriela Motta Oliveira Santos (1/03/2002)

1.4 Guilherme Motta de Oliveira (12/12/1974) Arquiteto e Empresário e Elisângela Sudré (23/12/ 1972) Psicóloga

marina

1.4.1 Marina Sudré Motta de Oliveira (17/11/2001)

1.5 Flávia Motta de Oliveira Guiñez (11/03/1980) Musicista na Filarmônica de Belo Horizonte e Pablo Eduardo Guiñez Vergara (19/08/1982) Musicista da Filarmônica de Belo Horizonte

mateus

1.5.1 Mateus Guiñez de Oliveira (23/04/2011)

beatriz

1.5.2 Beatriz Guiñez de Oliveira (1/03/2015)

2 Júlia Maria Casulari Roxo da Motta (4/06/1946) Psicóloga doutora em Saúde Coletiva pela UNICAMP. Professora de Psicodrama na Universidade de Havana , Cuba e no IDH , Porto Alegre. Psicoterapeuta de família em Campinas.e Sérgio Martins de Souza ( )Administrador de Empresas

2 .1 Júlia Paula Motta de Souza (16/10/1970) Doutora de Educação pela UNICAMP. Professora de reeducação alimentar e Claudio Plaza Pinto, Goiania, (13-03-1971) mestre em engenharia pela UNICAMP. Engenheiro da Petrobras.

2.1.1    Clara Motta de Souza Pinto, Campinas. (16-08-2000)

2.1.2    Laura Motta de Souza Pinto, Campinas.(28-05-2012)

2.2. Sérgio Ricardo Motta de Souza (01/02/1972) engenheiro mecanico pela UNICAMP. Coordenador de energia aeólica para America Latina da GE.  e    Manoela Pereira de Queiroz, São Paulo. (17-10-1976) pedagoga pela PUCSP. Professora de artes na Escola Viva SP.

2.2.1 Antonio Pereira de Queiroz e Souza, São Paulo. (24-03-2008) (gêmeo)

2.2.2 Francisco Pereira de Queiroz e Souza, São Paulo. (24-03-2008)(gêmeo)

2.2.3 Caetano Pereira de Queiroz e Souza, São Paulo. (31-10-2012)

2.3 Ana Raquel Motta de Souza, doutora em Linguistica pela UNICAMP. Professora de Português na FACAMP e Caio Petronio Barreira, musico pela UNICAMP. Professor de musica na Escola Comunitária.

2.3.1    Emanuel Souza Barreira, Campinas. (15-07-1998)

2.3.2    Davi Souza Barreira, Campinas. (02-03-2005)

3  Luis Augusto Casulari Roxo da Motta (29/04/1948) Médico Endocrinologista e Lucília Domingues (28/07/1950) Médica Ginecologisra

3.1 Ana Cláudia Domingues Casulari da Motta (11/02/1979) Graduação em Ciências Biológicas UNESP SP, Mestrado em Gestão Econômica do Meio Ambiente – UnB-DF, É Analista de Meio Ambiente da Secretaria de Estado de Meio Ambiente de Mato Grosso (SEMA-MT) e Benedito Ribeiro Silva Neto (12/08/1984)

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3.1.1 Nícolas Domingues Casulari Ribeiro 15/01/2015

3.1.2 Henrique Domingues Casulari Ribeiro e Vivian Domingues Casulari Ribeiro (25/06/2020)

3.2 Luis Gustavo Domingues Casulari da Motta (22/08/1980) Graduação em Ciências Políticas – UnB-DF, Graduação em Direito – IESB-DF, É Analista da ANEEL

3.3 Fábio Domingues Casulari da Motta (18/04/1982) Graduação em Jornalismo – CEUB-DF, Graduação em Letras – UnB-DF, É Analista Administrativo do INCRA, em exercício no Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário

4 Antônio Carlos Casulari Roxo da Motta (16/08/1950) Economista e Professor Universitário e Maria do Carmo Arreguy Mourão ( ) Socióloga

4.1 Carolina Mourão da Motta Coordenadora de consumer products da Hasbro do Brasil e Renato Fonseca de Melo Correia (20/05/1981) Técnico de Som

lais

4.1.1 Lais Motta Fonseca (14/03/2014)

4.2 Pedro Mourão da Motta –Mestre em Saúde Coletiva (Unicamp); Graduado em Fisioterapia ( UNIFIEO); Graduando em Psicologia (PUC-Campinas).Terapia Corporal Integrativa: Terapia Reichiana: Microfisioterapia; Renascimento; Reiki; Frequência de Brilho. LAPACIS (Laboratório de Práticas Alternativas, Complementares e Integrativas da Unicamp)

5 Laura Maria Goretti da Motta (17/05/1952) Prof Dra em Mecãnica do Solo na UFRJ e Antônio José Ribeiro Dias (31/08/55 ) Estatístico no IBGE

5.1 Beatriz Casulari da Motta Ribeiro (06/08/1984) Dra em Matemática professora na UFJF e  Bruno Loureiro Durão, nascido em 19/01/1981, designer

rafael

5.1.1 Rafael Motta Ribeiro Durão

5.2 Gabriel Casulari da Motta Ribeiro (15/03/1988) Engenheiro de controle da automação, Mestrado em Engenharia Robótica, cursando o doutorado em Engenharia Biomédica, 6 meses na Alemanha e atualmente em Boston EUA

6 Maria da Conceição Casulari Roxo da Motta (24/09/1954) Psicóloga e Jefferson Rodrigues Junior (27/08/1953 ) Engenheiro Civil

6.1 César Casulari Motta Rodrigues (18/10/1981) Economista

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6.1.1 Felipe Motta Rodrigues

6.2 Adriana Casulari  Motta Rodrigues ( 17/12/84) –  Administração na Universidade Federal da Bahia e fiz um Mestrado de Direitos Humanos e Democratização no Centro Interuniversitário Europeu para os Direitos Humanos e Democratização em Veneza em conjunto com a Universidade de Graz na Áustria.

7  José Reinaldo da Motta (6/7/1957) sociólogo e Solange Garíglio Réche da Motta (8/8/1956) jornalista

7.1 Daniel Réche da Motta (4/8/1982) juiz de direito e Franciane Vilela Réche da Motta (31/12/1987) enfermeira

7.1.1 – Ligia Vilela Reche da Motta (10/10/2019)

Ligia

Histórias do Casal: Luiz Roxo da Motta e Laura Casulari da Motta

 Sobre o namoro dela com o papai, o que eu sei é uma carta do Tio Normandino para a tia Mariquinha, já casada e morando em Raul Soares, dizendo que ela estava namorando o Luiz da Motta, que era um bom rapaz, mas ele não acreditava que fosse se casar com ela. Essa carta existe, mas não sei onde está.

A família Roxo da Motta era considerada rica (nesta época nem era mais, já tendo havido a quebra do café que fez com que o avô Capitão Luiz da Motta perdesse quase tudo e morresse 7 meses depois) e requintada.

Mamãe sempre teve um certo complexo em relação à família do papai, não sei se merecido ou não. O fato é que ela nunca se sentia muito à vontade com eles.

Lembro-me de uma vez, eu era bem novinha ainda, que a Tia Ena veio a nossa casa, e ela pediu emprestado a Dona Célia Batalha, nossa vizinha e comadre dela, louças e toalhas para recebê-la.

O casamento não demorou a acontecer e foram morar no sítio onde eu e Júlia nascemos. Segundo o Salvador, este sítio era do papai. Depois que mudamos para a cidade, a Vovó Maria morou lá por um tempo.

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Mamãe comigo no colo, a esquerda Tia Fiuta, vovó Maria, Assunta, casada com irmão  de  Agostino Casolari (Augusto Casulari, nosso avô) e Tia Alzira

A casa do sítio

O sítio ficava ao lado dos trilhos da estrada de ferro Leopoldina e da antiga estrada de terra que levava a Rio Branco. Do outro lado da estrada havia um sítio de um Sr. Amorim, que não me lembro o primeiro nome.

O que me lembro de lá é muito pouco, era muito nova quando nos mudamos para a casa da rua 21 de Abril, perto do Grupo Escolar. Não tinha luz elétrica, usávamos lampiões e lamparinas à querosene. Havia um empregado, Sr. Demóstenes com a família que ficavam em uma casa na entrada da porteira.

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Sr. Demóstenes me ensinando a não ter medo do boi!

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Julia e eu na porta da capelinha

Havia a capelinha, onde eles tiraram uma foto de casamento, 4 meses depois da cerimônia que foi na Igreja Matriz. Mamãe dizia que já estava grávida de mim quando da foto.

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Imagem da capela que está comigo

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Imagem que a vovó Maria doou para o Asilo de Idosos de São Geraldo. Fiz esta foto quando fui lá Fiquei feliz em ver que a conservam, mas ninguém sabe quem a doou

Nesta capela contavam que havia coroações no mês de maio e duas imagens, uma está comigo – Imaculada Conceição – e a outra, maior, vovó doou para o Asilo de Velhos da cidade e está lá ainda, pelo menos até há uns 3 anos, quando fui lá.

Outro fato de que me lembro da mamãe contar, é que a Júlia se engasgou com a argola da chupeta e quase morreu. Dizia que enfiou o dedo na garganta dela e conseguiu tirar.

Lembro-me de brincar debaixo da varanda, onde havia um espaço e a memória mais antiga que tenho é de ter feito um cemitério de formigas lá. Colocava as formigas em um vidro e enterrava em parte, deixando uma parte visível (que idéia!!)

Havia uma plantação de melancias que eram bem pequenas e algum gado.

Quando o Luiz Augusto nasceu, nós ainda morávamos no sítio. Fomos para a casa da Tia Lia, porque o papai estava viajando e a ela não poderia ficar sozinha naquela distância.

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A casa da Tia Lia ainda está lá, do mesmo jeito. Com a varanda, o jardim com uma fonte no meio. Não era amarela e não tinha as grades de ferro. Visita das 4 irmãs em 2014

Papai, tendo tentado vários negócios que não deram certo, já vendida a fazenda e levado Vovó Júlia, Tia Ena e as agregadas para Juiz de Fora, para a casa que comprara lá com a venda da fazenda, resolveu garimpar ouro! Foi para uma serra perto de Mariana, um lugar chamado Sumidouro, morando em um rancho, no meio do nada!

Quando o Luiz Augusto nasceu, Tio Normandino foi atrás dele e ele voltou com algumas gramas de ouro que não valiam nada!

Eu sei que ele, por um tempo, começou a comprar bezerros, engordá-los e depois vender, da mesma forma que o Tio Sales, marido da Tia Lia, que ficou rico!

Ouvi dizer que ele quis inovar, trazer gado zebu importado e o negócio não deu certo. Acho que foi na época em que morávamos no sítio, logo depois do casamento.

Fotos do sítio: O Salvador, meu primo, disse que o chamavam de Sítio do João Gregório. Hoje é um distrito industrial, cheio de fábricas de móveis. Não resta nada que possa lembrar este tempo.

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Eu no sítio

eu

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Vestida de Santa Terezinha

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Presente da Júlia a todos os irmãos, a outra casa é o Caeté, que ainda existe em parte.

DEPOIMENTO DA GORETTI (LAURA MARIA GORETTI DA MOTTA)

Me lembro da mamãe contar que o papai sempre chegava atrasado nos encontros quando eram namorados. E ela então resolveu que deixaria ele esperando no dia do casamento. Demorou a se aprontar o mais que pode, mas quando chegou na igreja… o papai ainda não tinha chegado!
Contava que ele esqueceu de comprar sapato e foi pedir ao dono da loja (unica de São Geraldo) para vender o sapato para ele em especial porque era domingo e a loja estava fechada!

Também me lembro dela contar sobre as violetas que papai cita em uma das cartas que você publicou agora: eles estavam brigados e ela estava dentro do trem parado na estação (ou vice versa, não lembro) e papai chegou se desculpando, ela então deu as violetas para ele e fizeram as pazes. Ele guardou por muitos anos as florzinhas secas…

Tem também a história da outra briga, que as pazes foram feitas no salão de baile, com o papai que não sabia dançar, arrastando a mamãe pro salão quando tocou “upa, upa cavalinho alazão, ei, ei, ei, não faz assim comigo não…”. Mamãe protestou e ele disse: só sei dançar esta música, depois discutimos… E fizeram as pazes. Ainda bem né? Se não o que seria de nós? No limbo…

Papai era considerado em São Geraldo “um caso perdido” – solteirão que não se casaria nunca, pelo que mamãe dizia. Também contava que ficou muito brava com a vovó quando papai foi pedir a mão dela porque vovó disse: quer casar, case, mas preguiçosa está ai… O que nunca foi verdade!

Mamãe era muito discreta, pelo menos comigo nunca ela reclamava do papai. Mas pelas cartas dele dá para ver como deve ter sido difícil os primeiros anos de casamento! Que lutadora foi a nossa mãe! Venceu toda a condição familiar, estudou em condições super-precárias, sempre trabalhou fora, às vezes não recebendo por meses! Tinha a casa sempre organizada, dava conta da filharada, fazia doces divinos, e mais mil outras coisas, enfim, uma mulher moderna para seu tempo! Tinha um jeito todo dela de conviver com nossos amigos, casa sempre cheia apesar das dificuldades financeiras eventuais. Não gostava de coisas velhas, queria sempre as modernidades, (embora nem sempre pudesse tê-las): móveis de fórmica assim que foram lançados, por exemplo! Mantinha sempre uma “sala de ouro” (como chamávamos) onde o acesso era restrito, sempre arrumada para receber as visitas.

UM PRESENTE QUE O PAPAI ME DEU 1 ANO ANTES DE FALECER

foto mamãe e papai

DEDICATÓRIA

dedicatoria foto

Carta do neto Marcelo, meu filho, para o vovô Luiz (Lizote) 1978
Carta da neta Daniela (minha filha) para o vovô, 1978
Carta da neta Regina Célia,(minha filha) para o vovô 1978
Carta do neto Guilherme (meu filho) para o vovô 1978
Artigo publicado no Jornal de Osasco pelo Antonio Carlos, nosso irmão

25 – 10 – Luiz Roxo da Motta

Nasceu em São Geraldo em 8/05/1910 e faleceu em Juiz de Fora em 1/12/1991

Filho de Luiz Ferreira da Motta e Júlia Roxo da Motta

Infância em São Geraldo, na fazenda Caeté

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Luiz e Maud

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Luiz é o mais alto, Ena, Lia e Rachel (de costas) o outro menino é um amigo, o cão o Vesúvio.

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A turma no Caeté, Luiz (Lizote) o último assentado na cabeceira da cama.

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As amigas cariocas, Marilda e Marilia, no Caeté. Mamãe dizia que uma delas paquerava ele!

Lizote, como era conhecido em São Geraldo, estudou num colégio interno em Ubá, Colégio São José e depois Direito em Belo Horizonte por 1 ano. Ele dizia que foi para agradar ao pai, porque o que queria mesmo era estudar Agronomia. Combinou com o pai que faria 1 ano de Direito e, se não gostasse, viria para a Escola Agrícola de Viçosa, para cursar agronomia. E assim aconteceu.

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Em Belo Horizonte

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Em Viçosa, na Escola Agrícola, o terceiro da direita para a esquerda, na frente.

No entanto, no segundo ano do curso, seu pai faleceu e, como era o filho que estava mais no início do curso, precisou voltar para São Geraldo e administrar a fazenda e a família. Ele dizia que havia 16 mulheres no Caeté e só ele de homem! As mulheres eram a mãe, irmãs, tias, agregadas, afilhadas.

1938

Em 1938

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Um amigo de Mariana, não sei o nome.

Foto da época em que ele esteve por lá procurando ouro! Já era casado, eu e Júlia já tínhamos nascido e mamãe estava grávida do Luis Augusto.

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Fogão do rancho onde ele ficou na Serra do Sumidouro, Mariana

Não encontrou o ouro que esperava!!!!

A Conceição conta:

“Sobre a história do Lizote e seus estudos.

O papai cursou o primeiro ano de direito em 1929 em Belo Horizonte.

Quando fomos à Praça do Papa  ele lembrou que já havia energia elétrica na iluminação das ruas. Ele gostava de subir a Afonso Pena esquina com a Contorno para observar as  “bexiguinhas” acendendo à noite.

A tia Rachel relembra que o nosso pai voltou para São Geraldo depois da quebra da Bolsa, em 1929.

O tio Paulo permaneceu em Belo Horizonte terminando o curso de medicina. Ela me disse que várias vezes  que o tio Paulo teria lamentado porque o Lizote abandonou o direito.

– Ele poderia ser um juiz rico  etc.

-Paulo, Deus o abençoou com seus filhos, sua maior riqueza!

Para ela, toda família deveria ser sempre grata ao papai porque abriu mão dos estudos naquele momento.

Ele foi estudar em Viçosa em torno de 1932, data do livro A Semente. Sobre a forma como ele saiu de Viçosa eu não sei.

Acho que o nosso avô morreu em 1934. Pode ter sido a razão do abandono  dos estudos em Viçosa.”

Como a situação financeira era péssima, em virtude da quebra na venda de café, acabou por vender a fazenda e mudar-se com todas as mulheres, que lá viviam, para Juiz de Fora.

Mas antes que isso acontecesse, casou-se com a nossa mãe.

Moraram em um sítio que hoje não existe mais, ao lado da linha do trem em direção a Rio Branco. Lá nascemos eu e Júlia.

Papai era um sonhador, com idéias avançadas, muito além do seu tempo.

Algumas histórias que me lembro:

Era considerado um “sabe-tudo” em São Geraldo. Era procurado para resolver problemas, aconselhar, tirar dúvidas, um tempo onde não havia “Google” e nem mesmo uma biblioteca pública na cidade. Livros eram raros, jornais e revistas só em Rio Branco.

Uma vez a Dona Antonia, que era a diretora do Grupo Escolar, disse:

– Todo mundo acredita no que o Lizote diz e ninguém procura conferir pra ver se ele está certo mesmo…

E ele ria e gostava de contar este comentário dela.

Era também o orador oficial da cidade. Todos os eventos, inaugurações, estava lá discursando, com muito gosto, por sinal! Também escrevia os discursos de todos os outros oradores, que se acostumaram a pedir-lhe este favor.

Quando ainda era estudante na Escola de Agronomia em Viçosa, criou um projeto que propunha a participação de todos os que se formassem em uma universidade em uma prestação de serviços para a comunidade, de forma gratuita, por um certo tempo, como retribuição ao país por seus estudos em escola pública. Título do Projeto: “A semente”. Temos um exemplar do livrinho que ele imprimiu por conta própria.

Participava do Círculo Esotérico da Comunhão do Pensamento, que não existia em São Geraldo, só em Rio Branco onde ele frequentava as reuniões. Assinava a Revista do Pensamento e pautava suas idéias pelos ensinamentos do Círculo.

Dizia:

Tudo neste mundo é energia, então nossas palavras são energia também e atraem as energias iguais para nosso ambiente. Cuidado com as palavras, elas têm força. Fale positivo e você criará uma aura positiva em seu redor, atraindo os pensamentos e palavras como se fosse um rádio.

Seu lema para nós era: Não reclame, não critique, não condene!

E muitas vezes, durante as refeições que fazíamos juntos, se alguém reclamasse ou criticasse, era corrigido na hora.

Oração da família que era rezada antes das refeições:

“Abençoai Senhor a nós e a estes alimentos que por vossa liberalidade iremos receber. Nós os agradecemos por Nosso Senhor Jesus Cristo, Amém. Vos agradecemos mais, Senhor, para que esta fartura se estenda por todos os lares, por todas as famílias, por todas as pessoas e, que, pela ação perfeita de sua Graça infinita com a comida venha também a tranquilidade e a paz.”

Acreditava que estávamos caminhando para a Era de Aquário e que, nesta era que já estamos vivendo, a humanidade seria mais fraterna e justa. Não haveria mais as fronteiras entre países, todos irmanados em uma só e grande família: Habitantes da Terra. Tanto acreditava que começou a estudar esperanto, que seria a língua comum de todos os povos.

Numa época em que ninguém falava em ecologia e meio ambiente, já se preocupava com isso. Convenceu um dos prefeitos da cidade a criar um Horto Florestal para distribuir mudas para os fazendeiros que quisessem reflorestar suas terras. Trabalhou neste projeto, ensinando e fazendo mudas. Mas, como sempre acontece aqui no Brasil, mudou o prefeito e o Horto acabou!

Outra lembrança que tenho é que ele dava esmola a todo mundo e dizia: Prefiro dar a quem não precisa do que deixar de dar a quem realmente precisa.

Acreditava em reencarnação e na doutrina espírita, mas creio que não frequentava Centros Espíritas, pelo menos regularmente.

Temos um manuscrito dele que dizia ser psicografado por ele com uma mensagem de seu Pai, já falecido, respondendo a uma pergunta que lhe havia feito. É muito impressionante!

Nessa época ele trabalhava com um Dr. Dirceu em uma plantação de eucalipto em Nova Lima, perto de Belo Horizonte e estava entusiasmado com a idéia de reflorestar com esta árvore. Ainda não se sabia do estrago que ela faz nos terrenos.

Anos depois, já casado, conseguiu que o prefeito de São Geraldo criasse um Horto Florestal para distribuição das mudas de eucalipto para quem quisesse. Levou o Tio Normandino para trabalhar lá, mas ele não ficou.

Uma lembrança muito marcante que eu tenho dele é a de sua preocupação com o bem comum. Estava sempre tentando melhorar o mundo!

Temos vários escritos dele, de projetos para a Prefeitura de Juiz de Fora, de mensagens para o Presidente da República, indignado, quando acabaram com as estradas de ferro.

Lembro-me de um dia em que o encontrei em um bar, ao lado da Igreja, sentado sozinho com um copo de cerveja em sua frente e outro copo em frente a uma cadeira vazia. Cheguei lá e quando ia me assentar na cadeira vazia ele me disse: Não senta ai não, filha, estou aqui conversando com o meu amigo João ( ou Joaquim) Torrent e ele está tomando esta cerveja. O tal amigo já havia morrido há muito tempo!

Quando se casaram, a fazenda do meu avô já havia sido vendida e a situação financeira não era boa. Sei que ele foi tropeiro e começou a comprar bezerros para engordar e depois vender, junto com o Tio Sales, marido de sua irmã Lia, que nesta época moravam em São Geraldo.

Parece que ele quis criar gado zebu, que não era comum na época e que o negócio não deu certo. Tio Sales ficou rico e ele não.

Sei de ouvir contar, mais ou menos, porque criança, naquela época não participava de conversa de adultos (como acontece hoje) nem podia ficar perto quando conversavam.

Eu me lembro de vê-lo chegar de viagens à cavalo, com uma capa de lã cinza, enorme e que ele a colocava no chão da sala, estendida, para brincarmos.

Depois, durante um certo tempo, foi para a região de Outro Preto, Serra de Sumidouro, procurar ouro. Tenho uma foto do rancho de sapé onde viveu. Quando o Luis Augusto nasceu ele estava lá e o Tio Normandino, irmão da mamãe, foi buscá-lo.

Durante o certo tempo, me lembro que trabalhou vendendo lotes do Bairro Bandeirantes em Juiz de Fora que estava sendo criado.

Ganhar dinheiro e negociar não era mesmo seu dom! Mamãe com seu trabalho de professora é quem aguentava o rojão!

Seu grande sonho era ter de novo uma fazenda, sonho que nunca pode realizar.

Quando foi nomeado Coletor Federal em São Geraldo, por pedido da Tia Rachel, sua irmã mais nova que era freira em Viçosa, professora da filha de um político de Rio Branco a quem ela pediu por ele, não queria tomar posse e não tomou mesmo na data marcada. Depois, não sei como, conseguiram que marcassem nova data e ele, enfim, muito a contragosto, se tornou funcionário público.

Exerceu a função com o maior empenho, apesar de não gostar do que fazia.

Como Coletor, tinha o direito de receber salário família relativo aos filhos menores, pois ele nunca solicitou este benefício. Dizia que não achava certo o governo pagar para as pessoas terem filhos.

Mais tarde, quando os irmãos entraram na fase de vestibular e a mamãe resolveu se demitir da Escola Ferroviária de Ponte Nova, onde lecionava, depois de se aposentar do Grupo Escolar, ele conseguiu ser transferido para Juiz de Fora. Fez então um concurso para Fiscal da Receita Federal e trabalhou nesta função até se aposentar.

Quando já estava doente, no final de sua vida, ele me disse que tinha uma poupança no Bradesco de São Geraldo que era para fazer o reflorestamento da serra de São Geraldo e criar uma escola básica de agricultura lá para que os jovens não fossem embora por falta de emprego e abandonassem a terra. E realmente havia esta poupança, pequena, mas havia!

Lembro-me da época anterior ao emprego de Coletor, quando nossa vida era bem mais difícil, quando chegava o Natal ele nos comprava brinquedos e a mamãe reclamava:

“Eles precisam de sapatos e você compra brinquedos?”

Quando chegava de viagem trazia balas. Se vinha de Juiz de Fora, eram umas raspas de balas coloridas que eram vendidas em uma loja de lá que se chamava A Suiça, que eu adorava. E também manteiga em latas e açúcar em cubinhos que nunca mais eu vi.

A única vez em que me castigou, eu devia ter uns 5 ou 6 anos. Tínhamos uma babá chamada Bastianinha e ela deve ter me feito alguma coisa, que não me lembro, e dei-lhe um tapa. Ele viu e me deu uma palmada, que jamais esqueci.

Outra lembrança: Ele dizia que cada um de nós tem um Mestre, designado por Deus para nos esclarecer e ajudar, nem sempre na família. E que, quando encontramos este Mestre saberemos imediatamente quem ele é. E que, um dia, estava em Belo Horizonte, em uma avenida, e um jovem se aproximou dele e no mesmo instante soube que era seu Mestre. O nome era José Raposo.

Não me lembro de ter conhecido esta pessoa.

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José Raposo

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O amigo Raposo

Músicas que ele cantava para nos embalar:(E todos nós cantamos para nossos filhos e netos)

Lembrança da Goretti

Ai vai a letra que lembro ter aprendido com o papai (VÔ Lizote):

” Eu levanto cedo,

bem de madrugada,

pra amolar a faca,

pra matar capado,

pra fazer chouriço,

pra fazer guizado,

pra levar na roça,

pros meus camaradas,

pra criar talento,

pra puxar a enxada,

pra ganhar dinheiro,

pra no dia santo…

Ver a namorada!”

HOMENAGEM AO CENTENÁRIO DO MEU QUERIDO TIO LIZOTE

Salvador Henrique Pinhati

Certa vez, no intervalo de uma reunião, em que eu  representava  um departamento  do governo, em Brasília,  e numa conversa amistosa ,entre eu e um dos participantes da reunião, falávamos da Zona da Mata de Minas. Eu me apresentei como nascido em São Geraldo e, por coincidência , a pessoa com quem eu falava era daquela mesma região, nascido e criado  na zona rural das  imediações de Cajuri e Coimbra.

Cada um de nós relembrava fatos distantes muitos anos, daquele momento: a nossa vida de criança. E, entre as reminiscências do tempo do grupo escolar, dos banhos de rio, do apito musical e prolongado do trem de ferro, subindo a serra entre São Geraldo e Coimbra, o meu companheiro começou a contar suas lembranças de um boiadeiro que vinha de São Geraldo, pelo menos uma vez por ano, e passava na fazenda de seu pai, comprando gado.

Segundo suas lembranças esse boiadeiro era um homem alinhado, porque vestia sempre um terno cinza, com camisa branca; usava chapéu de aba larga, feito em couro de lebre, como era comum na época e calçava botas marrons de corvim, bem engraxadas.

E ele continuava detalhando as lembranças desse lendário personagem que tanto marcou a sua infância:

Aparentava ter entre trinta e quarenta anos, de boa aparência e trato fino, comedido nas palavras, e, pelos repetidos anos em que ele era recebido em sua casa, já até parecia uma pessoa da família, que seu pai e sua mãe, tinham sempre um prazer grande em dar-lhe acolhida.

Eu ficava embevecido- dizia ele- escutando a conversa deles, no entardecer, depois de um dia longo de trabalho em que os dois chegavam com pequenos lotes de bois  que tinham sido comprados dos fazendeiros vizinhos naquele dia. Eles Jantavam , tomavam o cafezinho e, em seguida, o cigarrinho, que ambos deliciavam,  enquanto comentavam os negócios realizados.

Eram incontáveis os dias que ele ficava em nossa casa, saindo diariamente cedo e voltando a tarde com  bois . Algumas vezes os fazendeiros mais distantes se incumbiam de trazer -eles mesmos-  seus bois para negociarem com o comprador.

Sua montaria era um burro de porte bem alto , novo ,  da melhor linhagem pêga, como se podia ver nitidamente através da mancha preta que o muar trazia sobre a parte anterior esquerda  do pescoço largo e de comprimento padrão.

O arreio parecia muito confortável e seguro contra imprevistos, tendo em vista ser um animal jovem e saudável. Tinha rabicho e peitoral de couro forte costurado e incrustados de metais reluzentes, que lhe davam maior imponência na andadura. Uma capa gaúcha enrolada e presa na parte traseira da cela,  cantil e embornal de couro, faziam parte da indumentária. O assento era forrado de chenil de couro de carneiro, que dava maior conforto em viagens de longas distâncias.

As fazendas sempre tinham acomodação para os visitantes.  Principalmente  quando eram homens de negócio.

O fazendeiro oferecia toda a estrutura necessária, de pasto, curral e cocheira, para que ele pudesse comprar os bois das fazendas próximas  daquela localidade e  juntando-os num mesmo local.

Ele sempre trazia consigo o dinheiro suficiente para comprar e pagar a vista os bois que os fazendeiros  da região ofereciam à venda. Mas havia também uma confiança recíproca entre o boiadeiro e  fazendeiros, quando havia uma oferta maior de bois.  Pois sempre era oferecido um ou mais  ajudantes  da região, que ia até São Geraldo, numa viagem que levava vários dias , auxiliando na condução, até o destino, do plantel adquirido. E estes tinham também a missão de receber o restante do pagamento, se fosse o caso.

Eu escutava, contrito, a narrativa de uma recordação da infância de alguém que eu havia conhecido há apenas algumas horas.  No entanto, pelo desenrolar da história, o seu personagem principal me parecia muito familiar. E, antes que soasse o sinal para reinício da reunião e, mesmo quase certo da resposta, perguntei-lhe se lembrava do nome do boiadeiro. Ele respondeu de pronto: “Seu Lizote.”

Fui tomado de uma grande emoção. Ele é meu tio!  E neste momento ele está em Brasília, na casa de um filho que é médico. Meu amigo parece que se emocionou  tanto quanto eu. E me pediu que convidasse o tio Lizote para ir a casa dele, pois  queria oferecer-lhe um almoço e reviver um pouquinho as suas recordações .

Fui dar a notícia ao tio Lizote e levar o convite  do seu grande e talvez o mais antigo admirador.

Ele ficou muito feliz .Lembrou, com saudades, do fazendeiro amigo que sempre o acolhera com carinho e humildade em sua casa da fazenda localizada entre Cajuri e Coimbra, mas respondeu-me sabiamente:  meu jovem dê uma desculpa qualquer ao seu amigo. Pois eu acho que não devo ir a esse encontro. A beleza de toda esta história é exatamente a lenda  formada na cabeça daquela criança, a qual, hoje, é um homem maduro.  Se houver esse encontro a lenda vai ser quebrada, você não acha?   Eu não sei o que eu respondi ao meu tio, mas concordei com ele.

Brasília 15 de maio de 2010

CARTA PSICOGRAFADA PELO PAPAI – DIZIA QUE ERA DO PAI DELE JÁ FALECIDO

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Esta carta foi a Tia Ena que me deu.

Na época, ele estava trabalhando em um projeto de reflorestamento com eucalipto, em Nova Lima, com o Dr. Dirceu. Estava muito insatisfeito e resolveu pedir conselho ao pai. Ele escreve a pergunta e a resposta que sentiu que vinha do seu pai.

TRANSCRIÇÃO:

Será que chegou o momento de deixar a profissão de lavrador?

Ainda não chegou, filho, mas chegará em breve o dia  em que profissão não terá significação para você.

Já sei tua pergunta que devo fazer?

Nada é a resposta logica e sabes bem porque. Deixa que a serenidade da fé produza a serenidade da vida.

Avaliaste bem, foi aquela tala que não precisavas que causou o transtorno de teu serviço. Sabes o que ela significava de enthusiasmo inútil.

Inutil, sim, insisto no qualificativo. Trabalhavas para quem visa apenas o lucro pecuniário. Devias te harmonizar com o ambiente, sem te amoldares a elle. Bem, isto é lógico, sabes perfeitamente que nada existe inteiramente condenável no mundo. Mesmo os que trabalham pensando apenas no interesse mundano são uteis ao mundo e portanto dignos de respeito e consideração.

Podes dizer ao dr. Dirceu que não houve nenhuma “moamba” no caso. Apenas sofrete o choque das forças antagônicas: o teu ideal colectivo e o ideal individualista que lá predomina. Não é bem esta a definição, mas serve para a comprehensão de vocês. Tu te deixaste dominar pela crença que bastava desejares o bem, para que todos assim o desejarem. E em tua desilusão foste demasiado violento, pela acção dos preconceitos que em ti agia. Sebes bem quais são. Tivesses sido mais prudente e mais bem terias causado.

Lembra-te sempre que vives no mundo e não no ceu nem no inferno. É preciso que tua acção seja inspirada pelo bem, sem dúvida. Mas nunca ajas, nem reajas violentamente. A mesma liberdade que tens  todos a têm. Se Deus não te coage como podes querer coagir a outros? Ainda que tua intenção seja a melhor possível.

Agradece ao Dr. Dirceu por mim, o que elle tem feito por você. E diga-lhe que não creia muito em “moambas”. Estes elementos simples e humildes criadores e desfazedores de “Moambas” têm aqui no espaço como na Terra, apenas o valor que lhes damos. Agem como balões cativos: se lhes damos muita corda sobem alto e parecem lindos e fortes. Se os puxamos, porem, e apertamos reduzem-se a seu real tamanho: saco vasio que se dobre e se guarda a vontade.

Sim, filho, vai agora. Deus te abençoe e ao dr. Dirceu como nós te abençoamos.

(Não tenho a data)

A SEMENTE

Este pequeno livro o papai escreveu quando tinha 22 anos. Publicou-o as suas próprias custas. É um projeto que visa a educação e a cultura do povo . Como ele pensava de forma muito avançada para a época, (até hoje seria avançado), não obteve nenhum resultado de suas belas idéias.

Será que hoje seria levado a sério? Não creio, pelo que estamos vendo no país…

Objetivo do projeto:

Criar e desenvolver no povo brasileiro a consciência cívica republicana: tornando-o um povo independente  que compreenda, ame e defenda o regime democrático nacional.

Para atingir seu objetivo o O CLUBE usará os seguintes meios:

A instrução do povo, por meio de fundações de ensino e propaganda: Escolas primárias móveis; Bibliotecas públicas; Imprensa; propaganda cívica por meio de conferências e palestras de homens notáveis pelo saber e caráter. Campanhas eleitorais por candidatos seus, educação comercial do povo e consequente fundação de sindicatos profissionais e cooperativas, em todas as suas modalidades, conforme o meio.

Na apresentação do livro ele diz: “Tentei iniciar este movimento da E.S.A.V. de Viçosa porque, ex aluno dela, ser-me-ia grato vê-la, por seus alunos, renovar a mentalidade cívica brasileira, como está renovando, por seus professores, a sua mentalidade agrícola.

Mas, infelizmente, o seu diretor julgou a minha idea, já esposada por alguns colegas, prejudicial aos interesses da escola e dos alunos.

Embora não lhe compreendendo as razões, lamentei-lhe o gesto, respeitando-o como respeito a sua autoridade dentro da escola.

Enviando-vos o projeto que apresentei a meus colegas, submeto-o ao vosso estudo, fazendo votos para que, mesmo recusadas, sirvam minhas ideas ao menos para provocar a vossa meditação e o vosso estudo, que venham a se traduzir n’uma luta tenaz em prol da melhoria de nossa Pátria, pelo melhoramento de nosso povo.

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UMA ORAÇÃO – CARTA PARA EU MESMO

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TRANSCRIÇÃO DA CARTA PARA EU MESMO

Raul Soares, 18 de setembro de 1980

Meu caro Eu Mesmo.

Vamos agradar a Deus Pai de Bondade e Ternura e Infinita Misericórida por este dia maravilhoso no qual, pela primeira vez conseguimos sentir um vislumbre da Luz da consciência da Unidade.

Agora sabemos o sentido profundo, essencial, que tentamos expressar e que não encontramos palavra bastante expressiva para o fazer.

Cabe-nos agora não colocar “ a Luz sob o alqueire”. Mas  sim procurar coloca-la de modo que ilumine as consciências que possam receber sua compreensão.

Sabemos como o fazer e o faremos agora e sempre.

Como primeiro trabalho externo vamos começar a organizar a palestra para a qual fomos convidados sobre “Crescimento Interior” e “Não Violência”.

19 de setembro de 1980

Mil e mil vezes agradecido, Senhor, Pai de Bondade e Ternura e Infinita Misericordia, Vos sabeis exatamente a razão pela qual Vos agradeço. Embora não me seja possível expressá-la em palavras compreensíveis ou claramente expressivas para mim mesmo, e muito menos para outrem.

Agora há pouco fui a um barzinho meio “fuleiro” e bebi uma garrafa de cerveja porque senti que me seria útil e benéfico bebe-la e o fazer exatamente nesse barzinho que, embora no centro de Raul Soares, me parece frequentado por minhas irmãs prostitutas.

Fiquei lá exatamente uma hora, das 22 as 23 horas.

E dei um balanço (será este o termo exato?) rememorei minha vida desde os 18 anos. Um mais exatamente desde meu ultimo encontro com a Filhinha, minha prima, com quem mantinha um romance. Seria de adolescente? Seria uma ilusão?

Na despedida poderia te-la beijado. Não o fiz.

Teria sido um erro? Ou foi uma ação certa?

Rememorei outras renuncias minhas, assim como rememorei muitos atos que, na época me pareciam certos e hoje me parecem errados.

Teriam sido errados?

Quando sai pensei em escrever à Odila Fonseca em São Geraldo descrevendo tudo isto, na suposição de confortá-la.

Não o vou fazer pois compreendi que na realidade não estava querendo conforta-la, mas sim a mim mesmo.

Mas agora sei que foi o ultimo esforço do “Touro Vermelho”  para sobreviver.

Agora sei que posso fazer a palestra sobre o “Crescimento Interior” e a “Não Violência” com pleno proveito para todos que a ouvirem e puderem entende-la. E todos que irão ouvi-la a entenderão.

DOCUMENTOS

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Ele pertencia ao Círculo Esotérico da Comunhão do Pensamento. Durante um certo tempo, me filiei também e ia com ele para as sessões. Depois que ele faleceu eu me afastei.

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Junto com seus documentos, na carteira, ele carregava um papelzinho com estas orações:

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PALESTRA NA MAÇONARIA

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Vale à pena a leitura desta palestra!

A CAMPANHA PARA QUE SÃO GERALDO TIVESSE AGÊNCIA BANCÁRIA

Quando eu era criança, lembro-me de que havia um Posto da Caixa Econômica Estadual em São Geraldo, funcionava em uma lojinha no Hotel Georgina. Depois teve uma agência do Banco Mineiro, o gerente era o Sr. Camões, marido de Dona Antônia, Diretora do Grupo Escolar Álvaro Giesta (único na cidade). Funcionava no térreo da casa do Sr. Camões.

Depois o Banco foi extinto e ficamos sem qualquer agência bancária.

Papai se empenhou de todas as formas para conseguir um Banco para São Geraldo. Publicou no Jornal de Rio Branco, em 28/11/71:

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Um Banco Fora do Jardim

Sabemos que a base do desenvolvimento é a integração do homem, iniciada pela alfabetização. Escolas primárias rurais, Grupos Escolares Urbanos, MOBRAL são atividades sem as quais qualquer desenvolvimento é ilusório, porque abrange, apenas, parte da população.

Sabemos, também, que o progresso de nosso São Geraldo precisa de outras organizações que possibilitam o crescimento harmonioso do trabalho em todos os setores – agricultura, indústria, comércio, etc.

Atualmente o que mais falta nos faz é uma organização bancária em nosso município.

De cidade a cidade, a distância entre São Geraldo e Rio Branco é bem pequena. Para os que possuem automóvel e quando não chove, bem se entenda. Mas, para os que dependem de condução coletiva, os que residem em Monte Celeste, os que residem em zonas  rurais, esta distância já não é pequena. Porque geralmente representa, em termos de tempo, um dia de trabalho gasto no simples ato de pagar ou receber dinheiros.

Ato este, que custará apenas alguns minutos na Agência Bancária em São Geraldo.E, o até intuitivo, que o maior capital, o maior valor de uma terra, município ou país, é o tempo, é a energia dos que trabalham.

Então convém trabalharmos para se tornar realidade a nossa AGENCIA BANCÁRIA, seja qual for o Banco ou Caixa Econômica que a instale, eis que todos são igualmente merecedores da nossa confiança.

O primeiro passo para isto é examinarmos o assunto seriamente.

Nada de bairrismos que a nada conduzem. Nada de gastarmos energia em críticas e lamúrias que nos exaurem e nada produzem.

Temos condições para tornarmos financeiramente interessante a manutenção de uma agência Bancária em São Geraldo?

Parece que não há a menor dúvida, S.M.J. como deve acrescentar um bom Barnabé. Normalmente, há anos atrás, o Banco Mineiro e a Caixa Econômica Estadual aqui existentes, movimentavam mais de meio milhão de cruzeiros. Considerando a depreciação da moeda e outros fatores, não parece exagero pensar que agora, este movimento irá a mais de um milhão em qualquer Agência Bancária que funcionar em São Geraldo.

Segundo fomos informados, o Governo Estadual também passará a receber seus tributos por intermédio dos bancos. Os impostos federais de todos os contribuintes já são pagos em Bancos, portanto seriam recolhidos aqui. A Prefeitura de São Geraldo poderá também fazê-lo, com a vantagem que os dinheiros do município ficarão aqui mesmo, porque os pagamentos poderiam ser feitos por cheque. A Previdência Social já está se estendendo à zona rural. E o seu volume financeiro, em breve, será vultoso.

E, o desenvolvimento econômico do município, sozinho, garante apreciável volume financeiro.

Façamos esta exposição aos Bancos e Caixas, não só aos que mantêm Agências em Rio Branco, mas também a outros inclusive ao Banco do Brasil.

Luiz Roxo da Motta

Quando da Agência do Bradesco foi, finalmente, inaugurada em São Geraldo, o prefeito enviou esta carta a ele. Junto o recibo de um depósito, feito a seu pedido, em conta criada por ele, Luiz Roxo da Motta. Ele continuou depositando nesta conta, mesmo morando em Juiz de Fora. Antes de falecer ele me falou sobre essa conta e disse que a mantinha para realizar seu sonho que era reflorestar a serra de São Geraldo!

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ARTIGOS PARA O JORNAL DE RIO BRANCO

Não tenho as cópias dos jornais.

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REGISTRO SOCIAL NO JORNAL DE RIO BRANCO

TRANSCRIÇÃO:

A data de 8 do corrente registrou a passagem do aniversário natalício e de casamento do Sr. Luiz Rôxo da Mota, figura proeminente  da sociedade Sãogeraldense, tendo sido, ao ensejo desta grata efeméride, muito cumprimentado pelos seus inúmeros amigos. Com uma grandiosa folha de serviços prestados a São Geraldo, sua querida terra natal, sempre incansável no atendimento a todos que o procuram, o distinto aniversariante é, sem exagero, uma das figuras mais prestativas da nossa comunidade. Sente-se bem em ser útil aos outros pois são suas estas palavras “Se Deus me deu o dom de saber alguma coisa, cabe a mim servir aos outros e não viver egoisticamente.”Já foi vereador à Câmara Municipal do nosso município, ocupando o cargo de secretário, dando ao seu mandato brilhantismo invulgar. Foi também secretário de nossa Prefeitura na gestão do ex-prefeito José Francisco Teixeira e por vários anos membro do diretório local do ex PSD.Criada a Coletoria Federal de São Geraldo, foi nomeado escrivão e encarregado de dirigi-la. Posteriormente, chamado a concurso para sua efetivação, logrou obter como esperávamos, ótima classificação. Tendo o Ministério da Fazenda deliberado fechar as pequenas Coletorias do Estado, foi a nossa Coletoria anexada à de Visconde do Rio Branco, onde, atualmente se acha o nosso ilustre conterrâneo prestando seus serviços.

A “Página de São Geraldo” que bondosamente vem sendo publicada no “Visconde do Rio Branco” é de iniciativa sua que deseja divulgar nossas cousas, para que não fiquemos escondidos e dar expansão à sua acentuada vocação jornalística.

A atual Administração local vem contando com a sua valiosa assistência como Assessor do Sr. Prefeito na elaboração de projetos de leis, vários assuntos de ordem administrativa etc.

Ao registrar o transcurso do aniversário natalício e de casamento do Sr. Luiz roxo da Motta, na nossa intimidade LIZOTE desejamos levar-lhe e à sua exma. esposa D. Laura Casulari da Mota e a todos de sua Exma. família as nossas mais sinceras congratulações.

Comentários:

Falar sobre o meu pai me traz um misto de emoções: Saudades, lembranças e, principalmente, uma grande admiração por sua sabedoria e PREOCUPAÇÃO COM O BEM COMUM. Quem o conheceu sabe disso… Jamais conheci alguém que se preocupasse com o país, com as pessoas, com o bem da comunidade! Acredito que ele era um espírito muito evoluído!

Já no final de sua vida, morando em Juiz de Fora, não deixava de se interessar pelos problemas da cidade, do país. Eu me lembro de quando o Governo Federal começou a favorecer a criação de estradas de rodagem para incentivar a indústria automobilística e, em consequência, acabar com o transporte ferroviário. Papai escreveu para o presidente, na época Juscelino Kubitschek, insistindo sobre o valor do transporte ferroviário. Infelizmente esta carta eu não tenho. Mas me recordo de sua tristeza, de seus comentários!

Dizíamos que, quando algo assim o preocupava, ele suspirava o dia todo. Comentávamos que ele estava “sentado numa coroa de espinhos”! Mas, sempre, tentava opinar, escrever para os dirigentes, fazer a sua parte.E aprendemos com ele a nos sentirmos parte de uma comunidade, apesar de não termos a sua coragem de reclamar com quem pode fazer, não nos sentimos alheios ao que acontece em nosso país.

ALGUMAS CARTAS E PROJETOS ESCRITOS A PREFEITOS DE JUIZ DE FORA

A família, depois de São Geraldo, morou em Ponte Nova por um breve período e depois em Juiz de Fora. Lá ele trabalhou na Receita Federal e se aposentou.

Em 1980 havia em Juiz de Fora, bem no centro, um terreno onde passava a Estrada de Ferro Leopoldina e havia um boato que seria vendido para se construir um Shopping. Então ele escreve ao prefeito Antonio de Mello Reis dando uma sugestão de aproveitamento do terreno para o bem comum.

Faz um projeto, junto com uma engenheira e envia ao Prefeito. Nunca sou se ele respondeu!

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Projeto enviado ao Prefeito Mello Reis

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 Tenho uma cópia mais detalhada do projeto. Que nunca foi feito!

Anos depois, sendo já Prefeito o Sr. Tarcísio Delgado, ele levou o projeto para ser apresentado em Audiência Pública, tendo sido agendado com o prefeito. Estas audiências aconteciam, na época, no salão da Câmara dos Vereadores. Fui lá com ele e, quando ele começou a falar, cortaram o som do auto-falante. Papai quase desfaleceu. Liguei para o irmão José Reinaldo que veio nos encontrar e levou-o para casa. Jamais me esqueci disso!

Mas ele não desanimou!!

Logo depois o Prefeito Tarcísio Delgado visitou o Bairro Monte Castelo e ele lhe entregou uma carta pedindo de novo a consideração do projeto. Devo confessar que, ás vezes, ele me parecia um Don Quixote lutando contra os moinhos de vento.

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Sugestão de aproveitamento de um prédio com a construção paralisada no centro de Juiz de Fora

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CARTA PARA O DIÁRIO DA TARDE DE JUIZ DE FORA;

VOLTA A IDÉIA DA SEMENTE DE QUANDO ELE TINHA 22 ANOS

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PARA O DIÁRIO MERCANTIL – SUGESTÃO DE ESTRADA

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CARTA PARA A TRIBUNA DE MINAS SOBRE A DEMOLIÇÃO DO PALÁCIO DO BISPO

Era uma linda construção, com um magnífico jardim, na Avenida Rio Branco, no centro de Juiz de Fora. Na época, a demolição do palacete causou muita controvérsia!

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Acho esta carta tão comovente, mostrando bem o seu espírito altruísta, que vou transcrevê-la para facilitar a leitura de quem se dispõe a conhecer mais o Vô Lizote (como disse a neta Ana Raquel em seu comentário aqui!).

QUEM VOCÊ CONHECE, OU QUEM DE NÓS, FARIA ESTA PROPOSTA?

Meu objetivo com estas histórias é exatamente este: que as novas gerações conheçam a história da família, aprendam com os bons exemplos e com os maus também(para não cometê-los) Creio que a civilização se deu através do que aprendemos com os erros e acertos de nossos antepassados!

SENHOR REDATOR DA TRIBUNA DE MINAS

Tenho acompanhado por notas publicadas nesse JORNAL, as divergências quanto à demolição do prédio chamado “PALÁCIO DO BISPO”. E já li um folheto de responsabilidade, segundo parece, do Sr. Bispo, expondo as razões que o levam a promover tal demolição e consequente venda do terreno. São razões ponderáveis sem dúvida alguma.

Aliás, são tais razões que me animam a lhe pedir a publicação desta, na qual proponho uma solução que poderá resolver a discórdia, com agrado para ambas as partes. Pois poderá preservar o prédio e transformar o terreno que o rodeia em uma bela praça, assim como dará ao Sr. Bispo o numerário que necessita para suas obras sociais e de caridade.

Segundo parece, a solução justa e razoável será nós nos quotizarmos até reunir a quantia necessária e bastante para prover a Prefeitura da verba suficiente para desapropriar o imóvel – prédio e terreno – recuperar o prédio usando-o para nele instalar definitivamente a BIBLIOTECA MUNICIPAL, ou para outro fim que julgar conveniente.

E, aproveitando as árvores já existentes, transformar o terreno em uma bela praça pública.

Quando digo “NÓS NOS QUOTIZARMOS”, englobo todos aqueles que amam JUIZ DE FORA, quer tenham ou não ,nascido aqui, quer residam ou não, aqui.

Devo dizer que me incluo entre os que amam JUIZ DE FORA, tanto que, embora seja um desconhecido funcionário público aposentado, sem condições sociais ou financeiras para iniciar qualquer movimento coletivo, desde já afirmo que contribuirei com um milhão de cruzeiros para um movimento no sentido de permitir a desapropriação deste imóvel, evitando a demolição do prédio e transformando o terreno em uma praça.

Como também incluo o Sr. Bispo, que poderá subscrever a quantia que lhe for possível, ou, que será melhor, concordando com a desapropriação por um valor bem menor que o tratado com empresa imobiliária, tendo em vista a finalidade da mesma.

Todavia, conforme li na TRIBUNA DE MINAS, de hoje, parece, embora a nota não seja clara neste sentido, parece que a COMISSÃO PRÓ TOMBAMENTO do prédio já está iniciando movimento neste sentido.

Se está, parabéns e conte com meu apoio. Se não está, que o promova o quanto antes, evitando o irremediável. Bem sei que a doação que me é possível fazer é muito pequena. Mas tenho certeza e creio não estar enganado, que tal movimento terá apoios muito maiores quer de pessoas com mais posses, quer de organizações comoLIONS, ROTARY, SINDICATOS, ASSOCIAÇÕES DE COMÉRCIO OU DA INDÚSTRIA, LOJAS MAÇÕNICAS e outras mais que seria longo enumerar.

TRABALHO PELA COMUNIDADE – POMAR NA CRECHE DO BAIRRO MONTE CASTELO – JF

Já com 80 anos, morando no Bairro Monte Castelo em Juiz de Fora, ele decidiu criar uma horta e um pomar na Creche Municipal do Bairro, que tinha um terreno apropriado e completamente abandonado.

Contratou ajudantes e se pôs a plantar que era o que ele mais amava fazer, depois de ler, é claro!

Uma vez sofreu um acidente lá, um pedaço de muro caiu sobre sua mão, produzindo fraturas que resultaram em uma imobilidade permanente desta mão. Mas não desistiu! Só quando adoeceu seriamente e precisou mudar-se d0 bairro, já no seu final de vida, abandonou o pomar da creche.

Quando ele e mamãe chegavam lá as crianças faziam uma festa! Em outro ponto desta história, retornarei com mais fotos.

O hábito que ele implantou lá em casa era recolhermos todas as sementes das frutas que comíamos. Ele fazia as mudas e saia distribuindo para quem quisesse, já que não tínhamos espaço para plantar.

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Os ajudantes

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CARTAS PARA A FAMÍLIA

A preocupação com o coletivo, não o eximia de se preocupar com toda a família. Algumas cartas que tenho. (Ele sempre escrevia com cópia a carborno).

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Quando me casei, na saída para a viagem, ele me deu este papel com uma quantia de presente. 8 de maio de 1964

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Este bilhete veio acompanhado com um bilhete de loteria. Ele gostava de presentear assim.Infelizmente nunca ganhamos!!

Carta para seu sobrinho, filho da Tia Deolinda, irmã da mamãe, hoje já falecido.

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Carta para a Maria das Graças, que viveu em companhia  da Tia Mariquinha por vários anos (irmã da mamãe), que já havia falecido, na época. Ela havia manifestado o desejo de que sua casa ficasse para sua irmã Alzira e o papai tenta ajudar a Maria das Graças e comprar a casa.

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CARTAS PARA  LUIS CARLOS, FILHO DE SUA IRMÃ LIA

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PARA  AMIGA DO CÍRCULO ESOTÉRICO

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CARTAS RECEBIDAS DE AMIGOS

AMIGAS DO CÍRCULO ESOTÉRICO

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CARTA DE EX ALUNO

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CARTÃO DA NETA FLÁVIA

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CARTAS PARA A MAMÃE

Agora a parte mais romântica da história! Será que qualquer uma de nós já recebeu cartas tão bonitas assim??

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Este cartão não tem data, mas pela dedicatória e pela imagem tão antiga, acredito que tenha sido antes do casamento.

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Dedicatória do cartão

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Envelope de um cartão, sem data também, mas ai já era uma família grande porque ele cita a Goretti, filha. Ele sempre chamava a mamãe carinhosamente de Gioconda!

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Cartão que estava no envelope acima

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A imagem do cartão acima

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Estava em Curitiba visitando a Júlia que morava lá, o quarteto é a família dela.

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CARTA REVELADORA! GORETTI APRENDENDO A PILOTAR AVIÃO E …OUTRAS NOTÍCIAS!

A carta não tem data, mas é de quando a Ana Raquel nasceu!

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SUMIÇO DO ANTONIO CARLOS …LEMBRA DISSO?

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Na casa do Monte Castelo, JF

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LEMBRANÇAS DO JOSÉ REINALDO

Ré, também eu me surpreendi – e me emocionei!- com algumas passagens da vida do papai. Vou ver se organizo minhas lembranças para complementar o que você já relatou.
De imediato me vem à memória uma sobre a forma peculiar que um mestre espiritual dele, que registrei com o nome de Miguel, tinha de ensiná-lo. O papai ia encontrá-lo formulando as perguntas mentalmente. Às vezes, quando se encontravam, o tal mestre o convidava para jogar xadrez, nem dando tempo do papai dizê-las. Misteriosamente, no retorno para casa, as respostas surgiam claramente para ele.

E outra que ainda diz muito da generosidade do papai. Ele estava em um período difícil da vida e pediu uma ajuda muito especial – uma ajuda ao mundo espiritual, não me lembro se através desse mestre ou diretamente. Ele me disse que essa ajuda veio em determinado momento “com uma força tremenda”, ou seja, ele sentiu que ele estava sendo tão “energizado” (essas são minhas palavras, mas o sentido é esse, de força imensa), que ele imediatamente começou a repassar o que estava recebendo para outras pessoas (mentalmente, espiritualmente).

Típico dele o querer dividir tudo que tivesse. Só que que depois compreendeu que, naquele momento, era a hora dele se fortalecer muito e não de repassar imediatamente “a riqueza” recebida do alto.

Outra lembrança, provocada pelo seu relato da palmada por brigar com a empregada. Quando fiquei sabendo que viria morar conosco uma menina de São Geraldo, fui falar que não a queria em casa. Ele deve ter percebido que era ciúme de caçula e, pacientemente, me dizia que eu continuaria sendo o “filhinho querido” dele e da mamãe, que os pais da menina tinham morrido e ela precisava de um amparo, mas que eu nunca deixaria de ser filho etc etc.

Eu, teimosamente, insistia que ela não podia morar conosco, até que ele me perguntou, com calma: Mas por que mesmo você não quer? Eu falei: Porque ela é preta. Até hoje me lembro dos olhos verdes do Lizote brilharem e a paciência acabar na hora: Meu filho, você vá se confessar imediatamente, você está cometendo um pecado gravíssimo contra Deus e os homens.
Nunca mais esqueci disso.

ÚLTIMA VIAGEM A SÃO GERALDO – MATANDO DO DESEJO DE ANDAR A CAVALO

Não me lembro a data desta viagem. Foi convidado para a inauguração da piscina co Clube e resolveu ir com a mamãe.

Chegando lá, disse ao Gigi que havia comprado a nossa casa, que gostaria de andar à cavalo. O Gigi deu um jeito de conseguir um cavalinho manso e ele pode matar esse desejo!

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UMA HISTÓRIA DE LUIZ ROXO DA MOTTA, NOSSO PAI, NARRADA POR LUIZ AUGUSTO CASULARI ROXO DA MOTTA, FILHO, EM 08/05/2019

Delicadeza do Lizote Motta, meu pai

Delicadeza do Lizote Motta, meu pai

A família Roxo da Motta foi sempre exemplo de pessoas educadas e respeitosas para com todos. Todos nós lembramos de alguma atitude dos nossos tios e tias por parte do papai. Acho que foi uma característica da educação originada da vovó Juju.

Queria contar para vocês alguns dos momentos em que fui o objetivo desta delicadeza em impor a sua vontade.

Em São Geraldo, na praça Raul Soares, ainda existe um prédio de dois andares, edificado no início do século XX, ao lado da entrada para a Igreja de São Sebastião. Era a moradia dos Franklins. No andar térreo tem um bar que já existia na época em que eu morava na cidade. Era o bar do Custódio Ignácio, aposentado como maquinista da Leopoldina.

Naquela ocasião já existia a proibição da venda de bebida alcoólica para menores de idade. Mas, na cidade, era uma lei que ninguém cumpria.

Deveria ser em torno das onze horas da noite. Éramos seis adolescentes, com um pouco mais de dezesseis anos. Bebíamos cachaça, ou a industrializada Sideral, ou a artesanal do Gaím, muitas vezes com uma técnica pouco convencional pelos apreciadores dessa bebida. Isto é, colocávamos um pouco de sal no dorso da mão, ingeríamos a cachaça em um gole, e, em seguida, lambia-se o sal e sugava um limão. Acredito que era para não sentir o gosto ruim da cachaça. Nenhum de nós apreciava a bebida, mas era muito barata e ficava-se bêbado, sem gastar muito.

Não me lembro o nome dos outros amigos, mas o Geraldo Aloisio, que ainda não tinha o apelido de Cafuringa, estava presente. Quando o meu pai chegou, escondi o copo com a cachaça embaixo da mesa, meio sem graça porque havia sido pego em “fragrante” cometendo um crime. O Geraldo Aloisio disse ao meu pai: -“Senta, jovem, com a gente, e vamos beber uma cachaça juntos. Posso pedir também para o Luiz Augusto?”

Jovem era como o papai tinha o hábito de chamar as pessoas e ficou como um apelido, junto do Lizote. Ai o papai respondeu: “-Vamos sim, Custódio, traga uma cachaça para mim. Para o meu filho não precisa porque ele já está com a sua dose na mão”. Eu, que havia escondido o copo embaixo da mesa, coloquei-o sobre a mesa meio sem graça.

Devemos ter ficado uns quinze minutos conversando com o papai, que sempre teve um bom papo. Não me lembro de qual foi o assunto. Depois de ter tomado a cachaça, o papai disse que estava indo dormir e convidou-me para ir junto. Voltamos para casa numa boa. Para mim foi uma coincidência ele ter nos encontrado no bar. Muitos anos depois que caiu a ficha: o papai foi me tirar do bar, na maior classe, sem me desmoralizar na frente dos amigos adolescentes.

MAIS UMA SABOROSA HISTÓRIA DO PAPAI NARRADA PELO LUIZ AUGUSTO:

A propósito do comentário do Zé Reinaldo de que o papai ficava esperando-o de madrugada, mas dizia que tinha perdido o sono e estava lendo.

Quando mudamos para a casa no Lago Norte, o Fábio tinha 16 anos. Nós morávamos na quadra 104 Sul, onde era tudo tranquilo. Conhecíamos a vizinhança, os amigos dos nossos filhos, enfim, a rotina daquele local. Para a nossa maior segurança, tinha uma delegacia na entrada da quadra. Então, havíamos perdido a tranquilidade daquela quadra e estávamos um pouco receosos neste novo local ainda estranho.

Em uma noite, perdi o sono e fiquei a ler um livro qualquer. Deveria ser um pouco mais da meia-noite, quando o Fábio abriu a porta e surpreso fez a pergunta: – Pai o senhor está me esperando? E a minha resposta foi pouco original: – Não, filho, perdi o sono.

Imediatamente, lembrei-me da mesma cena ocorrida comigo, com a mesma idade do Fábio, chegando em nossa casa em São Geraldo, mais ou menos nesse horário, e as palavras repetidas: – Pai, você estava me esperando? Não, filho, perdi o sono e estou a ler.

Hoje tenho a noção de que o papai estava me esperando e que, inconscientemente, repetimos muitas coisas, boas ou ruins, na educação dos nossos filhos.

Aproveito para contar uma situação também de como o papai sabia nos levar sem maiores atritos.

Este fato aconteceu em São Geraldo, durante uma festa junina. Estávamos no beco escuro, ao lado da casa da dona Lourdinha, que ia dar no moinho para fabricar fubá. De repente, ouço a voz do papai: – Luiz Augusto, você está aí? Ainda bem que te encontrei porque estou procurando a Goretinha por todo lado e não a encontro. Saímos, eu e a namorada, meio sem graça, e fomos procurar a irmãzinha. Depois que ficamos a sós, ele disse na necessidade de ter cuidados redobrados para não engravidar uma garota.

Cartão da mãe de Luiz Roxo da Motta , nossa avó

Bilhete do papai para mim com um bilhete de loteria!
Falecimento do meu pai – Luiz Roxo da Motta

No Bairro Monte Castelo, em Juiz de Fora, em uma creche da prefeitura, o papai fazia uma horta, levando as os meninos de rua para ajudar e se ocuparem.

24 – 9 RACHEL ROXO DA MOTTA (Irmã Maria da Santa Felicidade, Irmã Rachel)

Nasceu em São Geraldo, como todos os irmãos, em 30/04/1923 e faleceu em Salvador, BA, em 11 de março de 2014. Era a caçula dos irmãos.

Falar sobre a tia Rachel é motivo de muitas emoção, saudades, lembranças, admiração, vários e bons sentimentos! Para começar, ela foi a responsável pelo meu nome!

Mamãe contava que ela lhe pediu que, se fosse uma menina, que desse o nome de Regina Helena, por causa de uma sua aluna que era muito amiga, estudiosa e de grandes qualidades! Engraçado é que eu nunca soube o sobrenome dessa aluna, nem a menor notícia sobre ela!

Também por sua influência eu pude estudar o antigo ginásio, em Viçosa. Na época São Geraldo não possuía senão o Grupo Escolar e, se fosse preciso pagar o colégio interno, meus pais não teriam condições financeiras.

Assim como as outras irmãs, foi estudar interna no Colégio Nossa Senhora do Carmo, em Viçosa, MG. Lá ela manifestou sua vontade de se tornar freira. Os pais exigiram que esperasse os 18 anos para ter certeza de sua vocação. Assim, aos 18 anos, foi para o noviciado da Ordem das Carmelitas da Divina Providência.

Fui para o internato neste mesmo colégio, em 1956, onde ela já era freira, com o nome de Ir. Felicidade. Era professora de Português. Durante dois anos nós convivemos, depois ela foi transferida para o Colégio Nossa Senhora do Carmo de Juiz de Fora.

Nesses dois anos, ela me ajudou muito, era rigorosa e exigente, mas sempre com muito carinho. Tentou muito fazer com que eu fosse mais organizada com meus objetos e menos questionadora, infelizmente sem sucesso!! Aos sábados havia a rotina de uma freira visitar o dormitório e fiscalizar o nosso pequeno armário individual e depois as carteiras da sala de aula onde guardávamos livros e cadernos. Antes desta fiscalização, ela me chamava no pátio de recreio e me levava com ela para que eu arrumasse minhas coisas (que sempre estavam mal arrumadas!).

Nós usávamos meias compridas de algodão durante todo o dia. Elas se rasgavam e havia um ovo de madeira para colocar dentro do pé da meia para facilitar o cerzimento. Era uma tortura para mim que nunca fui habilidosa para isto. Quando ela viu que não tinha jeito de ficar bem feito o cerzimento, recolhia minhas meias e as cerzia! Não queria que a sobrinha ficasse “mal vista”!!

Depois de sua saída de lá, trocamos algumas cartas que tenho guardadas e vou transcrever aqui.

Preocupava-se muito com toda a família, a ponto de, por interferência dela através de uma ex-aluna, conseguir a nomeação do papai para Coletor Federal em São Geraldo, numa época em que a nossa situação financeira era muito precária.

Sobre a sua infância e juventude em São Geraldo, não tenho relatos, só me lembro de uma historinha que a Tia Eunice me contou, da última vez que estivemos juntas: Disse-me que A Tia Rachel era muito vaidosa e que passava rouge no calcanhar quando calçava sandálias, para que parecesse rosado!

Na época em que houve o Concílio no Vaticano e que as regras para as congregações foram modernizadas, ela, que já havia feito os Votos Perpétuos, pediu autorização ao Papa para se transferir para a Ordem Beneditina, que era em regime de clausura.

Recebeu a autorização e se tornou Monja Beneditina, Irmã Rachel. Foi para o Mosteiro em Belo Horizonte, onde fui visitá-la por 3 vezes. Na primeira, havia duas grades de madeira entre a Monja e a visita, de forma que não havia nem mesmo a possibilidade de apertarmos as mãos. Depois já havia apenas um balcão, sem as grades.

De lá, foi para a cidade de São Sebastião do Alto, RJ, com mais duas freiras, para fundarem o Mosteiro de lá. Não sei exatamente quanto tempo permaneceu lá. Sei que de lá foi com outras duas para Salvador, onde foi fundado o Mosteiro em que ela viveu até o seu último dia.

Em Salvador fui visitá-la uma vez e já era bem mais aberto. Podíamos nos aproximar, passear um pouco pelas dependências do convento, excetuando a clausura.

Apesar de viver afastada de tudo, ela tinha um conhecimento espantoso e opiniões formadas sobre tudo que acontecia. Tinha um espírito muito crítico e irônico. Conversar com a tia Rachel era uma delícia!

Guardo comigo a última lição que me deu, quando esteve em Juiz de Fora, para visitar a família, em especial ao papai que já estava muito doente. Conversávamos e ela me contava que as pessoas da comunidade em torno do Mosteiro em Salvador frequentavam as Missas dominicais da Capela e que, um dia, uma delas lhe perguntou: – Irmã, o padre disse que temos que confessar os nossos pecados. O que é pecado?

E ela respondeu: – Pecado é tudo que é feito sem amor. Deus é amor então onde existe amor Ele está presente! Pecado é falta de amor!

Esta Crônica feita pelo Mosteiro de Salvador, que vou transcrever para facilitar a leitura, resume de forma magistral o que foi a vida da Irmã Rachel!

Crônica de Irmã Rachel Roxo da Motta OSB

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*30.04.1923 S. Geraldo – MG – + 11.03.2014

“Caros,

Estou me unindo a vocês neste momento de saudade da tia Rachel. Durante um tempo, nós a presenteamos com orquídeas as quais eram cuidadas pela irmã Maria Isabel. As mãos geradoras da irmã Maria Isabel as faziam florir como uma dádiva. Sempre que íamos visitar o Mosteiro, a irmã Rachel pedia a irmã Maria Isabel que trouxesse a que estava florindo. Hoje, tenho um quintal com árvores onde coloquei algumas orquídeas, que quando floridas, sinto a presença delas.

Enfim, a vida se transforma,

Um abraço, Conceição”

Com estas palavras de uma das sobrinhas de Ir. Rachel, que morou em Salvador e continua muitas vezes presente à comunidade, partilhamos alguns aspectos da rica personalidade de nossa Ir. Rachel, que partiu há dois meses para a Casa do Pai. No dia 30 de abril ela teria completado 91 anos. Sim, a vida se transforma… As orquídeas agora florescem também em nosso jardim, que muito fala da Ir. Rachel. Seu amor pela natureza começou desde seu nascimento na Fazenda do Caeté, da qual falava sempre!

Em um de seus escritos relata a alegria que sentia ao ver os montes ao longe. Seu coração começava pulsar diferente: “Era uma alegria pascal!”, escreveu. A fazenda, a estrada de ferro, as cavalgadas pelas colinas ao redor até as pequenas escola onde dava aulas às crianças vizinhas, o convívio familiar, recordações muito caras.

O pai, Luiz Ferreira da Motta, era um grande fazendeiro. Trabalhou com exportação de café. Nasceu em São Geraldo, MG, em 1868, filho de Luiz Manoel da Motta e Flávia Bibiana de Jesus. A mãe, Júlia Roxo da Motta, nascida no Brasil de pais portugueses marcou a família que conta com inúmeras Júlias em todas as gerações e foi figura determinante na personalidade de Ir. Rachel. Os avós paternos e maternos eram ambos portugueses.

O casal teve dez filhos, dos quais dois faleceram na infância e outro, aos 33 anos, o Diniz, cuja perda prematura foi sempre lembrada com saudade. Com a morte do pai, o irmão Luiz Roxo da Motta, Lizote, assumiu a direção da fazenda. D. Júlia, mãe carinhosa e firme, humana e com olhar positivo sobre a vida e seus mistérios. Seu falecimento deu-se nos primeiros anos de vida religiosa de Ir. Rachel e era relatado com muito sentimento. Os valores humanos, cristãos, éticos e o amor aos estudos, muito cultivados, marcaram toda a trajetória de Ir. Rachel.

A jovem Rachel estudou em São Geraldo e depois no internato do Colégio do Carmo, em Viçosa onde se formou em magistério. Chegou a dar aulas em São Geraldo. Quando estudante, disse ao pai que queria ser freira. Ele lhe respondeu que ela era muito jovem e que esperasse ficar adulta. Quando fez 18 anos ela procurou seu pai e disse: “Eu já sou maior de idade e quero mesmo ser freira” e seguiu para o noviciado carmelita. Depois deu aulas em Viçosa e Juiz de Fora.

A família sempre ocupou um lugar privilegiado em seu coração. Acompanhou o nascimento de cada um e seu desenvolvimento, de modo efetivo, mas misteriosamente guardando a direção de seu coração para a vida consagrada. Apesar de distante, os irmãos e sobrinhos sentiam-na muito próxima. Em Salvador, pode ter a presença de dois que aqui moravam e a visitavam regularmente, Fernando e Conceição e suas famílias. O carinho de todos manifestou-se em sua idade mais avançada, seja pelas visitas frequentes, como a do Lino, filho da Ena, que vinha com frequência de Brasília, seja pelos telefonemas, seja pelo apoio e conselho do sobrinho médico, Luiz Augusto. Fizeram todo o possível para ajudá-la em sua enfermidade. Nossa comunidade é profundamente grata a todos que formaram a rede de apoio, especialmente pela presença tão fiel do trio Conceição, Lino, Luiz Augusto.

Depois do núcleo familiar, a Congregação das Irmãs Carmelitas da Divina Providência, deu-lhe uma sólida formação. A amizade pelas co-irmãs era forte, o que tornou difícil dar o segundo passo, a entrada no Mosteiro de N.Sra. das Graças em Belo Horizonte, em 1968. Às vezes se referia a esta decisão como a um “arrancar de raízes”, algo quase como uma loucura! Mas o chamado à vida interior cada vez mais intenso guiou e seu itinerário e Ir. Rachel, dócil, o seguiu. Nela manifestava-se o amor em sua dupla dimensão, a Deus e ao próximo, intensamente.

Era uma pedagoga nata, de fácil aproximação aos corações de todas as idades. Crianças, adolescentes, jovens, casais, pessoas idosas, encontravam nela olhar e ouvidos atentos e calorosos. Foi assim que teve em uma de suas classes o pequeno Geraldinho, mais tarde Cardeal Geraldo Majella Agnelo, Arcebispo de Salvador, que muitas vezes a visitou com carinho e falava da jovem loura que o acolheu criança. A diferença de idade entre os dois era de dez anos. A retidão de seu caráter era total. Qualquer aluna que lhe levasse presentes, com eles voltava. Era intransigente neste ponto. Por outro lado, a compreensão dos corações, em seus  diversos estágios, lhe valeu tecer fortes laços de amizade. Muitas ex-alunas continuaram a procura-la depois de sair do colégio, para partilharem suas vitórias e dificuldades ao longo da vida. Quando se tornou monja beneditina assumiu os trabalhos da casa como todas as monjas e continuou a atividade pedagógica com as jovens que se hospedavam nos mosteiros ou as noviças, a quem dava aulas de português, tanto em Belo Horizonte como em Salvador. Referência constante para qualquer dúvida na língua, Ir. Rachel trabalhou como revisora das traduções de artigos e alguns livros e escritos de várias famílias religiosas que recorreram aos mosteiros.

Ao tempo em que entrou no Mosteiros N.Sra. das Graças, o Direito Canônico exigia das religiosas que ingressavam nos mosteiros o mesmo processo das jovens que entravam pela primeira vez. Ela abraçou o desafio e, celebrou como postulante beneditina o Jubileu de Prata da Profissão Religiosa, integrou-se ao grupo jovem de corpo e alma e participou pontualmente de todas as atividades, inclusive as lúdicas, que não faltavam. Eram conhecidos os autos representados pelo noviciado e Ir. Rachel comparecia sempre, bem como aos ensaios do Coral Tico-Tico – tinha todas as músicas anotadas! Ficou famosa sua interpretação de um Auto de Natal baseado em uma crônica de Maria Clara Machado. Ir. Rachel interpretava o “boi” do presépio e sua fala, ”sentia uma raiva, uma raiva tão grande, que só um boi manso pode saber o que é!” tirava aplausos da plateia. Este, junto ao auto sobre S. João Batista ficou em cartaz por anos, no repertório do noviciado.

O gosto pela leitura acompanhou-a sempre. Lia jornais, revistas e livros, inteirando-se das notícias do mundo. Lia obras espitiruais, discussões pastorais e teológicas, e queria estar a par das inovações da tecnologia. Quando chegou o FAX, pediu para ver seu funcionamento. O mesmo com a internet ou com qualquer novidade que aparecesse no mosteiro. Ia ao local da nova máquina para se inteirar do desafio trazido. Já na cadeira de rodas pedia que a levassem diariamente ao quadro de avisos e acompanhava todos os passos da vida comunitária. Se houvesse reunião marcada enviava pedidos de licença por não conseguir participar, mas não pedia as principais cerimônias da comunidade como entradas no noviciado e profissões. Quase até o fim estava presente na Missa dominical e nas vésperas de cada dia. No ano passado anunciou que começaria a reler a Bíblia inteira, o que fez pontualmente a cada dia.

O humor de Ir. Rachel era notório! Até em ocasiões difíceis de sua saúde, uma piada aliviava o ambiente. Esta presença de espírito e tiradas cômicas ajudaram a comunidade a vida inteira, junto à sabedoria e prudência de seu conselho. Foi assim, que mesmo já na fases do eremitério, pedimos que não deixasse de frequentar as reuniões da comunidade. Sim, chegou a hora de dar mais um passo em direção à entrega total a Deus. O chamado à vida eremítica era cada vez mais forte. Já de Salvador, em 1981, fez uma primeira tentativa por pouco mais de um ano em Nova Friburgo. Mas ainda não era a resposta. Finalmente, apesar de sua forte capacidade de comunicação, com o apoio de Madre Joana, prioresa de Salvador, passou a viver parte de seu dia no eremitério construído no terreno do mosteiro em 1984, a Cela Maranatha, aumentando gradativamente o tempo de permanência no mesmo. Ia pela manhã, após a Missa, trabalhava na máquina de tricô e no jardim, lá fazia as refeições e voltava para as Vésperas com a comunidade. Fornecia a toda a comunidade os agasalhos de que se precisava e ainda fazia peças de tricô para a loja. Dormia no mosteiro. Aos domingos, participava da vida comunitária integralmente. Depois de alguns anos, iniciou uma correspondência com dois eremitas do Brasil, a Ir. Belém, do Convento da Solitude, em Curitiba, e Dom Frei Vital Wilderink OC. Bispo Emérito de Itaguaí, RJ.

Assim viveu Ir. Rachel, até a diminuição gradativa de suas forças, vendo-se obrigada a deixar o eremitério e passar a viver seu dia todo dentro do mosteiro, o que lhe custou uma renúncia sentida. Quando, após períodos de internação, foi morar na enfermaria, dependendo de cuidados contínuos, tudo ofereceu com grande paciência. Recebia as visitas das irmãs com alegria e rezava por todas as intenções que lhe pediam. Mesmo debilitada, continuava sua missão de pedagoga e evangelizadora. Por onde quer que passasse deixava em todos que dela cuidaram uma mensagem de vida, despertando admiração e confiança de médicos, enfermeiros, cuidadoras, que com ela partilhavam suas alegrias e tristezas.

Os últimos anos de sua vida foram marcados por contínuas internações em hospital. Recuperou-se da última internação além das expectativas e celebrou com alegria na intimidade da família monástica, os  90 anos. O sobrinho Lino estava presente. Mas as forças declinavam. Pode ser cuidada em casa graças ao Home Care que lhe poupou o sacrifício de remoções, muito dolorosas para sua coluna prejudicada pela forte osteoporose. A vinda dos sobrinhos neste período foi um bálsamo para seu coração, bem como as visitas do Sr. Cardeal Dom Geraldo e de Dom Abade Emanuel D’Able do Amaral OSB. Este a viu e ouviu muitas vezes e acompanhou o caminho da volta para a casa do Pai, bem como o irmão bispo, Dom Gregório Paixão e Padre João Cara, irmãozinho de Jesus. Outros sacerdotes e religiosos também a viram. Os funcionários do mosteiro, já aposentados, pelos quais tinha grande amizade vinham pontualmente vê-la. Também as crianças vizinhas. Quando a viam presente na Missa do Domingo, sua cadeira de rodas era envolvida pelas famílias que lhe queriam muito bem. Sem falar ainda o carinho da comunidade das irmãs. Suas enfermeiras dedicaram-se incansavelmente e tudo fizeram para ajudá-la. Foi assim que, rodeada, abraçada por nós, exalou seu último suspiro na manhã de 11 de março de 2014.

Deixou-nos fisicamente, mas continua a inspirar nossos passos no dia a dia, pelo testemunho que deixou impresso nos corações, de uma presença amiga e, mais ainda, pela forte intercessão de quem serviu a Deus por caminho reto até o fim! Damos graças a Deus por tudo!

A Cronista.

ALGUMAS FOTOS DA INFÂNCIA E JUVENTUDE

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Júlia com Rachel e Tio Nininha, irmão da Júlia

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Ena a esquerda, direita Rachel

Ena rachel lia

A esquerda Lia, centro Rachel, direita Ena

Neneo com Lia

Rachel assentada em frente à mãe, Júlia, atrás Neneo com Lia no colo, Ena à esquerda, a direita uma amiga

lizote ena lia um amigo rachel e vesúvio

Rachel de costas, o maior é o Papai, Luiz, Ena a esquerda, Lia de frente, um amigo Paulino, e o cão Vesúvio

Rachel juiz de fora

Rachel e a mãe Júlia, em Juiz de Fora, no sítio Marianinha

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Rachel, Júlia e Neneo

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Em Viçosa, 1957, a primeira à direita

CARTAS QUE GUARDEI COM MUITO CARINHO

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Transcrevo para facilitar a leitura

Juiz de Fora, 9 de novembro de 1958

Minha querida Regina Helena,

Já estava me preparando para escrever-lhe dando os parabéns pelo boletim de setembro, quando recebi o de outubro. Foi para mim a maior alegria de 1958 ver as bonitas que você alcançou e, principalmente, através de sua carinha, apreciar suas boas disposições. Pode dizer a Irmã Cirênia que tenho rezado muito por ela, pela bondade em interessar-se pela Regina Helena, orientando-a e encaminhando-a com tanta dedicação. E você também deve fazer o mesmo. A gratidão é virtude rara, mas agradabilíssima ao Coração de Jesus.

Quanto as suas preocupações com o seu papai são justas e eu também me entristeci com esta notícia. Mas a misericórdia de Deus é infinita e o poder da oração é profundo e misterioso. Quem sabe N. Senhor está esperando a sua generosidade em aceitar bem a vida no internato que tanto lhe custa, para conceder a conversão do Lizote? Melhor do que oferecer a vida e dispor-se a morrer por outrem, é aceitar a vida tal qual ela nos é imposta pela Divina Providência, através da vontade de nossos pais. Acho que assim você encontrará um campo vastíssimo para fazer pequeninos sacrifícios diários, conhecidos só de Jesus e que O forçarão a atender às nossas súplicas. Sei que você me compreenderá, afastando todo o egoísmo que a faz pensar em si, dispondo-se ao mais difícil , quando se trata da salvação de uma alma tão querida quanto a de seu papai. Não nos preocupemos demais : seu pai é muito íntegro de caráter e movido da melhor das intenções; mais cedo ou mais tarde há de compreender o erro dos que procuram a Deus por caminhos falsos, como é o caso dos espíritas.

Procure sempre a Ir. Cirênia, sim? Você é muito nova e na sua idade é preciso que tenhamos alguém que nos oriente, nos repreenda e em quem tenhamos confiança. É uma grande graça de N. Senhor encontrar quem nos ajude a ser melhores, quem se interesse pelos nossos problemas e se disponha a dizer-nos sempre a verdade, isto é, tudo aquilo que precisamos ouvir. Seja muito dócil e amiga de todas as Irmãs, pois todas desejam o seu bem, mesmo que você não compreenda agora. Ajude as Irmãs em tudo que lhe for possível, especialmente rezando por elas, de um modo particular pela Revma. Madre Célia a quem você deve tanta gratidão.

Quero receber sempre suas carinhas, dando-me notícias de seus estudos, de suas preocupações e alegrias. Não se esqueça das são-geraldenses e envio um agradecimento especial à Márcia pelas orações que tem feito por mim. Diga-lhe que continue, sim?

Nas suas comunhões diárias e na hora do terço, peço a você que reze também por mim. Recomendo-a ao Coração de Jesus e Maria, para que a conservem sempre na santa graça divina, tesouro imenso que nunca devemos perder. A tia sempre amiga “in domino” Irmã Maria da Sta. Felicidade.

Transmita minhas recomendações a Revda. Madre Célia e meu abraço a todas as Irmãs. Agradeça à Irmã Olímpia a grande bondade em me enviando seus boletins mensais.

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Juiz de Fora, 5-4-1958

Minha querida sobrinha Regina Helena,

Só agora, terminada a Sta. Quaresma, é que posso conversar um pouquinho com você. Fiquei muito satisfeita com sua carinha, por vê-la entusiasmada e alegre. Como o tempo passa depressa, não acha? Já chegou a 3ª série e muito breve estará com um certificado nas mãos! Será que a Regina sabe aproveitar-se da grande graça de ter como Madrinha a Virgem Mãe do Céu?  Gostaria de receber uma resposta sincera a esta pergunta. Tem cultivado os talentos de que é depositária: inteligência, saúde, boa disposição, percepção dos fatos, etc. etc? É quase um exame de consciência que estou a exigir-lhe, mas, de vez em quando, é utilíssimo um “balanço” de nossas contas com Deus e nossa alma. Veja: nem todas que iniciaram a 1ª série em 1956 estão hoje na 3ª série com  você. Quantas graças a Deus, quantas Aleluias ao céu, nesta linda Páscoa de 58! Una-se aos Anjos que louvam a Jesus Ressuscitado e repita com eles do fundo dalma: Muito obrigada, Jesus, muito obrigada por tudo!

Quanto a sua vinda para o Carmo, não depende de mim, pos a Revda. Madre não permite que recebamos alunas internas, por ser muito pequena a Casa e poucas irmãs para vigilância das alunas. No externato, não há obstáculo, parece-me, a não ser por parte de seu pai, que com certeza e com razão não há de aprovar tal projeto. Já conversei com a Irmã Olímpia a este respeito e, no próximo dia 21, hei de conversar com seu pai que deverá vir a Juiz de Fora, conforme nos prometeu. Fiquei (….)mais “puxões de orelha” da tia Irmã?

Estude muito, seja amiga das Irmãs, ajude-as no que lhe for possível, principalmente com seu bom procedimento e simplicidade de trato. Cuidado com as companhias, pois aquele ditado é sempre certo: “dize-me com quem andar e dir-te-ei quem és!” Leia com atenção tudo que lhe peço nesta para não (….) dos meus “sermõezinhos”.

Quero pedir-lhe mais uma cousa: que faça um tríduo de comunhões para ajudar-me alcançar uma grande graça. Quando nos encontrarmos poderei contar-lhe o que é. Ofereça o terço na mesma intenção, pelo menos durante 3 dias. Recomendações às meninas de São Geraldo. Que a Virgem do Carmo a abençoe, proteja e guie. Em N.Senhor

Irmã Maria de Sta. Felicidade

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Juiz de Fora, 2 de maio de 1959

Minha querida Regina Helena

Que o bom Deus habite em nossos corações pela sua graça, durante todo este rico mês de Maio, em que a Mãe do Céu derrama

maternalmente bênçãos e mais bênçãos a todos que A invocam com fervor.

Recebi sua cartinha, mas seu conteúdo não me surpreendeu. São tão naturais estas inquietações e dúvidas…são visitinhas do bom Deus. Ele é que deposita no coração humano ânsias infinitas, pois, como diz Sto Agostinho, “fomos criados para Deus, para o Infinito, e só Nêle o nosso coração encontra descanso”. Tudo isto são sinais de predileção do bom Deus, pois há os que vivem satisfeitos e saciados neste mundo! Coitados, contentam-se com pouco! Quando se sentir assim, não deixe de procurar Jesus no Sacrário, de falar-lhe como a um Pai muito carinhoso. Depois faz muito bem em procurar quem possa esclarecê-la e ajuda-la. Você tem aí o Revm. Pe. Carlos, tão santo, tão dedicado e que também sabe compreender a mocidade. Procure-o, pois o ministro de Deus tem graça especial para dirigir as almas em meio aos escolhos do caminho. Pode escrever-me sempre que quiser, meu tempo deve ser mesmo empregado a favor da mocidade, não se preocupe. Hei de acompanhá-la em minhas orações, pois o bom Deus está sempre pronto a atender-nos em tudo que lhe pedimos. Quanto à dificuldade que sente em vencer-se, é tão antiga quanto o pecado de nossos primeiros Pais. Se você ainda tem o precioso presente que seu Pai lhe fez: O Novo Testamento”, procure lá na Epístola de São Paulo aos Romanos e leia o que diz o grande Apóstolo: “Porque não entendo o que faço; não faço o bem que quero, mas o mal que aborreço, esse é que faço”… “Porque o querer encontra-se ao meu alcance; mas não acho meio de o fazer perfeitamente”…(S. Paulo aos Romanos, Cap 7 vers. 15 e 18) Veja que o grande Santo também teve suas lutas, mas apesar de tudo, não desanimou e hoje é grande luz  que ilumina a Santa Igreja de Deus.

Recorra à Mãe de Deus, quando tiver tentação de responder às Irmãs…pense…como agiria a Virgem Santíssima em meu lugar? Eu como sua afilhada devo parecer-me com Ela!

Como falaria quando aluna no Templo de Jerusalém? Quais os traços de semelhança que já tenho com Maria estudante, da minha mesma idade? Na biblioteca das alunas aí de Viçosa, havia um belo livrinho que você devia ler e meditar: “Maria Santíssima, espelho da mocidade”.

Fiquei muito satisfeita de saber que você está jogando vôlei. Os esportes fazem um bem imenso à saúde do corpo e da alma. Continue, sim? Será um derivativo para seu vício de ler demais, descansa o cérebro e ativa a função de todos os órgãos.

Tem se encontrado tanto assim com a Miriam? Acho-a muito distinta e tenho certeza de que tudo que ela lhe falou era para seu proveito, pois Miriam já foi interna e conhece perfeitamente essas dificuldades, sabendo ser muito amiga das Irmãs

A Julinha está interna em Cataguases, ainda muito saudosa de Juiz de Fora, mas vai bem, graças a Deus.

Regina, não deixe de procurar a Irmã Cirênia, pois apesar de ter o máximo prazer em ajudá-la, eu estou longe…o que não é a mesma cousa. Quero sabe-la  muito amiga das Irmãs, sim? Não seja desconfiada, todas lhe têm verdadeira amizade e só querem fazer da Regina uma moça “cem por cento”

Tenho certeza de que a Irmã Celina e Irmã Jacinta não têm a mínima prevenção contra você. Quando a repreendem, é porque desejam vê-la melhorar, é porque a estimam tanto quanto eu, que fui quem mais a repreendeu, não é verdade?

Seria pedir-lhe demais, o exigir-lhe que lesse, todos os dias, ao menos um versículo do Novo Testamento? São palavras divinas que a farão conhecer e amar nosso Jesus, o Grande Amigode todas as horas. Escreva-me sempre, sim? Aproveite ao máximo deste mês, oferecendo diariamente à Mãe do Céu um pequenino sacrifício, flores agradabilíssimas ao Seu Coração! Reze por mim. Sempre amiga em N. Senhor, a sua

Irmã Felicidade

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MAIS ALGUMAS CARTAS E CARTÕES, SEMPRE BELAS PALAVRAS E LIÇÕES DE VIDA!

É com imenso prazer e saudades que revejo esta correspondência que, felizmente, não se perderam! Afirmo a todos que é uma leitura saborosa e de grande valor!

Não sei se vou conseguir manter uma ordem cronológica!!

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Para Laura

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Dedicatória deste cartão

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Dedicatória do cartão acima

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A monja ajuda as crianças a tirar água do poço, Ilha da Maré

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O Claustro do Convento de Salvador em 1985

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+Pax!

19-10-79

Querida Laura,

Soube que a Mariquinha voltou “à Casa do Pai”, alegria para ela que, tendo cumprido a sua missão, começa agora a verdadeira vida sem fim junto de Deus. Alegria para ela, mas saudades para os que ficaram. A dor é mistério. Falar a você com minhas palavras não seria nada. Mas a Escritura é a Palavra de Deus. E ela está cheia de mensagens de esperança para os que perdem os entes queridos. Assim por ex. na 1ª Cor., todo o Cap. 15, do qual extraí alguns: “Eis que Cristo ressuscitou dentre os mortos, primícias dos que morreram. Assim como por um homem veio a morte, é por um homem (Cristo) que vem a ressurreição dos mortos. Como em Adão todos morrem, assim também em Cristo todos reviverão”(Vs 20-22).

Ou então 2ª Cor 1,3-4 “Bendito seja Deus e Pai de N.S .Jesus Cristo, o Pai das misericórdias e o Deus de toda consolação com que nós mesmos somos consolados por Deus, possamos consolar os que estão em qualquer angústia.”

Peço a Deus que encha de paz seu coração na certeza de que em breve todos nos reuniremos novamente na “Casa do Pai”.

Diga ao Lizote que tenho recebido todos os recortes que ele e a Ena me enviaram. Assim posso acompanhar os passos e as palavras de nosso Santo Padre em sua caminhada de apóstolo pelo mundo, dando-nos o ex., como Lizote lembrou, de que nossa vida nos foi dada para a colocarmos a serviços dos irmãos. Li a carta do Lizote para a Ir. Felicidade para reavivarmos mais ainda nossa missão de serviço. Assim, de modo geral, o Mosteiro deve oferecer a nossos irmãos um local de encontro com Deus, de silêncio, de reflexão, de uma parada para refazer as forças. Além disso procuramos ajudar os que nos procuram para ensinar um tricô, uma pesquisa escolar, um curativo nos dedos machucados dos vizinhos, para escutá-los em suas preocupações, etc, etc.

Assim por ex. ontem, foram tantos os que nos procuraram para ouvir uma opinião sobre a tragédia de Cantagalo. Vocês devem estar a par. Um fanático de uma seita luciferiana rapta uma criança de 2 anos para tomar-lhe o sangue. Foi preso, mas a cidade, infelizmente, resolveu fazer justiça, por suas próprias mãos. Invadiram a cadeia e mataram os dois responsáveis com um sadismo equivalente aos dos criminosos. Só Deus julga e a gente nunca sabe até onde vai a responsabilidade de cada um.

Quanto ao nosso Mosteiro, penso que em breve iniciaremos a construção. Como será muito simples penso que, antes do fim do ano ficará pronto. O engenheiro de B.H. que nos visitou, Luis Eduardo, também não é construtor, é químico! Mas deu-nos boas pistas e ficou de consultar um seu amigo construtor e enviar-nos algumas sugestões. Tirou inúmeras fotografias do terreno para levar ao amigo. Não dispensamos a visita da Goreti, pois é sempre bom ouvir o que os entendidos nos aconselham.

Parabéns a Regina Helena pelo trabalho em Bicas. Parabéns ao Ary pelo grande grupo de alunos e a Daniela pela sua apresentação como violonista. Gostaria de continuar a receber as cartinhas dela.

A Ena recebeu a visita de umas jovens que aqui estiveram? Ficaram de levar-lhes nossas notícias. Foram os primeiros moradores de nosso terreno, pois armaram lá sua barraca para acampar. Uma do grupo foi minha aluna e foi quem trouxe o resto do grupo. Fazem parte de um coral e ficaram de voltar para cantar na 1ª Missa no Mosteiro definitivo.

Quando estiverem com os filhos e netos ausentes transmitam-lhes meu abraço.

Laura, estamos rezando com você e por você.

Nosso abraço carinhoso, pedindo a Deus que lhe conceda a cada dia suas graças de um aumento de fé, esperança e caridade que a sustentem na caminhada.

Sua irmã Rachel

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+Pax!

Salvador, 28-8-1981

Querida Laura,

É a minha 1ª carta baiana. Você fica encarregada de transmitir a toda a família nossas notícias.

Como sabe, vim toda “chique” de avião, gastando em 2 horas de vôo o que a maioria dos nossos irmãos leva um mês a ganhar! E quando ganha…Como poderia estar com a consciência tranquila? Já avisei ao Paulo ser esta a última vez que aceito seu oferecimento de passagem de avião. Seria uma incoerência com o meu voto de pobreza, não é? Posta de parte a observação acima, a viagem foi ótima, apesar do dia nublado. Penso que se viajássemos sobre os polos a paisagem seria a mesma: a brancura de um mar de nuvens. Só depois de Ilhéus, é que o céu se dasanuviou e pudemos ver o mar, mas isto quase chegando a Salvador. Do aeroporto, onde me esperava a Ir. Marta Beatrice, viemos no carrop do Mosteiro de São bento por uma estrada que não entra em Salvador. Em 25 minutos estávamos em casa. O nosso novo Mosteiro é muito bonito. Após ter contemplado durante 2 anos e meio as montanhas fluminenses, agora contemplarei diariamente o mar, apreciando o vento que suaviza o calor baiano. Enquanto lhe escrevo, tenho que segurar bem o papel, pois a brisa forte é um “perigo” para as coisas leves.

Foi uma alegria receber em B.H. a visita da Regina Helena e Conceição e conhecer o César e a Flávia. Ficarei agora à espera da Conceição aqui em Salvador. O elétrico passa bem em frente ao Mosteiro, quem sabe o Juninho nos dá de presente uma estação aqui no bairro de Coutos!!!!

Conversei muito com a Regina. Parabéns pela filha que vocês formaram! Que maturidade, que equilíbrio psicológico, que fé diante dos contratempos da vida! São dons raros hoje em dia! Achei muito tranquila e objetiva a sua separação do Ari. Não havia outro caminho. O matrimônio, apesar de indissolúvel, não é um absoluto. A Regina está bem preparada para enfrentar sozinha, com o auxílio de Deus, é claro, a tarefa de educar e orientar os 5 filhos. Preocupa-me muito mais o namoro precoce da Daniela. É pena que ela queime etapas!

Estou com todos vocês na oração. “ O Senhor é a minha luz e a minha salvação, por que temeremos?” diz o Salmo 26. Vamos viver na alegria e na confiança em Deus  o momento presente e entregar o futuro nas mãos de Deus.

Aguardo aqui a sua visita com o Lizote. Para vocês, meu abraço saudoso.

Ir. Rachel

Fiquei muito alegre de saber que o Lizote continua a mandar os jornais para S. Sebastião do Alto.

CONTRIBUIÇÃO DO JOSÉ REINALDO DA MOTTA

Para quem não sabe, meu irmão caçula!

Ré,

Foi muito emocionante ver as cartas da tia Rachel para você. Pena que para os historiadores do futuro só restarão as msgs eletrônicas que, ainda se conservadas, não são reveladoras do pensamento e da personalidade de quem as escreve, como são (eram?) as cartas.

Para ajudar na recordação da tia, veja se essa carta anexa contribui. Não sei se está muito extensa para um blog. Transcrevo para facilitar a leitura:

Observação: a Ordem de São Bento é conhecida pelo lema “Ora et labora”, “reze e trabalhe”. O que muitos não sabem é que isso é o “método”, o caminho, mas o objetivo é alcançar a Pax, a Paz, aquela que Jesus Cristo deixou aos apóstolos e a nós. Por isso as cartas da Rachel,depois que ela se tornou beneditina, sempre a têm como saudação e voto aos destinatários.

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”  + Pax!

Salvador, 3-6-90 (Domingo de Pentecostes)

“Amanhã encontrá-la-ei; oh! a verdade aparecer-me-á com evidência e possui-la-ei….” (Santo Agostinho, Confissões, pág. 147)

“Tenho ainda muito que voz dizer, mas não podeis agora suportar. Quando vier o Espírito da Verdade, ele vos conduzirá à verdade plena.” (Ev. de S. João, 16, 12-13). Palavras de Jesus aos Apóstolos em seu discurso de despedida na Última Ceia”.

Zé Reinaldo,

As palavras de Santo Agostinho citadas acima referem-se ao seu período de busca: na filosofia, na astrologia, no maniqueísmo persa, na busca desenfreada de prazeres carnais, etc., etc.

Mas Jesus nos diz que o caminho é outro: só a inteligência iluminada pelo Espírito Santo é capaz de alcançar a Verdade. Deus só se revela aos que o buscam com a simplicidade de uma criança.

Penso que Santo Agostinho será um bom guia para você. Graças a Deus você não teve uma vida de libertinagem como o santo, mas a busca de um sentido para a vida é a mesma. Muitas das interrogações da sua carta encontram resposta nas “Confissões” de Santo Agostinho. O exemplar que tenho foi traduzido em Portugal: Livraria Apostolado da Imprensa. Penso que você o encontrará nas livrarias das Paulinas. Santo Agostinho viveu no séc. IV, nasceu em Tagaste, África e foi professor durante quase toda a sua vida. A título de esclarecimento menciono alguns capítulos: O apelo à verdade – Seduzido pelo maniqueísmo – A sedução da astrologia – A perda de um amigo  (sua experiência?) – Luta da alma em busca da verdade – Do platonismo à Sagrada Escritura – Miséria da vida humana, etc, etc.

No prólogo do livro citado, o tradutor comenta toda a influência do platonismo sobre Sto. Agostinho: “Uma de suas maiores glórias consistiu em adaptar aos ensinamentos cristãos os preceitos platônicos, assim como Sto. Tomás de Aquino, passados séculos, fez ao aristotelismo (Prólogo, § 10, pág 21).

Mas a fonte das fontes em que você deve procurar a luz é a Sagrada Escritura, em que Sto. Agostinho também a encontrou.

Se seus cr. ou cz. não estiverem congelados, ao receber esta, compre no mesmo dia a Bíblia de Jerusalém, Edições Paulinas. A nossa que está aberta aqui em minha frente é edição de 1985. É o que há de melhor em termos de tradução da Bíblia, com notas esclarecedoras ao pé das páginas. Não leia a começar do Antigo Testamento. Comece pela 1ª Epístola de S. João: “O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com nossos olhos, o que contemplamos e o que nossas mãos apalparam do Verbo da vida… é o que vos anunciamos” (1ª Ep. de São João 1,1-2).

Religião não é ciência, não são ritos, não é doutorado…É a descoberta experiencial de uma pessoa: Cristo Jesus. Só ele é o sentido de nossa vida, a resposta viva às nossas indagações. Se eu o descubro como S. João o descobriu deslumbrado, tudo se ilumina e tem um sentido novo.

Depois da 1ª Epístola de São João passe para os 4 Evangelhos, às cartas de São Paulo, etc. [Para ler] o Antigo Testamento, você compreenderá melhor se houver lido primeiro o Novo Testamento. Nele a chave das profecias, da experiência de deserto do Povo de Deus, etc.

Não se deixe seduzir pelas respostas prontas do espiritismo. Não atribua aos mortos fenômenos que a parapsicologia explica razoavelmente bem como forças dos vivos: levitação, telepatia, manifestações em línguas desconhecidas, etc., etc. Procure aí o esclarecimento científico e não, por desconhecimento, crenças míticas que ficam bem aos nossos antepassados de alguns séculos atrás.

Um parapsicólogo que nos deu algumas aulas, indicou-nos o livro de Renold Blank: Viver sem o temor da morte (ed. Paulinas) para entender um pouco o mistério da morte. Ainda não o li, não sei se vale a pena.

Sabe que eu gosto muito do Carlos Drummond de Andrade? Tenho uma boa coleção de recortes de jornais sobre ele. Linda a poesia “Combate”. Sabe que os místicos cristãos comparam a vida espiritual ao combate de Jacó com Deus? (Gênesis, 32 – 23-33). Retribuindo, envio-lhe a última poesia de C.D.A: A PALAVRA.

No fundo, o propalado ateísmo de C.D.A. era a angústia do sentido da vida. Esta “Palavra” é o verbo – o Cristo, pressentido mas não reconhecido.

Sua carta está muito boa. Esta descoberta nunca virá de fora…

“Eis que habitáveis dentro de mim, e eu lá fora a procurar-Vos!” (Sto. Agostinho, Confissões, pág. 266).

Um abraço para a Solange e Daniel.

Que os três sejam uma imagem viva do amor que une a SS. Trindade, são os votos da tia,

Ir. Rachel, OSB”

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A Palavra

Carlos Drummond de Andrade

Já não quero dicionários

consultados em vão.

Quero só a palavra

que nunca estará neles

nem se pode inventar.

Que resumiria o mundo

e o substituiria.

Mais sol do que o sol

dentro do qual vivêssemos

todos em comunhão,

mudos,

saboreando-a.

Participação do falecimento da Irmã Rachel Roxo da Motta

Mais uma linda e emocionante carta da Tia Rachel endereçada á família

Cartão endereçado a mim, Regina com uma cartinha interna




Para minha mãe, Laura

Carta para o papai, seu irmão, Luiz Roxo da Motta
Cartão de Natal para mim
Carta da Tia Rachel para mim, Regina
Para o irmão, Luiz Roxo da Motta – meu pai